«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

SAÚDE NO BRASIL: UMA VERGONHA

Editorial

O fechamento do pronto-socorro da Santa Casa de São Paulo - o maior da maior cidade do País - é a dramática demonstração do desleixo e da irresponsabilidade com que o poder público, em todos os seus níveis, trata a saúde, setor que dele recebe sempre muito menos do que precisa para se manter. Esse era o desfecho mais do que previsível, diante do aprofundamento contínuo da crise que a Santa Casa enfrenta há vários anos, e por isso soam falsas - para dizer o mínimo - as queixas dos governos federal, estadual e municipal, de que não foram avisados da medida extrema.
Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (SP)

Só não viu o que ia fatalmente acontecer - e que prejudica as 1,2 mil pessoas que em média procuram diariamente o pronto-socorro - quem não quis. E o que aconteceu é simples. Faltaram medicamentos e materiais os mais diversos - itens básicos como seringas, cateteres e luvas - indispensáveis ao funcionamento da unidade, que fornecedores deixaram de entregar quando a dívida da Santa Casa com eles chegou a R$ 50 milhões.

A instituição preferiu assegurar, com o pequeno estoque de insumos que ainda lhe resta, o atendimento de 700 pacientes internados no setor de emergência e mais 100 que já se encontravam à espera de atendimento do que aceitar novos pacientes aos quais seria impossível dar tratamento adequado. É uma atitude que qualquer administrador minimamente responsável tomaria. O provedor da Santa Casa, Kalil Rocha Abdalla, alega com razão que a situação se tornou insustentável, porque os repasses recebidos pela instituição dos governos federal e estadual não cobrem os custos dos atendimentos do SUS [Sistema Único de Saúde].

Segundo ele, a Santa Casa recebe hoje R$ 20 milhões mensais, quando seriam necessários cerca de R$ 34 milhões. "No pronto-socorro central, por exemplo, temos 100 leitos e operamos sempre com cerca de 60 pacientes a mais, em macas no corredor, pelos quais não recebemos um centavo", afirma Rocha Abdalla. Não há exagero no que ele diz. Na terça-feira, depois do anúncio da medida, a reportagem do Estado entrou no pronto-socorro e viu 46 pacientes sendo atendidos no corredor, um terço dos quais esperava ali há três dias por um leito regular.

O provedor esclarece que o fechamento do pronto-socorro não tem ligação com a dívida total da Santa Casa, de mais de R$ 300 milhões, que está sendo renegociada, mas apenas com a dívida de R$ 50 milhões com os fornecedores. E que nos últimos meses ligou várias vezes para os secretários municipal e estadual de Saúde avisando sobre a situação, "mas parece que ninguém acreditava".

Um dos aspectos mais lamentáveis dessa triste história é que, quando o inevitável e anunciado aconteceu, os governos federal e estadual - assustados com a péssima repercussão da medida - resolveram inverter espertamente as posições, jogando nas costas da Santa Casa uma responsabilidade que é inteiramente deles. O Ministério da Saúde fala em atitude "unilateral" e alega que vem repassando recursos extras à instituição. Pura demagogia.

A Secretaria Estadual da Saúde, por sua vez, resolveu liberar imediatamente R$ 3 milhões para que a Santa Casa reabra o pronto-socorro, o que só acontecerá, é claro, se os fornecedores aceitarem esse ridículo adiantamento de 6% da dívida de R$ 50 milhões. E o secretário David Uip ainda tem o desplante de exigir em troca uma auditoria nas contas da Santa Casa. O que lhe cabe, em vez de pôr em dúvida a lisura ou a competência da instituição, é fazer um mea culpa por não lhe ter dado ajuda maior, o que é obrigação do governo, já que seus serviços de pronto-socorro não dão conta do recado sozinhos.

A responsabilidade do governo federal é ainda maior, porque na raiz da crise das Santas Casas, a começar pela de São Paulo, e dos hospitais filantrópicos em geral, está - como há muito é sabido, mas não custa repetir - a defasagem da tabela de procedimentos do SUS, que cobre apenas 60% dos custos. Com os restantes 40% eles que "se virem". Essa é a principal causa do endividamento e da crise dessas instituições, responsáveis por 45% dos atendimentos do SUS.

Tirar as Santas Casas da crise, da qual o fechamento do pronto-socorro da de São Paulo é apenas o sintoma mais alarmante, é condição essencial para salvar o próprio sistema de saúde pública.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Notas e Informações – Quinta-feira, 24 de julho de 2014 – Pg. A3 – Internet: clique aqui.

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