Três perguntas para entender a redução da meta do superávit primário
O governo da presidente Dilma Rousseff anunciou nesta
quarta-feira [dia 22 de julho] a redução da meta do superávit primário, que
baixa de 1,1% do PIB (Produto Interno Bruto) para 0,15% em 2015.
Os
ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa,
afirmaram que a desaceleração da economia brasileira foi superior ao esperado e
a arrecadação de impostos foi menor do que o previsto, o que inviabilizaria o
cumprimento da meta original.
O
governo também anunciou corte de gastos de R$ 8,6 bilhões. O projeto foi
enviado ao Congresso Nacional para aprovação.
Abaixo,
três perguntas e respostas para entender a medida adotada pelo governo e que
consequências ela pode ter:
Joaquim Levy (à esquerda) afirmou que mudança visa tornar a meta "alcançável, segura, algo importante para orientar os agentes econômicos" |
1
- O que é o superávit primário?
Quando
o governo obtém um superávit, significa que ele arrecadou mais dinheiro do que
gastou - ou seja, economizou dinheiro.
O
superávit primário é a economia feita pelo governo para pagar sua dívida
pública, indicador considerado importante para avaliar a capacidade do país de
honrar seus compromissos.
Até
agora, a meta do Ministério da Fazenda era economizar 1,1% do PIB para pagar os
juros de sua dívida, o que foi reduzido para 0,15% após o anúncio desta
quarta-feira.
2
- Por que o governo está reduzindo a meta? Que objetivos pretende alcançar?
A
meta menor reflete a dificuldade do governo em equilibrar as contas públicas,
num momento em que a arrecadação de impostos diminui, mas os gastos públicos
continuam altos.
Voltando
um pouco no tempo, o Brasil viveu anos de alta de arrecadação por motivos como
elevação internacional nos preços das commodities
(principais produtos exportados pelo país), aquecimento no mercado consumidor
interno e baixo desemprego. Os gastos do país também aumentaram, mas até então
isso não era um problema, explica Fabio Klein, analista da Tendências Consultoria.
"Quando
esse boom passou e houve retração da
atividade econômica, essa conta começou a ficar cara. (...) Reduzir gastos é
difícil, e algumas medidas fiscais têm encontrado dificuldade em passar pelo
Congresso", diz Klein.
Os
ministros explicaram nesta quarta-feira que houve, simultaneamente, uma redução
da projeção de receita (por causa, principalmente, da queda na atividade
econômica) e um aumento nas despesas (em função de gastos como o de
seguro-desemprego e aumentos de custos aprovados pelo Legislativo).
Ao
cortar mais gastos, a equipe econômica tenta aumentar a receita do governo em
relação às despesas e, assim, sinalizar que o país tem a capacidade de pagar
suas dívidas, ainda em alta.
E a
mudança da meta do superávit visa cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal
(tendo em vista a realidade orçamentária do país), disse Joaquim Levy. "(A
meta se torna) alcançável, algo importante para orientar os agentes econômicos,
os empresários e as famílias e reduzir a incerteza", declarou o ministro.
Para
o economista André Perfeito, do Gradual
Investimentos, a decisão do governo em reduzir o superávit "incorpora
de maneira mais realista as receitas da União, que estão decepcionando, e
indica que Levy quer fazer o resultado fiscal de maneira limpa, ou seja, sem
contar com nenhuma manobra fiscal".
Por
outro lado, alguns economistas debatem
se as medidas de austeridade não podem aprofundar a crise econômica do país,
eventualmente criando um ciclo vicioso de cortes de gastos profundos levando à
baixa atividade econômica e, por consequência, à baixa arrecadação de impostos.
3
- Que consequências isso terá para as contas do governo e para o país?
Fabio
Klein, da Tendências Consultoria,
explica que o mercado já previa que a meta original do governo não seria
cumprida, mas não se esperava uma redução tão grande.
"É
um sinal bastante ruim quanto à estabilidade da dívida do país", disse à
BBC Brasil.
Em
coletiva, o ministro Nelson Barbosa afirmou que a meta do superávit tende a
crescer nos próximos três anos (0,7%, 1,3% e 2% do PIB, respectivamente),
"quando há a expectativa de que a dívida líquida comece a cair. É uma
política que vai possibilitar a recuperação da economia, a estabilização e
depois a redução do endividamento público".
Klein
analisa que as medidas anunciadas nesta quarta significam que "vamos continuar
em um cenário de ajustes e a correr atrás do prejuízo", com mais
austeridade nos próximos anos.
Uma
preocupação do governo é manter o chamado "grau de investimento",
espécie de atestado, por parte das agências de avaliação de risco, de que o
país é um bom pagador de suas dívidas.
Para
Klein, as agências deverão analisar as perspectivas de longo prazo do país, e
não apenas o cenário imediato, "mas o risco é de não conseguirmos sair
dessa situação de crise e de não entregar do superávit primário nos próximos
anos", o que pode provocar o rebaixamento do país.
Fonte: BBC Brasil – 22 de julho de 2015 –
Internet: clique aqui.
Comentários
Postar um comentário