«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Uma Igreja encarnada no mundo

A velha guarda da Igreja Católica sacudida
por Papa Francisco

Joanna Moorhead
Jornal “The Guardian” – Londres (Inglaterra)
27-01-2017

O que Francisco fez é isto:
substituiu o catolicismo vinculado a regras, tradicional, inflexível
por aquilo que podemos chamar de um cristianismo instintivo 
MATTHEW FESTING E PAPA FRANCISCO
Festing era o grão-mestre dos Cavaleiros de Malta

A Igreja na fila para distribuir preservativos[1], dizem as manchetes. Na verdade, essa fila nada tem a ver com camisinhas. As profilaxias em questão, que poderiam ou não ser distribuídas em um projeto social levado a cabo sob os auspícios de uma antiga ordem católica, são apenas o gatilho para uma disputa que é mais importante do que o certo e o errado nos métodos contraceptivos, tema com o qual a Igreja tem se debatido há mais de meio século.

O problema real em xeque, que resultou na saída do grão-mestre dos Cavaleiros de Malta[2], é a questão mais relevante de toda a Igreja Católica: Qual o jeito certo de representar o ensinamento de Cristo no mundo de hoje?

Em uma extremidade, temos Matthew Festing, ex-leiloeiro de 67 anos, em seu traje vermelho claro com detalhes dourados. Ele representa a Igreja Católica de antigamente, a Igreja em que as normas eram ditadas do alto e aceitas pelos que abaixo se encontravam. A Igreja que ele amava, e que adoraria ainda fazer parte, era a Igreja da década de 1950, no último alvoroço da instituição que foi suplantada pelo Vaticano II e pelo liberalismo dos anos 1960. Até onde lhe diz respeito, a Igreja Católica é uma instituição imutável cujos membros, uma vez casados, permanecem casados até a morte e que, caso queiram limitar o tamanho da família, devem assim fazer empregando somente métodos naturais de contracepção.

Na outra extremidade, temos o homem que, nos últimos quatro anos, se tornou num rock star da política mundial: o Papa Francisco, jesuíta de 80 anos, vestindo uma batina branca, surgido das sombras para se tornar um dos líderes mundiais mais autênticos, respeitados e impressionantes da nossa época.

“Eu gosto do papa”, disse uma muçulmana que conheci recentemente. Ela gosta dele, o ama; o mundo gosta dele.

É dentro de sua própria Igreja que os inimigos mortais do ex-Jorge Bergoglio o espreitam.

São pessoas como o cardeal Raymond Leo Burke, arquiconservador americano que se pôs ao lado de Festing com respeito à distribuição de preservativos e que se tornou o ponto focal das esperanças dos fiéis que estão profundamente consternados com o que consideram um liberalismo impossível do Papa Francisco.
RAYMOND LEO BURKE
Cardeal norte-americano arquiconservador que tem se oposto ao Papa Francisco

No ano passado, Francisco emitiu um documento chamado Amoris Laetitia [Exortação Apostólica Pós-Sinodal “A Alegria do Amor”], que deixou Burke e seus aliados cambaleando: a eles, parece que o documento compromete o pecado cardeal de deixar em aberto a questão sobre se um católico divorciado e recasado pode receber novamente a Comunhão.

O que Francisco parece dizer é: sejamos realistas; as pessoas se divorciam e se casam o tempo todo, inclusive os católicos. Nem todos os católicos divorciados e recasados são o diabo encarnado. Então, sim – eles (ou elas) podem muito bem ter condições de comungar. Vamos deixar essa decisão a eles, depois de uma conversa com um padre ou o bispo local?

Para você e para mim, trata-se simplesmente de uma pequena peça de senso comum eclesiástico, a emanar de um minúsculo Estado soberano de onde, há bastante tempo, não saem muitos exemplos de senso comum. Mas, para Burke e Festing, trata-se praticamente uma heresia.

Para eles, regras são regras e não podem simplesmente ser quebradas. Um Burke incandescente tentou distrair Francisco desafiando-o a definir exatamente o que ele quer dizer em Amoris Laetitia.

Até agora, Francisco fez duas coisas:
1ª) ignorou Burke, o que, sem dúvida, irritou ainda mais o americano. A aproximação a Festing parecia um outro modo de conseguir atacar Francisco, mas não deu certo.
2ª) Francisco interveio, e Festing se viu forçado a renunciar. O placar está 2 a 0 a favor da Argentina.

O Vaticano é, como todo analista católico sabe, um viveiro de problemas, escândalos e situações espinhosas. Mas o que importa aqui – o que realmente importa – é que Francisco transformou a Igreja Católica de um modo verdadeiramente fundamental, e a transformou para sempre. É isso o que pessoas como Festing e Burke percebem, e é por isso que estão acabando sem nada para desafiá-lo. Porque o que Francisco fez é isto: substituiu o catolicismo vinculado a regras, tradicional, inflexível por aquilo que podemos chamar de um cristianismo instintivo.

Francisco não se incomoda tanto com os regulamentos; preocupa-se é com o tomar o caminho que ele crê que o homem/Deus que ele segue, Jesus Cristo, teria tomado. Divórcio, um segundo casamento, métodos contraceptivos – essas coisas não são o que mantém Francisco acordado à noite.

A presidência de Trump, a crise de refugiados e a guerra na Síria provavelmente são o que o mantém desperto. É por isso que o mundo gosta dele. E é por isso que ele é tão perigoso à antiga ordem da Igreja Católica. Pode muito bem haver mais terremotos por vir na Itália, e não de um tipo geológico apenas.

Traduzido do inglês por Isaque Gomes Correa. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.
BARÃO ALBRECHT VON BOESELAGER
Ex-grão-mestre da Ordem de Malta

N O T A S

[ 1 ] – Essa manchete apareceu em jornais da Europa depois que Albrecht von Boeselager, uma figura sênior na Ordem de Malta, acusado de apoiar uma organização na distribuição de preservativos em Myanmar [país da Ásia] foi demitido de suas funções. O grão-mestre da Ordem, Matthew Festing, alegou que esse ato de demissão foi apoiado pela cúpula da Igreja Católica, mas o principal diplomata do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, disse a Festing, posteriormente, que o Papa não queria que ninguém fosse demitido.

[ 2 ] – A Ordem de Malta ou Cavaleiros de Malta era denominada, em suas origens, de Ordem do Hospital de São João em Jerusalém, o que também explica qual era a sua tarefa inicial: a de acompanhar as Cruzadas, a partir de Jerusalém, organizando hospitais. Os membros da ordem eram religiosos e cavaleiros. Militares, porque eram cavaleiros armados com espadas. Religiosos, porque faziam votos de castidade, pobreza e obediência. Em 1314, a Ordem dos Templários foi dissolvida, e grande parte das suas propriedades foi conferida aos Hospitalários, precursores dos Cavaleiros de Malta. A Soberana Ordem Militar de Malta foi reconhecida como ordem religiosa pelo Vaticano – foi refundada em 1803, pelo Papa Pio VII, depois novamente confirmada por Leão XIII –, mas também é considerada um Estado por mais de 80 países. Ela goza ainda de um lugar de “observadora” na Organização das Nações Unidas (ONU). Atualmente, sua atividade é gerir hospitais, centros médicos, ambulatórios, instituições para idosos e deficientes, em uma centena de países do mundo. Oferecer assistência às vítimas de lepra. Embora o orçamento da ordem não seja público, pensa-se que o financiamento provém de membros e de doações privadas, além das atividades médicas. Eles também são apoiados pela Comissão Europeia e por organizações internacionais (Fonte: Agostino Paravicini Bagliani, medievalista, clique aqui).

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Segunda-feira, 30 de janeiro de 2017 – Internet: clique aqui.

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