«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Contra a crise, a partilha

Zygmunt Bauman
Jornal Avvenire
06-05-2014

O evento histórico da economia de mercado está chegando ao fim.
Está por começar a era da cooperação e da partilha.

É concebível um mundo gerido e organizado de outra forma em relação àquele em que vivemos – um mundo de crescimento obstinado do individualismo, do consumismo, do desperdício e da desigualdade social? 

Esse é o problema que 
Jeremy Rifkin aborda sem meios termos na sua obra mais recente, de título provocativo: The Zero Marginal Cost Society [trad.: A sociedade de custo marginal zero], com o subtítulo The Internet of Things, The Collaborative Commons, and the Eclipse of Capitalism [trad.: A internet das coisas, os bens colaborativos e o eclipse do capitalismo].

Rifkin defende que uma alternativa aos modelos capitalistas de mercado, amplamente considerado uma das características sempiternas da natureza humana, não só é concebível, mas já nasceu e está ganhando espaço, chegando provavelmente a se tornar dominante não dentro de alguns séculos, mas sim de poucas décadas. 

Os "bens comuns colaborativos", insiste Rifkin, não são uma utopia, mas sim uma realidade ao dobrar a esquina; uma realidade que está distante do atual não o espaço de uma revolução, de uma guerra mundial ou de outra catástrofe, mas apenas o lapso de tempo que está se reduzindo visivelmente, necessário para que amadureçam formas de partilha e modos de comunicação que já estão implantados, germinam e florescem, fornecem energia e resolvem problemas logísticos. 

Assim que tiverem chegado à plena maturidade, os bens comuns colaborativos "quebrarão o monopólio das gigantescas empresas de integração vertical, que operam nos mercados capitalistas, tornando possível a produção paritária em redes continentais e globais de expansão horizontal de custo marginal próximo de zero". 

O evento histórico de tal economia está chegando ao fim. Está por começar a era da cooperação e da partilha. Rifkin tem razão quando nos exorta a rasgar o véu tecido pela sociedade consumista mercantil, descobrindo as reais alternativas cada vez mais tangíveis: a possibilidade de uma sociedade baseada na colaboração em vez da competição. 

No entanto, uma coisa é o lembrete – é justo resistir à tentação de ignorar ou recusar os sinais promissores, que, no entanto, se assomam, de cenários sociais (hoje, a maioria não pode começar senão a partir de uma pequena minoria, e mesmo o carvalho mais frondoso tem origem em uma bolota) –, outra coisa é a improvável sugestão de que a questão já esteja resolvida e que o resultado da transformação em curso esteja preestabelecido... Tudo isso soa como uma nova versão de "determinismo tecnológico".

Um machado pode ser usado com a mesma facilidade para cortar madeira ou a cabeça de alguém: e enquanto a tecnologia determina a série de opções em aberto para os seres humanos, ela não determina quais dessas opções, no fim, será escolhida e qual será descartada. O caminho do desenvolvimento tecnológico não é de mão única. (…) 

Igualmente discutível é a decisão de atribuir à tecnologia da informação o status de "infraestrutura" capaz de determinar o caráter de "bem comum colaborativo" da sociedade futura. O acesso universal, fácil e cômodo aos eventos de todo o mundo em tempo real, combinado com a possibilidade igualmente aberta, fácil e sem perturbações de se expor a um público universal já foi saudada por inúmeros observadores como um autêntico ponto de viragem na breve, densa e tempestuosa história da democracia moderna.

Contrariamente às expectativas, praticamente generalizadas em nível mundial, de que a internet pode representar um grande passo à frente na história da democracia, envolvendo cada um de nós na construção do mundo que compartilhamos e substituindo a hereditária "pirâmide do poder" por uma política "lateral", acumulam-se provas de que a internet também pode servir para perpetuar e reforçar conflitos e antagonismos, impedindo, de fato, que uma eficaz negociação a mais vozes leve a um possível armistício e acordo, com integração e colaboração em benefício mútuo.

Paradoxalmente, o perigo brota da inclinação de inúmeros internautas a fazer do mundo virtual uma zona isenta de conflito, mas não negociando as questões conflitantes e resolvendo-as com recíproca satisfação, mas removendo da própria esfera visual e mental os conflitos que afligem o mundo não virtual... 

Inúmeras pesquisas têm demonstrado que os usuários assíduos da internet podem passar, e de fato passam, grande parte (talvez a maior parte) do seu tempo, ou mesmo a vida inteira, na rede, encontrando-se exclusivamente com pessoas que pensam como eles. 

A rede cria uma versão refinada de "zona de acesso limitado": ao contrário do seu equivalente no mundo não virtual, aqui não é cobrado dos ocupantes um aluguel exorbitante, e não adiantam guardas armados nem sofisticados sistemas de controle de circuito fechado; basta uma simples tecla "delete". (…)

O inconveniente é que, em tal ambiente virtual, tão artificial quanto habilmente desinfetado, dificilmente se poderá desenvolver um sistema imunológico contra as toxinas das controvérsias endêmica ao universo não virtual.

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Segunda-feira, 12 de maio de 2014 – Internet: clique aqui.

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