Brasil fica em penúltimo em ranking de competitividade
NIVALDO SOUZA
País repete posição em
estudo da CNI pelo 4º ano consecutivo
Fila de caminhões aguardando descarregar no porto de Santos (SP) A precária, insuficiente e atrasada infraestrutura brasileira dificulta a competitividade |
O Brasil aparece entre os últimos países em competitividade
para o ambiente de negócio, segundo o estudo Competitividade Brasil 2014, divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O País supera apenas
a Argentina na quarta edição do ranking. "Esta é a quarta edição do
estudo e, desde 2012, o Brasil se mantém na mesma posição na lista que, além da
Argentina, inclui Colômbia, México, Polônia, Turquia, Índia, Rússia, África do
Sul, Chile, China, Espanha, Austrália, Coreia do Sul e Canadá", registra o
documento.
O trabalho revela a posição do Brasil em relação a 14 países
nos fatores:
·
disponibilidade e custo da mão de obra e de
capital,
·
infraestrutura,
·
peso dos impostos,
·
ambientes macro e microeconômico,
·
educação e tecnologia e inovação.
De acordo com a pesquisa, o Brasil é último colocado no quesito disponibilidade e custo do
capital, seguido pela Índia. "O País tem a mais alta taxa de juros
real de curto prazo, de 9,75%, e o maior spread da taxa de juros, de 19,6%,
percentuais cerca de três vezes superior ao registrado na Colômbia",
afirma a CNI.
No item
"ambiente econômico", o Brasil
caiu da 10ª para a 12ª colocação entre 2013 e 2014. O recuo ocorreu em
função da piora do quadro econômico
interno e da redução no investimento estrangeiro. "Nos demais países
avaliados, o investimento estrangeiro direto aumentou. No México, por exemplo,
a taxa passou de 1,08% para 2,80% do PIB", indica o estudo.
O peso dos impostos
sobre a atividade econômica levou o Brasil a ficar na 13ª posição entre os 15
países pesquisados. Apesar da colocação, o País ultrapassou a Espanha nesse
item da pesquisa.
O melhor desempenho
do Brasil no ranking de competitividade é em disponibilidade e custo da mão de
obra, com 4º lugar, atrás de México, Chile e Colômbia. A baixa produtividade do trabalhador é
apontada pelo estudo como fator que impede o País de avançar nesse quesito.
O gerente executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI,
Renato da Fonseca, afirmou que a boa colocação no ranking de custo da mão de
obra esconde o fraco desempenho do trabalhador brasileiro no quesito
produtividade. Neste subitem do estudo, o País ocupou a 12ª colocação na
comparação com as outras 14 economias.
Educação
A produtividade reflete o baixo nível de escolaridade do
brasileiro, registrado em testes como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O
país aparece em 9º lugar ente 11 nações analisadas que oferecem dados sobre
educação.
“O grande problema é que não conseguimos educar a população
(jovem) para ela ser mais produtiva. Esse é o grande desafio que o Chile
conseguiu (superar)”, comparou Fonseca.
RANKING DE COMPETITIVIDADE
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1º | |
2º
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3º
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4º
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5º
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6º
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7º
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8º
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9º
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10º
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11º
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12º
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13º
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14º
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Brasil
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15º
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Argentina
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Fonte: O Estado de S.
Paulo – Economia – Quinta-feira, 15 de janeiro de 2014 – Pg. B4 – Internet:
clique aqui.
A Cide, outra vez
CELSO MING
Já é dada como certa a
volta da Contribuição de Intervenção
sobre o Domínio Econômico, Cide, sobre os combustíveis.
Celso Ming - sociólogo e jornalista |
É um tributo que serve para regular mercados, e não apenas o
dos combustíveis. Mas os objetivos do governo são mais amplos do que
simplesmente esse e são de complicada conciliação.
Criada em 2001, a
Cide aplicada sobre os preços dos combustíveis cumpriu a função de abrir espaço
para o etanol, na medida em que seus custos de produção dificultaram a
competição com a gasolina. Em 2011, a
Cide foi progressivamente reduzida e em 2012 acabou por ser zerada para ajudar
a combater a inflação e compensar a falta de reajustes dos preços dos
combustíveis. A partir daí, a capacidade de competição do etanol se
estreitou substancialmente. Hoje há mais de 30 usinas de açúcar e álcool em
processo de recuperação judicial.
Em debate eleitoral pela TV na campanha presidencial de
2002, o então candidato Anthony Garotinho embaraçou o adversário Lula ao
perguntar-lhe sobre a Cide. Lula não tinha ideia do era aquilo.
Como já foi apontado nesta Coluna outras vezes, o simples
retorno da Cide poderia não ser suficiente para devolver viabilidade econômica
ao setor do etanol, especialmente agora que os preços do petróleo caíram 55% em
cinco meses.
Os preços internos
dos combustíveis estão cerca de 40% mais altos do que os externos. Se for
para dar realismo tarifário também para os combustíveis e, portanto, realinhar
os preços internos aos níveis internacionais, a Cide teria de incidir em cerca
de 50% dos preços só para cumprir a função de viabilizar o etanol.
Terça-feira, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou
que os preços dos combustíveis na refinaria (sem a Cide) são assunto interno da
Petrobrás. É claro que não será bem assim, porque os preços finais dos
combustíveis são essenciais para a definição de custos da economia e têm de
integrar a equação que haverá de definir o tamanho da Cide.
O interesse imediato
da Petrobrás parece ser o de tão cedo não reajustar (para baixo) os preços dos
combustíveis, porque a prioridade é recuperar o seu caixa, castigado por 12
anos de secura. Mas não será o único fator em jogo. Preços altos demais dos
combustíveis em relação aos vigentes no exterior tendem a encorajar as
importações de gasolina e de diesel, o que também não convém à Petrobrás.
A Cide não é um tributo destinado a arrecadar. Seu objetivo
é regular. Mas, na atual penúria do Tesouro, o governo pretende usá-la como
instrumento, ainda que temporário, de arrecadação. Em 2011, trouxe para os
cofres públicos o volume de R$ 9 bilhões (veja o gráfico ao lado).
Mas isso não é tudo. As
três funções da Cide acima expostas (a de lançar um colete salva-vidas para
o etanol, a de ajudar a recuperação do caixa da Petrobrás e a de contribuir
para a arrecadação) têm, entre si, certo
grau de incompatibilidade. É preciso levar em conta ainda outra limitação. Os preços internos dos combustíveis não
podem ficar tão mais altos em relação aos externos a ponto de prejudicar o
sistema produtivo já sobrecarregado de custos. Obrigar a indústria, já sem
competitividade, a arcar com despesas mais altas com transporte e logística
pode inviabilizar sua recuperação.
CONFIRA:
As vendas no varejo em novembro apontaram certa recuperação
sobre o mês anterior. Mas não passam firmeza de melhora nos meses seguintes. É
esperar para conferir.
[. . .]
Fonte: O Estado de S.
Paulo – Economia – Quinta-feira, 15 de janeiro de 2015 – Pg. B2 – Internet:
clique aqui.
Fonte: Folha de S. Paulo – Colunistas – Quinta-feira, 15 de janeiro de 2015 – 02h00 – Internet: clique aqui.
O novo rumo
Janio de Freitas
Alta de impostos vai
afetar quem vive do trabalho
Janio de Freitas - jornalista |
Será mais do que uma simples modificação de agenda. Trocar a
prevista ida à suíça Davos por uma breve estada em La Paz será uma incoerência
de Dilma Rousseff.
A programação antecipava que Dilma se faria acompanhar dos
ministros Joaquim Levy e Nelson Barbosa na ida a Davos, a pequena cidade que
recebe o periódico piquenique suíço dos donos da riqueza mundial. De repente,
informa-se que Dilma está preferindo ir à posse do reeleito Evo Morales. Ou
seja, prestigiar uma prática política equivalente, nas condições bolivianas, à
que a Dilma do segundo mandato repeliu para adotar as políticas e práticas bem
vistas pelos convivas de Davos.
Ainda mais estranha se mostra a inversão da agenda
presidencial se confrontada com as decisões de governo que compõem o portfólio
ideal para uma entrada gloriosa nos salões de Davos.
Por aqui, propor
aumento de impostos é mais perigoso do que charge com o profeta. São Paulo
criou até o impostômetro, a indicar cada centavo saído de bolso privado para
cofre público. Antes mesmo de assumir,
porém, Joaquim Levy falou em aumentar imposto – e nada, nenhum editorial,
nenhuma entrevista chiadora. Isso é que é confiança, saber o que esperar de
alguém, e receber mesmo.
Joaquim Levy ofereceu um café da manhã a jornalistas para
anunciar-lhes, entre a doçura da geleia e o suco que ajuda a descer, quem vai pagar mais imposto. Não é o
sistema bancário, merecedor do título de mais lucrativo do mundo. Tão
rentável que bancos estrangeiros vêm buscar aqui o lucro que lá fora virou
perda. Não são os cartões de crédito,
com seus juros sem nada semelhante no mundo, 258%, ou 40 vezes a inflação. Nem vai o aumento de imposto incidir sobre
a especulação financeira, sobre a remessa de lucros para o exterior, ou sobre
ganhos no mero jogo de Bolsa.
O aumento de imposto vai cair em cima de quem trabalha e
vive do que ganha com o trabalho, para tanto registrado como se em sua pessoa
existisse uma empresa. O que chamam de "pessoa jurídica".
Para que não haja a suposição de uma incidência apenas
ocasional sobre o lado mais fraco, horas depois da gentileza de Joaquim Levy o
governo expeliu outra criação de sua índole: os juros da Caixa Econômica Federal vão aumentar. A Caixa tem
muitas linhas de financiamento, mas só uma terá os juros elevados. A de
financiamento da casa própria, aquela via salvadora dos que só alcançam a
sonhada casa própria com os juros da Caixa, porque essa casa é paga só com
trabalho.
O novo governo Dilma, ou o governo da nova Dilma, conhece
seus objetivos. Joaquim Levy é claro: "A
gente não tem nenhum objetivo de fazer saco de maldades". Se há corte de despesas, por exemplo, R$ 7
bilhões da educação, nada de gastar com sacos.
Fonte: Folha de S. Paulo – Colunistas – Quinta-feira, 15 de janeiro de 2015 – 02h00 – Internet: clique aqui.
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