«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

OS POBRES, OS JOVENS E AS CRIANÇAS NAS PALAVRAS DE PAPA FRANCISCO

''Escutem a voz dos pobres!''

Andrea Tornielli
Vatican Insider
16-01-2015
Papa Francisco encontra autoridades e o corpo diplomático das Filipinas
Rizal Ceremonial Hall do Palácio Presidencial de Malacañan, Manila, Filipinas
Sexta-feira, 16 de Janeiro de 2015
 
Francisco encontrou-se com as autoridades no palácio presidencial de Manila, nas Filipinas. Pediu "a reforma das estruturas sociais que perpetuam a pobreza" e a defesa da vida. E desejou soluções justas para Mindanao no respeito aos indígenas e às minorias religiosas.

A tradição bíblica "prescreve para todos os povos o dever de escutar a voz dos pobres e de quebrar as correntes da injustiça e da opressão". Foi o que disse Francisco no primeiro discurso em Manila, encontrando-se, nesta manhã, com as autoridades e o corpo diplomático no palácio presidencial. O papa invocou a "firme rejeição de todas as formas de corrupção, que desvia recursos dos pobres" e pediu "apoio" para a família e respeito pelo "inalienável direito à vida".

Uma multidão imensa – quase um milhão de pessoas – tinha se derramado pelas ruas na noite passada para acolher Francisco. E uma multidão imensa seguiu nesta manhã os percursos do papamóvel. No palácio presidencial Malancañan, construído em estilo colonial espanhol dentro de um grande parque na margem norte do rio Pasig, o papa encontrou o presidente das Filipinas, Benigno Cojuangco Aquino III, filho da ex-presidente Corazón Aquino.
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Depois, o papa tomou a palavra, falando em inglês. Ele lembrou que o país se prepara para celebrar o quinto aniversário da "primeira proclamação do Evangelho" e disse que a visita "quer expressar a minha proximidade aos nossos irmãos e irmãs que suportaram os sofrimentos, os danos e as devastações causadas pelo tufão Yolanda. Junto com os povos de todo o mundo, admirei a força, a fé e a resistência heroicas demonstradas por tantos filipinos diante desse desastre natural, e de tantos outros. Essas virtudes, enraizadas, não por último, na esperança e na solidariedade instiladas pela fé cristã, deram origem a uma profusão de bondade e generosidade, especialmente por muitos jovens. Naquele momento de crise nacional, inúmeras pessoas vieram em auxílio dos seus vizinhos em necessidade. Com grande sacrifício, ofereceram o seu tempo e os seus recursos, criando uma rede de apoio mútuo e de compromisso com o bem comum".
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Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto.

Leia a íntegra desse discuso:


ENCONTRO COM AS AUTORIDADES E COM O CORPO DIPLOMÁTICO

DISCURSO DO SANTO PADRE

Rizal Ceremonial Hall do Palácio Presidencial de Malacañan, Manila, Filipinas 
Sexta-feira, 16 de Janeiro de 2015

Senhoras e Senhores!

Agradeço-lhe, Senhor Presidente, a sua amável recepção e as palavras de saudação que me dirigiu em nome das autoridades, do povo filipino e dos ilustres membros do Corpo Diplomático. Sinto-me muito grato pelo convite para visitar as Filipinas. A minha visita é primariamente pastoral. Acontece num momento em que a Igreja neste país se prepara para celebrar o quinto centenário do primeiro anúncio do Evangelho de Jesus Cristo nestas costas. A mensagem cristã teve uma influência enorme sobre a cultura filipina. A minha esperança é que tão importante efeméride faça ressaltar a sua constante fecundidade e a sua capacidade de inspirar uma sociedade digna da bondade, dignidade e aspirações do povo filipino.

De modo particular, esta visita quer exprimir a minha solidariedade aos nossos irmãos e irmãs que sofreram a tribulação, as perdas e a devastação causadas pelo tufão Yolanda. Juntamente com as pessoas de todo o mundo, admirei a força heróica, a fé e a resistência demonstradas por tantos filipinos face a este desastre natural, e muitos outros. Tais virtudes, radicadas em grande medida na esperança e solidariedade infundidas pela fé cristã, deram origem a uma profusão de bondade e generosidade, especialmente por parte de muitos jovens. Naquele momento de crise nacional, inúmeras pessoas vieram em auxílio dos seus vizinhos em necessidade. Com grande sacrifício, ofereceram o seu tempo e os seus recursos, criando uma rede de apoio mútuo e compromisso em prol do bem comum.

Este exemplo de solidariedade no trabalho de reconstrução oferece-nos uma lição importante. Como uma família, cada sociedade tira força dos seus recursos mais profundos para enfrentar novos desafios. Hoje as Filipinas, juntamente com muitas outras nações da Ásia, têm pela frente a necessidade de construir uma sociedade moderna, fundada em bases sólidas: uma sociedade respeitadora dos valores humanos autênticos, que tutele a nossa dignidade e direitos humanos, com base em Deus, e que esteja pronta a enfrentar novos e complexos problemas éticos e políticos. Como muitas vozes na vossa nação assinalaram, agora, mais do que nunca, é necessário que os dirigentes políticos se distingam por honestidade, integridade e responsabilidade quanto ao bem comum. Desta forma, poderão preservar os ricos recursos naturais e humanos com que Deus abençoou este país. Assim serão capazes de gerir os recursos morais necessários para enfrentar as solicitações do presente e transmitir às gerações futuras uma sociedade verdadeiramente justa, solidária e pacífica.

Essencial para a realização destes objetivos nacionais é o imperativo moral de assegurar a justiça social e o respeito pela dignidade humana. A grande tradição bíblica prescreve para todos os povos o dever de ouvir a voz dos pobres e quebrar as cadeias da injustiça e da opressão, que dão origem a óbvias e verdadeiramente escandalosas desigualdades sociais. A reforma das estruturas sociais que perpetuam a pobreza e a exclusão dos pobres, exige, antes de mais nada, uma conversão da mente e do coração. Os bispos das Filipinas pediram que este ano fosse proclamado «Ano dos Pobres». Espero que esta instância profética determine em cada um, a todos os níveis da sociedade, a firme rejeição de toda a forma de corrupção, que desvia recursos dos pobres. Possa ela inspirar a vontade de um esforço concertado para incluir todo o homem, mulher e criança na vida da comunidade.

Um papel fundamental na renovação da sociedade cabe, naturalmente, à família e especialmente aos jovens. Um aspecto particular da minha visita será o encontro com as famílias e com os jovens aqui em Manila. As famílias desempenham uma missão indispensável na sociedade. É na família que as crianças crescem nos sãos valores, nos altos ideais e na genuína preocupação pelos outros. Mas, como todos os dons de Deus, a família pode também ser desfigurada e destruída. Precisa do nosso apoio. Sabemos como é difícil hoje, para as nossas democracias, preservar e defender certos valores humanos basilares, como o respeito pela dignidade inviolável de cada pessoa humana, o respeito pelos direitos de liberdade de consciência e de religião, o respeito pelo direito inalienável à vida, a começar pela vida dos nascituros até à dos idosos e dos doentes. Por esta razão, as famílias e as comunidades locais devem ser encorajadas e assistidas nos seus esforços por transmitir aos nossos jovens os valores e a visão que podem ajudar a criar uma cultura de integridade, na qual se honre bondade, sinceridade, fidelidade e solidariedade como bases sólidas e vínculo moral que mantenha unida a sociedade.

Senhor Presidente, ilustres Autoridades, queridos amigos!

No início de minha visita a esta nação, não posso deixar de mencionar o papel importante das Filipinas na promoção do entendimento e cooperação entre as nações da Ásia, bem como a contribuição muitas vezes esquecida, mas não menos real, dos filipinos da diáspora para a vida e o bem-estar das sociedades onde residem. É precisamente à luz da rica herança cultural e religiosa, de que a vossa nação se sente orgulhosa, que vos deixo um desafio e um encorajamento. Que os valores espirituais mais profundos do povo filipino continuem a encontrar expressão no esforço por proporcionar aos vossos concidadãos um progresso humano integral. Desta forma, cada pessoa será capaz de realizar as suas potencialidades e assim contribuir, de maneira sábia e justa, para o futuro da própria nação. Tenho confiança de que os louváveis esforços por promover o diálogo e a cooperação entre os seguidores das diferentes religiões produzirão fruto na busca desta nobre finalidade. De modo particular, exprimo a minha confiança de que o progresso conseguido levando a paz ao sul do país há de gerar soluções justas de acordo com os princípios basilares da nação e no respeito pelos direitos inalienáveis de todos, incluindo as populações indígenas e as minorias religiosas.

Sobre vós e sobre cada homem, mulher e criança desta amada nação, de coração invoco a abundância das bênçãos de Deus.

Fontes: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Sexta-feira, 16 de janeiro de 2015 – Internet: clique aqui & A Santa Sé – Discursos – Janeiro/2015 – Internet: clique aqui.

''Se tirarmos os pobres do Evangelho, não entendemos a mensagem de Jesus''

Andrea Tornielli
Vatican Insider
16-01-2015
Papa Francisco preside Celebração Eucarística nas Filipinas
Catedral da Imaculada Conceição, Manila
Sexta-feira, 16 de Janeiro de 2015
 
Francisco, na homilia na missa em Manila celebrada com bispos, padres e seminaristas: "Eles são o coração do evangelho". Família e matrimônio são "cada vez mais sob ataque de forças poderosas que ameaçam desfigurar o plano criador de Deus". E depois abraça as crianças de rua.

"Os pobres estão no centro do Evangelho, são o coração do Evangelho. Se os tirarmos do Evangelho, não podemos entender a mensagem de Jesus Cristo..." Francisco tira os olhos do texto preparado da homilia e improvisa, em inglês, poucas palavras, para lembrar o que ele já repetiu várias vezes durante os quase dois anos do seu pontificado: a atenção aos pobres não é uma categoria sociológica, mas está ligada ao essencial da mensagem evangélica.

A catedral de Manila, dedicada à Imaculada Conceição, e considerada a "mãe de todas as igrejas das Filipinas", é a oitava versão da igreja construída com bambu e folhas de palmeira em 1581. Ao longo da sua história, foi repetidamente devastada por tufões, incêndios, terremotos, bombardeios.

A construção atual, que remonta aos anos 1950, foi fechada ao culto em 2012, para trabalhos de restauração por causa do terremoto, e foi reaberta este ano. Na sua chegada, o papa foi acolhido por um grupo de crianças vestidas como guardas suíços.

Na homilia da missa, refletindo sobre o Evangelho do dia, que fala das perguntas feitas por Jesus a Pedro: "Tu me amas?", o papa começou citando esta frase: "Tu me amas?". E os presentes imediatamente responderam em alta voz: "Yes!". "Thank you very much...", respondeu, sorrindo, Francisco.

O papa dirigiu um primeiro pensamento aos pastores das gerações passadas, que "se esforçaram não só para pregar o Evangelho, mas também para forjar uma sociedade inspirada na mensagem evangélica da caridade, do perdão, da solidariedade ao serviço do bem comum". "O nosso ministério – explicou Francisco – é um ministério de reconciliação. Proclamamos a Boa Nova do amor, da misericórdia e da compaixão sem fim de Deus."

"A Igreja nas Filipinas – disse Francisco – é chamada a reconhecer e combater as causas da desigualdade e da injustiça, profundamente enraizadas, que mancham o rosto da sociedade filipina, em claro contraste com o ensinamento de Cristo. O Evangelho chama cada cristão a viver uma vida honesta, íntegra e comprometida com o bem comum. Mas também chama as comunidades cristãs a criarem 'círculos de honestidade', redes de solidariedade que possam se estender na sociedade para transformá-la com o seu testemunho profético."

Depois, o papa acrescentou de improviso as palavras sobre os pobres no Evangelho. E continuou com um apelo aos bispos e sacerdotes a serem testemunhas autênticas: "Como podemos proclamar a novidade e o poder libertador da cruz aos outros se justamente não permitimos que a Palavra de Deus agite o nosso orgulho, o nosso medo de mudar, os nossos compromissos mesquinhos com a mentalidade deste mundo, a nossa mundanidade espiritual?".

Francisco pediu que os pastores "vivam de modo a refletir a pobreza de Cristo, cuja vida inteira foi centrada em fazer a vontade de Deus e em servir aos outros. A grande ameaça a isso, naturalmente, é cair em um certo materialismo que pode se insinuar na nossa vida e comprometer o testemunho que oferecemos. Só tornando-nos, nós mesmos, pobres, eliminando a nossa autocomplacência, poderemos nos identificar com os últimos entre os nossos irmãos e irmãs".

Por fim, o papa convidou em particular os jovens padres e seminaristas a estarem presentes "em meio aos jovens, que podem estar confusos e abatidos", e "perto daqueles que, vivendo em meio a uma sociedade sobrecarregada pela pobreza e pela corrupção, estão desencorajados, tentados a abandonar tudo, a deixar a escola e a viver nas ruas".
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Papa Francisco com crianças de rua em Manila, Filipinas

O papa deixou a catedral a bordo de um pequeno carro popular preto. Pouco antes, perto da catedral, ele encontrou um grupo de 300 meninas e meninos pobres resgatados da rua e da prostituição pela fundação Anak-TNK (www.anak-tnk.org), uma ONG ligada à Igreja e fundada por um jesuíta francês, difundida em muitos países do mundo.

O cardeal Luis Antonio Tagle, em setembro passado, havia entregue a Francisco mil cartas escritas pelas crianças de rua e um vídeo: elas lhe pediam que ele fosse encontrá-las. E ele aceitou, embora a visita não tenha sido inserida no programa oficial. O encontro ocorreu no pátio. Muitos dos presentes abraçaram Francisco e lhe entregaram pequenos presentes.

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto.

Leia, agora, a íntegra dessa  homilia:


SANTA MISSA COM OS BISPOS, SACERDOTES, RELIGIOSOS E RELIGIOSAS

HOMILIA DO SANTO PADRE

Catedral da Imaculada Conceição, Manila 
Sexta-feira, 16 de Janeiro de 2015

«Tu amas-Me?» [as pessoas: «Sim!»] Obrigado; mas eu estava a ler a palavra de Jesus! Diz o Senhor: «Tu amas-Me? (…) Apascenta os meus cordeiros» (Jo 21, 15.16). As palavras de Jesus a Pedro, no Evangelho de hoje, são as primeiras palavras que vos dirijo, amados irmãos bispos e sacerdotes, religiosos e religiosas, e jovens seminaristas. Estas palavras recordam-nos algo de essencial: todo o ministério pastoral nasce do amor. Todo o ministério pastoral nasce do amor! Toda a vida consagrada é um sinal do amor reconciliador de Cristo. Na variedade das nossas vocações, cada um de nós é chamado de alguma forma, como Santa Teresa do Menino Jesus, a ser o amor no coração da Igreja.

Com grande afeto vos saúdo e peço para levardes o meu afeto a todos os vossos irmãos e irmãs idosos e doentes e a todos aqueles que hoje não puderam juntar-se a nós. Com a Igreja nas Filipinas que olha para o quinto centenário da sua evangelização, sentimos gratidão pela herança deixada por tantos bispos, sacerdotes e religiosos das gerações passadas. Eles esforçaram-se não só por pregar o Evangelho e construir a Igreja nesta nação, mas também por forjar uma sociedade inspirada pela mensagem evangélica da caridade, do perdão e da solidariedade ao serviço do bem comum. Hoje vós continuais a mesma obra de amor. Como eles, sois chamados a construir pontes, apascentar o rebanho de Cristo e preparar vigorosos caminhos para o Evangelho na Ásia ao alvorecer duma nova era.

«O amor de Cristo nos absorve completamente» (2 Cor 5, 14). Na primeira leitura de hoje, São Paulo diz-nos que o amor que somos chamados a anunciar é um amor reconciliador, que jorra do coração do Salvador crucificado. Somos chamados a ser «embaixadores em nome de Cristo» (cf. 2 Cor 5, 20). O nosso é um ministério de reconciliação. Proclamamos a Boa-Nova do amor, da misericórdia e da compaixão infinitos de Deus. Proclamamos a alegria do Evangelho. Uma vez que o Evangelho é a promessa da graça de Deus, a única que pode trazer plenitude e cura ao nosso mundo arruinado, ele pode inspirar a construção duma ordem social verdadeiramente justa e redimida.

Ser embaixador de Cristo significa, antes de mais nada, convidar cada pessoa a um renovado encontro com o Senhor Jesus (cf. Evangelii gaudium, 3). O nosso encontro pessoal com Ele. Este convite deve estar no centro da vossa comemoração da evangelização das Filipinas. Mas o Evangelho é também uma exortação à conversão, a um exame da nossa consciência, como indivíduos e como povo. Como justamente ensinaram os vossos bispos, a Igreja nas Filipinas é chamada a individuar e combater as causas da desigualdade e injustiça profundamente enraizadas, que desfeiam o rosto da sociedade filipina, contradizendo claramente o ensinamento de Cristo. O Evangelho chama os indivíduos cristãos a conduzirem vidas honestas, íntegras e solícitas pelo bem comum. Mas chama também as comunidades cristãs a criarem «círculos de integridade», redes de solidariedade que possam impelir a abraçar e transformar a sociedade com o seu testemunho profético.

Os pobres. Os pobres estão no centro do Evangelho, são o coração do Evangelho; se tirarmos os pobres do Evangelho, não podemos compreender plenamente a mensagem de Jesus Cristo. Como embaixadores de Cristo, nós, bispos, sacerdotes e religiosos, devemos ser os primeiros a receber a sua graça reconciliadora nos nossos corações. São Paulo deixa claro o que isto significa; significa rejeitar perspectivas mundanas, olhando tudo de novo à luz de Cristo. Isto comporta que sejamos os primeiros a examinar a nossa consciência, reconhecer os nossos falimentos e quedas e embocar o caminho duma contínua conversão, da conversão diária. Como poderemos proclamar aos outros a novidade e o poder libertador da Cruz, se nós mesmos não permitirmos que a Palavra de Deus abale o comprazimento em nós próprios, o nosso medo de mudar, os nossos comprometimentos mesquinhos com as modalidades deste mundo, o nosso «mundanismo espiritual» (cf. Evangelii gaudium, 93)?

Para nós, sacerdotes e pessoas consagradas, a conversão à novidade do Evangelho implica um encontro diário com o Senhor na oração. Os Santos ensinam-nos que isto é a fonte de todo o zelo apostólico. Para os religiosos, viver a novidade do Evangelho significa encontrar incessantemente na vida da comunidade e nos apostolados da comunidade o incentivo para uma união cada vez mais estreita com o Senhor na caridade perfeita. Para todos nós, isto significa viver de tal forma que espelhemos a pobreza de Cristo, cuja vida estava inteiramente focalizada em fazer a vontade do Pai e servir os outros. Naturalmente, a grande ameaça a isto mesmo é cair num certo materialismo que pode insinuar-se dentro das nossas vidas e comprometer o testemunho que prestamos. Somente o tornar-nos pobres, tornando-nos nós próprios pobres, expulsando o nosso autocomprazimento, permitirá identificar-nos com os últimos dos nossos irmãos e irmãs. Veremos as coisas sob uma nova luz e, deste modo, poderemos responder, com honestidade e integridade, ao desafio de anunciar a radicalidade do Evangelho numa sociedade acostumada à exclusão, à polarização e a uma desigualdade escandalosa.

Aqui desejo dizer uma palavra especial aos jovens sacerdotes, religiosos, e seminaristas presentes. Peço-vos que partilheis a alegria e o entusiasmo do vosso amor por Cristo e pela Igreja com todos, mas sobretudo com os da vossa idade. Mantende-vos presentes no meio dos jovens que possam sentir-se confusos e desanimados, e todavia continuam a ver a Igreja como sua amiga no caminho e uma fonte de esperança.

Sede solidários com aqueles que, vivendo no meio duma sociedade molesta pela pobreza e a corrupção, sentem-se com o espírito abatido, tentados a largar tudo, deixar a escola e viver pela estrada. Proclamai a beleza e a verdade do matrimónio cristão a uma sociedade que é tentada por apresentações confusas da sexualidade, do matrimónio e da família. Como sabeis, estas realidades estão cada vez mais sob ataque de forças poderosas que ameaçam desfigurar o plano criador de Deus e trair os verdadeiros valores que inspiraram e moldaram quanto de belo existe na vossa cultura.

Na realidade, a cultura filipina foi plasmada pela criatividade da fé. Por todo o lado, os filipinos são conhecidos pelo seu amor a Deus, pela sua piedade fervorosa e a sua ardente e cordial devoção a Nossa Senhora e ao seu terço; pelo seu amor a Deus, pela sua piedade fervorosa e a sua ardente e cordial devoção a Nossa Senhora e ao seu terço. Este grande legado contém um forte potencial missionário. É o modo como o vosso povo inculturou o Evangelho e continua a acolher a sua mensagem (cf. Evangelii gaudium, 122). No vosso esforço de preparação para o quinto centenário, construí sobre estas bases sólidas.

Cristo morreu por todos a fim de que, mortos n’Ele, não vivamos mais para nós mesmos, mas para Ele (cf. 2 Cor 5, 15). Amados irmãos bispos, sacerdotes e religiosos, rogo a Maria, Mãe da Igreja, que faça jorrar de todos vós uma tal abundância de zelo, que possais gastar-vos abnegadamente ao serviço dos nossos irmãos e irmãs. Possa, assim, o amor reconciliador de Cristo penetrar ainda mais profundamente no tecido da sociedade filipina e, por vosso intermédio, nos ângulos mais distantes do mundo. Amém.

Fontes: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Sexta-feira, 16 de janeiro de 2015 – Internet: clique aqui & A Santa Sé – Homilias – Janeiro/2015 – Internet: clique aqui.

Francisco encoraja os jovens filipinos a renovar a sociedade

Apresentamos o discurso do Papa Francisco aos jovens filipinos reunidos no Campo Desportivo da Universidade de São Tomás, em Manila (Filipinas).
Papa Francisco abraça a jovem Jun no encontro com a juventude
Universidade de São Tomás, Manila - Filipinas
 

ENCONTRO COM OS JOVENS

DISCURSO DO SANTO PADRE

Universidade de São Tomás, Manila
Domingo, 18 de Janeiro de 2015

Discurso pronunciado pelo Santo Padre

Começo por uma notícia triste. Ontem, quando estava prestes a principiar a Missa, caiu uma das torres e atingiu uma jovem, que morreu. O seu nome é Cristal. Ela trabalhou na organização daquela Missa. Tinha 27 anos, era jovem como vós e trabalhava para uma associação. Era uma voluntária. Queria que nós todos juntos – vós, jovens como ela – rezássemos em silêncio por um minuto e depois invocássemos a nossa Mãe do Céu.

[Silêncio. Ave Maria…].

Façamos uma oração também por seu pai e sua mãe. Era filha única. A sua mãe está em viagem de Hong Kong, enquanto o pai já chegou a Manila e espera a esposa.

É uma alegria para mim estar hoje convosco. Saúdo cordialmente a cada um de vós e agradeço a todos aqueles que tornaram possível este encontro. Durante a minha visita às Filipinas, senti uma vontade particular de me encontrar convosco, queridos jovens, para vos escutar e falar. Desejo exprimir o amor e a esperança que a Igreja tem por vós. A minha intenção é encorajar-vos, como cidadãos cristãos deste país, na oferta de vós mesmos feita com entusiasmo e honestidade para o grande compromisso de renovar a vossa sociedade e contribuir para a construção de um mundo melhor.

De modo especial, agradeço aos jovens que me dirigiram palavras de boas-vindas: Jun, Leandro e Rikki. Muito obrigado!

Um aparte… sobre a reduzida representação das mulheres. Demasiado pouco! As mulheres têm muito a dizer-nos na sociedade atual. Às vezes somos demasiado machistas, e não deixamos espaço à mulher. Mas a mulher sabe ver as coisas com olhos diferentes dos homens. A mulher sabe fazer perguntas que nós, homens, não conseguimos compreender. Senão vede… Ela [indica Jun] fez hoje a única pergunta que não tem resposta. E não lhe vinham as palavras, teve de dizer com as lágrimas. Assim, quando vier o próximo Papa a Manila, que haja mais mulheres!

Agradeço-te, Jun, que apresentaste com tanta coragem a tua experiência. Como disse antes, o núcleo da tua pergunta quase não tem resposta. Somente quando formos capazes de chorar sobre as coisas que vós vivestes, é que podemos compreender qualquer coisa e dar alguma resposta. A grande pergunta que se põe a todos: Por que sofrem as crianças? Por que sofrem as crianças? Precisamente quando o coração consegue pôr a si mesmo a pergunta e chorar, então podemos compreender qualquer coisa. Há uma compaixão mundana que para nada serve! Uma compaixão que, no máximo, nos leva a meter a mão na carteira e dar uma moeda. Se esta tivesse sido a compaixão de Cristo, teria passado, teria curado três ou quatro pessoas e teria regressado ao Pai. Somente quando Cristo chorou e foi capaz de chorar é que compreendeu os nossos dramas.

Queridos moços e moças, no mundo de hoje falta o pranto! Choram os marginalizados, choram aqueles que são postos de lado, choram os desprezados, mas aqueles de nós que levamos uma vida sem grandes necessidades não sabemos chorar. Certas realidades da vida só se veem com os olhos limpos pelas lágrimas. Convido cada um de vós a perguntar-se: Aprendi eu a chorar? Quando vejo uma criança faminta, uma criança drogada pela estrada, uma criança sem casa, uma criança abandonada, uma criança abusada, uma criança usada como escrava pela sociedade? Oh! O meu não passa do pranto caprichoso de quem chora porque quereria ter mais alguma coisa? Esta é a primeira coisa que vos queria dizer: aprendamos a chorar, como ela [Jun] nos ensinou hoje. Não esqueçamos este testemunho. A grande pergunta – por que sofrem as crianças? – foi feita por ela a chorar e a grande resposta que lhe podemos dar todos nós é aprender a chorar.

No Evangelho, Jesus chorou, chorou pelo amigo morto. Chorou no seu coração por aquela família que perdeu a filha. Chorou no seu coração, quando viu aquela pobre mãe viúva que levava o seu filho ao cemitério. Comoveu-Se e chorou no seu coração, quando viu a multidão como ovelhas sem pastor. Se vós não aprenderdes a chorar, não sois bons cristãos. E este é um desafio. Jun lançou-nos este desafio. E quando nos fizerem a pergunta «porque sofrem as crianças, porque acontece isto ou aquilo de trágico na vida», que a nossa resposta seja o silêncio ou a palavra que nasce das lágrimas? Sede corajosos, não tenhais medo de chorar.

A seguir veio Leandro Santos. Fez perguntas sobre o mundo da informação. Hoje, com tantos mass-media, estamos superinformados: será mal isto? Não. Isto é bom e ajuda, mas corremos o perigo de viver acumulando informações. E temos tantas informações, mas talvez não saibamos o que fazer com elas. Corremos o risco de nos tornarmos «jovens-museu» e não jovens sapientes. Poder-me-íeis pedir: Padre, como se chega a ser sapiente? E este é outro desafio: o desafio do amor. Qual é o assunto mais importante que é preciso aprender na universidade? Qual é o mais importante que se deve aprender na vida? Aprender a amar! E este é o desafio que o dia de hoje vos põe: aprender a amar! Não só acumular informações, sem saber o que fazer delas. É um museu. Mas, através do amor, fazer com que esta informação seja fecunda. Com este objetivo, o Evangelho propõe-nos um caminho sereno, tranquilo: usar as três linguagens, ou seja, a linguagem da mente, a linguagem do coração e a linguagem das mãos. E usar estas três linguagens de forma harmoniosa: aquilo que pensas, isso mesmo sentes e realizas. A tua informação desce ao coração, comove-o e realiza-se. E isto harmoniosamente: pensar o que se sente e o que se faz. Sentir aquilo que penso e faço; fazer o que penso e sinto. As três linguagens. Sois capazes de repetir, em voz alta, as três linguagens?

O verdadeiro amor é amar e deixar-me amar. É mais difícil deixar-me amar do que amar. Por isso é tão difícil chegar ao perfeito amor de Deus, porque podemos amá-Lo, mas o importante é deixar-se amar por Ele. O verdadeiro amor é abrir-se a este amor que nos precede e gera surpresa. Se tudo o que possuís é informação, toda a informação, estais fechados às surpresas; o amor abre-te às surpresas: o amor é sempre uma surpresa, porque pressupõe um diálogo a dois. Entre quem ama e quem é amado. E nós dizemos que Deus é o Deus das surpresas, porque Ele nos amou primeiro e espera-nos com uma surpresa. Deus surpreende-nos... Deixemo-nos surpreender por Deus! E não tenhamos a psicologia do computador: crer que sabe tudo. Isto que quer dizer? Um átimo e o computador dá-te todas as respostas, nenhuma surpresa. No desafio do amor, Deus manifesta-Se com surpresas. Pensemos em São Mateus… Era um bom homem de negócios; mas traía a sua pátria porque recolhia os impostos dos judeus para os dar aos romanos. Enfim, estava cheio de dinheiro e recebia os impostos. Passa Jesus, fixa-o e diz-lhe: «Segue-Me!» Aqueles que estavam com Jesus, dizem: Chama este que é um traidor, um vilão? Ele vive agarrado ao dinheiro... Mas a surpresa de ser amado vence-o e ele segue Jesus. Naquela manhã, quando se despedia da esposa, nunca teria pensado que iria voltar sem dinheiro e com pressa para dizer à sua esposa que preparasse um banquete. O banquete para Aquele que o tinha amado primeiro; que o havia surpreendido com algo mais importante do que todo o dinheiro que ele tinha.

Deixa-te surpreender pelo amor de Deus! Não tenhas medo das surpresas, que te agitam, põem em crise, mas de novo te colocam em caminho. O verdadeiro amor impele-te a gastar a vida, mesmo a risco de ficares com as mãos vazias. Pensemos em São Francisco: deixou tudo, morreu com as mãos vazias, mas com o coração cheio.

Estais de acordo? Não jovens de museu, mas jovens sapientes. Para ser sapientes, usai as três linguagens: pensar bem, sentir bem e fazer bem. E para ser sapientes, deixai-vos surpreender pelo amor de Deus! Ide e gastai a vida!

Obrigado pela tua contribuição de hoje!

Quem veio com um bom programa para nos ajudar a ver que podemos fazer na vida, foi Rikki. Contou todas as actividades, tudo aquilo que fazem, tudo o que querem fazer. Obrigado, Rikki! Obrigado pelo que fazeis, tu e os teus companheiros. Mas, quero fazer-te uma pergunta: Tu e os teus amigos estais comprometidos em dar – dais, dais, dais, ajudais... –, mas deixais também que vos deem? Responde no teu coração. No Evangelho, que há pouco ouvimos, há uma frase que, para mim, é a mais importante de todas. O Evangelho diz que Jesus fitou o olhar naquele jovem e o amou (cf. Mc 10, 21). Quando alguém vê o grupo de Rikki e os seus companheiros, gosta muito deles porque fazem coisas muito boas, mas a frase mais importante que Jesus diz é: «Falta-te apenas uma coisa» (Mc 10, 21). Cada um de nós ouça em silêncio esta frase de Jesus: «Falta-te apenas uma coisa».

Que me falta? A todos aqueles que Jesus ama muito porque dão muito aos outros, eu pergunto: Deixais vós que os demais vos deem outras riquezas que vós não tendes? Os saduceus, os doutores da Lei do tempo de Jesus davam muito ao povo, davam a Lei, ensinavam, mas nunca deixaram que o povo lhes desse qualquer coisa. Teve que vir Jesus para Se deixar comover pelo povo. Quantos jovens como vós, que estão aqui, sabem dar, mas não são igualmente capazes de receber!

«Falta-te apenas uma coisa». Isto é o que nos falta: aprender a mendigar daqueles a quem damos. Isto não é fácil de compreender: aprender a mendigar. Aprender a receber da humildade daqueles a quem ajudamos. Aprender a ser evangelizados pelos pobres. As pessoas que ajudamos – pobres, doentes, órfãos… – têm tanto para nos dar. Faço-me mendigo e peço também isto? Ou então sinto-me autossuficiente e sei apenas dar? Vós que viveis dando sempre e julgais que de nada precisais, sabeis que sois verdadeiramente pobres? Sabeis que tendes uma grande pobreza e precisais de receber? Deixas-te ajudar pelos pobres, pelos doentes e por aqueles que ajudas? Isto é o que ajuda a amadurecer os jovens comprometidos como Rikki no trabalho de dar aos outros: aprender a estender a mão a partir da sua miséria.

Há alguns pontos que eu tinha preparado. O primeiro, que já disse, é aprender a amar e deixar-se amar. É o desafio da integridade moral.

Temos outro desafio, que é cuidar do meio ambiente. Isto não se deve apenas ao facto de que o vosso país, mais do que outros, corre o risco de ser seriamente afetado pelas alterações climáticas.

E, finalmente, há o desafio dos pobres. Amar os pobres. Os vossos Bispos querem que vos preocupeis com os pobres, sobretudo neste «Ano dos pobres». Vós pensais nos pobres? Sentis com os pobres? Fazeis algo pelos pobres? E pedis aos pobres para vos darem aquela sabedoria que eles possuem? Isto é o que eu vos queria dizer. Perdoai-me porque não li quase nada do que tinha preparado. Mas há uma expressão que me consola um pouco: «A realidade é superior à ideia». E a realidade que apresentastes, a realidade que sois é superior a todas as respostas que eu tinha preparado. Obrigado!



Discurso preparado pelo Santo Padre

Queridos jovens amigos!

É uma alegria para mim estar hoje convosco. Saúdo cordialmente a cada um de vós e agradeço a todos aqueles que tornaram possível este encontro. Durante a minha visita às Filipinas, senti uma vontade particular de me encontrar convosco, queridos jovens, para vos escutar e falar. Desejo exprimir o amor e a esperança que a Igreja tem por vós e em vós. A minha intenção é encorajar-vos, como cidadãos cristãos deste país, na oferta de vós mesmos feita com entusiasmo e honestidade para o grande compromisso de renovar a vossa sociedade e contribuir para a construção de um mundo melhor.

De modo especial, agradeço aos jovens que me dirigiram palavras de boas-vindas. Expressaram de forma eloquente, em vosso nome, as vossas preocupações e ansiedades, a vossa fé e as vossas esperanças. Falaram das dificuldades e expectativas dos jovens. Embora não possa responder a cada uma destas questões de forma exaustiva, sei que, juntamente com os vossos pastores e entre vós, ireis considerá-las cuidadosamente com a ajuda da oração e fareis propostas concretas de ação.

Hoje quero sugerir-vos três áreas-chave onde tendes uma contribuição significativa a dar à vida do vosso país. A primeira é o desafio da integridade. O termo «desafio» pode ser entendido de duas maneiras. A primeira, de modo negativo, como uma tentativa de agir contra as vossas convicções morais, contra tudo o que vós professais acerca do que é verdadeiro, bom e justo. A nossa integridade pode ser desafiada por interesses egoístas, pela ganância, pela desonestidade ou pela intenção de manipular os outros.

Mas a palavra «desafio» pode-se entender também em sentido positivo. Pode ser vista como um convite a ser corajoso, a dar um testemunho profético da própria fé e de tudo o que se crê e considera sagrado. Neste sentido, o desafio da integridade é algo com que é preciso confrontar-vos nestes tempos e nas vossas vidas. Não se trata de algo que se pode adiar para quando fordes mais idosos ou tiverdes maiores responsabilidades. Mesmo agora, sois desafiados a agir com honestidade e lealdade nas vossas relações com os outros, sejam eles jovens ou idosos. Não fujais deste desafio. Um dos maiores desafios que os jovens têm pela frente é o de aprender a amar. Amar significa assumir um risco: o risco da rejeição, o risco de ser usados ou, pior, usar o outro. Não tenhais medo de amar. Mas, mesmo amando, preservai a vossa integridade. Também nisso, sede honestos e leais.

Na leitura que acabámos de ouvir, Paulo diz a Timóteo: «Ninguém escarneça da tua juventude; antes, sê modelo dos fiéis na palavra, na conduta, no amor, na fé, na castidade» (1 Tm 4, 12).

Portanto sois chamados a dar bom exemplo, exemplo de integridade. Ao fazê-lo, naturalmente tereis de enfrentar oposições e críticas, o desânimo e até o ridículo. Mas vós recebestes um dom que vos permite superar estas dificuldades: o dom do Espírito Santo. Se alimentardes este dom com a oração diária e tirardes força da participação na Eucaristia, sereis capazes de alcançar aquela grandeza moral a que vos chama Jesus. Tornar-vos-eis também uma bússola para os vossos amigos que andam à deriva. Penso especialmente nos jovens que se sentem tentados a perder a esperança, a abandonar os seus altos ideais, a deixar a escola ou a gozar o dia-a-dia.

Por isso, é essencial não perder a vossa integridade, não comprometer os vossos ideais, nem ceder às tentações contra a bondade, a santidade, a coragem e a pureza. Abraçai o desafio. Com Cristo, vós sereis – na verdade, já o sois – os artífices duma cultura filipina renovada e mais justa.

Uma segunda área onde sois chamados a dar a vossa contribuição é mostrar solicitude pelo meio ambiente. Isto não se deve apenas ao facto de que o vosso país, mais do que outros, corre o risco de ser seriamente afetado pelas alterações climáticas. Sois chamados a cuidar da criação, não só como cidadãos responsáveis, mas também como seguidores de Cristo. O respeito pelo ambiente requer mais do que simplesmente usar produtos não poluentes ou reciclá-los. Estes são aspectos importantes, mas não suficientes. Temos necessidade de ver, com os olhos da fé, a beleza do plano de salvação de Deus, a ligação entre o ambiente natural e a dignidade da pessoa humana. O homem e a mulher foram criados à imagem e semelhança de Deus, tendo-lhes sido dado o domínio sobre a criação (cf. Gn 1, 26-28). Como administradores da criação, somos chamados a fazer da Terra um belíssimo jardim para a família humana. Quando destruímos as nossas florestas, devastamos o solo e poluímos os mares, traímos esta nobre vocação.

Há três meses, os vossos bispos abordaram estes temas numa Carta Pastoral profética. Pediram a cada um que refletisse sobre a dimensão moral das nossas atividades e dos nossos estilos de vida, nos nossos consumos e no uso que fazemos dos recursos naturais. Hoje peço-vos que o façais no contexto das vossas vidas e do vosso compromisso em prol da construção do Reino de Cristo. Queridos jovens, o uso e a gestão corretos dos recursos naturais é uma tarefa urgente, para a qual tendes uma importante contribuição a dar. Sois o futuro das Filipinas. Mostrai-vos interessados por tudo o que sucede na vossa belíssima terra.

Outra área, para a qual podeis prestar uma contribuição, é particularmente querida a todos vós: o cuidado dos pobres. Somos cristãos, membros da família de Deus. Cada um de nós – não importa se, individualmente, temos muito ou pouco – é chamado a estender a mão pessoalmente e servir os nossos irmãos e irmãs necessitados. Há sempre alguém perto de nós que está em necessidade: material, psicológica, espiritual. O maior presente que lhe podemos dar é a nossa amizade, a nossa solicitude, a nossa ternura, o nosso amor por Jesus. Recebê-Lo significa receber com Ele tudo; dá-Lo significa dar o maior presente de todos.

Muitos de vós sabem o que significa ser pobre. Mas, muitos de vós terão experimentado também algo da bem-aventurança que Jesus prometeu aos «pobres em espírito» (Mt 5, 3). Gostaria de deixar aqui uma palavra de incentivo e gratidão àqueles de vós que escolheram seguir Nosso Senhor na sua pobreza, através da vocação ao sacerdócio e à vida religiosa; bebendo naquela pobreza, enriquecereis a muitos. A todos vós, porém, especialmente àqueles que podem fazer e dar mais, peço: Por favor, fazei mais! Por favor, dai mais! Quando ofereceis algo do vosso tempo, dos vossos talentos e dos vossos recursos a tantas pessoas carentes que vivem marginalizadas, sois diferentes. É uma diferença de que há uma necessidade desesperada e pela qual sereis abundantemente recompensados pelo Senhor, pois – como Ele disse - «tereis um tesouro no céu» (Mc 10, 21).

Vinte anos atrás, São João Paulo II afirmou, neste mesmo lugar, que o mundo precisa de «um novo tipo de jovem»: um jovem que esteja comprometido com os mais altos ideais e desejoso de construir a civilização do amor. Sede aqueles jovens de que falava São João Paulo II. Não percais os vossos ideais. Sede jubilosas testemunhas do amor de Deus e do plano maravilhoso que Ele tem para nós, para este país e para o mundo em que vivemos. Por favor, rezai por mim. Deus vos abençoe a todos.

Fonte: A Santa Sé – Discursos – Janeiro/2015 – Internet: clique aqui.

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