«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

CHINA E AMÉRICA LATINA: UM NOVO IMPERIALISMO?

A China e a reprimarização da América Latina:
novo imperialismo?

José Eustáquio Diniz Alves[1]

José Eustáquio Diniz Alves
Algumas afirmações deste artigo:

"Enquanto houve crescimento da demanda e do preço das commodities[2] a América Latina e Caribe se beneficiaram, embora a valorização cambial tenha levado ao processo conhecido como 'doença holandesa', que necessariamente leva à uma desindustrialização, no caso da América Latina e Caribe, precoce desindustrialização"

"A China tem relações do tipo imperialista com os países latinoamericanos e os países latinoamericanos tem relações de dependência com a China".

"A ironia é que a criação desta nova dependência a este novo imperialismo é comemorada pelos governos de esquerda da América Latina e Caribe e pelo governo comunista da China, líder dos BRICS. Ao mesmo tempo, tudo isto deixa preocupado os velhos imperialismo europeu e americano. Já há quem diga que o “quintal” está mudando, de novo, de dono."

Eis o artigo.
As lideranças políticas da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) – bloco que agrega 33 países da região – se reuniram nos dias 08 e 09 de janeiro de 2015 em Pequim, para a primeira reunião do fórum China-Celac.

O presidente chinês, Xi Jinping, disse que o encontro é um sinal positivo sobre o aprofundamento da cooperação entre China e América Latina e Caribe e terá um impacto de longo prazo na promoção da cooperação sul-sul e para prosperidade no mundo. Ele disse que há uma expectativa de que o comércio bilateral entre China e América Latina suba para US$ 500 bilhões em dez anos e garantiu US$ 250 bilhões em investimentos chineses na América Latina nos próximos dez anos, como parte de um movimento para impulsionar a influência da China na região, superando a histórica dominação da América do Norte.

A Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL) divulgou o estudo “Primer Foro de la Comunidad de Estados Latinoamericanos y Caribeños (CELAC) y China: Explorando espacios de cooperación en comercio e inversión[3] mostrando que o comércio de bens entre a Celac e a China aumentou 22 vezes entre 2000 e 2013, de US$ 12 bilhões para US$ 275 bilhões, sendo que a China passou a ser o maior “sócio” das transações internacionais da América Latina e Caribe. Em igual período, o comércio da região com o mundo aumentou apenas 3 vezes.

O documento apresentado pela Secretária Executiva da Cepal, Alicia Bárcena, se preocupa com o crescente déficit na balança comercial entre os países da Celac e a China e sugere que os investimentos externos diretos (IED) da China sejam alocados em outros setores que não somente nas atividades extrativas, onde se concentra 90% dos investimentos chineses na América Latina e Caribe.

De fato, a China foi muito importante para o ciclo de crescimento da América Latina e Caribe desde o início do século XXI. Foi a alta demanda chinesa que possibilitou o boom das commodities[4], que elevou o crescimento da economia, valorizou as moedas nacionais dos diversos países da América Latina e Caribe, reduziu o desemprego e possibilitou o aumento dos gastos sociais no sentido de reduzir a pobreza e aumentar a proteção social.
Mas ao mesmo tempo houve um regresso na qualidade do desenvolvimento da região. A maioria dos países da América Latina e Caribe estão passando por um processo de reprimarização, pois a China compra petróleo da Venezuela, cobre do Peru e Chile, soja da Argentina e do Brasil, dentre outros produtos primários e exporta produtos de maior valor agregado.[5]

Enquanto houve crescimento da demanda e do preço das commodities a América Latina e Caribe se beneficiaram, embora a valorização cambial tenha levado ao processo conhecido como “doença holandesa”, que necessariamente leva à uma desindustrialização, no caso da América Latina e Caribe, precoce desindustrialização.

Ou seja, a China foi importante para a retomada da economia da América Latina e Caribe depois da “década perdida”. Mas ao mesmo tempo ela aprofundou uma nova dependência, pois os países latinoamericanos exportam produtos primários e de baixo valor agregado e importam produtos industrializados da China. O emprego industrial cresce na China e diminui na América Latina e Caribe.

Agora, em 2014 e 2015, quando o preço das commodities estão caindo em todo o mundo, os países da Celac estão recorrendo à China a busca de capitais para fechar seus balanços de pagamento. Ou seja, primeiro aprofundaram a dependência econômica e agora vão aprofundar a dependência financeira.

O nome que se dá a esse processo na literatura internacional, desde Rosa de Luxemburgo (1871-1919) e Rudolf Hilferding (1877-1941), é imperialismo. Isto é, a China tem relações do tipo imperialista com os países latinoamericanos e os países latinoamericanos tem relações de dependência com a China.

Na verdade, o “Império do Meio” teve um superávit comercial recorde com o resto do mundo em 2014, de US$ 382 bilhões, resultado do saldo de exportações anuais de US$ 2,34 trilhões e importações anuais de US$ 1,96 trilhões. A China que exportava menos do que o Brasil até 1984, agora exporta 10 vezes mais e possui reservas internacionais de mais de US$ 4 trilhões de dólares.

A ironia é que a criação desta nova dependência a este novo imperialismo é comemorada pelos governos de esquerda da América Latina e Caribe e pelo governo comunista da China, líder dos BRICS[6]. Ao mesmo tempo, tudo isto deixa preocupados os velhos imperialismos europeu e americano. Já há quem diga que o “quintal” está mudando, de novo, de dono.

N O T A S :

[ 1 ] José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE.

[ 2 ] Commodity: é um termo de língua inglesa que, como o seu plural commodities, significando literalmente mercadoria, é utilizado para designar bens e as vezes serviços para os quais existe procura sem atender à diferenciação de qualidade do produto no conjunto dos mercados e entre vários fornecedores ou marcas. As commodities são habitualmente substâncias extraídas da terra e que mantém até certo ponto um preço universal. Tipos de commodities:
Agrícola - exemplos: café, trigo, soja;
Mineral - exemplos: ouro, petróleo, minério de ferro;
Financeira - exemplos: dólar, euro, real, Bitinino;
Ambiental exemplos: água, créditos de carbono;
Recursos energéticos - exemplos: energia elétrica;
Química - exemplos: ácido sulfúrico, sulfato de sódio (Fonte: Wikipédia).

[ 3 ] CEPAL. Primer Foro de la Comunidad de Estados Latinoamericanos y Caribeños (CELAC) y China: Explorando espacios de cooperación en comercio e inversión, Santiago, janeiro de 2015-01-09, clique aqui.

[ 4 ] O boom das commodities foi a alta procura por produtos agrícolas e minerais, sobretudo, por parte de países que experimentaram um forte crescimento econômico em fins do século XX para cá. Estamos falando, principalmente da China e Índia.

[ 5 ] Reprimarização é um termo para descrever a volta a um modelo de desenvolvimento econômico baseado, fundamentalmente, na extração ou produção de produtos primários (exemplos: soja, carvão, minério de ferro, cobre, peixes etc.). Eles são chamados assim, por são a matéria-prima levada para a indústria que os transforma em produtos industrializados e mais valiosos em seu preço.

[ 6 ] BRICS é um acrônimo que se refere aos países membros fundadores (o grupo BRICS: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que juntos formam um grupo político de cooperação. Em 14 de abril de 2011, o "S" foi oficialmente adicionado à sigla BRIC para formar o BRICS, após a admissão da África do Sul (em inglês: South Africa) ao grupo. A sigla (originalmente "BRIC") foi cunhada por Jim O'Neill em um estudo de 2001 intitulado "Building Better Global Economic BRICs" (Fonte: Wikipédia).

Fonte: Portal EcoDebate – Cidadania & Meio Ambiente – 25/02/2015 – Internet: clique aqui.

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