«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 17 de março de 2015

O FUTURO DA TERRA SANTA - ISRAEL

Para entender as eleições em Israel

Gustavo Chacra
Isaac Herzog - líder da coalizão de oposição ao atual governo de Israel
Como será a eleição em Israel?

As eleições em Israel ocorrem nesta terça-feira [17/03/2015]. Ao todo, serão eleitos os 120 membros do Knesset, como é chamado o Parlamento israelense. Nenhum partido terá maioria. Mas, de acordo com pesquisas, a coalizão de centro-esquerda União Sionista, comandada por Isaac Herzog, deve vencer, com 25 cadeiras. O Likud, do premiê Benjamin Netanyahu, deve obter 21 cadeiras.

Qual a chance de Herzog ser premiê?

A vitória de Herzog, no entanto, não garantirá que ele será o premiê. O líder trabalhista precisará montar uma coalizão com outros partidos para conseguir a maioria de 60 cadeiras. Não será uma tarefa fácil. O bloco de centro-esquerda, além da União Sionista, tem o Meretz, com prováveis 5 cadeiras, e o centrista Yesh Atid, do carismático Yair Lapid, com 12. Ao todo, seriam apenas 42 cadeiras.

Qual a chance de Netanyahu permanecer no poder?

O bloco de direita e dos partidos religiosos, além do Likud, tem o Habayit Hayehudi, do conservador Naftali Bennett, com prováveis 11; o Yisrael Beitenu, de Avigdor Lieberman, com 5; o Yashad, com 4; o Shas (religioso), com 8; a União Judaica Torah (religioso), com 6. Ao todo, 55. Netanyahu, portanto, teria meios para chegar à maioria mesmo perdendo a eleição.

Qual a estratégia de Herzog para conseguir a maioria?

Herzog, por sua vez, dependeria de um acordo com partidos religiosos, mas bateria de frente com membros mais laicos de sua coalizão. Ou tentaria o apoio dos dois partidos fiéis da balança, como o Kulanu, de Kahlon, ex-membro do Likud de Netanyahu, com prováveis 9 cadeiras, ou com a Aliança Árabe, formada por uma heterogênea coalizão de partidos árabes, que deve ter 13 cadeiras.

E a de Netanyahu?

O atual premiê precisaria do apoio de todos os partidos do bloco de direita, mais o do Kulanu.

Existe a chance de um governo de união nacional envolvendo Netanyahu e Herzog?

Sim, e esta possibilidade vem sendo especulada por alguns analistas.

Qual a diferença entre Herzog e Netanyahu?

O certo é que Herzog traria vantagens para Israel em três frentes

1. Palestina – Netanyahu, ontem, disse ser contra a criação de um Estado palestino, indo contra toda a comunidade internacional e adotando a bandeira de ultrarradicais israelenses. Já Herzog deve retomar as negociações

2. EUA e Europa – Netanyahu aumentou o isolamento internacional de Israel. As relações entre os governos americano e israelenses estão super deterioradas. Líderes europeus não o suportam. A eleição de Herzog mudaria automaticamente  a imagem de Israel e as relações com Obama se normalizariam

3. Política Doméstica – Netanyahu tem méritos pelo avanço da economia israelense, especialmente na área da tecnologia. Mas o custo de vida para a classe média aumentou e há uma enorme insatisfação com a sua administração

Como é a democracia em Israel?

Para completar, queria deixar claro que Israel é uma democracia multicultural e multireligiosa. Há israelenses nascidos ou descendentes de imigrantes de diferentes partes do mundo, como ocorre no Brasil, EUA e Argentina. Também há judeus e minorias muçulmanas sunitas, cristãs e drusas. Sim, há radicais, assim como em qualquer democracia mundial. Também existe uma ocupação ilegal, segundo a ONU, da Cisjordânia, Colinas do Golã e Jerusalém Oriental, além do controle do espaço aéreo, marítimo e terrestre (em parceria com o Egito) da Faixa de Gaza. Na região, além de Israel, apenas o Líbano e a Tunísia são democráticos, embora o Kuwait, embora ultraconservador, também tenha certas liberdades.

Fonte: ESTADÃO.COM.BR – Blogs Guga Chacra – 17 de março de 2015 – 10h05 – Internet: clique aqui.

Os anos dourados de Israel

Paul Krugman
The New York Times

De uma sociedade igualitária, o país se tornou um dos mais desiguais do mundo avançado e é sobre isso que Netanyahu tentou desviar a atenção
Binyamin Netanyahu - atual Primeiro-Ministro de Israel
Por que o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, sentiu a necessidade de desviar as atenções em Washington? Pois foi isso, é claro, que ele estava fazendo com seu discurso contra o Irã no Congresso americano no início do mês.

Quem estivesse tentando seriamente influenciar na política externa americana não insultaria o presidente e se alinharia com sua oposição política. Não, o verdadeiro propósito daquele discurso foi distrair o eleitorado israelense com grandiloquência belicosa, desviar sua atenção da insatisfação econômica que, como sugerem as pesquisas, poderá tirar Netanyahu do cargo na eleição de hoje.

Mas, alto lá: por que os israelenses estão insatisfeitos? Afinal, a economia de Israel tem se saído bem pelos parâmetros usuais. Ela transpôs a crise financeira com danos mínimos. Num período mais longo, cresceu mais rapidamente do que a maiorias das outras economias avançadas, e se desenvolveu como uma potência em tecnologia. O que poderia ser motivo de reclamação por lá? A resposta, que não creio ser amplamente apreciada nos EUA, é que, embora a economia de Israel tenha crescido, esse crescimento foi acompanhado de uma transformação perturbadora na distribuição de renda e na sociedade do país. Nos seus primórdios, Israel era um país de ideais igualitários - a população dos kibutzim sempre foi uma pequena minoria, mas tinha um grande influência na autoconsciência da nação. E era uma sociedade bastante igualitária, de fato, até o início dos anos 90.

Mas, de lá para cá, Israel experimentou uma ampliação dramática da disparidade de renda. Os principais parâmetros da desigualdade cresceram muito: Israel é, juntamente com os Estados Unidos da América, uma das sociedades mais desiguais do mundo avançado. E a experiência de Israel mostra que isso pesa, que a extrema desigualdade tem um efeito corrosivo na vida política e social. Considere-se o que houve em cada ponta do espectro - o crescimento da pobreza, de um lado, e da extrema riqueza, do outro.

Segundo dados do Luxembourg Income Study:

·        a parte da população de Israel que vive com menos da metade da renda mediana do país - uma definição amplamente aceita de pobreza relativa - mais que dobrou, de 10,2% para 20,5% entre 1992 e 2010.
·        A proporção de crianças em pobreza quase quadruplicou, de 7,8% para 27,4%.

Os dois números são, de longe, os piores no mundo avançado.

Com relação a crianças, em particular, pobreza relativa é o conceito certo. Famílias que vivem com rendas muito inferiores às de seus concidadãos serão alienadas da sociedade que as cerca, incapazes de participar plenamente da vida do país. Crianças que crescem nessas famílias certamente ficarão em desvantagem permanente.

Por outro lado, apesar de os dados disponíveis - curiosamente - não mostrarem uma proporção de renda especialmente grande no 1% do topo, há uma concentração extrema de riqueza e poder no minúsculo grupo de pessoas do topo. E quero dizer minúsculo. Segundo o Banco de Israel, aproximadamente 20 famílias controlam companhias que respondem por metade do valor total do mercado acionário israelense. A natureza desse controle é intricada e obscura, operado por "pirâmides" em que uma família controla uma empresa que por sua vez controla outras empresas e assim por diante. Embora o Banco de Israel seja comedido em sua linguagem, está nitidamente preocupado com o potencial que essa concentração de controle cria para a manipulação de empresas por empresários em causa própria.

Mas por que a desigualdade israelense é uma questão política? Porque ela não precisava ser tão extrema. Alguém poderia pensar que a desigualdade israelense é o desenlace natural de uma economia de alta tecnologia que cria uma forte demanda por mão de obra especializada - ou, talvez, que reflita a importância de populações minoritárias com baixas rendas, a saber, árabes e judeus ultraortodoxos. Acontece, no entanto, que essas taxas elevadas de pobreza refletem, em grande parte, escolhas políticas: Israel faz menos para tirar pessoas da pobreza do que qualquer outro país avançado - sim, menos até do que os EUA.

Por sua vez, os oligarcas israelenses devem sua posição não à inovação e ao empreendedorismo, mas ao êxito de suas famílias em obter o controle de empresas que o governo privatizou nos anos 80 - e eles possivelmente conservam essa posição em parte com influência indevida sobre a política governamental, combinada com o controle de grandes bancos.

Em suma, a economia política da Terra Prometida hoje se caracteriza por dificuldades em baixo e ao menos uma corrupção branda no topo. Muitos israelenses veem Netanyahu como parte do problema. Ele é um defensor de políticas de livre mercado e tem um pendor para viver à custa do contribuinte, enquanto simula desastradamente o contrário.

Foi assim que Netanyahu tentou mudar o tema da desigualdade interna para ameaças externas, uma tática que os que se lembram dos anos Bush devem achar absolutamente familiar. Hoje, descobriremos se ele conseguiu.

Traduzido do inglês por Celso Paciornik.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Internacional / Visão Global – Terça-feira, 17 de março de 2015 – Pg. A11 – Internet: clique aqui.

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