No avião, Papa conversa com jornalistas e comenta polêmicas
Da Redação, com
Rádio Vaticano
Francisco
abordou temas que vão desde momentos na Terra Santa até assuntos polêmicos,
como o celibato dos padres e casos de pedofilia na Igreja
![]() |
Papa acompanhado por padre Lombardi conversa com jornalistas em voo Foto: L’Osservatore Romano |
No
avião, que o levou de volta ao Vaticano, na noite desta segunda-feira, 26 de maio, o
Papa Francisco conversou, durante quase uma hora, com os jornalistas que o
acompanharam na Terra Santa. Vários foram os assuntos abordados: dos momentos
mais marcantes da viagem ao celibato dos sacerdotes, passando por escândalos
financeiros, pedofilia e a hipótese de uma renúncia a exemplo de Bento XVI.
Confira alguns pontos:
Os gestos na Terra Santa e o encontro
Peres – Abu Mazen
“Os
gestos mais autênticos são os espontâneos, aqueles que não pensamos, mas que
acontecem. Algumas coisas como o convite do Papa aos dois presidentes à oração
estava sendo pensado, mas havia muitos problemas logísticos, muitos! Era preciso
levar em consideração o território onde esse encontro iria se realizar, e não é
fácil. Isso já se programava, uma reunião, mas, no fim, saiu o que espero que
seja bom. Será um encontro de oração, não para fazer mediação.”
Relação com os ortodoxos
“Com
Bartolomeu, falamos de unidade que se faz em caminho. Jamais poderemos fazer a
unidade num Congresso de Teologia. Ele confirmou-me que Atenágoras realmente
disse a Paulo VI: ‘vamos colocar todos os teólogos numa ilha e nós
prosseguiremos juntos’. Devemos nos ajudar, por exemplo, com as igrejas,
inclusive em Roma, onde muitos ortodoxos usam igrejas católicas. Falamos do
concílio pan-ortodoxo, para que se faça algo sobre a data da Páscoa. É um pouco
ridículo: ‘Quando ressuscita o seu Cristo? O meu, na semana que vem. O meu, em
vez disso, ressuscitou na semana passada’. Com Bartolomeu, falamos como irmãos,
nos queremos bem, contamos as dificuldades do nosso governo. Falamos bastante
da ecologia, de fazermos juntos um trabalho sobre esse problema.”
Abusos contra menores
“Neste
momento, há três bispos sob investigação, e um deles, já condenado, tem a pena
em estudo. Não há privilégios nesse tema sobre os menores. Na Argentina,
chamamos os privilegiados de ‘filhos de papai’. Pois bem, sobre esse tema não
haverá 'filhos de papai'. É um problema muito grave. Um sacerdote que comete um
abuso trai o Corpo do Senhor. O padre deve levar o menino ou a menina à
santidade; o menor confia nele. Mas em vez de levá-lo à santidade, abusa dele.
É gravíssimo! É como fazer uma missa negra! Em vez de levá-lo à santidade,
leva-o a um problema que terá por toda a vida. Na próxima semana, no dia 6 ou 7
de junho, haverá uma Missa com algumas pessoas abusadas, na Santa Marta;
depois, haverá uma reunião, eu com eles. Sobre isso, deve-se prosseguir com
tolerância zero.”
Celibato dos padres
“Há
padres católicos casados nos ritos orientais. O celibato não é um dogma de fé,
é uma regra de vida, que eu aprecio muito e creio que seja um dom para a
Igreja. Não sendo um dogma de fé, há sempre uma porta aberta.”
Eventual renúncia
“Eu
farei o que o Senhor me dirá para fazer. Rezar, buscar a vontade de Deus. Bento
XVI não tinha mais forças e, honestamente, é um homem de fé, humilde como é,
tomou esta decisão. Setenta anos atrás, os bispos eméritos não existiam. O que
acontecerá com os Papas eméritos? Devemos olhar para Bento XVI como uma
instituição, pois ele abriu uma porta, a dos Papas eméritos. A porta está
aberta, se haverá outros ou não, somente Deus sabe. Eu creio que um Bispo de
Roma, ao sentir que lhe faltam forças, deva fazer as mesmas perguntas que o Papa
Bento fez.”
Outros temas
Francisco
falou ainda da alegada investigação sobre um desvio de 15 milhões de euros dos
fundos do Instituto para as Obras de Religião, em que estaria envolvido o
antigo Secretário de Estado do Vaticano. “A questão desses 15 milhões está
ainda em estudo, não é claro o que aconteceu”, adiantou.
O Papa
disse que quer “honestidade e transparência” na administração financeira do
Vaticano, e que a nova Secretaria para a Economia, dirigida pelo Cardeal Pell,
vai “levar por diante as reformas que foram sugeridas” por várias comissões
para evitar “escândalos e problemas”. Nesse sentido, recordou que cerca de 1,6
mil contas foram fechadas no IOR nos últimos tempos.
Francisco
confirmou que, além da viagem à Coreia do Sul em agosto, voltará à Ásia, em
janeiro de 2015, para visitar o Sri Lanka e as regiões afetadas pelo tufão nas
Filipinas. O Papa mostrou-se preocupado com a falta de liberdade religiosa
neste continente, falando num número de “mártires” cristãos que supera os dos
primeiros tempos da Igreja.
O Papa
não quis comentar os resultados das eleições europeias, mas lembrou as críticas
que deixou na exortação apostólica Evangelii
Gaudium a um sistema econômico “desumano”, que “mata”.
Já
sobre a beatificação de Pio XII,
pontífice durante a II Guerra Mundial, Francisco disse ter sido informado de
que ainda não há o milagre reconhecido para que a causa avance.
Fonte: Canção Nova – Especiais – Papa Francisco –
Terça-feira, 27 de maio de 2014 – 08h17 – Internet: clique aqui.
COMENTÁRIO
COMENTÁRIO
PADRES CASADOS?
Entrevista
com Vito Mancuso
Teólogo
católico italiano
Giovanni
Panettiere
Sítio QN
28-05-2014
![]() |
Vito Mancuso - teólogo italiano |
"O
primeiro passo será a ordenação de homens casados, de fé comprovada, os
chamados viri probati. Realistamente,
podemos esperar isso do Papa Francisco, e não é óbvio que o caminho será fácil.
O risco de um cisma na Igreja certamente não pode ser excluído a priori."
O teólogo Vito Mancuso, 51 anos (um dos quais em hábito talar), olha para a
frente, para as possíveis reformas para uma instituição eclesial
"tradicionalista", com tempos "muito longo".
A
abertura do Bergoglio sobre o casamento para os sacerdotes, que surgiu em uma
coletiva de imprensa improvisada no avião de retorno da Terra Santa, o
convenceu, mais uma vez, de que o bispo de Roma "não quer esconder nada,
tem um senso de confiança e sabe bem quais são os pontos nodais descobertos na
Igreja".
Eis a entrevista.
Professor,
que problemas o celibato dos sacerdotes envolve?
Vito Mancuso: Nenhum,
a questão não é que os padres não possam se casar, o ponto nodal é o celibato
obrigatório. O clero célibe se liga à Tradição e à Escritura do mesmo modo que
padres casados, possibilitado nas Igrejas católicas de rito oriental. Eu
conheço sacerdotes célibes que são um dom para a Igreja , que vivem da melhor
forma possível a condição de solteiros.
Família
e sacerdócio são incompatíveis?
Vito Mancuso: Aliviados
do peso de uma vida familiar – e o diz alguém que é pai de dois filhos
adolescentes e sabe o que significa ser marido e pai –, muitos padres conseguem
se dedicar completamente à comunidade dos fiéis.
Depois,
há o outro lado da moeda...
Vito Mancuso: Ou
seja, aquele clero para o qual a condição celibatária significa fechamento aos
relacionamentos, distância dos fiéis, frieza. É um limite ditado pela
imaturidade, e que o papa conhece bem.
Na sua
opinião, quantos jovens se aproximariam do sacerdócio se lhes fosse dada a
possibilidade de escolher se querem se casar ou não?
Vito Mancuso: Muitos.
Eu mesmo, aos 23 anos, depois de um ano como padre, pedi ao meu arcebispo,
Martini, para ser dispensado. Entendi que não conseguiria viver pacificamente a
minha condição.
O que o
cardeal lhe disse à época?
Vito Mancuso: Que eu
ainda era muito jovem e que o que realmente lhe interessava era o meu bem. Ele
me enviou para completar os estudos longe da diocese, sem nenhum encargo pastoral.
Eu não era mais um sacerdote, assim como eu lhe pedira.
Traduzido
do italiano por Moisés Sbardelotto.
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos –
Notícias – Quinta-feira, 29 de maio de 2014 – Internet: clique aqui.
Comentários
Postar um comentário