Um alerta!
O
presidente perdeu a condição de governar
José Carlos
Dias, Cláudia Costin, José Gregori,
Luiz Carlos
Bresser-Pereira, Paulo Sérgio Pinheiro
e Paulo
Vannuchi*
A semear a insegurança e a desinformação, e
ao colocar em risco a vida dos brasileiros, seu afastamento do cargo se impõe
A "COMISSÃO ARNS DE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS" é uma homenagem ao cardeal-arcebispo de São Paulo Dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016), incansável defensor dos direitos e da dignidade dos mais fracos |
O momento é
grave. É hora de dar um basta ao desgoverno. Hoje é preciso falar ao
conjunto dos brasileiros, nossa população multiétnica, multirracial, com
diversidade cultural e distintas visões políticas, 210 milhões de cidadãs e
cidadãos. Hora de falar ao povo, detentor e destinatário dos rumos do país.
Assistimos
em 2019 ao desmanche de instituições e estruturas de Estado, em nome de
alinhamentos ideológicos e guerras culturais. A partir de fevereiro
último, com a chegada da pandemia em nosso território, ao grande desmanche
somaram-se ataques à ordem constitucional, à democracia, ao
Estado de Direito. Não podem ser banalizados, muito menos, naturalizados.
Como
alertaram os cientistas, a covid-19 encontraria no Brasil campo fértil para
o seu alastramento:
* um
país-continente com enorme desigualdade social e concentração de renda,
* sistema de
saúde fragilizado por cortes e tetos orçamentários,
* saneamento
básico precário,
* milhões de
brasileiros vivendo em bairros, comunidades e distritos sem infraestrutura,
* sucateamento
da educação pública,
* desemprego
na casa das 13 milhões de pessoas e
* uma
economia estagnada.
Acrescente-se
a esse quadro as características próprias da atual pandemia – um vírus com
alta velocidade de transmissão e sintomatologia grave, para o qual ainda
não há remédio ou vacina eficazes.
Talvez
imune ao vírus, mas com toda certeza imune ao sofrimento humano, o
presidente da República, Jair Bolsonaro, tem manifestado notória falta de
preocupação com os brasileiros, com o risco das aglomerações que estimula,
com a volta prematura ao trabalho, com um sistema de saúde que colapsa aos
olhos de todos e até com o número de óbitos pela covid-19, que totalizam, hoje,
muitos milhares de casos – sobre os quais, aliás, já se permitiu fazer ironias
grosseiras e cruéis.
Mas a sanha
do presidente não para por aí. Enquanto o país vive um calvário, Jair
Bolsonaro:
* insufla
crises entre os Poderes.
* Baixa atos
administrativos para inibir investigações envolvendo a sua família.
* Participa
de manifestações pelo fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.
* Manipula
a opinião pública, e até as Forças Armadas, propagando a ideia de um
apoio incondicional dos militares como blindagem para os seus desatinos.
Enfim, o
presidente deixa de governar para se dedicar à exibição diária de sua triste
figura, em pantomimas familiares e ensaios golpistas.
Preocupado
com o amanhã e sob o peso do luto, o Brasil precisa contar com um governo que
coordene esforços para a superação da crise, começando por ouvir a voz que vem
das casas, das pessoas que sofrem, em todas as partes. Não há como aceitar
um governante que ouve apenas radicais fanáticos, ressentidos e manipuladores,
obcecado que está em exercer o poder de forma ilimitada, em regime
miliciano-militar que viola as regras democráticas e até mesmo o sentido
básico da decência.
Só resta
sublinhar o que já ficou evidente: Jair Bolsonaro perdeu todas as condições
para o exercício legítimo da Presidência da República, por sua
incapacidade, vocação autoritária e pela ameaça que representa à democracia. Ao
semear a intranquilidade, a insegurança, a desinformação e, sobretudo, ao
colocar em risco a vida dos brasileiros, seu afastamento do cargo se impõe.
A Comissão Arns de Defesa dos Direitos Humanos
entende que as forças democráticas devem buscar, com urgência, caminhos para
que isso se faça dentro do Estado de Direito e em obediência à Constituição.
* JOSÉ CARLOS DIAS, presidente da
Comissão Arns de Defesa dos Direitos Humanos e ex-ministro da Justiça (Governo
Fernando Henrique Cardoso – FHC);
CLAUDIA
COSTIN, ex-ministra de Administração e Reforma (Governo FHC);
JOSÉ
GREGORI, ex-ministro da Justiça (Governo FHC);
LUIZ
CARLOS BRESSER-PEREIRA, ex-ministro da Fazenda (Governo Sarney),
ministro da Administração e Reforma do Estado e ministro da Ciência e
Tecnologia (Governos FHC);
PAULO
SÉRGIO PINHEIRO, ex-ministro da Secretaria de Estado dos
Direitos Humanos (Governo FHC);
PAULO
VANNUCHI, ex-ministro de Direitos Humanos (Governo Lula).
Todos
fundadores e aqui representantes da COMISSÃO ARNS, assinam o artigo em
nome dos 22 membros da comissão.
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