Fraqueza do governo e políticos descomprometidos com o país faz economia despencar!
Bancos já projetam dois anos de recessão
Francisco
Carlos de Assis
Se a queda do PIB for confirmada em 2015 e 2016, será a
1ª vez que o País acumulará dois anos seguidos de recessão desde a década de
1930
Nilson Teixeira - economista que chefiou a equipe do Credit Suisse |
A
recuperação da economia brasileira deverá ser realmente lenta. As projeções
feitas por bancos e consultorias já têm apontado uma retração mais forte do que
o previsto para 2015 e uma recessão para o ano que vem. Nesta sexta-feira, a
equipe de economistas do Credit Suisse,
chefiada pelo economista Nilson Teixeira, revisou sua projeção de queda para o
Produto Interno Bruto (PIB) neste ano de 1,8% para 2,4%. Também foi revista a
projeção para 2016. Antes, a previsão era de um crescimento de 0,6%. No
relatório desta sexta-feira, a projeção para o PIB de 2016 virou uma recessão
de 0,5%.
“Essa
seria a primeira vez desde 1930-1931 que o País teria uma recessão por dois
anos consecutivos”, destacaram no documento os economistas do Credit Suisse. Naquela época, a economia
mundial sofria os efeitos da Grande
Depressão de 1929. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), o PIB, naquele período, recuou 2,1% em 1930 e 3,3% no ano seguinte.
No
cenário traçado pelos outros bancos do País, o Itaú também prevê recessão para 2016 – a economia deverá encolher
0,2%. O Bradesco prevê estagnação
para o ano que vem, e o Santander,
um pequeno crescimento de 0,1%.
Forte
contração
Para
a equipe do Credit Suisse, a dinâmica
dos principais indicadores de atividade, como o IBC-Br, por exemplo, indica que
o PIB deve sofrer uma significativa contração no 2.º trimestre: “Não descartamos
também uma contração no terceiro trimestre de 2015 devido à dinâmica
desfavorável nos setores de agropecuária, indústria e serviços. Com isso,
esperamos que o crescimento do PIB ante o trimestre anterior recue 1,9% no
segundo trimestre de 2015, 0,4% no terceiro e 0,1% no quarto trimestre.”
Na
avaliação do Departamento Econômico do Credit
Suisse, a maior queda do PIB em 2015 reduz o carrego para 2016. “A
estabilidade do PIB no patamar do quarto trimestre durante todos os trimestres
de 2016 implicaria em um crescimento negativo do PIB de 0,6% em 2016.
Com
isso, nossa previsão de uma contração de 0,5% em 2016 é compatível com uma
expansão do PIB de 0,1% ao trimestre na comparação com o trimestre anterior,
muito abaixo da média de 0,4% entre o primeiro trimestre de 2011 e o primeiro
de 2015”, afirmam os economistas.
Fonte: O Estado de S. Paulo
– Economia
– Sábado, 25 de julho de 2015 – Pg. B6 – Internet: clique aqui.
Desemprego sobe e renda volta a cair
Idiana
Tomazelli
Taxa de desocupação medida pelo IBGE subiu para 6,9% em
junho, enquanto a renda recuou 2,9%, a quinta queda consecutiva
O
mercado de trabalho voltou a dar sinais de forte deterioração. De acordo com a
Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, a taxa de desemprego nas seis
principais regiões metropolitanas do País avançou para 6,9% em junho, o nível
mais alto para o mês desde 2010. A renda média do trabalhador, por sua vez,
recuou 2,9% em relação ao mesmo mês do ano passado. Foi a quinta queda seguida
nessa comparação.
Na média do primeiro
semestre, os brasileiros já perderam 2,1% do poder de compra de seus salários
em relação a 2014 – no mesmo período do ano passado, havia um aumento de 2,9% na
comparação com 2013.
O aumento do desemprego em
junho teve reflexo direto do momento ruim do comércio e dos serviços. O impacto da desaceleração
da atividade econômica demorou a atingir esses setores, mas desde que chegou
tem produzido um efeito devastador. Em
junho, comércio e serviços demitiram juntos 209 mil pessoas nas seis regiões
metropolitanas em relação a junho do ano passado – cerca de 70% de todas as
dispensas no período.
“Além
de taxas de desemprego mais elevadas, elas estão assumindo uma tendência de
crescimento. A realidade é bem diferente de 2014, que era de um mercado de
trabalho estável”, afirmou Adriana Beringuy, técnica da Coordenação de Trabalho
e Rendimento do IBGE.
Em
junho do ano passado, a taxa de desemprego estava em 4,8%, então o menor nível
para o mês em toda a série. Dessa vez, o recorde é o aumento de 2,1 ponto
porcentual.
Além
disso, a queda de 1,3% na população ocupada e o aumento de 44,9% na desocupação
em relação a junho do ano passado são os resultados mais intensos já observados
na Pesquisa Mensal de Emprego. Os dados nesse confronto estão disponíveis desde
2003 e dão uma ideia de rapidez da
deterioração no mercado de trabalho.
“A
taxa de desemprego está crescendo num ritmo cada vez mais rápido porque a
economia está apenas iniciando o processo recessivo”, afirma José Márcio Camargo,
economista-chefe da Opus Gestão de
Recursos. O especialista vê a taxa
de desemprego encerrando em 7% em dezembro (ante 4,3% em igual mês de
2014). “E provavelmente vai atingir dois
dígitos em meados do ano que vem.”
Ajuste
rápido
As
demissões no comércio e nos outros serviços chamaram a atenção pela novidade.
No caso dos serviços, principalmente, a força de trabalho encolheu 2,7% em
relação a junho do ano passado, uma queda recorde. A dispensa de 114 mil
trabalhadores foi maior até mesmo do que na indústria, que há tempos diminui o
número de trabalhadores, mas em ritmo mais lento. “A indústria, quando demite,
demite o indispensável, pois tem uma mão de obra muito qualificada. No comércio
e nos serviços demora mais, porque a recessão leva mais tempo para atingir.
Mas, quando atinge, as reduções são muito mais rápidas”, observou Camargo.
O
baque sobre a atividade de comércio e serviços é recente. Em maio, o varejo
amargou um saldo negativo no volume de vendas em 12 meses pela primeira vez
desde março de 2004. A receita nominal dos serviços, por sua vez, mostra
crescimento cada vez mais tímido, mesmo sem descontar o efeito dos preços sobre
a receita, que é naturalmente de elevação.
“O
comércio como um todo deve continuar tendo resultados negativos, já que a queda
nas vendas se reflete em menor número de vagas. Além disso, há também uma forte
desaceleração nos serviços”, diz a economista Natalia Cotarelli, do banco ABC Brasil, que prevê manutenção no
ritmo de extinção de postos de trabalho.
Considerando
todas as atividades, 298 mil pessoas perderam o emprego no mês passado em
relação a junho de 2014. Só que a procura por trabalho aumentou quase odobro.
“O crescimento da desocupação está sendo abastecido por aqueles que perderam
emprego e também por pessoas que antes não estavam procurando trabalho e agora
passam a pressionar o mercado”, explicou Adriana.
Fonte: O Estado de S. Paulo
– Economia
– Sexta-feira, 24 de julho de 2015 – Pg. B5 – Internet: clique aqui.
Travessia no deserto
Eliane
Cantanhêde
Faltou a Dilma, Levy e Barbosa combinar o pacote com os
adversários:
o Congresso
Ao
reduzir o superávit fiscal para 0,15% do PIB e anunciar cortes de R$ 8,6
bilhões no já tão retalhado Orçamento, o governo da presidente Dilma Rousseff
simplesmente jogou a toalha. Foi o
reconhecimento cristalino de que Dilma, Joaquim Levy e Nelson Barbosa não
conseguem ajustar as contas, muito menos estancar a crise.
Por
mais que a presidente diga que 2015 é um ano de “travessia”, a dura realidade é
que este é um ano de recuos e de trancos para a correção, ou tentativa de
correção, de todos os erros crassos cometidos no primeiro mandato, pautado por
uma visão embaçada e antiga sobre o que é nacionalismo e desenvolvimento.
O resultado é recessão,
quando as empresas produzem menos, o comércio vende menos, os serviços operam
menos e todos pagam menos impostos. E o governo, que gastou muito, continua
gastando muito.
Como em qualquer lar, se você gastou mais do que devia, endividou-se e não
ganha o suficiente para arcar com a despesa... dá nisso. O governo não fecha as contas, não consegue mais economizar para
amortizar suas dívidas, é obrigado a rever a meta fiscal e a “cortar na carne”,
como repetiu Levy na entrevista do anúncio.
Se
já cortara R$ 70 bilhões no Orçamento, uma
das grandes dificuldades agora é definir onde ainda há o que cortar.
Gordura não há mais, enxugar o número de ministérios é fora de cogitação e o
que sobra é uma escolha de Sofia. Educação ou Saúde? Defesa ou Desenvolvimento?
Relações Exteriores ou Agricultura? Aparentemente, poucos passarão ilesos,
tanto que o governo quer maior
flexibilização para mexer até nos gastos, digamos, imexíveis.
E
aí entra a questão mais delicada. Dilma, Levy e Barbosa, aparentemente,
esqueceram de um detalhe no anúncio da mudança da meta fiscal e dos cortes:
combinar com os adversários. Essas são medidas que o governo anuncia e o
Congresso vota. E vai votar num clima político e econômico péssimo, com a Lava Jato correndo solta e o presidente
da Câmara, Eduardo Cunha, voltando do recesso de tacape em punho.
Enquanto
a oposição aponta o dedo para culpar Dilma por mais esse jeitinho para fechar
as contas públicas sem fechá-las, o governo reage lembrando a parcela bem
razoável de responsabilidade do Congresso e da oposição nesse latifúndio de
culpas. Os dois lados estão cobertos de
razão: Dilma criou o problema, o Congresso dificultou a solução.
A
crise começou com o desconhecimento, a ideologia antiquada e a empáfia de
Dilma, mas deputados e senadores
complicaram ao máximo as votações do ajuste fiscal e foram reduzindo, uma a
uma, as previsões de receitas com as mexidas previdenciários e trabalhistas e
simplesmente não votaram nem a redução da desoneração fiscal das empresas nem o
repatriamento de recursos do exterior. Ou seja: a arrecadação continuou caindo,
mas a receita não aumentou tanto quanto nos planos de Levy. E tome crise!
Dilma
empurrou o conteúdo econômico para Levy e Barbosa e o conteúdo político para o
vice Michel Temer, enquanto trata de cuidar da própria forma. Não apenas da
forma física, com o regime da moda e as pedaladas, mas também da forma de se
comunicar com uma opinião pública que lhe é hostil. Assim, ela foi aos EUA, à
Rússia e à Itália, sediou reunião do Mercosul em Brasília, tem ao menos uma
viagem por semana aos Estados, concede uma entrevista daqui outra dali. Mas não há marqueteiro que dê jeito em
crises, não há propaganda que encha barriga, nem mandioca que gere emprego.
O
primeiro semestre foi um desastre? Pois o segundo não será melhor. Como diz o
ditado, nunca está tão ruim que não possa piorar.
Recordar
é viver
Os
bombeiros estão em ação, mas não custa lembrar que, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo em 10 de março, sua
primeira exclusiva sobre a crise, o ex-presidente Fernando Henrique disse com
todas as letras (acentuadas pela mágoa) que não faria acordos nem tinha nada a
tratar com seu sucessor Lula: “Ele quer é acusar. Ele é o bom, nós somos os
maus. Então, não há como dialogar com quem não quer dialogar”.
Comentários
Postar um comentário