A I D S : CAI INFECÇÃO NO MUNDO, MAS CRESCE NO BRASIL
Apesar de queda mundial,
novas infecções por HIV sobem 11% no Brasil
Fabiana Cambricoli
Paulo Saldaña (colaborou)
Dados
da agência da ONU para o combate à doença indicam que o mundo teve redução de
35% nos óbitos entre 2005 e 2013, enquanto o Brasil teve aumento de 7%. No ano
passado, houve registro de 2,1 milhões de novos casos de HIV no mundo – 44 mil
no País
Na
contramão da tendência mundial de queda, o Brasil registrou alta de 11% no
número de novas infecções pelo vírus HIV entre 2005 e 2013, conforme relatório
divulgado nesta quarta-feira, 16 de julho, pela Unaids, agência das Nações Unidas
voltada para o combate à aids. Em todo o mundo, o índice de novas infecções caiu
27,6% no mesmo período e 38%, se considerado o intervalo entre os anos de 2001
e 2013.
A mesma
situação foi observada quando analisados os números de mortes decorrentes da
doença. Enquanto o mundo teve redução de 35% nos óbitos entre 2005 e 2013, o
Brasil viu o número de vítimas crescer 7% no mesmo período. No ano passado,
foram registrados 2,1 milhões de novos casos de HIV em todo o mundo - 44 mil
deles ocorreram no Brasil, o equivalente a 2% dos registros.
O
desempenho do País também foi inferior ao da América Latina. O número de novas
infecções caiu 3% no continente no período analisado. No México, a redução
chegou a 39%. No Peru, a queda foi de 26%.
Nações
vizinhas também tiveram redução no número de mortes por causa da doença. No
Peru, Bolívia e Colômbia, os óbitos caíram 50%, 47% e 33%, respectivamente. De
todos os novos casos registrados na América Latina, 47% estão no Brasil, onde,
no fim de 2013, viviam cerca de 720 mil pessoas soropositivas.
Georgiana Braga Orillard - Diretora da UNAIDS no Brasil |
Razões
Para
especialistas e ativistas, falhas nos programas de prevenção e as realidades
distintas dos países levaram a essa diferença entre os panoramas mundial e
nacional.
Diretora
da Unaids no Brasil, Georgiana Braga Orillard afirma que, antes de analisar as
falhas nos programas governamentais, é preciso lembrar que alguns países menos
desenvolvidos, sobretudo os africanos, estão registrando só agora declínio de
casos similar ao que o Brasil viveu no fim dos anos 1990 e início dos anos
2000. “Quando o tratamento começou a ser ofertado no Brasil, tivemos redução
significativa de casos de transmissão vertical, em que o vírus é transmitido de
mãe para o filho. Essa redução só está acontecendo agora em alguns países da
África.”
Georgiana
afirma, porém, que a alta de casos no Brasil também está relacionada com a
discriminação e a falta de políticas de prevenção específicas voltadas para os
grupos mais vulneráveis, sobretudo jovens homossexuais, principais vítimas das
novas contaminações. “Faltam iniciativas voltadas para essa geração que está
vivendo a chamada nova onda da epidemia. São aqueles que não vivenciaram o
início da aids, não viram seus ídolos morrerem por complicações da doença,
então não se cuidam, não usam preservativo, não fazem o teste”, afirma.
A
diretora da Unaids diz que não há
programas consistentes voltados para essa população. “Eles são discriminados.
Tem receio de procurar os serviços de saúde porque o preconceito está em toda
parte. Não adianta apenas fazer campanhas. Tem de ser algo trabalhado desde
cedo. É preciso falar sobre o assunto na escola”, defende Georgiana.
Segundo
o informe da Unaids, um terço de
todos os novos casos de infecção por HIV registrados na América Latina no ano
passado está concentrado entre jovens com idades entre 15 e 24 anos.
Resistência
conservadora
Para o
ativista Rodrigo Pinheiro, presidente do Fórum de ONGs Aids do Estado de São
Paulo, o governo não consegue chegar até a população mais vulnerável, que, além
de gays, inclui profissionais do sexo, usuários de drogas e transgêneros.
“Qualquer ideia de campanha mais ousada que surge tem a resistência das
bancadas mais conservadoras do Congresso e de setores do Executivo e acaba não
sendo colocada em prática”, afirma.
TRÊS PERGUNTAS PARA...
Zarifa Khoury
Médica infectologista do Instituto Emílio Ribas
1. Campanhas de prevenção voltadas
para os grupos mais vulneráveis da população seriam suficientes para tentar
diminuir o número de novas infecções por HIV no Brasil?
Resposta: Não.
Temos também de agregar outras formas de prevenção de novas contaminações, além
do preservativo. É preciso divulgar
melhor a profilaxia pós-exposição, já disponível para quem teve uma relação
sexual desprotegida e ofertar a
profilaxia pré-exposição (nos dois casos, são administrados
antirretrovirais para evitar a contaminação).
2. Como as campanhas governamentais
poderiam sensibilizar os grupos mais vulneráveis?
Resposta: Trabalhando
diretamente com os ativistas de cada grupo. Hoje já é feito treinamento dessas
pessoas para trabalhar diretamente com os grupos, mas não é suficiente.
3. Essa população tem o atendimento
adequado nos serviços de saúde?
Resposta: Acho
que os profissionais de saúde devem ser
mais bem treinados sobre a forma de acolhimento dessas pessoas, tanto os
que buscam prevenção quanto os que precisam do tratamento. Hoje nem todos os
serviços têm uma abordagem correta e o usuário desiste de fazer o
acompanhamento correto.
Fonte: O Estado de S. Paulo – Metrópole –
Quinta-feira, 17 de julho de 2014 – Pg. A13 – Internet: clique aqui.
Casos de aids entre gays elevam estatísticas no Brasil, diz
secretário
Lígia
Formenti
Para
Jarbas Barbosa, do Ministério da Saúde, problema também é enfrentado por outros
países da Europa e pelos Estados Unidos
Jarbas Barbosa da Silva Júnior - Secretário de Vigilância em Saúde Ministério da Saúde - Governo Federal |
O secretário de
Vigilância do Ministério da Saúde, Jarbas
Barbosa, atribuiu o aumento de 11% nos casos de infecção pelo vírus HIV no
Brasil ao crescimento do número de
ocorrências entre homens jovens que fazem sexo com homens. A prevalência de
pessoas com HIV entre esse grupo está entre 10%, enquanto na população em geral
está em 0,4%. "A epidemia no Brasil
tem várias faces. Em algumas regiões, como Sudeste, os números caem, algo que
não ocorre nas regiões Norte e Sul", disse. Os números foram
apresentados nesta quarta-feira, 16, no relatório da Unaids, programa da
Organização das Nações Unidas voltada para HIV/Aids.
De
acordo com Barbosa, os dados retratam um problema enfrentado não apenas pelo
Brasil, mas por países que convivem com um padrão de epidemia de aids
concentrada. Estimativas publicadas no trabalho indicam que o País registrou
entre 2005 e 2013 um aumento de 11% nos casos de aids, enquanto no mundo todo
caíram 27,6%.
"Não
estamos isolados. Estados Unidos e alguns países da Europa tiveram aumento de
8% no mesmo período - o que comprova a dificuldade, em locais onde a epidemia
está concentrada, em reduzir esse patamar". O secretário argumentou que a
queda mais significativa nos números de casos de aids ocorreu em países da
África e da Ásia, locais onde até pouco tempo grande número de pessoas morria
em decorrência da doença e que registravam altíssimas taxas de infecção.
"Em países com essas características, a introdução de tratamento, por si
só, já se encarrega de puxar para baixo as estatísticas."
Barbosa
afirma que os números apresentados pela Unaids
são condizentes com as estatísticas do Ministério da Saúde. "O organismo
fez uma projeção, nós trabalhamos com casos novos diagnosticados. São dados que
se complementam", disse. Para Barbosa, os resultados, embora esperados, estão longe de deixar o País numa
situação confortável. "Mas não temos dúvida em dizer que todos os
mecanismos existentes para prevenir novas transmissões estão sendo colocados em
prática."
Tratamento
Ele
cita como trunfo o início precoce do
tratamento de pessoas com HIV e a ampliação
no diagnóstico. As estimativas são de 400
mil pessoas no Brasil são portadoras do vírus e não saibam. "Nesse
semestre, identificamos 35 mil casos novos", contou. Se o ritmo for
mantido, calcula, até dezembro o número de diagnósticos novos pode chegar a 100
mil. "Em quatro anos, em tese,
podemos chegar aos 400 mil, ofertar tratamento, o que reduz de forma
significativa as transmissões", diz.
Estudos
mostram que o início precoce no tratamento reduz os índices de HIV circulantes
no organismo do portador, algo que pode ajudar a diminuir a possibilidade de
contaminação do parceiro, em casos de relações sexuais desprotegidas.
Barbosa
afirma que a oferta precoce de
tratamento é feita em combinação com ações de prevenção, como distribuição de
preservativos e campanhas voltadas para populações mais vulneráveis. Grupos
ligados à prevenção de aids, no entanto, defendem ações inovadoras para atingir
a população de maior risco para doença - homens jovens que fazem sexo com
homens, prostitutas e usuários de drogas. "Todas as inovações foram e vão
continuar sendo adotadas."
O Brasil
registrou ainda alta no número de mortes provocados pela doença, de acordo com
relatório. Para Barbosa, o aumento é esperado, porque leva em consideração o
número acumulado de casos.
Fonte: O Estado de S. Paulo – Metrópole –
Quinta-feira, 17 de julho de 2014 – Pg. A14 – Internet: clique aqui.
Fabiana Cambricoli
Segundo
a Unaids, agência das Nações Unidas, até o fim do ano passado, cerca de 35
milhões de pessoas eram soropositivas
SIDA (Síndrome de Imunodeficiência Adquirida) ou AIDS |
Mais da
metade das pessoas infectadas pelo HIV no mundo não sabe que é portadora do
vírus, de acordo com o relatório da Unaids
divulgado nesta quarta-feira, 16 de julho. Segundo a agência das Nações Unidas,
até o fim do ano passado, cerca de 35
milhões de pessoas eram soropositivas, das quais 19 milhões desconheciam sua
condição.
No momento do levantamento, apenas 37% dos
infectados pelo vírus tinham acesso ao tratamento com antirretrovirais. A
América Latina é a região com o segundo melhor índice de cobertura do
tratamento no mundo, com 45% dos soropositivos sendo tratados. O melhor
desempenho foi registrado na Europa ocidental e central e América do Norte, com
51% de cobertura dos pacientes.
Fim da epidemia
A
estimativa da Unaids é de que a
epidemia de aids possa ser controlada em 2030. De acordo com a agência, se a
meta for atingida, o mundo deixaria de ter 18 milhões de novos casos até lá.
Mais de 11 milhões de mortes decorrentes da doença também seriam evitadas neste
período.
A Unaids ressalta, porém, que há países nos quais o combate à doença está
esquecido. As situações mais preocupantes são registradas na República
Centro-Africana, Congo, Indonésia, Nigéria, Rússia e Sudão do Sul.
Segundo
a Unaids, apenas 15 países concentraram
75% dos novos casos de HIV registrados em 2013.
Fonte: O Estado de S. Paulo – Metrópole –
Quinta-feira, 17 de julho de 2014 – Pg. A14 – Internet: clique aqui.
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