«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

6º Domingo do Tempo Comum – Ano B – Homilia

Evangelho: Marcos 1,40-45

Naquele tempo:
40 Um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: “Se queres tens o poder de curar-me”.
41 Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: “Eu quero: fica curado!”.
42 No mesmo instante a lepra desapareceu e ele ficou curado.
43 Então Jesus o mandou logo embora,
44 falando com firmeza: “Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!”.
45 Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-lo.

JOSÉ ANTONIO PAGOLA
DEUS ACOLHE OS “IMPUROS”

De forma inesperada, um leproso aproxima-se de Jesus. Segundo a lei, [o leproso] não pode entrar em contato com ninguém. É um “impuro” e deve ficar isolado. Tampouco, pode entrar no Templo. Como Deus pode acolher em sua presença um ser tão repugnante? Seu destino é viver excluído. Assim estabelece a lei.

Apesar de tudo isso, este leproso desesperado atreve-se a desafiar todas as normas. Sabe que está fazendo algo errado. Por isso, se põe de joelhos. Não se arrisca a falar com Jesus de frente. Do chão, lhe faz essa súplica: Se queres, podes limpar-me. Ele sabe que Jesus pode curá-lo, porém desejará limpá-lo? Jesus se atreverá tirá-lo da exclusão a qual está submetido em nome de Deus?

Surpreende a emoção que a aproximação do leproso produz em Jesus. Ele não fica horrorizado nem recua. Diante da situação daquele pobre homem, comove-se até as entranhas. A ternura transborda. Como não irá querer limpá-lo, uma vez que ele vive movido pela compaixão de Deus para seus filhos e filhas mais indefesos e desprezados?

Sem hesitar, estende a mão para aquele homem e toca sua pela desprezada pelos puros. Jesus sabe que está proibido pela lei e que, com este gesto, está reafirmando a transgressão iniciada pelo leproso. Somente a compaixão o move: Quero: fica limpo.

Isto é o que quer o Deus encarnado em Jesus: limpar o mundo de exclusões que vão contra sua compaixão de Pai. Não é Deus quem exclui, mas nossas leis e instituições. Não é Deus quem marginaliza, mas nós. Daqui em diante, todos deverão ter claro que não se deve excluir ninguém em nome de Jesus.

Seguir Jesus significa não nos horrorizarmos diante de nenhum impuro ou impura. Não recusar a nenhum “excluído” a nossa acolhida. Para Jesus, em primeiro lugar está a pessoa que sofre e não a norma [a lei]. Colocar, sempre, a norma à frente é a melhor maneira de ir perdendo a sensibilidade de Jesus pelos desprezados e rejeitados. A melhor maneira de viver sem compaixão.

Em poucos lugares é mais reconhecível o Espírito de Jesus do que nas pessoas que oferecem apoio e amizade gratuitos a prostitutas indefesas, que acompanham psicóticos esquecidos por todos, que defendem homossexuais que não podem viver, dignamente, sua condição... Essas pessoas nos recordam que no coração de Deus cabem todos.

EXPERIÊNCIA SADIA DA CULPA

Não há necessidade de ter lido muito Sigmund Freud para ver como uma falsa exaltação de culpa invadiu, deu a tonalidade e muitas vezes perverteu a experiência religiosa de não poucos fiéis. Basta nomear Deus a essas pessoas para que o associem, imediatamente, a sentimentos de culpa, remorso e temor de castigos eternos. A recordação de Deus lhes faz sentir-se mal.

Parece que Deus está sempre ali para recordar-nos a nossa indignidade. Não se pode apresentar-se diante dele se não se humilha, antes, a si mesmo. É o passo obrigatório. Essas pessoas somente se sentem seguras perante Deus, repetindo incessantemente: “Por minha culpa, por minha culpa, por minha tão grande culpa”.

Essa maneira de viver diante de Deus é pouco sadia. Essa “culpa perseguidora”, além de ser estéril, pode destruir a pessoa. O indivíduo, facilmente, acaba centrando tudo em sua culpa. É a culpa aquilo que mobiliza sua experiência religiosa, suas orações, ritos e sacrifícios. Uma tristeza e um mal-estar secreto se instalam, então, no centro de sua religião. Não é estranho que pessoas que tenham tido uma experiência tão negativa, um dia abandonem tudo.

Entretanto, não é esse o caminho mais correto para a cura. É um erro eliminar o sentimento de culpa. Carl Gustav Jung e Carlos Castilla del Pino, entre outros, nos advertiram dos perigos que encerra a negação da culpa. Viver “sem culpa” seria viver desorientado no mundo dos valores. O indivíduo que não sabe registrar o dano que está fazendo a si mesmo e aos outros nunca se transformará nem crescerá como pessoa.

Há um sentimento de culpa que é necessário para construir a vida, porque introduz uma autocrítica saudável e fecunda, põe em marcha uma dinâmica de transformação e leva a viver melhor e com mais dignidade.

Como sempre, o importante é saber em qual Deus alguém crê. Se Deus é um ser exigente e sempre insatisfeito, que tudo controla com olhos de juiz vigilante sem que nada lhe escape, a fé nesse Deus poderá gerar angústia e impotência diante da perfeição nunca alcançada. Se Deus, pelo contrário, é o Deus vivo de Jesus Cristo, o amigo da vida e aliado da felicidade humana, a fé nesse Deus produzirá um sentimento de culpa sadio e curador, que impulsionará a viver de forma mais digna e responsável.

A oração do leproso a Jesus pode ser estímulo para uma invocação confiante a Deus a partir da experiência de culpa: Se queres, podes limpar-me. Esta oração é reconhecimento de culpa, porém é, também, confiança na misericórdia de Deus e desejo de transformar a vida.

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: MUSICALITURGICA.COM – Homilías de José A. Pagola – Segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015 – 17h03 – Internet: clique aqui.

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