"É uma vergonha o índice de 1,7 livro por ano", diz ministro da Cultura
Lígia Formenti
Para Juca Ferreira, é preciso realizar campanhas para
ampliar a leitura
O
ministro da Cultura, Juca Ferreira, classificou nesta terça-feira, 30 de junho,
como “vergonha” o índice de leitura
apresentado no País: 1,7 livro, em média, por ano. “É uma média que está abaixo de países vizinhos”, observou. Além de
lamentar a quantidade, o ministro fez uma referência à qualidade das obras
escolhidas. “Muitos chegam à leitura
pela periferia, com livros de autoajuda”, disse, durante a abertura do
seminário internacional realizado para discutir uma proposta, em tramitação no
Senado, para fixar o preço de livros recém-lançados no País.
De
autoria da senadora Fátima Bezerra
(PT-RN), o projeto propõe o fim de uma
prática que se tornou corriqueira no Brasil, a concessão de descontos na compra
de livros. “No passado, isso ocorria para professores, bibliotecários e
nunca excedia 10%”, recorda o presidente do Sindicato Nacional dos Editores de
Livros, Marco Pereira. Agora é uma
prática disseminada para lançamentos e para clássicos. Ele conta que, na
lista dos 500 livros campeões de venda no País, o desconto médio é de 23,3%.
A
prática de descontos, que à primeira vista parece beneficiar tanto leitores
quanto empresários, foi criticada nesta terça-feira, 30 de junho, por
convidados do seminário. Eles garantem que a
política reduz o acesso da população a obras, sufoca pequenas livrarias e é uma
das responsáveis pela estagnação do setor.
A
proposta em análise no Senado prevê que livros
recém-lançados devam ter preço único durante o primeiro ano no mercado. O
desconto máximo permitido no período é de 10%. Passado esse prazo, as promoções
ficam liberadas.
Atualmente, o preço do livro
é fixado pelo editor. São levados em consideração aspectos como os custos do direito
autoral e de produção. A senadora argumenta, no entanto, que grandes redes, com
poder de barganha, acabam negociando descontos muito significativos - algo que
livrarias de menor porte não conseguem. Ao mesmo tempo, editoras acabam colocando uma “gordura” no valor cobrado, justamente
para ser cortada no momento da negociação.
Senadora Fátima Bezerra (PT-RN) Autora do projeto sobre o preço fixo para livros novos |
A
proposta da senadora é apoiada pelo governo federal e por empresários reunidos
no seminário. Para Ferreira, o preço único tem reflexos não apenas no acesso
aos livros. A proposta ajuda a preservar lojas de rua e livrarias que atendem
às demandas locais. “É um recurso para
impedir que o monopólio se estabeleça.” Ferreira observou ainda que a
medida tem um impacto muito significativo na vida das cidades. “Veja as
livrarias francesas. Elas são parte da vida da cidade.”
A França foi o primeiro país
a adotar uma medida semelhante à que agora é discutida no Senado. A mudança, de 1981,
provocou um aumento das livrarias. Naquele país, as regras são ainda mais
rígidas. O prazo para o preço fixo é de dois anos. Alemanha, que adota política
semelhante, descontos somente são permitidos depois de 18 meses do lançamento
do livro.
O
presidente da Câmara Brasileira do Livro,
Luís Torelli, foi um dos que
garantiram que o mercado de livros no País está estagnado. O preço dos livros,
descontada a inflação, não se alterou. E o
número de leitores é metade do que o apresentado na Espanha e menor do que
Argentina e Chile.
Para
o ministro, além de medidas para facilitar o acesso, é preciso criar campanhas
para ampliar a leitura. “O País ainda não conseguiu firmar a leitura como uma
porta para o deleite estético e o crescimento intelectual. É preciso
reconstruir desde os primórdios, 1,7 per capita ano é muito baixo para que a
gente não fique preocupado.”
Somente 25% dos brasileiros
são leitores plenos,
são leitores plenos,
capazes de entender qualquer tipo de texto,
diz secretário
diz secretário
Vanessa Cezar
A Comissão de Educação da Câmara dos Deputados discutiu projeto que cria o Fundo Nacional Pró-Leitura |
No
Brasil, apenas 25% dos cidadãos alfabetizados podem ser considerados leitores
plenos, ou seja, capazes de entender qualquer tipo de texto, sendo ele uma
notícia de jornal ou uma literatura. Segundo o secretário executivo do Plano Nacional do Livro e da Leitura
(PNLL), José Castilho Neto, esse
fato é decorrente da dívida histórica existente no País devido à herança de 500
anos de exclusão do direito à leitura para a formação da cidadania dos
brasileiros e de que a leitura não pode se resumir apenas à alfabetização.
"Esse
problema é algo que ainda tem que ser superado no Brasil. Apesar de todos os
avanços, principalmente dos últimos 10, 15 anos em relação à universalização do
ensino em todos os níveis, onde milhões e milhões de pessoas entraram para as
escolas em todos os níveis, nós
continuamos com um índice muito perturbador e que é um empecilho para a criação
de cidadãos plenos e de leitores plenos”, ressalta José Castilho.
“Nós
temos 75% de brasileiros alfabetizados ainda alienados de uma compreensão
leitora plena e isso é muito grave”, acrescenta. “É grave para a formação da cidadania, é grave para que cada um saiba
exatamente os seus direitos e deveres, é grave na comunicação entre as pessoas.”
Fundo
Nacional
Com
o intuito de aumentar a prática da leitura no Brasil, tramita na Câmara dos Deputados Projeto de Lei (1321/11), do Senado
Federal, que cria o Fundo Nacional
Pró-Leitura com o objetivo de apoiar a produção, edição, distribuição e
comercialização de livros no País.
A Comissão de Educação da Câmara promoveu
audiência pública com especialistas da área para discutir os principais temas
que compõem a criação do Pró-Leitura, a pedido do relator, deputado Rafael Motta (Pros-RN).
Entre
os assuntos debatidos no encontro, destacaram-se a necessidade de especificar,
no texto da lei, as fontes exatas de composição dos recursos do Fundo, como
também as formas de gestão e a inexistência de referências, no projeto, aos
agentes públicos e da sociedade civil, como as bibliotecas comunitárias, que
ajudam no incentivo à leitura.
"Existem
recursos provenientes do Tesouro Nacional para promover a leitura através do
Fundo Nacional Pró-Leitura. Mesmo após diversos ajustes fiscais que nós tivemos
visto e votado em Plenário, a gente sabe que o País enfrenta uma crise, mas investir em educação e em leitura não é
um gasto financeiro, muito pelo contrário, é um investimento futuro, o retorno
será garantido", afirma Rafael Motta.
Equilíbrio
Segundo
o secretário executivo do PNLL, José
Castilho Neto, com a aprovação do Fundo, a prioridade de investimento será
o equilíbrio dos quatro eixos do Plano:
"Primeiro, a democratização do acesso ao livro, principalmente por
intermédio das bibliotecas de acesso público. Segundo, é a formação de
mediadores de leitura que são os professores, os bibliotecários... O terceiro é
o valor simbólico da leitura, nós temos que ter a leitura como valor importante
para que seja defendido. E, enfim, o quarto eixo que nós trabalhamos, com a
ideia do apoio à economia do livro. Entendendo apoio à economia do livro como o
apoio aos escritores."
Tramitação
O
projeto que cria o Fundo Nacional
Pró-Leitura tramita em caráter conclusivo nas comissões, e aguarda agora o
parecer do relator da Comissão de Educação. O texto será apreciado ainda pelas
comissões de Cultura; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e
de Cidadania.
Fonte: Agência Câmara Notícias
– Câmara dos Deputados – Educação e Cultura – 30/06/2015 – 19h23 – Internet: clique aqui.
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