«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

“Na liturgia, a Igreja tem um atraso de mais de mil anos”

José María Castillo
Teólogo espanhol
Teología sin Censura
29-07-2015

“A linguagem e os ritos da eucaristia ficaram parados
na Alta Idade Média” 
Missal Romano promulgado em 5 de Dezembro de 1570 por São Pio V
sob mandato do Concílio de Trento (1545-1563)

Sabe-se que o falecido cardeal Martini disse ao Papa Bento XVI que a Igreja está 200 anos atrasada em relação à sociedade e à cultura atual. Suponho que Martini se referia ao exercício do poder e ao sistema de governo eclesiástico. Se o cardeal tivesse falado ao Papa sobre a liturgia, o mais provável é que teria dito que a Igreja tem um atraso de mais de mil anos.

Não estou exagerando. Basta consultar a excelente e documentada história da missa, de Joseph A. Jungmann [ed. bras.: Missarum Sollemnia, Paulus Editora, 2015 – 3ª reimpressão, 968 p.], para dar-se conta de que a estrutura da celebração eucarística, a linguagem que nela se utiliza (mesmo que traduzida do latim), a maior parte dos gestos rituais e o conjunto da cerimônia, tudo isso ficou ancorado e emperrado no que se fazia e se expressava segundo a linguagem e os costumes da Alta Idade Média.

Ou seja, segundo os usos e formas de expressão que eram atuais nos longínquos tempos do século V ao VIII. Sem dúvida alguma, pode-se afirmar que não existe nenhuma outra instituição, por mais conservadora que seja, que se comporte desta maneira. E ficamos surpresos com o fato de que haja tantos cristãos que não vão à missa?

Por isso, convém reconhecer que a Constituição sobre a Liturgia [Sacrosanctum Concilium], do Concílio Vaticano II, fez bem à Igreja em algumas coisas, por exemplo, ao permitir a tradução do latim às línguas atuais. Mas também é verdade que aquilo foi uma “atualização” que ficou curta.

Seguramente, porque faltou tempo, a devida preparação e as condições indispensáveis para enfrentar os problemas mais de fundo e mais atuais que afetam a liturgia:
  • os rituais,
  • os sinais,
  • os símbolos e
  • os complicados e atualíssimos temas relacionados à comunicação entre os seres humanos.

Sobretudo quando se trata de comunicar e esclarecer questões tão complicadas como é tudo aquilo que se refere às nossas relações com “o transcendente”. E sabemos que é precisamente isso que se pretende na liturgia. Por que haverá tantos católicos mais preocupados em ser fiéis ao Catecismo do que em enfrentar e resolver estes problemas tão sérios e urgentes?

Traduzido do espanhol por André Langer. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quinta-feira, 30 de julho de 2015 – Internet: clique aqui.

Um problema: nossas liturgias

José Agustín Cabré Rufatt*
Religión Digital
29-07-2015

“Deverá passar ainda muita água por debaixo da ponte antes que a liturgia católica se torne compreensível, celebrativa, compartilhada, santificadora da vida.”
Pe. José Agustín Cabré Rufatt - claretiano chileno: jornalista e escritor

Boa parte dos católicos que vai às igrejas aos domingos é idosa. Podem recordar, portanto, a surpresa e o alívio que significou em sua experiência religiosa, há 50 anos, as mudanças introduzidas pelo Concílio Vaticano II na liturgia dos sacramentos e na missa: foram convidados a passarem de «assistentes» a «participantes» nos ritos e no culto. Passou-se do tempo em que se «ouvia missa» para o tempo em que se «celebra a missa».

Com o passar do tempo, foi possível comprovar que essas reformas não foram tão completas como se esperava: os católicos continuam assistindo à missa como a um espetáculo onde eles são o público e os atores são outros: o padre, os acólitos, os ministros, os leitores, o coro... tudo distribuído em um espaço acomodado como um teatro: um público que olha a certa distância a atuação de alguns disfarçados que estão no palco.

Da Eucaristia, a grande ação de graças a Deus pelo dom da vida, mediante a experiência humana de Jesus de Nazaré, com sua vida, paixão, morte e ressurreição... resta, na realidade, bem pouco.

Uma linguagem desconhecida

Houve algumas mudanças, é verdade: passou-se do latim – que ninguém entendia – ao idioma de cada país. Mas não se mudou o nefasto sistema da leitura continuada da Bíblia. No afã de que o povo escute alguma vez toda a Bíblia, mantiveram-se na missa as leituras (Antigo e Novo Testamento, mais os Evangelhos), lendo, na sequência, do Gênesis ao Apocalipse e em um período de três anos; a ideia, se alguma vez foi boa, fracassou na prática. Com este sistema, o povo católico tem que escutar o que cabe ler nesse dia, seja qual for a experiência vital que esteja vivendo.

Ainda são poucos os pastores que abandonam esse sistema de preparação e se atrevem a buscar as leituras mais apropriadas para cada ocasião; isto exige tempo de preparação, bom critério de discernimento e capacidade de diálogo com as equipes de leigos. Também pode exigir integridade para dar explicações ao bispo que, necessariamente, defenderá o outro esquema imposto de Roma.

Mas não é a única mudança para que a missa seja realmente Eucaristia. Se, como diz a catequese, com mais poesia que certeza, se trata de uma comunidade a modo de família que celebra sua fé, alimenta sua esperança e vive a caridade, a missa deveria contar com um ambiente atraente e com sinais compreensíveis e didáticos.

Improvisações

Em um dos seus textos incisivos, mas verazes, o jornalista Raúl Gutiérrez, que se considera um cristão de base e de mentalidade ampla e pluralista, escreveu:

«A sensação que se tem com frequência ao sair de alguma missa dominical é a improvisação, como se o padre e os encarregados da cerimônia não estivessem muito convencidos da importância e da solenidade do ato.

Em poucas igrejas os fiéis são acolhidos na porta pelo padre ou por leigos que os saúdem e entreguem uma folha com os textos bíblicos que serão lidos na celebração. Como a maioria chega atrasada, é frequente que a missa inicie sem a presença de uma exígua participação, que terminará engrossando apenas durante a homilia. A improvisação da equipe encarregada da missa se percebe nos cochichos entre o dirigente e os leitores, e inclusive entre o celebrante e seus acólitos, atitudes que, somadas a deslocamentos nervosos e espalhafatosos deste pessoal em torno do altar e para a sacristia, distraem a comunidade.

Deixando de lado toda consideração ou exigência de caráter estético, cabe assinalar que a maioria dos coros maneja um estilístico repertório de músicas litúrgicas, o que explica que com frequência entoe algumas músicas que guardam pouca ou nenhuma relação com a festa que se celebra ou com o ensinamento básico do Evangelho desse domingo. Abandonar os coros, para chamá-los de alguma maneira piedosa, à boa vontade de Deus, demonstra pouca compreensão do significado da música como meio universal de comunicação, sobretudo no caso dos jovens.»
Retorna, em várias paróquias e localidades, a missa celebrada em latim.

Uma liturgia que não convence

As anotações do jornalista são interessantes. Mas, lamentavelmente, deverá passar ainda muita água por debaixo da ponte antes que a liturgia católica se torne compreensível, celebrativa, compartilhada, santificadora da vida. Estamos falando da grande tarefa de evangelizar o século XXI, do compromisso com a missão permanente, de falar uma linguagem de palavras e sinais compreensíveis para o mundo de hoje. Mas não se nota nenhuma mudança pela frente; pelo contrário, vê-se muitos retornos ao passado:
  • alguns chegam à paranoia de querer voltar ao latim,
  • de colocar ainda mais penduricalhos nas vestimentas dos clérigos,
  • de incorporar de modo permanente o incenso nas liturgias...

 O mundo do século XXI olha para eles, ri-se e segue seu caminho buscando, quase desesperadamente, quem o acompanhe em sua caminhada pela vida. Os grandes valores do Reino de Deus, aqueles que nos humanizam, seguem sem ser descobertos, porque se quer colocar muitos trapos sobre ele.

Traduzido do espanhol por André Langer. Acesse o artigo em versão original, clicando aqui.

* José Agustín Cabré Rufatt (nasceu em Santiago de Chile, em 1940), é jornalista e sacerdote claretiano chileno. Formou-se em jornalismo na Universidad Católica de Santiago de Chile em 1976. Escreveu numerosos livros, entre os quais se destacam: Evangelizador de dos mundo; La Cruz, el fuego y las banderas; Mariano o la fuerza de Dios; La palavra de Dios no está encadenada; A história dos claretianos no México; Breves relatos para mantener la calma e outros. Atualmente dirige Ediciones y Comunicaciones Claretianas (ECCLA) e as revistas TELAR e Cartas del Sur e pertence à redação das revistas Punto Final e Reflexión y Liberación. Em sua vida pastoral, foi pároco, vigário episcopal de Arauco e superior dos claretianos no Chile (2001-2011).

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Sexta-feira, 31 de julho de 2015 – Internet: clique aqui.

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