«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

REFORMA DA CÚRIA ROMANA: UMA ESTRUTURA MAIS A SERVIÇO

Papa Francisco não quer "cotas" de movimentos nem de congregações religiosas na Cúria

José Manuel Vidal
Religión Digital
16-02-2015
Basílica e Praça de São Pedro - Vaticano
Francisco não quer "cotas" na Cúria. Por isso, o documento sobre a reforma do aparato vaticano postula, no seu número 13, que "deve ser suprimida, onde se verificar, a tendência de associações, movimentos eclesiais e institutos religiosos de ocuparem ofícios e cargos nos dicastérios para obterem vantagens particulares e não para servir a Igreja".

Uma clara advertência aos movimentos eclesiais, cuja penetração no Vaticano proliferou nas últimas décadas, elevados ao posto de decisão da maquinaria vaticana por João Paulo II e Bento XVI.

Há, neste momento, na Cúria, uma alta porcentagem de membros de dicastérios e pontifícios conselhos que pertencem:

·        ao Opus Dei,
·        ao Comunhão e Libertação,
·        aos Focolares ou
·        aos Kikos [membros do Caminho Neocatecumenal].

E em todos os escalões dos vários dicastérios: de secretários a presidentes.

Participaram dessa mesma dinâmica, durante esses anos, congregações e ordens religiosas, assim como outras instituições eclesiais. Em menor medida, já que, até à chegada de Francisco, os postos curiais eram dominados, em grande medida, pelos membros dos movimentos neoconservadores.

O número 13 do documento da reforma acrescenta que também deve-se "evitar a admissão de pessoal provenientes de ambientes eclesiais que tenham linhas de pensamento e de ação não equilibradas, contrárias àquele equilíbrio que deve caracterizar precisamente a Cúria, que tem a tarefa de garantir a comunhão na diversidade".
Cópia da página do projeto de reforma da Cúria Romana citado neste artigo
Com essa medida, ficarão de fora da Cúria, a partir de agora, os membros de associações religiosas ultraconservadoras, que também haviam se infiltrado no Vaticano e tinham conquistado postos de relevância nos últimos anos.

Por isso, a conclusão do número 13 do documento reformador da Cúria afirma que a contratação do pessoal do Vaticano deve ser feita "com base na competência, evitando todo tipo de pressão externa", a fim de "evitar, ao menos em certa medida, esse perigo".

Por outro lado, o documento de reforma curial explica o procedimento a ser seguido. Ele postula que "seria oportuno que uma comissão restrita de canonistas e teólogos seja encarregada de redigir um primeiro esquema da nova Constituição".

E acrescenta o documento: "Esse esquema deveria ser enviado ao grupo dos nove cardeais para uma primeira avaliação. Sucessivamente, poderá ser enviado aos presidentes das Conferências Episcopais, aos chefes das Igrejas Orientais, aos cardeais individuais e aos dicastérios da Cúria Romana, para, no fim, ser discutido em uma plenária de cardeais".

E conclui: "Depois de todo esse processo, uma Comissão Cardinalícia deveria ser encarregada de redigir, com a ajuda de algum canonista, o texto definitivo, que depois será apresentado ao papa para a sua aprovação".

Parece evidente que, se a reforma da Cúria tiver que seguir todo esse processo, vai levar muito tempo. A primavera se atrasa...

Traduzido por Moisés Sbardelotto. Para ter acesso à versão original em espanhol, clique aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015 – Internet: clique aqui.

Corte nos "ministérios" e menos purpurados:
a revolução de Francisco na Cúria
 
Marco Ansaldo
La Repubblica
15-02-2015

·        Menos cardeais na Cúria [romana].
·        Três ou quatro grandes polos para se reagrupar a pletora atual de dicastérios vaticanos [as secretarias ou “congregações”, como são denominadas].
·        Criação de um novo escritório do Ambiente, caro ao papa pronto para lançar uma encíclica verde.
·        Mais "transparência" e
·        "verdadeira colegialidade".

Esses são os principais pontos nos quais está se desenvolvendo a reforma da Cúria, nas linhas delineadas nestes dias pelo Conselho restrito dos cardeais, o chamado C9, liderado pelo hondurenho Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, e discutidas no Vaticano antes da criação dos 20 purpurados.
Papa Francisco com o grupo dos nove bispos que o assessoram no governo da Igreja,
o denominado C9 - "Comissão dos 9"
Mas Francisco conseguirá fazer passar a sua nova revolução, voltada a diminuir o poder dos cardeais curiais e destinada a causar resistências e polêmicas? Vejamos, enquanto isso, uma a uma, as novidades.

Dois novos polos

A reforma, da forma como foi apresentado na Aula do Sínodo aos 165 cardeais presentes, visa a instituir duas Congregações que encorporariam temas e funções agora distribuídos em vários dicastérios:

·        Uma para os leigos, família e vida, que salientaria a importância do laicato.
·        E uma para caridade, justiça e paz.

Esses dois novos polos reuniriam diversos Pontifícios Conselhos (como por exemplo o "Cor Unum" sobre a solidariedade "Justiça e Paz", Saúde, Migrantes etc.) e a eles também se poderia unir a Academia para a Vida e a Academia das Ciências Sociais, assim como a Caritas Internationalis.

Superministério da Cultura

Na reunião do C9, foram ouvidos o cardeal Gianfranco Ravasi, sobre o futuro do Pontifício Conselho para a Cultura, por ele presidido, e o Mons. Paul Tighe, secretário do conselho para as Comunicações Sociais.

Ravasi propôs a criação de uma nova grande Congregação que some a já existente para a Educação Católica à Cultura e que contemple outros satélites como as Pontifícias Academias das Ciências e das Ciências Sociais, os Museus e a Specola (ambas agora sob a égide do Governatorato), o Arquivo e a Biblioteca Vaticana.

Candidato natural para reger um superministério como esse pode ser o próprio Ravasi. Outro nome que se apresenta é o do padre Antonio Spadaro, diretor da revista La Civiltà Cattolica, jesuíta como Jorge Bergoglio, primeiro entrevistador do Papa Francisco e homem atento ao mundo da literatura, assim como das novas mídias.

Dilema economia

Ainda está em discussão o destino dos dicastérios econômicos. Desmentidas as rixas sobre o controle dos orçamentos entre a recém-nascida Secretaria para a Economia, do cardeal George Pell, e a Propaganda Fide, do "papa vermelho" Fernando Filoni, quem guiará, no futuro, as finanças vaticanas?

O dilema é saber se os vários outros organismos que gozam de disponibilidade financeira (como a Secretaria de Estado, Propaganda Fide, Igrejas Orientais, Doutrina da Fé, Apsa e Governatorato) conseguirão conservar as suas prerrogativas.

Escritório para o ambiente

Surge um novo setor que diz respeito à "proteção da criação, visto de um ponto de vista não só naturalista, mas também da ecologia humana e social". A intenção de Francisco é a de criar um subdicastério dedicado ao Ambiente, que conflua em um dos dois novos polos em gestação, mas ainda dotado de um certo peso.

Canteiro de obras em aberto

Os trabalhos da reforma não vão terminar antes de 2016. "É um canteiro de obras em aberto", comenta o porta-voz papal, padre Federico Lombardi. Não está claro o destino de outros dicastérios: como o do Diálogo Inter-religioso ou da Nova Evangelização, liderado por Dom Rino Fisichella, último ministério vaticano da história, criado pelo antecessor de Francisco, Bento XVI.

Menos cardeais

Menos ministérios significa menos cardeais na Cúria, como disse Dom Marcello Semeraro, secretário de C9. Mas isso, no futuro, poderia trazer resistências para o papa, comenta-se do outro lado do Tibre. Até mesmo dos seus apoiadores, uma vez diminuído o seu poder à frente de dicastérios, em breve, destinados a desaparecer.

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto. Para ter acesso à versão original deste artigo, clique aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015 – Internet: clique aqui.

Papa quer desfazer a casta da Cúria Romana

Francesco Peloso
Linkiesta
16-02-2015
Cardeais em celebração no Vaticano
Também no Vaticano é tempo de reformas institucionais, e o debate entre os cardeais, como se diz, é construtivo. O corte dos dicastérios [congregações ou secretarias], embora programado, ainda não entrou em vigor. Por outro lado, já faz dois anos que o papa atira à queima-roupa contra o seu quartel-general, ou seja, contra a própria Cúria Romana liderada por ele e que ele gostaria que fosse fortemente redimensionada em peso em relação às Igrejas locais e à pesada estrutura burocrática.

Assim, também no domingo passado, por ocasião da missa celebrada em São Pedro para os novos cardeais recém-eleitos, Francisco reafirmou com extrema precisão – e não sem dureza – a qual modelo de Igreja ele pretende dar origem.

Nesse contexto, ele tirou para fora a palavra-chave que se tornou um mantra contemporâneo: a casta: "Caros irmãos – afirmou Bergoglio –, olhando para Jesus e para a nossa mãe Maria, exorto-vos a servirem a Igreja de modo que os cristãos, edificados pelo nosso testemunho, não sejam tentados a estar com Jesus sem querer estar com os marginalizados, isolando-se em uma casta que não tem nada de autenticamente eclesial".

"Exorto-vos – acrescentou – a servirem a Jesus crucificado em cada pessoa marginalizada, por qualquer motivo; a verem o Senhor em cada pessoa excluída que tem fome, que tem sede, que está nua; o Senhor que está presente também naqueles que perderam a fé, ou que se afastaram de viver a própria fé; o Senhor, que está na prisão, que está doente, que não tem trabalho, que é perseguido; o Senhor que está no leproso, no corpo ou na alma, que é discriminado!".

Depois, concluiu: "Não descobrimos o Senhor se não acolhemos de modo autêntico o marginalizado. Recordemos sempre a imagem de São Francisco, que não teve medo de abraçar o leproso e de acolher aqueles que sofrem qualquer gênero de marginalização. Na realidade, é no evangelho dos marginalizados que se joga, se descobre e se revela a nossa credibilidade!".

A credibilidade que ganha sentido quando a Igreja está do lado dos últimos. A rejeição do poder e daquela casta que é o contrário da Igreja. Estes, portanto, são os conceitos postos claramente pelo papa, naquela que pode ser definida, com razão, como uma das homilias mais importantes do seu pontificado [para ler esta homilia na íntegra, clique aqui].
Papa Francisco proferindo sua homilia na missa com os novos cardeais
Basílica de São Pedro (Vaticano): domingo, dia 15 de fevereiro de 2015
Francisco usou tons particularmente duros, porque, nesses dois anos, ele pôde ver com os seus próprios olhos a que ponto o sistema eclesial romano (e não só) estava enroscado sobre si mesmo: prelados, cardeais, aparatos da Cúria que resistem à mudança tanto no nível pastoral – a pouca atenção dada aos ofendidos, aos marginalizados, aos não crentes, àqueles que perderam a fé, aos perseguidos – quanto no organizativo, onde prevalece o medo de perder postos e privilégios.

De fato, o papa, que queria simplificar a Cúria Romana, pô-la a serviço dos bispos espalhados pelo mundo, eliminar progressivamente as púrpuras [cardeais] no Vaticano, está se deparando com uma oposição que o impede de se apressar.

Diante de um pântano que, de vez em quando, levanta a cabeça, ruge, reivindica a "doutrina tradicional", opõe-se à Igreja aberta, que acolhe também os divorciados, os casais de fato, os separados, os homossexuais, prenunciada por Francisco. E que, embora não tenha a coragem de dizê-lo explicitamente, detesta o primado do "social" desejado pelo papa argentino, com a sua persistente crítica ao capitalismo financeiro e a escolha de colocar os presos, os imigrantes, os pobres antes da bioética [aborto, eutanásia, métodos anticoncepcionais etc.].

Enquanto isso, porém, o Papa Francisco, que ainda é jesuíta, mudou um pouco as coisas, e se trata de passos substanciais:

·        Em particular, ampliou o Colégio Cardinalício cada vez mais para o Sul do mundo e restringiu o número dos purpurados europeus.
·        As nomeações de cardeais curiais, além disso, já estão reduzidas ao mínimo.
·        Assim, em um eventual conclave, os barretes vermelhos com direito de voto (menos de 80 anos) extraeuropeus – do Norte ao Sul da América, passando por Tonga, Mianmar, Etiópia e Nova Zelândia – estão em maioria em comparação com os cardeais europeus, 68 a 57.
·        Em suma, o futuro da Igreja parece estar marcado: olha-se para a Ásia e para as Américas.

A próxima etapa, então, é o Sínodo sobre a família de outubro, que, provavelmente, será o ponto decisivo. Se a linha do papa de uma clara abertura da Igreja para a compreensão da condição humana contemporânea, em todos os seus aspectos, tiver um consenso amplo, nesse ponto, o resto virá mais ou menos por conta própria. Além disso, o fato é que Bergoglio deve dar um passo de cada vez e ele não tem muito tempo pela frente: ele já tem 78 anos e não será papa "pela vida inteira" – ao menos, essas são as intenções declaradas. Por isso, é provável que, mais cedo ou mais tarde, ele renuncie como Bento XVI. Assim, depois do Sínodo, ele entrará em cheio também na redução dos dicastérios vaticanos.

Por outro lado, trata-se de reescrever uma constituição, mesmo que apostólica, que, neste caso, se chama Pastor Bonus, isto é, o documento promulgado por João Paulo II em 1988, que estabelece regras, funções e harmonia institucional entre os vários órgãos centrais da Igreja. A constituição desenvolvida por Wojtyla já se baseava nos sólidos fundamentos da reforma, feita por Paulo VI (Regimini ecclesiae universae), que, de fato, tinha aumentado e potencializado o papel da Secretaria de Estado, que se tornou, ao longo dos anos, o verdadeiro motor do Vaticano.

A linha do papa é clara:

·        desburocratizar,
·        reduzir,
·        encorpar e, sobretudo,
·        transformar as poderosas Congregações vaticanas lideradas por cardeais que formavam uma espécie de corte em estruturas a serviço das Igrejas locais, dos seus problemas, capazes de intervir para apoiar os episcopados locais.

Uma mudança radical destinada a pôr em crise hábitos, sinecuras, tradições e pequenos potentados da cidadela vaticana, mas também, mais em geral, uma ideia da Igreja. Bergoglio, na verdade, já deu um golpe como se deve em matéria de reformas, desde logo, poucos meses depois de ter sido eleito. Já é famoso agora o chamado C9, o conselho dos [nove] cardeais do papa, que, enquanto isso, tornou-se o verdadeiro centro de governo da Igreja universal. E se trata, além disso, de um clássico organismo colegial. De fato, ele funciona como uma espécie de conselho de ministros do pontífice.

Nesse grupo, encontramos muitos dos homens-chave do pontificado de Francisco:

·        o secretário de Estado, Pietro Parolin;
·        o prefeito da Secretaria para a Economia, o cardeal australiano George Pell;
·        o norte-americano Sean Patrick O'Malley, o cardeal capuchinho que preside a comissão pontifícia para a proteção da infância (o dicastério da luta contra a pedofilia na Igreja);
·        o cardeal alemão Reinhard Marx, à frente do Conselho para a Economia, organismo misto de prelados e leigos que traça as diretrizes econômicas da Santa Sé em sintonia com a Secretaria para a Economia.
·        No C9, também está o cardeal Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, o coordenador do grupo, voz autorizada para descrever o novo modelo econômico e social contrário à globalização financeira, traçado pelo papa.

É dentro desse grupo que foram discutidos todos os dossiês mais delicados – a reforma econômica, a resposta aos abusos sexuais, a própria reforma da Cúria.

O projeto de Bergoglio, no entanto, é ainda mais ambicioso: o objetivo é o de atribuir ao Sínodo, ou seja, a assembleia de bispos delegados de todos os países, poderes cada vez mais amplos, isto é, não só consultivos, mas também decisionais. Também deveriam ter um crescente papel as Conferências Episcopais continentais e nacionais.

São justamente essas as opções que assustam mais a ala conservadora. Desse modo, acabaria o superpoder romano e nasceria uma Igreja colegial em que as vozes locais têm uma importância decisiva.

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto. Para ter acesso à versão original deste artigo, clique aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015 – Internet: clique aqui. 

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