GRÉCIA: POR QUE CHEGOU A ESTE PONTO?
Tragédia Grega esconde segredo de bancos privados
Maria Lucia Fattorelli [1]
“É preciso buscar as razões pelas quais a Grécia foi
escolhida para estar no olho do furacão, submetida a acordos e memorandos
ilegais e ilegítimos, servindo de cenário para encobrir o escandaloso resgate
ilegal de bancos privados desde 2010.”
A
Grécia está enfrentando um tremendo problema de dívida pública e uma crise
humanitária. A situação atual é muitas vezes pior do que a de 2010, quando a Troika – FMI, Comissão Europeia e
Banco Central Europeu – impôs seu “plano de resgate” ao país, justificado
pela necessidade de apoiar a Grécia. Na
realidade, tal plano tem sido um completo desastre para a Grécia, pois o país
não tem obtido absolutamente nenhum benefício com os peculiares acordos de
dívida implementados desde então.
O
que quase ninguém comenta é que um outro exitoso plano de resgate foi
efetivamente implementado naquela mesma época em 2010, não para a Grécia, mas
para os bancos privados. Por trás da
crise grega há um enorme e ilegal plano de resgate de bancos privados. E a
forma pela qual tal plano está se dando representa um imenso risco para toda a
Europa.
Depois de cinco anos, os
bancos conseguiram tudo o que queriam. Por outro lado, a Grécia mergulhou numa verdadeira
tragédia:
- o país aprofundou gravemente seu problema de dívida pública;
- perdeu patrimônio estatal na medida em que acelerou o processo de privatizações, assim como encolheu drasticamente sua economia.
- Pior que tudo, tem amargado imensurável custo social representado pelas vidas de milhares pessoas desesperadas que tiveram seu sustento e seus sonhos cortados pelas severas medidas de austeridade impostas desde 2010.
- Saúde, educação, trabalho, assistência, pensões, salários e todos os demais serviços sociais têm sido afetados de forma destrutiva.
Em
Maio de 2010, ao mesmo tempo em que todas as atenções estavam focadas nas
abundantes notícias sobre a interferência da Troika na Grécia, com seu peculiar
“plano de resgate” grego, um outro plano de efetivo resgate bancário
viabilizado por um conjunto de medidas ilegais também estava sendo aprovado,
mas atenção alguma foi dispensada a esse último.
Em
uma tacada, sob a justificativa de
necessidade de “preservar a estabilidade financeira na Europa”, medidas ilegais
foram tomadas em Maio de 2010, a fim de garantir o aparato que permitiria aos bancos privados livrar-se da
perigosa “bolha”, isto é, da grande quantidade de ativos tóxicos – em sua
maioria títulos desmaterializados e não comercializáveis - que abarrotava
contas “fora de balanço”[2] em sua escrituração contábil. O objetivo principal era ajudar os bancos privados a transferir tais
ativos tóxicos para os países europeus.
Uma
das medidas adotadas para acelerar a troca de ativos de bancos privados e
acomodar a crise bancária foi o programa SMP[3] , mediante o qual o Banco Central Europeu (BCE) passou
a efetuar compras diretas de títulos públicos e privados, tanto no mercado
primário como secundário. A operação relativa a títulos públicos é ilegal,
pois fere frontalmente o Artigo 123 do Tratado da União Europeia[4] . Tal
programa constitui apenas uma entre várias outras “medidas não-padronizadas”
adotadas na época pelo BCE.
A criação de um “Veículo de Propósito Especial”, uma
companhia baseada em Luxemburgo, constituiu outra medida implementada para
transferir ativos tóxicos desmaterializados dos bancos privados para o setor
público.
Acreditem ou não, países europeus[5] se tornaram sócios de tal companhia privada, uma
sociedade anônima chamada Facilidade para Estabilidade Financeira
Europeia (EFSF)[6]. Os países se comprometeram com bilionárias
garantias, inicialmente no montante de EUR 440 bilhões[7], que logo em 2011 subiram para EUR 779.78 bilhões[8]. O verdadeiro propósito de tal companhia tem
sido disfarçado pelos anúncios de que ela iria providenciar “empréstimos” para
países, fundamentados em “instrumentos financeiros”, não em dinheiro efetivo.
Cabe mencionar que a criação da EFSF foi
uma imposição do FMI[9], que lhe forneceu uma contribuição de EUR
250 bilhões[10].
Juntos,
o programa SMP e a companhia EFSF representaram os complementos cruciais para o
esquema[11] de
alívio de ativos, necessário para concluir o suporte aos bancos privados
iniciado desde o início de 2008, por ocasião da crise financeira nos Estados
Unidos e Europa. Desde o início de 2009
os bancos privados vinham demandando por mais suporte público para descarregar
a excessiva quantidade de ativos tóxicos que abarrotava suas contas “fora de
balanço”. O atendimento a essa demanda poderia se dar tanto mediante
compras diretas governamentais, como por meio de transferências para companhias
independentes de gerenciamento de ativos. Essas duas soluções restaram
atendidas pelo SMP e pela EFSF, e as
perdas relacionadas aos ativos tóxicos estão sendo repartidas entre os cidadãos
europeus.
A
troca de ativos tóxicos de bancos privados para uma companhia por meio de
simples transferência, sem o devido pagamento e a operação de compra/venda
seria ilegal frente às normas contábeis. EUROSTAT modificou tais regras[12] e permitiu a
“liquidação de operações conduzidas mediante troca de títulos”, justificando
tal ato por “circunstâncias específicas da turbulência financeira”.
A localização da companhia
EFSF em Luxemburgo visou, principalmente, escapar da aplicação das leis do
Direito Internacional. Ademais, a EFSF é financiada em grande parte pelo FMI, cuja
colaboração seria ilegal, de acordo com seu próprio Estatuto. No entanto, o FMI também modificou suas regras para
proporcionar a ajuda de EUR 250 bilhões à EFSF[13].
De
acordo com a Lei[14] que autorizou a sua criação, a empresa EFSF de
Luxemburgo poderia delegar a gestão de todas as suas atividades relacionadas
aos instrumentos financeiros; seu conselho de diretores poderia delegar as suas
funções, e seus associados, os Estados-Membros, poderiam delegar a tomada de
decisões relacionada aos fiadores para o Grupo
de Trabalho do Eurogrupo (EWG). Naquela
época, tal grupo de trabalho sequer possuía um presidente em tempo integral[15]. A
Agência de Gestão da Dívida alemã[16] é quem
realmente opera a EFSF, e, em conjunto com o Banco Europeu de Investimento,
presta apoio ao funcionamento operacional da EFSF. É evidente a falta de legitimidade da EFSF, já que é realmente operada
por um órgão diverso. EFSF é agora o principal credor Grécia.
Os
instrumentos financeiros utilizados pela EFSF são os mais arriscados e
restritos, desmaterializados, não comercializáveis, tais como Floating Rate Notes tipo Pass-trough, arranjos cambiais e de
hedge, e outras atividades de co-financiamento que envolvem o administrador
britânico Wilmington Trust (London) Limited[17] como o instrutor para a emissão de títulos restritos,
não-certificados, que não podem ser comercializados em nenhuma bolsa de valores
legítima, pois não obedecem às regras exigidas para títulos de dívida soberana.
Este conjunto de instrumentos
financeiros tóxicos representa um risco para os Estados-Membros, cujas
garantias podem ser exigidas para pagar por todos os produtos financeiros da
empresa luxemburguesa.
Um
escândalo de grande proporção teria ocorrido em 2010, se esses esquemas ilegais
tivessem sido revelados:
- a violação do Tratado da União Europeia,
- as alterações arbitrárias nas regras processuais por parte do BCE, Eurostat e do FMI,
- bem como a associação dos Estados-Membros à companhia privada de propósito especial em Luxemburgo.
Este
escândalo nunca aconteceu, porque em Maio de 2010, a mesma reunião
extraordinária do Conselho de Assuntos
Econômicos e Sociais da Comissão Europeia[18] que discutiu a criação da companhia luxemburguesa
EFSF “Veículo de Propósito Especial”, deu
uma importância especial para o "pacote de apoio à Grécia", fazendo
parecer que a criação daquele esquema era para a Grécia e que, ao fazê-lo,
estariam garantindo a estabilidade fiscal para a região. Desde então, a
Grécia tem sido o centro de todas as atenções, persistentemente ocupando as
manchetes dos principais veículos de comunicação de todo o mundo, enquanto o esquema ilegal que efetivamente tem
suportado e beneficiado os bancos privados permanece nas sombras, e quase ninguém
fala sobre isso.
O
relatório anual do Banco da Grécia mostra um acentuado crescimento nas contas
"fora de balanço" relacionadas a ativos financeiros em 2009 e 2010,
em quantidades muito maiores que o total de ativos do Banco, e esse padrão
continua nos anos seguintes. Por exemplo, no Balanço Contábil do Banco da Grécia de 2010[19], o total de ativos em 31/12/2010 era EUR
138,64 bilhões. As contas “fora de
balanço” naquele ano chegou a EUR 204,88 bilhões. Em 31/12/2011[20], enquanto o total dos ativos do Balanço
somou EUR 168,44 bilhões, as contas “fora de balanço” atingiram EUR 279,58
bilhões.
Assim,
a transferência de ativos tóxicos dos
bancos privados para o setor público tem sido um grande sucesso: para os bancos
privados. E o Sistema da Dívida[21] tem sido a ferramenta para acobertar isso.
A
Grécia foi trazida a este cenário depois de vários meses de pressão persistente
por parte da Comissão Europeia, devido a alegações acerca de existência de um
excessivo déficit orçamentário, além de inconsistências em dados estatísticos[22]. Passo a passo, um grande problema foi
criado em torno dessas questões, até que em
maio de 2010 o Conselho de Assuntos Econômicos e Financeiros declarou: "na
sequência da crise na Grécia, a situação nos mercados financeiros é frágil e
havia um risco de contágio"[23].
E assim a Grécia foi submetida ao pacote que incluiu a interferência da Troika
com as suas severas medidas inseridas em planos de ajuste anual, e um peculiar
acordo bilateral, seguido por "empréstimos" da EFSF lastreados em
instrumentos financeiros de risco.
Economistas gregos, líderes
políticos, e até mesmo algumas autoridades do FMI haviam proposto que uma
reestruturação da dívida grega iria propiciar resultados muito melhores do que
aquele pacote.
Isso foi ignorado.
Graves
denúncias acerca da superestimação do déficit orçamentário - que tinha sido a
justificativa para a criação do grande problema em torno da Grécia e a
imposição do pacote em 2010 - foram igualmente ignoradas.
Sérias denúncias feitas por
especialistas[24] gregos sobre a falsificação
de estatísticas também foram desconsideradas. Seus estudos mostravam que o montante de
EUR 27,99 bilhões sobrecarregou as estatísticas de dívida pública em 2009[25], por causa da elevação falsa em
determinadas categorias (tais como DEKO, obrigações hospitalares e SWAP Goldman
Sachs). Estatísticas de anos anteriores também haviam sido afetadas por EUR 21
bilhões de swaps Goldman Sacks distribuídos ad hoc em 2006, 2007, 2008 e 2009.
Apesar
de tudo isso, sob uma atmosfera de urgência e ameaça de "contágio",
acordos peculiares foram implementados desde 2010 na Grécia; não como uma
iniciativa grega, mas tal como conformado pelas autoridades da UE e do FMI,
vinculados ao cumprimento de um conjunto completo de medidas econômicas,
sociais e políticas prejudiciais, impostas pelos Memorandos[26].
A análise dos mecanismos[27] inseridos nesses acordos mostra que eles não significaram benefício
algum à Grécia, mas serviram aos interesses dos bancos privados, em perfeita consonância
com as medidas de resgate ilegais aprovadas em Maio de 2010.
Em primeiro lugar, o empréstimo bilateral
usou uma conta especial no BCE, por meio da qual os empréstimos desembolsados
pelos países e KfW, os credores, iriam direto para os bancos privados que
detinham títulos de dívida desvalorizados, cotados muito abaixo de seu valor
nominal. Dessa forma, aquele acordo bilateral peculiar foi arranjado para
permitir o pagamento integral para aqueles detentores de títulos, enquanto a
Grécia não obter qualquer benefício. Em vez disso, os gregos terão de pagar de
volta o capital, altas taxas de juros e todos os custos.
Em segundo lugar, os
"empréstimos" da EFSF resultaram na recapitalização de bancos
privados gregos, além de trocas e reciclagem de instrumentos de dívida. A Grécia não recebeu qualquer empréstimo
verdadeiro ou apoio da EFSF. Através dos mecanismos inseridos nos acordos
com a EFSF, dinheiro efetivo nunca
chegou à Grécia, mas apenas os ativos tóxicos desmaterializados que lotam a
seção “fora de balanço” do Banco da Grécia. Por outro lado, o país tem sido forçado a cortar despesas
sociais essenciais para pagar, em dinheiro, as altas taxas de juros e todos os
custos abusivos, e também terá que reembolsar o capital que nunca recebeu.
O contrato prevê que tal pagamento pode ser feito também por meio de entrega de
patrimônio estatal privatizado.
É
preciso buscar as razões pelas quais a Grécia foi escolhida para estar no olho
do furacão, submetida a acordos e memorandos ilegais e ilegítimos, servindo de
cenário para encobrir o escandaloso resgate ilegal de bancos privados desde
2010.
Talvez essa humilhação se
deva ao fato de que a Grécia tem sido historicamente uma referência mundial
para a humanidade, pois ela é o berço da democracia, o símbolo da ética e dos
direitos humanos. O Sistema de Dívida não pode admitir tais valores, pois não possui o
menor escrúpulo em provocar danos a países e povos para obter seus lucros.
O
Parlamento grego já instalou a Comissão
da Verdade sobre a dívida pública e nos deu a chance de revelar esses
fatos; tão necessários para repudiar o Sistema de Dívida que tem subjugado não
só a Grécia, mas muitos outros países, sob a espoliação do setor financeiro
privado. Somente por meio da
transparência e do acesso à verdade os países irão derrotar aqueles que querem
colocá-los de joelhos.
Já
é chegado o tempo para que a verdade prevaleça, o tempo para colocar os
direitos humanos, a democracia e a ética acima de quaisquer interesses
inferiores. Esta é uma tarefa para a Grécia, a ser cumprida já.
NOTAS:
[1] Auditora
aposentada da Receita Federal e fundadora do movimento “Auditoria Cidadã da
Dívida” no Brasil, coordenadora Nacional da Auditoria Cidadã da Dívida no
Brasil (www.auditoriacidada.org.br), convidada pela presidente do Parlamento
Grego Deputada Zoe Konstantopoulou para colaborar com o Comité da Verdade sobre
a Dívida Pública criado em 4 de abril de 2015.
[2] “Fora
de balanço” significa uma seção à margem das contas normais que fazem parte do
balanço contábil, onde ativos problemáticos, tais como títulos
desmaterializados, não comercializáveis, são informados.
[3] Securities Markets Programme (SMP) - EUROPEAN CENTRAL BANK. Monetary
policy glossary. Disponível aqui. [Acessado em 4 de Junho de 2015]
[4] THE
LISBON TREATY. Article 123. Disponível aqui. [Acessado em 4 Junho de 2015]
[5] Países
Membros da zona do Euro ou Sócios da EFSF: Reino da Bélgica, República Federal
da Alemanha, Irlanda, Reino da Espanha, República da França, República da
Itália, República de Chipre, República de Luxemburgo, República de Malta, Reino
da Holanda, República da Áustria, República de Portugal, República da
Eslovênia, República da Eslováquia, República da Finlândia e República
Helênica.
[6] A
companhia privada EFSF foi criada como um instrumento do MECANISMO DE ESTABILIZAÇÃO FINANCEIRA EUROPEIA (EFSM).
[7] EUROPEAN COMMISSION (2010) Communication From the Commission to the
European Parliament, the European Council, the Council, the European Central
Bank, the Economic And Social Committee and the Committee of the Regions -
Reinforcing economic policy coordination. Página 10.
[8] IRISH STATUTE BOOK (2011) European Financial Stability Facility and Euro
Area Loan Facility (Amendment) Act 2011. Disponível aqui. [Acessado em 4 Junho de 2015].
[9] Depoimento
de Dr. Panagiotis Roumeliotis, representante da Grécia junto ao FMI, para o
“Comité da Verdade sobre a Dívida Pública”, no Parlamento Grego, em 15 de junho
de 2015.
[10] EUROPEAN
FINANCIAL STABILITY FACILITY (2010) About EFSF [online] Disponível aqui. Question A9 [Acessado em 4 Junho de 2015].
[11] HAAN, Jacob de; OSSTERLOO, Sander; SCHOENMAKER, Dirk. Financial Markets
and Institutions – A European Perspective (2012) 2nd edition. Cambridge, UK.
Asset relief schemes, Van Riet (2010) Página 62.
[12] EUROSTAT (2009) New decision of Eurostat on deficit and debt - The
statistical recording of public interventions to support financial institutions
and financial markets during the financial crisis. [Acessado
em 4 Junho de 2015]
[13] “Most Directors (…) called for the Fund to collaborate with other
institutions, such as the Bank for International Settlements, the Financial
Stability Board, and national authorities, in meeting this goal.” In IMF (2013)
Selected Decisions. Página 72 [Acessado em 4 Junho de 2015]
[14] EUROPEAN FINANCIAL STABILITY FACILITY ACT 2010. EFSF Framework
Agreement, Artigos 12 (1) a, b, c, d, e (3); Artigo 10 (1), (2) e (3); Artigo
12 (4); Artigo 10 (8).
[15] Somente
a partir de Outubro/ 2011 em diante, de acordo com a Decisão do Conselho de
26/Abril/2012, o Grupo de Trabalho do Eurogrupo (EWG) passou a ter um
presidente em tempo integral: OFFICIAL JOURNAL OF THE EUROPEAN UNION (2012) Official
Decision. A mesma pessoa, Thomas Wieser, ocupou também a presidência do Comitê
Econômico e Financeiro (EFC) desde Março/2009 a Março/2011: COUNCIL OF THE
EUROPEAN UNION. Eurogroup Working Group.
Disponível aqui.
[16] EUROPEAN FINANCIAL STABILITY FACILITY (2013) EFSF general questions. - Question A6. [Acessado em 4 Junho de 2015]. Veja também: Germany Debt Management Agency has issued
EFSF securities on behalf of EFSF. EUROPEAN FINANCIAL STABILITY FACILITY (2010) EU and
EFSF funding plans to provide financial assistance for Ireland. Disponível aqui.
[Acessado em 4 Junho de 2015]
[17] Co-Financing
Agreement, PREAMBLE (A) and Article 1 – Definitions and Interpretation “Bonds”. [Acessado em 4 Junho de 2015]. Tais
títulos são emitidos em forma desmaterializada e não-certificada. Possuem
muitas restrições porque são emitidos diretamente para um determinado propósito
e não oferecidos em mercado, como exigido pela Lei de Ativos e pelas regras da
SEC. Eles são emitidos com base numa exceção dessas regras que é aplicável
somente para emissões privadas, não para Países.
[18] ECONOMIC and FINANCIAL AFFAIRS Council Extraordinary meeting Brussels,
9/10 May 2010. COUNCIL CONCLUSIONS
[19] BANK OF GREECE ANNUAL REPORT 2010. BALANCE SHEET p. A4
[20] BANK OF GREECE ANNUAL REPORT 2011. BALANCE SHEET p. A4.
[21] Expressão
criada pela autora, a partir da constatação, por meio de diversas auditorias
cidadãs em diferentes instâncias, do uso do instrumento do endividamento
público às avessas, funcionando como uma ferramenta de subtração de recursos
públicos em vez de aportar recursos ao Estado, operando por meio de uma série
de engrenagens que relacionam o sistema político, o sistema legal, o modelo
econômico baseado em planos de ajuste fiscal, a grande mídia e a corrupção.
[22] 24
MARÇO 2009 - Commission Opinion -
27
ABRIL 2009 - Council Decision –
10
NOVEMBRO 2009 - Council conclusions -
8 JANEIRO 2010- Commission Report -
2 DEZEMBRO 2009 - Council Decision -
11 FEVEREIRO 2010 - Statement by Heads of States or
Government of the European Union. -
16
FEVEREIRO 2010 - Council Decision giving -
[23] 9/10
MAIO 2010 - Council Conclusions - Extraordinary meeting – Sob a justificativa
de uma “crise na Grécia” o esquema de medidas para salvar bancos privados é
implementado. 10 MAIO 2010 – Council Decision –
[24] Prof.
Zoe Georganta, Professora de Econometria Aplicada e Produtividade, Ex membro da
diretoria da ELSTAT, apresentou sua contribuição ao “Comité da Verdade sobre a
Dívida Pública” em 21 Maio 2015.
[25] HF International (2011) Georgantas says 2009 deficit was purposely inflated to put us in code red.
[26] Um
conjunto de 3 Memorandos acompanham a Carta de Intenções que o governo grego
teve que assinar para receber um empréstimo Stand-By do FMI, nos quais se
compromete a realizar as contrarreformas, cortes de serviços sociais, ao mesmo
tempo em que cria fundos privados, com recursos públicos, para realizar o
resgate de bancos privados (HFSF) e acelerar as privatizações (HRADT).
[27] Os
mecanismos estão resumidos no Capítulo 4 do Relatório Preliminar apresentado
pelo “Comité da Verdade sobre a Dívida Pública” em 17 Junho 2015.
Fonte: Instituto Humanitas
Unisinos – Notícias – Terça-feira, 30 de junho de 2015 – Internet: clique aqui.
“Grécia deve dizer não”,
defende Prêmio Nobel de Economia
Paul Krugman
El
País
29-06-2015
«A Grécia deve votar “não”, e seu Governo deve estar
pronto para,
se for necessário, abandonar o euro».
Paul Robin Krugman é um economista norte-americano, vencedor do Nobel de Economia de 2008. Autor de diversos livros, é também desde 2000 colunista do The New York Times. |
É evidente, há muito tempo,
que a criação do euro foi um erro terrível. A Europa nunca teve as condições prévias
para uma bem-sucedida moeda única, sobretudo, o tipo de união fiscal e bancária
que, por exemplo, assegura que quando a bolha imobiliária estoura na Flórida,
Washington automaticamente protege a terceira idade de qualquer ameaça sobre
seu atendimento de saúde e seus depósitos bancários.
Abandonar
uma união monetária é, entretanto, uma decisão muito mais difícil e mais
aterradora do que nunca; até agora as economias com mais problemas do
Continente deram um passo atrás quando se encontravam à beira do abismo. Várias
vezes, os Governos submeteram-se às exigências de dura austeridade dos
credores, enquanto o Banco Central Europeu conseguiu conter o pânico nos
mercados.
Mas a situação na Grécia
chegou ao que parece ser um ponto sem volta. Os bancos estão temporariamente fechados e
o Governo impôs controles de capital (limites ao movimento de fundos ao
estrangeiro). Parece bem provável que o
Executivo logo terá que começar a pagar as aposentadorias e os salários em
papel, o que, na prática, criaria uma moeda paralela. E na primeira semana
de julho o país irá realizar uma consulta sobre a conveniência de aceitar as
exigências da troika [Fundo Monetário
Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia] – as instituições que
representam os interesses dos credores – de redobrar, ainda mais, a
austeridade.
A
Grécia deve votar “não”, e seu Governo deve estar pronto para, se for
necessário, abandonar o euro.
Para
entender por que digo isso, devemos
primeiro estar conscientes de que a maior parte das coisas – não todas, mas
a maioria – que temos ouvido sobre o
desperdício e a irresponsabilidade grega é falsa. Sim, o governo grego
estava gastando além de suas possibilidades no final da primeira década dos
anos 2000. Mas, desde então, cortou repetidamente o gasto público e aumentou a
arrecadação fiscal. O emprego público caiu mais de 25 por cento, e as
aposentadorias (que eram, certamente, muito generosas) foram drasticamente
reduzidas. Todas as medidas foram, em suma, mais do que suficientes para
eliminar o déficit original e transformá-lo em um amplo superávit.
Por
que isso aconteceu? Porque a economia
grega desabou, em grande parte, como consequência direta dessas importantes
medidas de austeridade, que afundaram a arrecadação.
E
esse colapso, por sua vez, teve muito a ver com o euro, que prendeu a
economia grega em uma camisa de força. Geralmente, os casos de sucesso das políticas de austeridade – aqueles nos quais os
países conseguiram frear seu déficit fiscal sem cair na depressão – vêm junto
com importantes desvalorizações monetárias que fazem com que suas exportações
sejam mais competitivas. Foi isso o que aconteceu, por exemplo, no Canadá
na década de noventa, e na Islândia mais recentemente. Mas a Grécia, sem moeda
própria, não tem essa opção.
Com
isso quero dizer que seria conveniente o Grexit
– a saída da Grécia do euro –? Não necessariamente. O problema do Grexit sempre foi o risco de caos
financeiro, de um sistema bancário bloqueado pelas retiradas presa do pânico e
de um setor privado obstaculizado tanto pelos problemas bancários como pela
incerteza sobre o status legal das dívidas. É por isso que os sucessivos
governos gregos aderiram às exigências de austeridade, e pelo que o Syriza, a coalizão de esquerda no
poder, estava disposto a aceitar uma austeridade que já havia sido imposta. A única coisa que pedia era evitar uma dose
maior de austeridade.
Mas a troika rejeitou essa opção. É fácil se perder nos detalhes, mas agora o ponto
fundamental é que os credores ofereceram
à Grécia um “pegar ou largar”, uma oferta indistinguível das políticas dos
últimos cinco anos.
Essa
oferta estava e está destinada a ser rejeitada pelo primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras: não pode aceitá-la
porque seria a destruição de sua razão política de ser. Portanto, seu objetivo
deve ser levá-lo a abandonar seu cargo, algo que provavelmente acontecerá se os
gregos escolherem não confrontar a troika
e votarem sim na primeira semana de julho.
Mas
não devem fazê-lo por três razões:
- Em primeiro lugar, agora sabemos que a austeridade cada vez mais dura é um beco sem saída: após cinco anos, a Grécia está ainda em pior situação.
- Em segundo ligar, praticamente todo o caos temido sobre o Grexit já aconteceu. Com os bancos fechados e os controles de capital impostos, não há muito mais danos a serem feitos.
- Por último, a adesão ao ultimato da troika acarretaria o abandono definitivo de qualquer pretensão de independência da Grécia.
De
modo que é tempo de acabar com esse inimaginável. Do contrário a Grécia
enfrentará a austeridade infinitamente e uma depressão da qual não há indícios
de seu final.
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