«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

"A Copa já definiu seus perdedores e vencedores. Os perdedores fomos nós, moradores da periferia"

Guilherme Boulos, Josué Rocha e Maria das Dores*
Folha de S. Paulo
11-05-2014

«Onde há megaevento, há aumento da especulação imobiliária. Antes mesmo de começar, a Copa já definiu seus perdedores e vencedores. Os perdedores fomos nós, moradores da periferia, que vimos o aluguel abocanhar a nossa renda. As vencedoras foram as grandes empreiteiras, que levaram dinheiro público a rodo para obras de finalidade social duvidosa.» 

Nos últimos meses, a luta do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) por moradia digna e reforma urbana ganhou destaque. Mas ela não vem de agora. O movimento realiza sua luta há 20 anos, ainda que sob o silêncio da mídia e o descaso dos sucessivos governos.

O fortalecimento recente do movimento está ligado, paradoxalmente, a efeitos colaterais do crescimento econômico. O setor da construção civil recebeu incentivos do governo e foi beneficiado com a relativa facilitação do crédito. Com isso, o mercado imobiliário se aqueceu, as empreiteiras engordaram seu patrimônio e a especulação foi às alturas.

Os efeitos se fizeram sentir pelos trabalhadores mais pobres. Boa parte não tem casa própria. O valor do aluguel aumentou brutalmente. Desde 2008, o aumento médio em São Paulo foi de 97% e no Rio de 144%, segundo o índice Fipe/Zap. No mesmo período, a inflação medida pelo IPCA ficou em 40%.

O resultado foi um aprofundamento da lógica de expulsão dos mais pobres para mais longe. Em Itaquera, onde está ocorrendo a Ocupação Copa do Povo, milhares de moradores foram expulsos para periferias ainda mais distantes: Guaianazes, Cidade Tiradentes ou mesmo para municípios como Ferraz de Vasconcelos. Ir para mais longe significa mais tempo no transporte e serviços públicos e infraestrutura urbana mais precários. O que o Bolsa Família e o aumento progressivo do salário mínimo deram com uma mão o aluguel mais caro tirou com outra.
Cerca de 7,7 mil famílias ocupam, desde novembro de 2013, uma área batizada de Nova Palestina
em terreno na zona sul de São Paulo
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

A intensificação das ocupações de terrenos e prédios ociosos foi a forma de resistência popular a esse processo. Aqueles que não aceitaram ser jogados para buracos ainda mais distantes estão ocupando terras - terras ociosas utilizadas para especulação imobiliária. Só com esse contexto permite a compreensão de ocupações como Vila Nova Palestina (com 8.000 famílias em São Paulo), Favela da Telerj (com 5.000 famílias no Rio) e Copa do Povo, que em uma semana chegou a 4.000 barracos.

A Copa foi um agravante. Onde há megaevento, há aumento da especulação imobiliária. Antes mesmo de começar, a Copa já definiu seus perdedores e vencedores. Os perdedores fomos nós, moradores da periferia, que vimos o aluguel abocanhar a nossa renda. As vencedoras foram as grandes empreiteiras, que levaram dinheiro público a rodo para obras de finalidade social duvidosa. Como denúncia, ocupamos suas sedes na última semana, ao lançar a campanha "Copa sem povo, tô na rua de novo".

Mas, ao lutarmos, não fazemos vista grossa aos conservadores mais atrasados que agora querem pegar a onda das mobilizações sociais. Se temos diferenças com o governo Dilma Rousseff (PT), somos também categóricos em dizer que Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) não nos representam. Representam, ao contrário, o atraso neoliberal.

A cidade privada para poucos é a cidade da privação para a maioria. Essa mudança passa por uma profunda reforma urbana, que não virá do Congresso, com seus parlamentares financiados até o pescoço pelo capital imobiliário. Ela vem de baixo. A história dos povos ensina que as transformações são resultado de movimentos populares de massa, que enfrentam as relações de poder constituídas. Chamamos isso de poder popular. É isso que quer o MTST.

* Membros da coordenação do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) e da Frente de Resistência Urbana.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Segunda-feira, 12 de maio de 2014 – Internet: clique aqui.

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