«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 7 de janeiro de 2017

Missa da Epifania do Senhor – Ano Litúrgico A – Homilia

Evangelho: Mateus 2,1-12

1 Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém,
2 perguntando: «Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.»
3 Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado assim como toda a cidade de Jerusalém.
4 Reunindo todos os sumos sacerdotes e os mestres da Lei, perguntava-lhes onde o Messias deveria nascer.
5 Eles responderam: «Em Belém, na Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta:
6 E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o meu povo.»
7 Então Herodes chamou em segredo os magos e procurou saber deles cuidadosamente quando a estrela tinha aparecido.
8 Depois os enviou a Belém, dizendo: «Ide e procurai obter informações exatas sobre o menino. E, quando o encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo.»
9 Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante
deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino.
10 Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande.
11 Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra.
12 Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho.

Pe. Alberto Maggi
Ordem dos Servos de Maria (OSM)
Biblista e Teólogo

Jesus se deixa encontrar pelos rejeitados e humildes

Na festa da Epifania a Igreja nos propõe o capítulo 2 de Mateus, um capítulo que, para ser saboreado por completo, exige um esforço de nossa parte: tomar distância da tradição e do folclore e também da imagem - por outro lado muito bonita - do presépio!

De fato vamos ver o que Mateus escreve. “Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes”. Herodes é um rei ilegítimo, porque ele não tinha sangue judeu em suas veias, e, portanto, não podia ser o rei dos judeus. Este rei era tão desconfiado de que alguém pudesse tomar-lhe o trono que chegou ao ponto de matar seus próprios filhos!

“Eis que...”. Quando existe esta expressão: “Eis que”, o evangelista chama atenção para algo inesperado, algo improvável que aparece de repente! “... alguns magos do oriente...”, literalmente “mágicos”. Quem são esses “magos” que vieram do Oriente, quer dizer, de países pagãos?

Com o termo “mago” se entendia, naquela época, o adivinho, mas também o embusteiro; o astrólogo, mas também o corruptor e o charlatão. Enfim, era uma atividade que era proibida na Bíblia. De fato, no livro do Levítico (19,26) é estritamente proibida a atividade destes magos.

Até mesmo no cristianismo não gozará de boa reputação. De modo que no primitivo catecismo da Igreja cristã - chamado “Didaqué” - a atividade do mago será colocada entre a proibição de roubar e a de abortar!

Portanto, temos aqui pessoas que, como “magos”, são desprezadas até mesmo pela Bíblia, e como “pagãos”, são as mais distantes de Deus! O evangelista quer anunciar que o Amor universal de Deus se estende por toda parte, não só por sua extensão geográfica, é claro, mas também por sua qualidade: o Amor de Deus é para todos, mesmo para as categorias que podemos pensar como as mais distantes ou desprezadas.

“...Chegaram a Jerusalém”. Erraram o lugar! Eles chegam ao lugar menos adequado para encontrar Jesus! Em Jerusalém, a Cidade Santa, Jesus não nasceu. Em Jerusalém, o filho de Deus, será condenado à morte e será morto.

Eles perguntaram: “Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer?”. O Evangelista contrapõe Herodes, rei dos judeus, a Jesus, o recém-nascido rei dos judeus.

“Nós vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo”. Essa estrela apresentada por Mateus não deve ser procurada no céu, mas deve ser procurada na Bíblia. Na verdade, o evangelista refere-se a uma profecia contida no livro dos Números, onde Balaão, um adivinho, profetiza: “Uma estrela surge de Jacó, um cetro se levanta de Israel” (24,17). Portanto, não é um evento que acontece no cosmo, mas é um evento teológico que o evangelista nos quer apresentar!

Mais adiante no texto teremos a confirmação disso. Naquela época, pensava-se que quando uma pessoa nascia, nascia também uma nova estrela, que se extinguiria no dia de sua morte.

“E viemos adorá-lo”. “Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado...”. Dá para entender! O rei Herodes é o cara que usurpou o trono e, portanto, tem medo de perdê-lo. Mas o mais surpreendente é o que segue: “... assim como toda a cidade de Jerusalém”. Jerusalém também fica perturbada, assustada! Porque, Herodes havia usurpado o trono, Jerusalém havia usurpado o papel de Deus! Portanto, Herodes tem medo de perder o trono, e Jerusalém tem medo de perder o templo, onde se apresenta uma falsa imagem de Deus, que não corresponde por nada à imagem do Pai que Jesus irá apresentar-nos!

Reunindo todos os sumos sacerdotes e os mestres da lei, perguntava-lhes onde o messias deveria nascer”. É isso o que Herodes teme: o Messias libertador. Herodes O teme e Jerusalém não O espera.

“Eles responderam...:” - os chefes dos sacerdotes e os escribas, quer dizer, a elite sacerdotal e teológica - “...Em Belém, na Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta”. Estamos percebendo que o evangelista é polêmico.

O conhecimento da Sagrada Escritura não é garantia de conhecimento do Senhor. O conhecimento que não se traduz em vida é estéril, é até prejudicial, como no presente caso. E aqui o evangelista cita, porém modificando-a, uma profecia contida no livro do profeta Miqueias, capítulo 5: “E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe...”. Atenção: Miqueias tinha escrito “um dominador de Israel”. Mas, o evangelista censura este termo.

Jesus não será um “dominador”. Portanto, o evangelista, substitui este termo com a palavra “chefe”, isto é quem guia, quem conduz. E, para fazê-lo compreender melhor, acrescenta à profecia de Miqueias, umas palavras tiradas do segundo livro de Samuel: “...que vai ser o pastor de Israel, o meu povo” (5,2). Portanto, Jesus não dominará, mas será o pastor, aquele que cuida do bem-estar de seu próprio rebanho!

“Então Herodes chamou em segredo os magos e procurou saber deles cuidadosamente quando a estrela tinha aparecido”. Ele é preocupado que outros possam ter visto este sinal que indicava o nascimento do Rei dos Judeus. “Depois os enviou a Belém”. Aqui o evangelista nos apresenta uma imagem do poder que é sempre mentiroso e assassino. É mentiroso porque impõe através da mentira o seu poder, e é assassino porque o defende com a violência.

De fato, Herodes diz: “Ide e procurai obter informações exatas sobre o menino. E, quando o encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo”. Na realidade, ele quer eliminá-Lo. O evangelista nos convida a tomar muito cuidado!

“Depois que ouviram o rei, eles partiram. E...” - eis uma nova surpresa - “... a estrela, que tinham visto no oriente, ia adiante deles”. Eles não seguiram a estrela para ir a Jerusalém, viram “a sua estrela no oriente”, mas erraram o caminho, a meta! Eles foram para o lugar errado, a Jerusalém, onde Jesus será assassinado, e não a Belém, onde Jesus tinha nascido. Então, desta vez, a estrela assume o papel de Deus no deserto que guia o seu povo, como o pastor conduz o seu rebanho. É a estrela que os guia! “A estrela ia adiante deles, até parar - literalmente - sobre o lugar onde estava o menino”.

É claro que o evangelista não é tão ingênuo a ponto de apresentar uma estrela que se move “até parar sobre um lugar”. É impossível que uma estrela possa indicar “onde estava o menino”. Portanto, como dissemos no início, esta estrela não deve ser procurada no céu, no cosmos, mas na Bíblia. “Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande”. É a primeira vez que aparece a expressão: uma alegria muito grande! A última vez aparecerá nas mulheres no momento do encontro com Jesus Ressuscitado.

Os pagãos e mulheres, de acordo com a concepção daquele tempo, eram categorias mais distantes de Deus, mas, na realidade, são os que O reconhecem e O aceitam. “Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe”. O evangelista apresenta o par real: Jesus e Maria!

“Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes...”. Os presentes dos magos são simbólicos e indicam que não haverá nunca mais uma exclusividade de um só povo, Israel, mas há uma oportunidade para toda a humanidade!

Na verdade, oferecem “ouro”, que era símbolo da realeza. O evangelista quer antecipar o fato de que o Reino de Deus será também para os pagãos. Não há mais o reino de Israel, que é limitado a uma nação, a um povo, a uma religião, mas o Reino de Deus, quer dizer, o amor universal, que é para todos, mesmo para os pagãos.

Oferecem “incenso”. A oferta de incenso era reservada aos sacerdotes. A característica exclusiva de Israel era ser um povo sacerdotal, ou seja, ter contato direto com Deus. Também esta característica, não será mais a prerrogativa apenas do povo de Israel, mas ser povo sacerdotal - no sentido de uma comunicação direta com Deus - será prerrogativa de toda a humanidade.

Finalmente oferecem “mirra”, que era o perfume da esposa. Assim está escrito no livro
Cântico dos Cânticos (5,1 e 5). Pois bem, o privilégio de povo de Israel de ser considerado “a esposa de Deus” não é apenas para essa nação, mas é para toda a humanidade.

“Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho”. A expressão: seguindo outro caminho” é muito rara na Bíblia! Encontramo-la no Primeiro Livro dos Reis (13,10), para indicar o santuário de Betel, onde era adorado o bezerro de ouro. O evangelista quer agora indicar que Jerusalém é uma cidade idolátrica, da qual é necessário manter as distâncias!

Traduzido do italiano pelo Pe. Bartolomeo Bergese, Diocese de Pesqueira – PE (Brasil).

Fonte: Centro Studi Biblici «Giovanni Vannucci» – Montefano (Marche), Itália – Português – Homilias – Internet: clique aqui.

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