«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

''Os muçulmanos devem se oferecer como escudos humanos para igrejas e sinagogas''

Gad Lerner
La Repubblica
24-02-2015

Esta é a afirmação do líder muçulmano italiano Roberto Hamza Piccardo

Roberto Hamza Piccardo - líder muçulmano italiano
Roberto Hamza Piccardo esteve entre os primeiros italianos convertidos ao Islã, há 40 anos, em 1975, virando as costas para a militância juvenil na extrema esquerda de Imperia. Vinte anos depois, publicou a tradução do Alcorão, ainda em uso nas comunidades muçulmanas da península [italiana], que chegou a 250 mil exemplares distribuídos.

Agora que está prestes a completar 63 anos, muitos dos quais passados no topo da Ucoii (União das Comunidades Islâmicas da Itália), ele dá espaço para o seu filho David Piccardo, que nessa segunda-feira, no Viminale [Ministério do Interior italiano], participou de um encontro com o ministro Alfano, preferindo esculpir para si um papel de batedor livre na galáxia não homogênea da Irmandade Muçulmana.

"Especifiquemos que, com a Irmandade Muçulmana, tenho uma proximidade amigável, mas não sou um membro orgânico da congregação. Hoje, nas nossas comunidades islâmicas, que se opõem tanto às petromonarquias quanto ao Estado Islâmico [EI], está se manifestando uma dialética importante: por um lado, os muçulmanos dialogantes; por outro, a tendência dos puros e duros que – a meu ver, equivocando-se – interpretam a guerra em curso como inevitável empurrão contra o Ocidente e o sionismo".

Eis a entrevista.

É por isso que ainda não foi pronunciada uma excomunhão definitiva, com o termo takfir (apóstata), aos seguidores do chamado Califado [Estado Islâmico]?

Roberto Hamza Piccardo: Você está errado. Várias autoridades islâmicas já condenaram sem meios termos os crimes do EI, definindo-os como incompatíveis com a nossa fé. Só que a expressão takfir, segundo a jurisprudência islâmica, se refere à relação íntima entre o crente individual e Alá. Não se pode abusar dela.

O senhor admitirá que o avanço do EI marca uma trágica involução histórica do Islã.

Piccardo: Já vivemos outras, esta também vai passar. O fascínio do uniforme preto [que os membros do EI usam], a ferocidade ostentada pode exercer um apelo em algum rapaz apaixonado pelos filmes do Zorro, mas eu asseguro a você que estamos registrando um fluxo de conversões ao verdadeiro Islã que não tem nada a ver com o EI: uma operação montada de modo exagerado, com a conivência de muitos atores externos interessados em desestabilizar o mundo sunita. Quem pode acreditar realmente que os camelos vão chegar a beber nas fontes de São Pedro? O EI vai desaparecer assim como apareceu, quando não servir mais. Isso não significa que eu subestime a tragédia em curso, especialmente para milhões de refugiados.

O senhor não teme a influência que a propaganda dos degoladores exerce sobre as novas gerações de muçulmanos, também na Itália?

Piccardo: Eu constato, com efeito, uma espécie de impulso milenarista. A ilusão de resolver, através de um desempenho muscular, as polêmicas internacionais. Mas o Islã europeu tem uma vocação dialogante. Ele aprecia as diferenças. Reconhece as diversas sensibilidades internas à Itália, à Europa, aos Estados Unidos, com as quais podemos nos defrontar de maneira profícua. Eu penso no papel positivo da Igreja, nas críticas ao sistema dominante formuladas pelos movimentos sociais e ambientalistas, na reivindicação de uma cidadania plural.

Que impressão o senhor teve ao ver uma corrente humana de muçulmanos noruegueses que cercaram, em solidariedade, a sinagoga de Oslo?

Piccardo: Muito bem-vinda. A proteção dos povos do Livro [judeus] é um preceito da nossa fé. Vou lhe dizer mais. O atentado contra o Krudttønden Café de Copenhague, onde estava sendo realizado um debate livre, me deu uma ideia.
Cerca de 1.000 pessoas formaram um "círculo de paz"
em torno de uma sinagoga na capital norueguesa sábado (21/02/2015),
uma iniciativa tomada por jovens muçulmanos após ataques contra judeus na Dinamarca e na França.
FOTO: ASSOCIATED PRESS
Qual?

Piccardo: Seria bonito se um certo número de expoentes islâmicos, eu também me incluo, decidissem se oferecer como escudos humanos por ocasião de futuros eventos semelhantes. Embora isso não substitua, naturalmente, a necessidade de um trabalho de vigilância das forças de ordem.

O senhor seria um escudo humano também para uma reunião na qual participasse Lars Vilks, o autor das caricaturas satíricas de Maomé?

Piccardo: Eu considero essas caricaturas blasfemas e inutilmente ofensivas. Mas, do ponto de vista humano, tenho o dever de proteger a incolumidade de toda criatura, incluindo Lars Vilks. A expansão do Islã no mundo contemporâneo, a não ser em situações particulares, não pode contemplar o uso das armas para alcançar o seu objetivo de conversão.

O senhor não será acusado de apostasia, depois de afirmações como essa?

Piccardo: Veja, o convertido muitas vezes começa com o zelo do neófito. Quantos de nós, no momento da conversão, jogaram fora os livros e os discos. Depois, fomos pegá-los de volta. Recita um verso do Alcorão: "Há sinais para aqueles que têm intelecto". Não basta aprender o Alcorão de cor, é preciso compreendê-lo e, portanto, também interpretá-lo. O literalismo trai o espírito, fingindo respeitar a letra.

O senhor fez diversas peregrinações a Meca [na Arábia Saudita, centro religioso muçulmano] e viu a sua mudança. Que reação a "nova" Meca pode provocar em um crente?

Piccardo: É um choque cultural se deparar com o luxo e com o consumismo com que o regime saudita tem circundado o nosso lugar mais sagrado. Chegamos ao limite da profanação. Pode derivar daí, entre os peregrinos, uma repulsa perigosa. Tudo em vantagem da erva daninha do literalismo. Nós não queremos ter nada a ver nem com um regime ganancioso como o saudita, nem com o EI, que é uma derivação dele, não totalmente imprevista, aliás.

O seu filho Davide participou do encontro das comunidades islâmicas com o ministro Alfano. Quais são as suas expectativas?

Piccardo: Alfano poderia ter evitado a brincadeira sobre o Islã que atira e o Islã que reza. Mas o encontro do Viminale [Ministério do Interior, semelhante ao nosso Ministério da Justiça] é positivo, especialmente se favorecer a completa emersão das comunidades islâmicas. Nós somos cidadãos engajados também no plano da segurança, assim como em uma luta de tipo espiritual e cultural. Ao mesmo tempo, pedimos proteção e respeito: você viu o vídeo do Repubblica.it em que um jovem vestido de imã recebe olhares e palavras hostis ao passear pelo centro de Milão?

Traduzido o italiano por Moisés Sbardelotto. Para ter acesso à versão original desta entrevista, clique aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015 – Internet: clique aqui.

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