«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 13 de maio de 2014

ISSO É QUE É JUSTIÇA

Janio de Freitas
Estátua símbolo da Justiça
Diante do Supremo Tribunal Federal em Brasília (DF)

Um componente comum a quase todas as manifestações públicas e reações a ocorrências violentas é o protesto contra a impunidade. Assim genericamente mesmo, por uma razão simples e forte: a consciência coletiva de que a impunidade cobre todos os níveis e formas de poder sobrepõe-se à necessidade de especificações. Valem mais a garganta, o braço e o fogo, juntos ou separados.

Apesar de todos serem os alvos dos protestos, é no Judiciário que se consuma a impunidade. Atribuí-la aos recursos de defesa, aos inquéritos policiais malfeitos, às insuficiências do Ministério Público e à quantidade de processos são verdades que nem por isso são justificativas. Há incontáveis comprovações da diferença de produção entre juízes e entre tribunais; de comodismo e de incompetência que se curvam a procedimentos protelatórios; de magistrados, eles próprios, que retêm processos por anos intermináveis, inclusive no Supremo Tribunal Federal, frequentemente com um simples “pedido de vistas” cuja intenção não se precisaria adivinhar. O Supremo mesmo é um museu de processos que esperam julgamento.

A impunidade gritada nas ruas tem duas fontes: os fatos objetivos para motivá-la e o Judiciário para completá-la. Diante do clamor público, porém esse culposo Judiciário é um corpo inerte, sem iniciativa, sem nervos, sem sensibilidade. Até hoje, dispensa-se de reconhecer e de atirar-se ao problema, com o muito que pode fazer. Os governos recebem todos os petardos, e os aceitam como se fossem os únicos causadores do clamor público contra a impunidade.

É o tal Judiciário que desejo saudar, diante dele me curvo em reconhecimento a mais um feito grandioso: o Judiciário condenou, no Pará, o principal acusado de um crime de morte. Não, de mortes. Cinco. O principal acusado chegou a estar preso, mas o Superior Tribunal de Justiça soltou-o, para esperar o julgamento em liberdade. Por acaso, ele fugiu, e, como gosta de São Paulo e seu nome naquela altura não lhe convinha, viveu muito bem entre os paulistanos e com outro nome.

O crime? Bem, foi o sequestro de quatro agricultores, assassinados a tiros depois de dois dias de torturas terríveis, cujos corpos foram amarrados juntos, com pedras como lastro, e jogados em um rio. Assim quis fazer o fazendeiro Marlon Alves Pidde, assim foi feito. O ano? Esses pormenores não importam muito, mas vá lá: foi em 1985. Aquele em que a ditadura ruía, e começava a retomada da democracia. Desde então, um dos coautores, embora condenado, já se livrou da prisão, por seus 70 anos. O fazendeiro Marlon logo chega lá também.

Na Comissão Interamericana de Direitos Humanos há um processo contra o Brasil, considerando o que passou no Judiciário a propósito do crime. Talvez alguém ache, por lá, que 29 anos sem julgamento equivalem à impunidade. É que lá fora costumam ter certa má vontade com o Brasil. Mas, podemos ter orgulho, um Judiciário que leva 29 anos para julgar um crime monstruoso não é para qualquer país.


Fonte: Folha de S. Paulo – Poder – Terça-feira, 13 de maio de 2014 – Pg. A10 – edição impressa.

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