Água morna
Dora Kramer
Candidatos à Presidência da República em 2014: Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) |
O
eleitorado já fez a parte que lhe cabe nessa altura: posicionou-se quanto ao
que espera de quem venha a comandar o País nos próximos quatro anos, dizendo
que deseja mudanças; um Brasil melhor, portanto:
- Emprego,
- renda,
- devolução dos impostos na forma de bons serviços,
- oportunidades,
- representação política com um mínimo de qualidade,
- estabilidade nos preços,
- segurança e
- a elevação do grau de maturidade no diálogo entre Estado e sociedade.
Os
candidatos a presidente da República, contudo, ainda estão devendo uma resposta
à altura desses anseios. E que não peçam para cada cidadão ler atentamente os
programas de governo registrados na Justiça Eleitoral.
A
conquista da emoção e da razão do público se dá no ambiente da interlocução que
consigam construir mostrando que estão identificados com os desejos e sabem
exatamente como realizá-los. De preferência, pensando em algo que ainda não
tenha ocorrido ao eleitor, mas que uma vez dito desperte o inconsciente
coletivo.
Isso
quer dizer ir além do óbvio, fazer a diferença e ousar com vontade de acertar.
Hoje os principais concorrentes parecem todos na defensiva, com muito mais medo
de errar.
O
governo tentando se equilibrar na sua zona de conforto das realizações passadas
e promessas vagas de "fazer mais" e a oposição igualmente genérica,
não raro demagógica e temerosa de se confrontar com programas governamentais de
resultado inócuo.
Um
exemplo? Aécio Neves prometendo reformular o programa Mais Médicos. Segundo
ele, vai rever as regras de contratação com o governo cubano. Conversa de
mineiro, pois sabe perfeitamente bem que a questão da saúde pública não se
resolve com a importação de profissionais.
Podemos
citar também a proposta do candidato Eduardo Campos sobre o passe livre para
estudantes do transporte público. Isso lá é assunto para pretendente à
Presidência de uma República complexa como a do Brasil? A ideia
aí é atrair a juventude. Sacada boa, porém óbvia demais e pequena ante a
intenção de quem se propõe a dar um choque de renovação na política.
Esse
poderia ser um bom tema para todos eles. Mas nenhum deles se atreve (no sentido
original do termo, clarear as trevas) a propor algo de realmente inovador: a
mudança do modelo das relações entre Executivo e Legislativo.
Eduardo
Campos, em tese, propõe. Na prática, faz todo tipo de aliança na eleição e diz
que isso é tática para tentar se eleger. Por que não seria para, se eleito,
governar? Sobre a reforma política, nenhum dos três sai do lugar.
Dilma
quer plebiscito e financiamento público, ambas sugestões inexequíveis; Aécio
defende um voto distrital que sozinho não faz verão; Campos sobre o misto de
financiamento público e privado junto com lista fechada e limitação de mandatos
legislativos.
O
eleitor só fica olhando enquanto nenhum deles dá uma palavra sobre voto
obrigatório ou facultativo, porque não lhes interessa a quebra dessa reserva de
mercado.
Carochinha
Uma graça a justificativa de suas excelências para a suspensão dos trabalhos
legislativos até as eleições: livrar o contribuinte do risco da aprovação de
propostas demagógicas que resultem em aumento de gastos públicos.
Quanto
a obrigar o contribuinte a pagar-lhes os salários enquanto cuidam das
respectivas vidas políticas no lugar de exercer o mandato, os congressistas já
não têm restrições.
Ademais,
se a preocupação com o populismo é assim tão séria, bastaria que os líderes
partidários usassem o mesmo poder que tiveram de suspender as sessões
deliberativas para derrubar por votação simbólica as tais propostas
demagógicas.
Vitamina
Quanto mais se noticia o afastamento entre a presidente Dilma e o coordenador
de internet da campanha, Franklin Martins, mais os dois se reaproximam.
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