5º Domingo da Páscoa – Ano A – Homilia
Evangelho: João 14,1-12
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sobre a imagem, abaixo,
para assistir à cena do Evangelho deste Domingo:
José María
Castillo
Teólogo
espanhol
EM JESUS, O DIVINO UNIU-SE
AO HUMANO
Sem dúvida, já lemos este Evangelho
várias vezes. E não nos damos conta de que, na realidade, nós não cremos
naquilo que Jesus diz aqui. Não acreditamos porque o Deus, que temos em
nossa cabeça, não é o Pai do qual, aqui, nos fala Jesus.
O próprio Jesus teria de
perguntar-nos o que perguntou a Felipe: «Não crês que eu estou no Pai e o Pai
em mim?». Deus, o Pai, está em Jesus. Isso quer dizer que, em Jesus, o
divino uniu-se ao humano. Portanto, na conduta de Jesus vemos como é a
conduta de Deus. Nas preferências de Jesus aprendemos que preferências
tem Deus.
Provavelmente, preferimos que Deus
esteja no céu, lá distante. E nós, aqui em nossa terra. Há muita gente que
necessita de um Deus distante e grandioso ao qual adorar. Essa gente teme a
um Deus próximo, humano, tangível e visível, ao qual deve imitar.
A adoração é mais fácil e menos exigente
que a imitação.
A adoração se faz em um instante e, logo, nos
deixa em paz e boa consciência.
A imitação é tarefa de
sempre, no trabalho e no descanso, no templo e na rua, nas alegrias e nas
tristezas. A adoração se realiza rápido. A imitação é uma carga pesada que não
nos deixa e exige-nos constante vigilância.
As religiões são, geralmente, um
projeto de relação com Deus. O cristianismo é um projeto de união com Deus.
A «relação» consiste em observar determinadas «mediações» (ritos, cerimônias,
costumes...). A «união» consiste em fazer, a qualquer hora, o que faz Deus.
Por exemplo, Deus envia o sol, a
cada manhã, a bons e maus; faz que caia a chuva, igualmente, sobre justos e
pecadores. Ou seja, Deus não faz diferenças. Crer no Deus de Jesus é ir pela
vida sem fazer jamais diferenças:
* nem entre
amigos e inimigos;
* nem entre
os de direita e os de esquerda;
* nem entre
ricos e pobres;
* nem entre
conhecidos e desconhecidos.
Mas então, se isso é assim, quão
difícil é crer, de verdade, em nosso Deus! Somente a bondade e a força de
Jesus podem tornar isso possível.
Devemos nos perguntar, com toda
sinceridade e sem medo: Temos medo do Evangelho? Esta pergunta é
fundamental. Porque, se nos esquecemos do Evangelho, se não o temos
constantemente presente em nossos critérios, convicções e pautas
de conduta, não será porque nos dá medo? Não nos acontecerá que sintamos
pânico de ter que aceitar que a retidão de nossa vida depende de nossa
fidelidade ao Evangelho?
José Antonio
Pagola
Biblista
e Teólogo espanhol
O CAMINHO
Ao final da última ceia, os discípulos começam a intuir que Jesus
já não estará muito tempo com eles. A saída precipitada de Judas, o anúncio
de que Pedro, logo, o negará, as palavras de Jesus falando de sua próxima
partida, deixaram todos desconcertados e abatidos. O que será deles?
Jesus percebe a tristeza e perturbação deles. O seu coração se comove. Esquecendo-se de si mesmo e do que lhe
espera, Jesus trata de animá-los: «Não se perturbe o vosso coração;
tende fé em Deus e tende fé em mim também». Mais tarde, no curso da
conversação, Jesus lhes faz esta confissão: «Eu sou o caminho, a verdade e a
vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim». Jamais haverão de esquecer isso.
“Eu sou o caminho”. O problema de não poucos é
que vivem extraviados ou desencaminhados. Simplesmente, vivem sem caminho,
perdidos numa espécie de labirinto: andando e refazendo mil caminhos que, a
partir de fora, lhes vão indicando os slogans e modismos do momento.
E, o que pode fazer um homem ou uma mulher quando se encontra sem
caminho? A quem pode se dirigir? Aonde pode ir? Ao aproximar-se de Jesus, o
que se encontrará não é uma religião, mas um caminho. Às vezes, avançará com fé; outras vezes, encontrará dificuldades;
inclusive poderá retroceder, porém está no caminho certo que conduz ao Pai.
Esta é a promessa de Jesus.
“Eu sou a verdade”. Estas palavras contêm um
convite escandaloso aos ouvidos modernos. Nem tudo se reduz à razão. A teoria
científica não possui toda a verdade. O mistério último da realidade não se
deixa apanhar pelas análises mais sofisticadas. O ser humano há de viver diante
do mistério último da realidade.
Jesus se apresenta como caminho que conduz e nos aproxima desse Mistério
último. Deus não se impõe. Não força a ninguém com provas nem evidências. O
Mistério último é silêncio e atração respeitosa. Jesus é o caminho que nos
pode abrir à sua Bondade.
“Eu sou a vida”. Jesus pode ir transformando
nossa vida. Não como o mestre distante que deixou um legado de sabedoria
admirável à humanidade, mas como alguém vivo que, a partir do profundo de
nosso ser, nos infunde um germe de vida nova.
Essa ação de Jesus em nós se produz, quase sempre, de forma discreta e
calada. O próprio crente somente intui uma presença imperceptível. Às vezes,
entretanto, nos invade a certeza, a alegria incontrolável, a confiança total: Deus
existe, nos ama, tudo é possível, inclusive a vida eterna.
Jamais entenderemos a fé cristã se não acolhermos Jesus como o caminho,
a verdade e a vida.
Traduzido do espanhol por Pe.
Telmo José Amaral de Figueiredo.
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