Bolsonaro, escute:
Não
há frases como
“quem
manda aqui sou eu” na democracia
Luiz Felipe
Pondé*
A gangue do presidente é boçal como
um churrasco de varanda
Desenho de Ricardo Cammarota / Folhapress |
O momento é
de vigília. Bolsonaro quer incendiar o país com sua delinquência. Seus
seguidores gozam do “privilégio” de fazer manifestações indiferentes à
epidemia. Aproveitam-se do medo das pessoas pra falarem sozinhos. Há um ethos
de milícia no ar. A gangue do Bolsonaro é boçal como um churrasco de varanda.
Se as
Forças Armadas caíssem na tentação de apoiar o golpismo bolsonarista,
embarcariam num dos seus priores momentos da história. Não
teriam nem a desculpa da Guerra Fria dos anos 1960. Seria pura e simplesmente
se transformar numa gangue de farda, como o Exército da Venezuela, que
junto com Chávez e Maduro, transformaram a Venezuela num pária geopolítico,
matando a esmo sua população.
Ao longo
dos últimos anos, as Forças Armadas (que incluem Exército, Aeronáutica e
Marinha) conseguiram um respeitável reconhecimento por parte da população,
afastando-se do horror da ditadura.
Já a
gangue de ethos miliciano dos Bolsonaros é candidata à lata de lixo da
história. Traço dessa gangue é achar que governo (eleito) e Estado são a
mesma coisa. E, no seu ethos de churrasco de varanda, Bolsonaro
entende que ambos são dele.
Bolsonaro
quer se passar por militar, mas não é. Sua participação no Exército foi
medíocre e curta em comparação a sua vida no centrão.
Bolsonaro é
uma criatura do pântano, o centrão no período da Revolução Francesa,
local onde crescem serpentes venenosas.
Para a
excelente formação dos generais brasileiros fica claro que a única coisa a
fazer agora é apoiar as instituições da democracia e dizer um grande “não” a
Bolsonaro e sua gangue, mostrando a esses ignorantes que na democracia não
existe frases como “quem manda aqui sou eu”.
Não, o senhor não manda em nada aqui, senhor
Bolsonaro.
Quem manda são as instituições.
É bom
explicar a esse equivocado e seus seguidores ignorantes que a democracia é
um regime institucional cujo primeiro objetivo de todos é controlar o poder
pelo próprio poder.
Esses
ignorantes que portam a camisa da seleção brasileira para agredir a imprensa
são a vergonha do país.
Enquanto esses idiotas berram frases a
favor da ditadura,
nós nos afogamos na pandemia.
Esses ignorantes não entendem patavina
do que é que seja uma democracia.
Aliás, acho
que o Ministério Público deveria processar a
administração Bolsonaro e sua gangue por genocídio em massa de brasileiros.
Seria de bom tom. Todo e qualquer esforço institucional para barrar essa nova
gangue será bem-vindo.
Aqui vai um
apelo às Forças Armadas: vocês estão tendo um momento histórico para mostrar
que merecem a confiança depositada em vocês pela imensa maioria de gente
decente que carrega o Brasil nas costas. Não deixem a delinquência falar
mais alto. Apoiem o Supremo Tribunal Federal em suas decisões, o
Legislativo em sua função, que assim como o STF, deve servir de contrapeso aos
abusos do Executivo.
Um dos
traços de profunda ignorância política é achar que alguém seja perfeito na
representação do bem comum ou que alguma instituição seja plena em sua
função.
Bolsonaro e
seus idiotas se oferecem como salvadores da pátria. Ninguém ou nenhuma
instituição merece confiança absoluta, por isso elas limitam umas às outras. Os
idiotas da política não sabem disso.
Sob o olhar
da filósofa Hannah Arendt (1906-1975), assistimos em cada fala de
Bolsonaro e seus asseclas, à agonia da vida do espírito (a vida da
inteligência, grosso modo) e ao risco da instalação de uma nova banalidade
do mal: a banalidade do mal é a estupidez, a inapetência ao pensamento, a
recusa de um entendimento da realidade, na sua complexidade e precariedade, e a
empatia para com esta.
E como
diria Lionel Trilling (1905-1975), crítico literário, nunca foi tão
importante a obrigação de ser inteligente. Que a inteligência seja um antídoto
à estupidez reinante. Que esmaguemos essa estupidez elevando o nível do debate.
A virtude
política máxima agora é a vigília. A atenção diante do risco. Não
vivemos um momento geopolítico dado a ditaduras, como na Guerra Fria, mas nem
por isso podemos descartar o risco do oportunismo mau caráter dessa gangue.
* LUIZ FELIPE PONDÉ é escritor
e ensaísta, autor, entre muitas obras, de “Dez Mandamentos” e “Marketing
Existencial”. É doutor em filosofia pela USP.
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