15º Domingo do Tempo Comum – Ano B – Homilia
Evangelho:
Marcos 6,7-13
6,7 Então, Jesus chamou os Doze e começou a
enviá-los, dois a dois; e deu-lhes poder sobre os espíritos imundos.
8
Ordenou-lhes que não levassem coisa alguma para o caminho, senão somente um
bordão; nem pão, nem mochila, nem dinheiro no cinto;
9
como calçado, unicamente sandálias, e que se não revestissem de duas túnicas.
10
E disse-lhes: “Em qualquer casa em que entrardes, ficai nela, até vos
retirardes dali.
11
Se em algum lugar não vos receberem nem vos escutarem, saí dali e sacudi o pó
dos vossos pés em testemunho contra ele”.
12
Eles partiram e pregaram a penitência.
13
Expeliam numerosos demônios, ungiam com óleo a muitos enfermos e os curavam.
JOSÉ ANTONIO
PAGOLA
PARA
UM EXAME COLETIVO
Jesus
não envia seus discípulos de qualquer maneira. Para colaborar com seu projeto
do Reino de Deus e prolongar sua missão é
necessário observar um estilo de vida. Se não for assim, poderão fazer
muitas coisas, porém não introduzirão no mundo seu espírito. Marcos nos recorda
algumas recomendações de Jesus. Destacamos algumas.
Em
primeiro lugar, quem são eles para atuar em nome de Jesus? Qual é a sua
autoridade? Segundo Marcos, ao enviá-los, Jesus «lhes dá autoridade sobre os espíritos imundos». Não lhes dá poder sobre as pessoas que irão
encontrar em seu caminho. Tampouco, ele utilizou seu poder para governar,
mas para curar.
Como
sempre, Jesus está pensando em um mundo mais sadio, liberto das forças malignas
que escravizam e desumanizam o ser humano. Seus discípulos introduzirão entre
os povos seu poder de cura. Abrirão
caminhos na sociedade, não utilizando poder sobre as pessoas, mas humanizando a
vida, aliviando o sofrimento das pessoas, fazendo crescer a liberdade e a
fraternidade.
Levarão
somente «bastão» e «sandálias». Jesus os imagina como caminhantes. Jamais instalados. Sempre a caminho.
Não presos a nada nem a ninguém. Somente com o imprescindível. Com aquela
agilidade que tinha Jesus para fazer-se presente onde alguém dele precisava. O báculo [bastão, bordão] de Jesus não é para mandar, mas para
caminhar.
Não
devem levar «nem pão, nem mochila, nem
dinheiro». Eles não têm de viver obcecados
com sua própria segurança. Levam consigo algo mais importante: o Espírito de Jesus, sua Palavra e sua Autoridade para humanizar a vida das pessoas. Curiosamente, Jesus
não está pensando naquilo que devem levar para ser eficazes, mas no que não
devem levar. Não aconteça que, um dia,
se esqueçam dos pobres e vivam fechados em seu próprio bem-estar.
Tampouco,
levarão uma «segunda túnica». Vestir-se-ão com a simplicidade dos pobres.
Não levarão vestes sagradas como os
sacerdotes do Templo. Tampouco, vestirão como o Batista na solidão do
deserto. Serão profetas em meio ao povo. A
vida deles será sinal da proximidade de Deus com todos, sobretudo, dos mais
necessitados.
Será
que algum dia nos atreveremos a fazer, no seio da Igreja, um exame coletivo
para nos deixarmos iluminar por Jesus e ver como nos temos distanciado sem
dar-nos quase conta de seu espírito?
COM POUCAS COISAS
O que se passou para nos
distanciarmos tanto daquele projeto inicial de Jesus? Onde ficou a recomendação
do Mestre? Quem continua escutando, hoje, o seu desejo?
Poucos gestos nos revelam
melhor a intenção original de Jesus como este que nos relata a passagem
evangélica de hoje. Jesus envia seus discípulos de dois em dois, sem mochilas, dinheiro
nem uma segunda túnica, com uma única missão: «pregar a conversão».
Basta
um amigo, um bastão e umas sandálias para se aventurar pelos caminhos da vida anunciando a todos essa mudança que
necessitamos para descobrir o segredo último da vida e o caminho para a
verdadeira libertação.
Não
desvirtuemos a recomendação de Jesus tão rapidamente. Não pensemos que se trata
de uma utopia ingênua, própria, quem sabe, de uma sociedade seminômade já
superada, porém impossível em um mundo como o nosso.
Aqui
há algo que não podemos evitar. O
evangelho é anunciado por aqueles que sabem viver com simplicidade. Homens
e mulheres livres, que conhecem a alegria de caminhar pela vida sem sentirem-se
escravos das coisas.
Não
são os poderosos, os financistas, os tecnocratas, os grandes estrategistas da
política aqueles que construirão, sem mais, um mundo mais humano.
Não
são as conferências, os protestos e manifestações que conseguirão uma melhoria
profunda de nossa sociedade.
Esta sociedade necessita
descobrir que deve voltar às coisas simples da vida [como tanto tem insistido o
Papa Francisco]. Não basta aumentar a produção e alcançar um maior nível de
vida. Não é suficiente ganhar sempre mais, comprar mais e mais coisas, obter
sempre melhores comodidades.
Alguém
pode possuir tudo aquilo que se possa desejar e, no entanto, permanecer
insatisfeito. Se seguirmos escravos dos apelos publicitários da televisão, logo
não haverá ninguém contente com o que possui.
Esta
sociedade necessita, como nunca, do impacto de homens e mulheres que saibam
viver com poucas coisas. Crentes capazes de demonstrar que a felicidade não
está em acumular bens.
Alguém
que nos recorde que não somos ricos quando possuímos muitas coisas, mas quando
sabemos desfrutá-las com simplicidade e compartilhá-las com generosidade.
Alguém que nos chame a atenção, com sua vida, que um homem que não sabe amar é um zero colossal, um fracasso total, por
muitos que sejam seus bens e seus êxitos.
Quem
vive uma vida simples e uma solidariedade generosa são aqueles que melhor
pregam, hoje, a conversão que a nossa sociedade mais necessita.
Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.
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