CUSTOS DE PLANOS DE SAÚDE VÃO TRIPLICAR EM 15 ANOS
Alexa Salomão
O envelhecimento da população explica a escalada dos
números:
um adulto entre 30 e 50 anos representa despesa médica
anual de R$ 2,5 mil;
aos 75 anos, a conta vai a R$ 9 mil.
Entre 1950 e
2010, a população de idosos saltou de 2,4% para 7,4%
Dr. Mario Scheffer - especialista em sistemas de saúde e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) |
Projeções
a longo prazo costumam preconizar problemas que, no fim, só serão sentidos por
gerações futuras e, por isso, costumam ser empurrados com a barriga. Na área de saúde, porém, instalou-se uma
bomba-relógio que, se não for desarmada agora, vai estourar logo ali, no colo
de todos.
Nos
próximos 15 anos, os gastos das empresas
privadas de saúde vão quase triplicar, passando de cerca de R$ 106 bilhões
por ano para R$ 283 bilhões - com impactos para todo o sistema de saúde
suplementar, incluindo sobre os cerca de 54 milhões de beneficiários.
Segundo
projeções do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), o gatilho para
um salto tão expressivo em um prazo tão curto é a mudança na demografia: o brasileiro não só está ficando mais
velho, como vive mais e sente os contratempos que a longevidade costuma
acarretar sobre a saúde.
Luiz
Augusto Carneiro, superintendente do IESS, projeta um cenário “preocupante”.
“Nossas projeções mostram que os custos vão crescer muito e rapidamente. As empresas e os beneficiários precisam se
preparar desde já para as mudanças”, diz ele.
Carneiro
destaca que será uma tarefa coletiva. As empresas terão de rever a gestão,
buscar ganhos de eficiência e até repensar o tipo de serviço. Os beneficiários,
por sua vez, terão de pensar a vida - e os cuidados com a saúde no longo prazo.
Entender a matemática financeira da demografia, avalia ele, dá algumas pistas
sobre o que fazer.
A
premissa é que não há como deter o passar do tempo: os gastos com saúde avançam
com o envelhecimento. Segundo o estudo, beneficiários de planos privados no
Brasil com menos de 18 anos custam cerca de R$ 1 mil - por ano. A conta com idosos acima de 80 passa de R$
1 mil - por mês.
O
avanço da idade provoca uma verdadeira escalada nos custos. Um adulto entre os
30 e 50 anos gera uma despesa média anual de R$ 2,5 mil. Ao entrar na terceira
idade, ele passa a representar um gasto de mais de R$ 4 mil. Aos 75 anos, a
conta anual vai a R$ 9 mil. Assim, quanto
mais velho um país se torna, maior é sua conta com a saúde.
VIRADA
Entre
1950 e 2010, por exemplo, a proporção de idosos com 65 anos no Brasil aumentou
de 2,4% para 7,4%. No mesmo período, porém, a proporção de gastos, em relação
ao Produto Interno Bruto (PIB), foi de 1% para 9%. Nos próximos anos, os
múltiplos serão ainda maiores.
Apesar
de o Brasil prevalecer no imaginário nacional como um país eternamente jovem,
nas tabelas de custos das empresas de saúde ele tateia pela terceira idade desde março de 2013, quando o crescimento
no número de usuários com 60 anos ou mais tornou-se sistematicamente superior
ao de faixas mais jovens. Essa virada vai se acentuar nos próximos anos.
Hoje,
por exemplo, menos de um terço dos beneficiários dos planos privados é formado
por idosos. Em 2030, vão representar mais da metade, 54% do total dos gastos. O
topo da pirâmide de gastos, os idosos com mais de 80 anos, vão dobrar: passarão
de 11% para 23% do total.
REESTRUTURAÇÃO
Na
avaliação de Mario Scheffer,
especialista em sistemas de saúde e professor da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (USP), o setor terá “um grande desafio” para
enfrentar o envelhecimento do brasileiro. “A
maioria dos planos não só foi montada para jovens como expulsa o idoso”,
diz.
A
lista de ineficiências do sistema é longa, segundo ele. As redes credenciadas não têm profissionais e serviços adequados para a
terceira idade, as mensalidades encarecem muito à medida que o beneficiário
ganha idade, não há sistemas de bônus e preços diferenciados pelo perfil
dos usuários, a maioria das empresas não
tem nem sequer programas de prevenção.
O
estudo do IESS mostra que o perfil da demanda já está mudando. O aumento de
idosos, por exemplo, já está transformando o perfil das doenças mais
frequentes, com impactos sobre os custos. À
medida que as pessoas envelhecem, crescem as chances de elas sofrerem de:
- diabete,
- artrite,
- problemas de coluna,
- doenças crônicas, em geral, que exigem tratamentos mais caros.
A
mudança do perfil é acompanhada por duas agravantes. A primeira é que doenças
crônicas não vêm sozinhas. Há poucos estudos no Brasil sobre o tema, mas
levantamentos feitos na Austrália indicaram que 8% da população com mais de 65 anos tem a propensão a quatro ou mais
doenças crônicas ao mesmo tempo. O segundo problema é que doenças crônicas
não só exigem acompanhamento frequente, mas podem levar a complicações que
venham a exigir cuidados mais complexos.
Exemplo:
a já citada hipertensão pode levar a
um AVC, acidente vascular cerebral, que, não raro, compromete a capacidade
motora. O paciente pode ter de fazer algum tipo de fisioterapia por meses ou,
em caso extremo, terminar internado por um longo período.
Hoje,
as terapias representam menos de 6% dos custos. Estima-se que em 2030 a demanda
terá triplicado e corresponderá a 18% dos gastos. O peso das internações - um dos atendimentos mais onerosos - tende a
passar dos atuais 58% para 64% em 15 anos.
CENÁRIO
CONSERVADOR
Para
calcular que a despesa da saúde privada chegaria a R$ 283 bilhões até 2030, o
IESS incluiu na conta a variação dos custos médico-hospitalares e da taxa de
cobertura dos planos ao longo do tempo.
Mesmo
assim, a autora do estudo, a pesquisadora Amanda
Reis, considerou o cenário “conservador”, pois não foram incluídos nas projeções dois dados que podem encarecer ainda
mais as despesas: a adoção de novas tecnologias, que custam mais caro quando
surgem, e uma eventual piora nas condições de saúde da população.
O
estudo também não estimou o impacto da alta dos custos do sistema sobre o valor
da contribuição dos beneficiários, pois os reajustes são regulados pela Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
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