Mártires cristãos no Iraque [um testemunho de fé!!!]
GILLES LAPOUGE
Localização da cidade de Mossul, ao norte do Iraque |
Há
alguns dias, os cristãos da segunda maior cidade do Iraque, Mossul, tomada
recentemente pelos jihadistas do Estado Islâmico no Iraque e no Levante (Isil,
na sigla em inglês), ganharam o direito de escolher seu destino. Os novos donos
de Mossul oferecem quatro opções:
- deixar o Iraque no prazo de 24 horas,
- converter-se ao islamismo,
- pagar um imposto especial para os não muçulmanos, tornando-se cidadãos de segunda categoria ou, finalmente,
- morrer pela espada.
Era uma
espécie de milagre. Fundada no século 4.º, essa corrente católica teve um papel
preponderante naquele tempo. Foi ela que converteu ao cristianismo uma parte
dos mongóis. Além disso, transmitiu aos árabes e posteriormente à Europa
medieval toda a cultura da Grécia antiga.
Frei Gabriel Tooma celebra Missa na igreja caldeia da Virgem Maria da Colheita, em al-Qoush (próximo a Mossul) em 15 de junho de 2014 |
Desde
que os americanos mataram Saddam, os católicos foram escorraçados do Iraque ou
perseguidos. Hoje, com a chegada dos jihadistas do Isil (mais obtusos e
perversos do que os de Osama bin Laden e da rede Al-Qaeda), começa o tempo da
agonia.
Um
pedaço da história, construído ao longo de 15 séculos, ameaça ser aniquilado,
pelo menos se os fanáticos do Isil consolidarem sua vitória e conseguirem criar
um califado que ignora as fronteiras políticas habituais e sonha implantar a
sharia [sociedade governada pelas leis do islã] em grande parte da Síria e do Iraque, de Alepo a Bagdá. As perseguições
tem ocorrido desde que, há um mês, foi proclamado o califado islâmico.
Não
conhecemos todos os detalhes e todas as indignidades. Contudo, sabe-se que
centenas de iraquianos cristãos teriam sido mortos e mais de 600 mil tomaram o
caminho do exílio. Em Mossul, as casas dos cristãos foram marcadas com a letra
N (que significa Nassarah ou Nazareno, um pouco como as casas dos judeus eram
emporcalhadas por Hitler).
Onde se
refugiam esses cristãos expulsos de suas casas? Muitos se dirigem para
Qaraqosh, 30 quilômetros a leste de Mossul, por ser uma cidade de maioria
cristã. Além disso, a localidade é predominantemente curda. Os curdos opõem-se
aos fanáticos do califado. Seus guerreiros, os peshmergas, são muito fortes.
Eles lutam contra as tropas jihadistas e protegem os cristãos.
Surpreende
um pouco que esse fato não tenha provocado indignação nas capitais ocidentais.
É claro que todas essas calamidades são tão numerosas e asquerosas que cada
horror atua como um filtro para impedir que se percebam outros horrores: Síria,
Faixa de Gaza, a Líbia à beira do abismo, Sudão, República Centro-Africana,
Ucrânia, etc. O mundo hoje não passa de uma extensa decepção, um longo soluço.
Mas, no caso dos cristãos de Mossul, estamos diante de uma das mais violentas
crueldades.
Evidentemente,
o papa Francisco está se mexendo. Domingo, ele denunciou o horror iraquiano,
mas os europeus, por enquanto, limitam-se a indignar-se. E o que está sendo
feito para acolher os 400 mil cristãos iraquianos sob ameaça de serem expulsos
de suas casas? O Departamento de Estado americano foi um pouco mais ativo do
que as chancelarias europeias e acaba de condenar as "perseguições
sistemáticas das minorias". Mas e depois?
TRADUÇÃO
DE ANNA CAPOVILLA.
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