Israel e Palestina: A próxima geração de um conflito
JEFF MOSKOWITZ
THE ATLANTIC
Os jovens israelenses estão se tornando mais conservadores
e os palestinos, desapontados
Jovens israelenses mortos no final de junho/2014 |
Nas
últimas semanas, os elementos desgraçadamente banais da violência
palestino-israelense incluíram táticas mais incomuns: sequestros e
assassinatos, notáveis não só por sua perversidade, mas também pela juventude
das vítimas e dos que os cometeram.
Gilad
Shaar, Eyal Yifrach e Naftali Fraenkel [veja foto acima], os três adolescentes judeus que foram
sequestrados e assassinados há três semanas depois de pegarem uma carona na
Cisjordânia, tinham entre 16 e 19 anos.
Muhammad
Abu Khdeir [ver foto abaixo], o garoto palestino capturado do lado de fora de sua casa duas
semanas atrás e queimado vivo numa floresta de Jerusalém, tinha 16. Os judeus
suspeitos de envolvimento na morte Abu Khdeir teriam, conforme se publicou, 16
e 25 anos. Os principais suspeitos da morte dos adolescentes de Israel têm 29 e
32 anos.
Líderes
israelenses e palestinos denunciaram os assassinatos. Mas com adolescentes
judeus marchando por Jerusalém e clamando vingança e adolescentes palestinos se
manifestando em povoados da Faixa de Gaza, as condenações até agora pareceram
inócuas. O presidente palestino, Mahmoud Abbas, tem hoje 79 anos. Netanyahu tem
64. Cada um passou quase uma década no poder (os mandatos de Netanyahu não
foram consecutivos).
Há um
limite para o tempo que eles conseguirão manter o controle sobre suas
populações jovens e cada vez mais insatisfeitas. A idade média em Israel é 29,9
anos. Na Cisjordânia, 22,1 e em Gaza, 18,2.
Nos
próximos anos e décadas, como será que os amigos e colegas de classe de Naftali
Fraenkel e Muhammad Abu Khdeir exercerão a liderança? Os amigos de Fraenkel
poderão ser mais conservadores do que a atual geração de líderes israelenses,
enquanto os de Abu Khdeir poderão desprezar totalmente a política partidária
palestina. O resultado mais perigoso talvez seja que muitos de ambos os lados
poderão passar suas vidas inteiras sem dizer uma palavra uns aos outros.
Adolescente palestino sequestrado e encontrado morto (queimado) numa floresta próxima à Jerusalém no dia 02/07/2014 |
Do lado
israelense, os jovens de hoje são mais de direita do que seus pais e avós. A
direita israelense cobre o espectro político do Partido Likud, de Netanyahu, o
núcleo da atual coalizão governista, ao Israel Beiteinu, favorável aos assentados.
Estes partidos geralmente tomam uma posição mais firme em questões de
segurança, como sobre os foguetes disparados de Gaza e o programa nuclear
iraniano, e são mais desconfiados sobre o processo de paz e as intenções
palestinas.
Uma
pesquisa realizada em maio revelou que 58% dos israelenses com menos de 35 anos
descreveram sua filiação política como de "direita", ante 50% dos
israelenses de 35 a 49 anos. Os israelenses com menos de 35 também se mostraram
mais propensos a dizer que o país está seguindo na direção errada e concordaram
com a declaração "a maioria do mundo ocidental está contra Israel".
A
juventude de Israel é principalmente favorável a uma solução de dois Estados
para os israelenses e palestinos, mas profundamente cética de que tal acordo de
paz seja alcançado. Segundo uma pesquisa realizada no ano passado, 57% dos
israelenses jovens ainda desejam uma solução de dois Estados, mas somente 25% a
consideram factível (ante 41% da geração mais velha).
Idan
Maor, o presidente de 25 anos da União dos Estudantes da Universidade Hebraica
de Givat Ram, atribuiu essas diferenças entre gerações à situação de segurança
em que os israelenses jovens cresceram, e em seu desencanto com o processo de
paz após os bem-sucedidos, mas depois estagnados Acordos de Oslo nos anos 90.
Adolescente palestino atirando pedra em tanque do exército de Israel |
"Durante
toda minha infância, tive medo de andar de ônibus", recordou Maor, em
alusão à Segunda Intifada, levante palestino armado que ocorreu de 2000 a 2005.
"Quase todo dia viam-se imagens pavorosas de pessoas destroçadas dentro de
ônibus", disse. "E (a Intifada) ocorreu no exato momento em que o
movimento pela paz (israelense) era o maior", acrescentou Maor, que se
identifica politicamente como de centro-esquerda. "Muitas pessoas olham
para onde estamos hoje, e aí se tornam mais de direita."
Considere
um israelense com 30 anos. Ele tinha 10 quando o então premiê israelense,
Yitzhak Rabin, e o presidente da Organização para a Libertação da Palestina
(OLP), Yasser Arafat, se encontraram na Casa Branca para assinar os Acordos de
Oslo; 16 quando começou a Segunda Intifada; 18 quando Israel começou a
construir uma segunda barreira com a Cisjordânia (idade em que os israelenses
entram no serviço militar obrigatório); 21 quando Israel retirou seus soldados
e assentados da Faixa de Gaza; 24 quando Israel e o Hamas entraram em guerra em
Gaza. Sua infância foi marcada pela promessa de paz; seus anos de adolescência
por uma violência intensa; seu começo da vida adulta por políticas de
segurança, separação e conflitos esporádicos.
Essa
linha do tempo não é, evidentemente, a única razão por que israelenses jovens
estão virando para a direita. Considere, por exemplo, as taxas de natalidade
entre grupos israelenses tradicionalmente de direita. Os judeus que vivem em
assentamentos na Cisjordânia têm em média dois filhos a mais por família do que
os judeus que vivem dentro das fronteiras de Israel pré-1967. Os haredim que
vivem na Cisjordânia, a seita judaica mais estritamente religiosa, têm uma
média de 7,7 filhos por família. Nem todos os assentados judeus são de direita
e, com certeza, nem todos os filhos de pais de direita se tornam eleitores
conservadores. Mas muitos sim.
Os
jovens palestinos também cresceram durante a Segunda Intifada e a era pós-Oslo
de assentamentos judeus e muros de segurança, com o processo de paz de Oslo
como uma vaga lembrança. Muitos ficaram descontentes com sua liderança e, em
alguns casos, se afastaram totalmente da política.
Numa
pesquisa realizada no ano passado, 73% de jovens palestinos na Cisjordânia e em
Gaza declararam que não pertencem a nenhuma facção política - desses, 39%
disseram que era pela "falta de confiança nas facções políticas" e
20% que os partidos políticos "não representam seus interesses e
perspectivas". A política palestina está dividida desde uma breve guerra
civil em 2007, quando o Hamas se apoderou de Gaza e o Fatah reteve o controle
da Cisjordânia. Os dois partidos finalmente formaram um governo de unidade no
mês passado, mas os sequestros recentes e a batalha resultante entre forças
israelenses e do Hamas estão ameaçando desfazer esse arranjo.
Traduzido
do inglês por Celso Paciornik.
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