«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

OS NOVOS BISPOS BRASILEIROS SÃO COMO PAPA FRANCISCO QUER?

Os “novos” bispos de Papa Francisco no Brasil:
mudar para que as coisas continuem as mesmas

Sérgio Ricardo Coutinho

Analisando as 41 nomeações episcopais para o Brasil, podem significar "a continuidade do “espírito wojtyliano-ratzingeriano”:
pouca preocupação pastoral-missionária de uma “Igreja acidentada” e mais a preocupação com as dimensões administrativa, disciplinar e moral típicas de uma “Igreja autorreferencial”

Esta é a constatação de Sérgio Ricardo Coutinho, professor de História da Igreja no Instituto São Boaventura de Brasília e de “Serviço Social, Religião e Movimentos Sociais” no curso de Serviço Social do Centro Universitário IESB de Brasília.
Papa Francisco fala aos bispos do Comitê do CELAM (Conferência Episcopal Latino-Americana e Caribenha)
quando de sua visita ao Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude (Julho/2013)
Segundo ele, "se tomarmos as indicações do Papa Francisco aos bispos do CELAM, durante encontro realizado no último dia da Jornada Mundial da Juventude de 2013, parece que, com estas nomeações-remoções, o lugar do Bispo continua o mesmo de sempre: “à frente”, com sua “psicologia de príncipe” e fortalecendo o fenômeno do “bispo-polígamo” (termo usado pelo Papa Francisco), ou seja, vivendo na expectativa de ser esposo de “outra Igreja”.
 
Leia, na íntegra, esse importante pronunciamento de Papa Francisco aos bispos,
clicando aqui.

Sem dúvida que já existem alguns destes que se colocaram ou que querem se colocar “no meio” do seu povo “para mantê-lo unido e neutralizar as debandadas”, mas levará ainda algum tempo para que se coloquem também, e fundamentalmente, “atrás” “porque o próprio rebanho tem seu faro para encontrar novos caminhos”.

Eis o artigo:

No momento em que o Papa Francisco realiza um novo Consistório com a nomeação de 16 novos cardeais com direito a voto e que procura mudar e universalizar radicalmente a configuração da geopolítica eclesiástica da Cúria Romana, talvez já seria o momento de verificarmos qual é o rosto dos novos bispos nomeados, e também a configuração geopolítica eclesiástica, da Igreja no Brasil nestes quase dois anos de pontificado.

Desde maio de 2013, até o mês de janeiro deste ano, Papa Francisco fez 41 novas nomeações episcopais para o Brasil, sendo que 85% delas (36) foram de remoções (seja de uma diocese para outra, seja da condição de bispo-auxiliar ou prelado nullius para a condição de [arce]bispo titular da diocese).

Dos 17 novos bispos ordenados, 9 foram nomeados para as grandes Arquidioceses do Brasil na condição de bispos-auxiliares, atendendo, assim, aos pedidos dos arcebispos de São Paulo, Salvador, Olinda e Recife, Belém do Pará, Brasília e Goiânia. Só para a Arquidiocese de São Paulo foram nomeados 4 novos bispos-auxiliares, revelando bem a influência do cardeal D. Odilo Scherer.

Os 36 remanejados, em sua grande maioria, foram feitos bispos por Bento XVI durante o período de D. Lorenzo Baldissieri como Núncio Apostólico, e agora cardeal e secretário-geral do Sínodo dos Bispos. Talvez esteja aqui um sinal da velha e boa estratégia do mote: “plus ça change, plus c’est la même chose” (“mais que se mude, mais as coisas continuam as mesmas”). Isto pode significar a continuidade do “espírito wojtyliano-ratzingeriano” [dos papas João Paulo II e Bento XVI]:

·        pouca preocupação pastoral-missionária de uma “Igreja acidentada” e
·        mais a preocupação com as dimensões administrativa, disciplinar e moral típicas de uma “Igreja autorreferencial” [voltada para si mesma e não a serviço do mundo].

Então vejamos. Destes remanejamentos, alguns chamam atenção para uma espécie de “promoção”, ou seja, saindo de dioceses “pouco significantes” para uma (arqui)diocese de maior tradição e valor simbólico-político.

Por exemplo, as nomeações de D. Jaime Spengler, OFM para a Arquidiocese de Porto Alegre (deixando de ser bispo-auxiliar); de D. José Valmor César de Bom Jesus da Lapa (BA) para São José dos Campos (SP), ou seja, do “sertão” da Bahia para a “Via Dutra”; de D. Edmilson Amador Caetano, O. Cist. de Barretos (SP) para Guarulhos (SP), da terra do “pião-boiadeiro” para a terra do “pião-operário”; de D. Fernando José Monteiro Guimarães de Garanhuns (PE) para o Ordinariato Militar (Brasília), da “diocese” de Lula para a “diocese” dos Militares.

Além deles, também D. José Luiz Majella Delgado de Jataí (GO) para a Arquidiocese de Pouso Alegre (MG); de D. Zanoni Demettino Castro de São Mateus (ES) para coadjutor da Arquidiocese de Feira de Santana (BA); de D. João José da Costa de Iguatu (CE) para coadjutor da Arquidiocese de Aracajú (SE) e de D. José Antonio Peruzzo de Palmas-Francisco Beltrão (PR) para a Arquidiocese de Curitiba (PR).

O Regional da CNBB que mais se privilegiou das nomeações (remanejamentos) foi o Sul 1 (que corresponde ao Estado de São Paulo), maior “colégio eleitoral-episcopal” do Brasil e que sempre tem um peso importantíssimo quando das eleições para a Presidência e Comissões Pastorais da CNBB. Só para dentro deste Regional foram conduzidos 13 dos 14 nomeados (somente D. Fernando Brochini saiu de Jaboticabal e foi transferido para Itumbiara-GO).

Geograficamente, continua a concentração Centro-Sul com 26 nomeações, enquanto Norte e Nordeste tiveram 10. Depois do Sul 1, foram os Regionais Centro-Oeste (Brasília e Goiás), com 6 nomeações, e Nordeste 3 (Bahia e Sergipe), com 4 nomeações, respectivamente, que mais foram contemplados. No NE 3 há um caso de remoção, a partir de informações levantadas, feita por pressão dos fiéis diocesanos devido à suspeitas de mal comportamento moral de seu bispo.

Apesar disso, algumas destas parecem ser interessantes no sentido de fortalecer ou de manter opções pastorais importantes. Este é o caso, a nosso ver, da diocese de Chapecó (SC). A saída de D. Manoel João Francisco (atual presidente do CONIC) para Cornélio Procópio (PR) pode ajudar muito o Regional Sul 2 (Paraná), que irá acolher o 14º Intereclesial das CEBs em Londrina, no fortalecimento de uma caminhada ecumênica e de participação dos leigos nas bases dentro de uma perspectiva bergogliana (“periferias existenciais”). Por outro lado, a chegada à Chapecó de D. Odelir José Magri, vindo de Sobral (CE), pode dar continuidade e fortalecer ainda mais a caminhada já feita nos últimos anos.

O perfil pastoral dos 17 novos bispos é o seguinte:

a)  Clero: diocesano: 8; religioso: 9;

b)  Famílias Religiosas: Opus Dei (2), Josefinos (2), Franciscanos (1), Missionários do Sagrado Coração (1), Congregação da Missão (1), Oblatos (1) e Congregação da Santa Cruz (1);

c)  Formação Teológica predominante: Direito Canônico (5), Teologia Espiritual (3) e Dogmática (2);

d)  Atividades Pastorais predominantes antes da nomeação: Formador/Reitor/Provincial/Diretor Espiritual (11), Párocos (9), Coordenação de Pastoral/Vigário Geral (5), Ação Social [Fazenda Esperança e Caritas] (2) e Cúria Romana [Conselho para os Textos Legislativos] (1).

e)  Geografia: Centro-Sul: 10; Norte-Nordeste: 7.

Apesar da diversidade das famílias religiosas de cunho missionário, podendo indicar assim um princípio para uma “Igreja em saída”, o que se pode ver é a força de uma “pastoral de conservação” que tanto a Conferência e o Documento de Aparecida alertavam para a sua superação se se queria, de fato, uma “conversão pastoral”. A formação predominantemente em Direito Canônico e Dogmática, mais a experiência burocrático-administrativa em funções diretivas, onde a “virtude da obediência” é a atitude mais praticada, são sinais evidentes de continuísmos.

Além disso, a presença de 3 bispos-auxiliares (São Paulo, Brasília e Goiânia) vinculados efetivamente (e afetivamente) com o Opus Dei (o auxiliar de Brasília, D. José Aparecido Gonçalves de Almeida fez sua Pós-graduação em Direito Canônico na Universidade Santa Cruz de Roma, dirigida pela Opus Dei) seria mais um indício desta tendência.

Por outro lado, podemos também enxergar algumas possibilidades interessantes e inovadoras para um possível “efeito Francisco”:

·        D. Irineu Roman, josefino, nomeado bispo-auxiliar de Belém, um pároco de “periferia” e com “cheiro de ovelhas”;
·        D. Ailton Menegussi, formado em território de CEBs de São Mateus (ES), indo para a Crateús (CE) do saudoso D. Antônio Fragoso;
·        D. Onécimo Alberton, foi Coordenador de Pastoral, presidente da Caritas de Criciúma (SC) e com forte sensibilidade social nomeado para a diocese de Rio do Sul (SC); e
·        do franciscano D. João Inácio Müller nomeado para Lorena (SP), território da Canção Nova, onde estava o conservador D. Benedito Beni dos Santos.

Prof. Sérgio Ricardo Coutinho - autor deste artigo
Se tomarmos as indicações do Papa Francisco aos bispos do CELAM, durante encontro realizado no último dia da Jornada Mundial da Juventude de 2013, parece que, com estas nomeações-remoções, o lugar do Bispo continua o mesmo de sempre: “à frente”, com sua “psicologia de príncipe” e fortalecendo o fenômeno do “bispo-polígamo” (termo usado pelo Papa Francisco), ou seja, vivendo na expectativa de ser esposo de “outra Igreja”. Sem dúvida que já existem alguns destes que se colocaram ou que querem se colocar “no meio” do seu povo “para mantê-lo unido e neutralizar as debandadas”, mas levará ainda algum tempo para que se coloquem também, e fundamentalmente, “atrás” “porque o próprio rebanho tem seu faro para encontrar novos caminhos”.

Não sabemos se o atual Núncio Apostólico no Brasil, D. Giovanni D’Aniello, está a par deste critério eclesiológico de Francisco.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015 – Internet: clique aqui.

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