Mundo em mudança!
Ásia assumirá a liderança em economia global
Entrevista
com Peter Petri
Especialista
em comércio e integração internacional da Universidade Brandeis (Waltham, Massachusetts)
Cláudia
Trevisan
As consequências da política protecionista de Donald
Trump
para os Estados Unidos e o mundo
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PETER A. PETRI |
A
saída dos Estados Unidos da América (EUA) da Parceria Transpacífico (TPP) representa um recuo na liderança
global do país em questões econômicas e levará
os países asiáticos, entre os quais a China, a assumirem essa posição,
avaliou Peter Petri, especialista em comércio e integração internacional da
Universidade Brandeis.
Segundo
ele, vários dos outros 11 países que integram o TPP indicaram que pretendem
implementar o acordo mesmo sem a participação de seu maior parceiro. “Os países que estão crescendo e mudando
mais rapidamente no mundo estão na Ásia e eles estão comprometidos em
aprofundar sua integração econômica”, disse Petri ao Estado. Em sua
avaliação, a estratégia de Trump de negociar acordos comerciais bilaterais
trará apenas uma fração dos benefícios que poderiam ser obtidos com os tratados
multilaterais. A seguir, trechos da entrevista.
Qual
é o impacto da saída dos EUA do TPP?
Peter Petri: É uma má notícia, mas já
esperávamos. Ela deve dar impulso a outros acordos que estão sendo concluídos,
como a Parceria Econômica Regional
Abrangente (que reúne 16 países do Pacífico, entre os quais a China). Além
disso, alguns países devem assinar o
próprio TPP. Dos 11 países que restaram, vários já indicaram que estão
interessados nisso. O Japão e a Nova
Zelândia já assinaram e outros, como a Austrália, declararam que estão
dispostos a fazer o mesmo. Isso vai requerer algumas mudanças, porque, da
maneira como está escrito, o TPP exige que os Estados Unidos sejam signatários
para entrar em vigor. Com essa mudança, pode ser adotado pelos demais países.
É
uma golpe sobre a ideia de comércio global?
Peter Petri: Certamente é um recuo dos Estados Unidos do comércio
global, mas não estou tão seguro de que seja um grande golpe na ideia de
livre-comércio. Os países que estão crescendo e mudando mais rapidamente no
mundo estão na Ásia e eles estão comprometidos em aprofundar sua integração
econômica. O Japão disse claramente que quer continuar (no TPP). O presidente Xi Jinping, da China, disse
que eles pretendem assumir a liderança na defesa do livre-comércio, ainda
que a China não tenha muita credibilidade nessa área.
As
economias asiáticas serão forçadas a assumir a liderança. Não acredito que a ideia de comércio está morta, mas a participação dos
Estados Unidos na construção desses sistemas diminuirá no curto prazo.
Qual
será a consequência para os Estados Unidos?
Peter Petri: Será negativa, mas os
Estados Unidos têm uma enorme economia, que é movida em grande parte por
fatores domésticos. O efeito será maior
em indústrias nas quais os Estados Unidos são líderes globais, como
serviços financeiros internacionais, serviços de dados, entretenimento,
farmacêuticos. Esses setores vão
enfrentar mais protecionismo internacional, regras mais rígidas, o que
levará a perda de fatias de mercado para a Europa, a China e outras partes do
mundo.
O
senhor mencionou que a China está se apresentando como a defensora do
livre-comércio. Qual é o impacto sobre a liderança global dos EUA?
Peter Petri: Eu acredito que os EUA se
retraíram de uma posição muito importante de liderar o mundo na direção de uma
economia mais aberta e integrada. Mas os EUA e outros países têm ondas
políticas, que vêm e passam. Tenho confiança na economia americana e no povo
americano no longo prazo. Mas no curto
prazo, os EUA não serão os líderes
em questões econômicas globais. Outros países ou grupos de países vão
desempenhar esse papel.
O
porta-voz de Trump disse que os Estados Unidos buscarão acordos bilaterais.
Isso faz sentido no atual estágio de integração econômica global?
Peter Petri: É uma estratégia que, no
melhor cenário, pode dar uma pequena
fração dos benefícios dos acordos multilaterais. É como usar escambo para
negociar com um parceiro por vez, quando se poderia usar o moderno sistema
financeiro global. Não faz muito sentido. Ainda assim, os EUA podem fechar
acordos com o Reino Unido e com o Japão, que era o mais importante parceiro no
TPP e depende dos EUA para seu guarda-chuva de segurança. Eles podem render benefícios, mas serão uma fração do que viria de um
acordo multilateral. O comércio internacional não está crescendo no mesmo
ritmo de antes e a economia mundial precisa de todos os motores disponíveis
para crescer mais rapidamente. E o TPP era um motor em potencial que poderíamos
usar.
As
medidas protecionistas que Trump ameaça adotar também não vão ajudar.
Nós não apenas não estamos
investindo no sistema de comércio, mas parece que vamos impor uma série de
medidas protecionistas, que devem ser respondidas por medidas protecionistas de
outros países,
trazendo o risco de uma guerra comercial. Pela
história, nós sabemos que guerras comerciais podem ter consequências muito
negativas.
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