«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Quatro dias decisivos para a reforma da cúria (e do IOR)

Andrea Tornielli
Vatican Insider
30-06-2014
Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga
Cardeal-Arcebispo de Tegucigalpa
(Honduras)

São quatro dias de trabalho decisivos para a reforma da cúria: a reunião dos oito cardeais conselheiros (com a entrada do nono membro, o secretário de Estado Pietro Parolin), que acontece de 01 a 04 de julho, deve revisar completamente tudo o que foi discutido nas reuniões anteriores e elaborar uma síntese. O autor da proposta do novo rosto da cúria será o coordenador do grupo, o cardeal hondurenho Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga. O conselho formulará propostas concretas e graças a elas o Papa, que sempre está presente nas sessões de trabalho, tomará suas decisões.

É possível, pois, que no dia 04 de julho saibamos se algumas das reformas que haviam sido consideradas como hipóteses chegarão a bom porto. Por exemplo, será institucionalizada a nova figura do “moderator curiae”, sobre a qual se discutiu fartamente ou será esquecida após o nascimento do “ministério da Economia”? Qual será o destino de alguns pontifícios conselhos? Passará o da família, por exemplo, a congregação para os leigos, ou permanecerá como até agora, em vista dos dois Sínodos dedicados justamente a este tema? O novo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização manterá seu atual dirigente ou será integrado em alguma congregação (para a Educação Católica ou para a Propaganda Fide)?

A finalidade é chegar a: 
  • uma maior agilidade, 
  • a uma maior coordenação, 
  • a uma modernização, 
  • a uma simplificação e, sobretudo, 
  • a uma racionalização dos gastos
Justamente para alcançar este último objetivo nasceu a Secretaria para a Economia, encomendada ao cardeal George Pell, e se está estudando algo parecido para reduzir os custos dos diferentes organismos vaticanos que se ocupam da comunicação e da informação.
George Pell
Ex-Cardeal-Arcebispo de Sidney
(Austrália)

Também se falará sobre o futuro do IOR ["banco" do Vaticano]. Embora seja quase certa sua sobrevivência, ainda não se sabe quais competências manterá e quais perderá, em relação à Apsa (que deverá tornar-se quase um “banco central”, essa sigla significa: Administração do Patrimônio da Sé Apostólica) e à Secretaria para a Economia, inclusive em relação à administração dos investimentos. Esta semana também se reúne a comissão cardinalícia sobre o IOR, presidida pelo cardeal Santos Abril y Castelló, e é provável que o cardeal espanhol também fale na presença do C8, dos conselheiros papais. Além dos novos responsáveis pelo Instituto para as Obras de Religião, em vista de uma possível mudança (com a saída do alemão Ernst Von Freyberg, nomeado em fevereiro de 2013 depois da renúncia de Bento XVI, mas antes da chegada da sede vacante à Sé Apostólica).

Os oito cardeais conselheiros do Papa são: 
  • Giuseppe Bertello (único italiano e único curial presente), 
  • Francisco Javier Errázuriz Ossa (único emérito do grupo) [chileno], 
  • Oswald Gracias [indiano], 
  • Reinhard Marx [alemão], 
  • Laurent Monsengwo Pasinya [congolês], 
  • Sean Patrick O’Malley [norte-americano], 
  • George Pell [australiano], 
  • Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga [hondurenho]. 
O último deles é o coordenador do grupo, enquanto que como secretário foi nomeado o bispo de Albano, Marcello Semeraro.

Nos últimos meses, dois dos cardeais conselheiros foram chamados para desempenhar novos postos na cúria: Pell deixou Sidney para ser o “ministro da Economia”, e Marx, que continua como arcebispo de Munique, foi nomeado coordenador do Conselho para a Economia, composto por leigos e especialistas em assuntos financeiros. Alguns deles foram eleitos no âmbito da comissão referente de estudo dos problemas econômico-administrativos da Santa Sé (Cosea). As comissões referentes, sobre o IOR (CRIOR) e a Cosea, concluíram seus trabalhos e foram dissolvidas.

Traduzido do espanhol por André Langer.
Para ler o artigo em seu original, clique aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quarta-feira, 2 de julho de 2014 – Internet: clique aqui.


Da Cúria ao IOR,
todos os obstáculos que retardam as reformas do papa

Franca Giansoldati
Il Messaggero (Roma – Itália)
30-06-2014

Reformar a Cúria? Uma missão bastante complicada. "Não é uma coisa fácil, porque se dá um passo, mas depois surge que é preciso fazer isto ou aquilo, e, se antes havia um dicastério, depois se tornam quatro." Um pouco como um jogo de tabuleiro. Avança-se duas casas e depois se retrocede o dobro.

O Papa Bergoglio se deu conta disso enquanto o tempo passava e ganhava corpo o projeto de fazer ajustes substanciais ao aparato administrativo e burocrático do Estado vaticano, do IOR aos Pontifícios Conselhos, segundo um mandato bem preciso recebido dos cardeais em março de 2013, durante as congregações pré-conclave, ou seja, as longas reuniões realizadas a portas fechadas que precederam o extra omnes [1] e a eleição na Capela Sistina.

As críticas

Por vários dias, duas vezes por dia, os eleitores tiveram a oportunidade de debater sem limites, às vezes duramente, às vezes fazendo vir à tona contrastes e divergências de pontos de vista sobre como, até então, a Cúria Romana era gerida: 
  • Centralista demais, 
  • excessivamente tendenciosa sobre Roma, 
  • incapaz de captar as necessidades periféricas, 
  • até mesmo corrupta e 
  • atravessada por venenos.
Os denunciantes eram sobretudo os estrangeiros, ainda em estado de choque com os últimos acontecimentos, a renúncia de Josef Ratzinger, a opacidade com a qual a Secretaria de Estado, que à época era presidida pelo cardeal Tarcisio Bertone, tinha governado muitos e muitos escândalos. Eventos internos nunca explicados, objetivamente gravíssimos: 
  • prevaricação [2]
  • peculato [3]
  • extorsão [4]
  • suspeita de lavagem de dinheiro no IOR [Instituto para as Obras de Religião] e na Apsa [Administração do Patrimônio da Sé Apostólica], 
  • um mordomo condenado e preso por furtar documentos confidenciais, 
  • um policial e um técnico de informática que acabaram mal por tê-lo ajudado, 
  • corjas de monsenhores contra outras. 
  • E o Papa Ratzinger isolado, quase prisioneiro, no Apartamento do Palácio Apostólico.
Em suma, um panorama bem pouco edificante, inexplicável para muitos dos membros do Colégio Cardinalício, especialmente estrangeiros.

O caminho

O pedido para renovar radicalmente o aparato nasceu justamente da necessidade de transparência, da necessidade de maior escuta e colaboração. Foi justamente nesse período, como lembrou Francisco, entrevistado pelo Il Messaggero, que os cardeais delinearam o caminho que o novo pontífice deveria percorrer.

O primeiro objetivo de todos: rever o mecanismo da Secretaria de Estado, que, de órgão complementar, de apoio ao pontífice, ao longo dos últimos dez anos, ocupou espaços de gestão imprevistos, servindo de tampão para muitas iniciativas, debates internos, propostas periféricas.

Nas congregações gerais, a Secretaria tinha sido descrita como uma espécie de tampão. É por isso que a reforma de um escritório tão importante como esse não podia ser vista como um ponto isolado, mas considerada como uma parte de um processo mais amplo, abrangendo o aparato inteiro, que, por sua vez, deveria ser posto no marco mais geral da mudança da instituição eclesiástica.

Desde o início, não faltaram propostas e ideias. Entre elas, por exemplo, a possível introdução do Moderador Curiae [5], uma figura nova, sugerida por diversos juristas (incluindo o cardeal Coccopalmerio) com funções de interface entre os diversos órgãos, congregações, conselhos, escritórios para agilizar as práticas, defini-las e direcioná-los aos lugares apropriados.

Uma ideia nova, em uso em algumas dioceses, que, no entanto, assim que o debate continuava, demonstrava-se ineficaz, porque daria origem a um órgão a mais. Assim, ao invés de racionalizar, aumentaria os dicastérios em número. No fim, o Moderador Curiae acabou arquivado.

O papa quis se dotar de uma espécie de conselho da coroa, o Conselho dos oito [cardeais], uma estrutura finalizada a rever a constituição apostólica Pastor Bonus (que é a que regula a Cúria). O conselho é composto por líderes do clero dos cinco continentes. Bergoglio chamou para fazer parte dele o hondurenho Maradiaga, o italiano Bertello, o chileno Errazuriz Ossa, o indiano Gracias, o alemão Marx, o congolês Pasinya, o estadunidense O'Malley e o australiano Pell, apoiados pelo secretário, o bispo de Albano, Marcello Semeraro.

Eles se veem em uma base trimestral por alguns dias, depois cada um retorna. Até agora, estabeleceram como lidar com as reformas econômicas e como reforçar a prevenção da pedofilia entre os padres.

O australiano

Por sugestão do C8 [conselho dos oito cardeais], o papa assinou um motu proprio [6] para a instituição de uma "nova estrutura de coordenação para os assuntos econômicos e administrativos", um superministério vaticano da Economia, liderado pelo cardeal George Pell, 72 anos, arcebispo de Sydney. Um homem de estilo rápido e maleável, encarregado de supervisionar todas as despesas.

O novo "Conselho para a economia" é constituído por oito cardeais ou bispos e sete leigos de várias nacionalidades, com competências financeiras e profissionalismo reconhecido. Outro órgão a mais, que vai se somar aos outros.

Além de racionalização, fusões, simplificações. Encostar em um Pontifício Conselho logo desperta um vespeiro, e assim, em cada reunião, o C8 reconhece a complexidade de um sistema em que até mesmo um grão de areia corre o risco de obstruir todo o mecanismo.

Algum tempo atrás, Francisco explicou que a reforma em curso tem como objetivo "melhor servir a Igreja e a missão de Pedro". O problema é que, "entre as várias administrações, deveria se estabelecer uma nova mentalidade de serviço evangélico".

Tempestade no IOR

O exemplo é o IOR [Instituto para as Obras de Religião], onde explodiu a liderança para o controle do Instituto, e o assento da presidência confiada por Bertone ao alemão Freyberg oscila, com a hipótese de um aumento dos custos e outros venenos novamente prontos para atingir os adversários.

A renovação não é nada fácil. Em diversos níveis surgem resistências, ouvem-se resmungos, dores de estômago submissas. O caminho da reforma da Cúria "não será simples e requer coragem e determinação. Um desafio notável, que requer fidelidade e prudência", dissera Francisco, prometendo avançar sem medo.

Bergoglio, de fato, irá em frente. O mandato pré-conclave, além disso, foi muito claro. Veremos quem vai levar a melhor.

A morte

Um pontífice tem um "caminho definitivo". O seu fim é "no túmulo". O Papa Francisco disse isso como uma brincadeira, mas a frase é daquelas que geram discussão. Quando ele a disse na noite de sábado nos jardins vaticanos, ele se encontrava na frente da gruta de Lourdes com um grupo de jovens da diocese de Roma, em busca vocacional.

Depois de lhes falar sobre o "sentido do definitivo", obrigatório na escolha de quem quer ser padre e em antítese direta à atual e imperante "cultura do provisório", Bergoglio acrescentou: "Acredito que quem tem mais seguro o seu caminho definitivo é o papa! Porque o papa... aonde o papa vai acabar? Ali naquele túmulo, não?".

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto.

NOTAS:

[1] Extra omnes ("fora todos [os outros]") é uma frase latina da tradição da Igreja Católica. É pronunciado pelo mestre de celebrações litúrgicas pontifícias na Capela Sistina no início do conclave para eleger um papa, a fim de convidar a sair todos aqueles que não são chamados à eleição, pois a eleição papal é secreta. Posteriormente, a porta da Capela Sistina é fechada.
[2] Prevaricação é crime cometido por funcionário público quando, indevidamente, este retarda ou deixa de praticar ato de ofício, ou pratica-o contra disposição legal expressa, visando satisfazer interesse pessoal.
[3] Peculato é crime que consiste na subtração ou desvio, por abuso de confiança, de dinheiro público ou de coisa móvel apreciável, para proveito próprio ou alheio, por funcionário público que os administra ou guarda.
[4] Extorsão é o ato de obrigar alguém a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, por meio de ameaça ou violência, com a intenção de obter vantagem, recompensa, lucro.
[5] Moderador Curiae seria uma espécie de "diretor-geral" para supervisionar o trabalho dos dicastérios [os Ministérios do Vaticano], perguntar se eles têm instrumentos necessários e pessoal suficientemente qualificado e evitar que a Cúria trave ou se desentenda. Não substituiria o atual trabalho do Secretário de Estado, mas seria mais ideal para os problemas da Igreja universal ao lado do Pontífice.
[6] Motu proprio é uma frase latina (traduzida literalmente significa: por sua própria iniciativa) que indica um documento, um compromisso ou de uma decisão geral de "iniciativa própria" por aqueles que têm o poder ou a faculdade. Por definição, um documento (decisão) do papa que não foi proposto por algum órgão da Cúria Romana.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quarta-feira, 2 de julho de 2014 – Internet: clique aqui.

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