Crise de água em SP: quanto mais grave, mais ocultada
Fernando Brito
blog
Tijolaço
Ontem (05/07/2014),
ao longo do dia, entraram só 125 milhões de litros de água no Sistema
Cantareira. E saíram, mesmo sendo um sábado, dia de menor consumo, 2 bilhões de
litros. São dados oficiais da própria Sabesp. A vazão afluente foi de 1,45
metros cúbicos por segundo, a segunda
menor do ano. Mas, o “saldo” hídrico foi o pior desde o início do bombeamento,
porque, no dia da menor afluência (0,8 m³/s, em 22 de maio), a liberação de
água para os rios de sua bacia estava um
metro cúbico por segundo abaixo da atual.
A saída
de água pelo Túnel 5, por onde a água do Cantareira se junta ao reservatório de
Paiva Castro (onde estão entrando cerca de 2 m³/s), registrou uma vazão de
19,19 m³ que, somada aos 4 m³/s liberados para os rios Piracicaba, Capivari e
Jundiaí, dá 23,19 m³/s de vazão defluente total.
A
diferença entre o que entra e o que sai de água voltou aos dias terríveis de
fevereiro, como você pode ver no gráfico, mesmo com muito menos água liberada.
Basta fazer as contas com os 180 bilhões de litros que remanescem no
Cantareira, aí incluído todo o volume que se espera bombear para o
abastecimento da Grande São Paulo.
Até o
final da semana que se inicia, metade do volume previsto para bombeamento do
maior reservatório, o Jaguari-Jacareí, já terá sido retirado. Um pouco menos de
dois meses depois de ser iniciado. Mantido o ritmo atual e se todas as
previsões otimistas da Sabesp estiverem certas, a segunda metade durará menos
de um mês: em torno de 15 de agosto. Com otimismo, porque os reservatórios,
neste momento, se assemelham mais a um conjunto de canais do que a represas.
Restarão
então dois meses da água abaixo da tomada d’água do reservatório Atibainha.
Isso se
todas as “gambiarras” funcionarem plenamente e as afluências melhorarem um
pouco. Nos seis primeiros dias de julho, a água afluente chegou a meros 2,3
m³/s, pouco mais de 20% da mínima mensal já registrada desde 1930, que é de
11,7 m³/s. Novamente, os dados estão disponíveis e é só nossa imprensa querer
tratar o assunto com a gravidade que ele tem.
A
necessidade de racionamento de água, que era dramática, tornou-se desesperadora
e esconder isso é tão grave que não é possível que um governante o faça, por
razões eleitorais.
Não é
possível sustentar a retirada de água no volume em que está sendo feita.
Nem
mesmo o remanejamento de parte dos consumidores do cantareira para o sistema
Alto Tietê pode ser mantido, porque o ritmo de esvaziamento deste que é o
segundo maior fornecedor de água para os paulistanos também aponta pouco mais
de 100 dias de consumo: tem 24,8% de seu volume útil e cai a 0,2% ao dia.
Manter
o ritmo atual de consumo é loucura. Pode ser a sobrevivência eleitoral de
Alckmin. Mas é o suicídio de nossa maior metrópole.
Comentários
Postar um comentário