14º Domingo do Tempo Comum – Ano B – Homilia

Evangelho: Marcos 6,1-6

6,1 Depois, ele partiu dali e foi para a sua pátria, seguido de seus discípulos.
2 Quando chegou o dia de sábado, começou a ensinar na sinagoga. Muitos o ouviam e, tomados de admiração, diziam: “Donde lhe vem isso? Que sabedoria é essa que lhe foi dada, e como se operam por suas mãos tão grandes milagres?
3 Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, o irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Não vivem aqui entre nós também suas irmãs?”. E ficaram perplexos a seu respeito.
4 Mas Jesus disse-lhes: “Um profeta só é desprezado na sua pátria, entre os seus parentes e na sua própria casa”.
5 Não pôde fazer ali milagre algum. Curou apenas alguns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos.
6 Admirava-se ele da desconfiança deles. E ensinando, percorria as aldeias circunvizinhas.

JOSÉ ANTONIO PAGOLA

NÃO DESPREZAR O PROFETA

O relato não deixa de ser surpreendente. Jesus foi rejeitado precisamente por seu próprio povo, entre aqueles que acreditavam conhecê-lo melhor que todos. Chega a Nazaré, acompanhado de seus discípulos, e ninguém sai ao seu encontro, como acontece às vezes em outros lugares. Tampouco lhe apresentam os enfermos da aldeia para que os cure.

A sua presença somente desperta neles assombro. Não sabem quem tenha podido ensinar-lhe uma mensagem tão cheia de sabedoria. Tampouco se explica de onde provenha a força curadora de suas mãos. A única coisa que sabem é que Jesus é um trabalhador nascido numa família de sua aldeia. Todo o restante «parece-lhes escandaloso».

Jesus se sente «desapreciado»: os seus não o aceitam como portador da mensagem e da salvação de Deus. Fizeram uma ideia de seu vizinho Jesus e resistem a abrir-se ao mistério que está nele. Jesus lhes recorda um refrão que, provavelmente, todos conhecem: «Não desprezam um profeta a não ser em sua terra, entre seus parentes e em sua casa».

Ao mesmo tempo, Jesus «estranha a sua falta de fé». É a primeira vez que experimenta uma rejeição coletiva, não dos dirigentes religiosos, mas de todo o seu povo. Ele não esperava isto dos seus. A sua incredulidade chega, inclusive, a bloquear sua capacidade de curar: «não pôde fazer ali nenhum milagre, somente curou a alguns enfermos».

Marcos não narra este episódio para satisfazer a curiosidade de seus leitores, mas para advertir às comunidades cristãs que Jesus pode ser rejeitado, precisamente, por aqueles que acreditam conhecê-lo melhor: os que se fecham em suas ideias preconcebidas sem abrir-se nem à novidade de sua mensagem nem ao mistério de sua pessoa.
  • Como estamos acolhendo Jesus, aqueles que se creem «seus»?
  • Em meio a um mundo que se tornou adulto, nossa fé não é demasiadamente infantil e superficial?
  • Não vivemos demasiadamente indiferentes à novidade revolucionária de sua mensagem?
  • Não é estranha a nossa falta de fé em sua força transformadora?
  • Não corremos o risco de apagar seu Espírito e desprezar sua Profecia?
  • Esta é a preocupação de Paulo de Tarso: «Não apagueis o Espírito, não desprezeis o dom de Profecia. Analiseis tudo e ficai somente com o que é bom» (1Ts 5,19-21). Os cristãos de nossos dias não necessitam de algo como isto?
Os cristãos têm imagens muito diferentes de Jesus. Nem todas coincidem com aquela que tinham os que o conheceram de perto e o seguiram. Cada um faz sua própria ideia dele. Essa imagem condiciona a nossa maneira de viver a fé. Se nossa imagem de Jesus é pobre, parcial ou destorcida, nossa fé será pobre, parcial ou destorcida.

Por que nos esforçamos tão pouco para conhecer Jesus? Por que nos escandaliza recordar seus traços humanos? Por que resistimos a confessar que Deus se encarnou num Profeta? Talvez, intuímos que sua vida profética nos obrigaria a transformar profundamente sua Igreja? [E a nós, também!]

DEUS NÃO É EXIBICIONISTA

Em geral, os homens buscam a Deus no espetacular e no extraordinário. Parece-nos pouco digno encontrá-lo no simples e habitual, no normal e não vistoso.

Segundo os relatos evangélicos, a verdadeira dificuldade para acolher o Filho de Deus, não foi sua grandeza extraordinária ou seu poder esmagador, mas precisamente o fato de encontrá-lo como «um carpinteiro», filho de Maria, membro de uma família insignificante.

Alguém disse que «a raiz da incredulidade é precisamente esta incapacidade de acolher a manifestação de Deus no cotidiano» (Rinaldo Fabris). Não sabemos «reconhecer» Deus no ordinário da vida.

A encarnação de Deus em um carpinteiro de Nazaré nos revela, porém, que Deus não é um exibicionista que se oferece em espetáculo, o Ser Todo-Poderoso que se impõe e diante do qual é conveniente adotar uma postura de «legítima defesa» (Friedrich Nietzsche).

O Deus encarnado em Jesus é o Deus discreto que não humilha. O Deus humilde e próximo que, a partir do próprio mistério da vida cotidiana e simples, nos convida ao diálogo. Como escrevia, Dietrich Bonhoeffer «Deus está no centro de nossa vida, mesmo estando além dela».

Podemos descobrir Deus nas experiências mais normais de nossa vida cotidiana. Em nossas tristezas inexplicáveis, na felicidade insaciável, em nosso amor frágil, nos anseios e desejos, nas perguntas mais profundas, em nosso pecado mais secreto, em nossas decisões mais responsáveis, na busca sincera.

Quando um homem e uma mulher mergulham com lealdade em sua própria experiência humana, é difícil para eles evitar a pergunta pelo mistério último da vida, que nós crentes chamamos «Deus».

Aquilo que precisamos são uns olhos mais limpos e simples e menos preocupados por ter coisas e conquistar pessoas. Uma atenção mais profunda e desperta para o mistério da vida, que não consiste apenas em ter «espírito observador», mas em saber acolher com simpatia os inúmeros chamados e mensagens que a vida mesma irradia.

Deus «não está distante daqueles que o buscam». O que necessitamos é libertar-nos da superficialidade, das mil distrações que nos dispersam e dessa atividade nervosa que, com frequência, nos impede de tomar consciência do que é a vida e nos obstrui o caminho para Deus.

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: Sopelako San Pedro Apostol Parrokia – Sopelana – Bizkaia (Espanha) – Homilías J. A. Pagola - Ciclo B – Internet: clique aqui.

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