«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

O Evangelho da nova fraternidade

Entrevista com Christoph Theobald

Lorenzo Fazzini
Avvenire
27-04-2016

Não devemos pensar na missão como em um anúncio voluntarista e de caráter institucional. O Evangelho já está lá onde o cristão chega para testemunhá-lo.
CHRISTOPH THEOBALD
Teólogo jesuíta - Centro Sèvres - Paris

De origem alemã, francês por adoção, Christoph Theobald é um dos teólogos mais lidos e citados em nível internacional hoje*, em particular pela sua profunda e argumentada reflexão sobre o "estilo" evangélico como característica peculiar da presença cristã no mundo.

Chegou recentemente às livrarias italianas Fraternità (Ed. Qiqajon, 94 páginas), texto em que estão incluídas duas conferências nas quais o jesuíta do Centro Sèvres de Paris explica o sentido dessa dimensão da vida. Além disso, foi o Papa Francisco que enfatizou a sua importância desde a sua aparição na Praça de São Pedro no dia 13 de março de três anos atrás, quando usou, na primeira saudação como pontífice, precisamente o termo "fraternidade".

Eis a entrevista.

No seu ensaio, você enfatiza muito a dimensão social do Evangelho. A Igreja de hoje tem bem ciente esse aspecto da mensagem cristã?

Christoph Theobald: Eu acho que existiu uma longa tradição que ressaltou e implementou esse vínculo intrínseco entre anúncio evangélico e dimensão social. Talvez, porém, esse aspecto se tornou mais atenuado em outra época. Explico-me. Na França, no norte da Itália, na Alemanha e na Áustria, entre o fim do século XIX e a primeira metade do século XX, vimos surgir um verdadeiro catolicismo social, por exemplo, com Pio XI e mediante a difusão da Ação Católica. Um catolicismo social cuja metodologia foi, depois, condensada no lema "ver, julgar, agir", cunhado pelo teólogo belga, depois cardeal, Joseph-Léon Cardijn. Foi essa visão do anúncio cristão que levou à redação da constituição pastoral Gaudium et spes, que desenvolveu a questão social do Evangelho em relação a vários âmbitos: família, economia, política, paz...

Além disso, durante o Concílio Vaticano II surgiu aquele grupo pela "Igreja pobre e dos pobres" em torno das figuras do cardeal Giacomo Lercaro e de Dom Hélder Câmara, que, depois, levaram à conferência do Celam de Medellín, à opção preferencial pelos pobres, à teologia do povo da qual o Papa Francisco é um apoiador. Talvez, como eu mencionava antes, no período turbulento do pós-Concílio, uma época muito controversa, houve um retorno à identidade cristã nos países do mundo ocidental com os pontificados de João Paulo II e de Bento XVI em torno da liturgia e da catequese. Isso ocorreu, talvez, por um certo medo do relativismo. Nesse sentido, algumas experiências particulares, como as dos padres operários e, mais em geral, do catolicismo social, foram postas à margem. Com Francisco, em vez disso, tanto com a Evangelii gaudium quanto com a Laudato si’, o papa volta a pedir que a Igreja tome o caminho do catolicismo social.

Você citou uma certa "linha" que, de Lercaro, chega a Francisco. A sensibilidade desse percurso espiritual e teológico é patrimônio comum da Igreja de hoje?

Christoph Theobald: Há muito a fazer, e há resistências. É isso que eu penso realmente. Eu acredito que isso está presente no âmbito laical, assim como no clero. Aquilo a que o Papa Francisco chama é verdadeiramente uma conversão, uma mudança de olhar. É preciso passar de um interesse da Igreja que podemos definir como centrípeto, para o qual os pastores querem trazer as pessoas para dentro da Igreja, a um olhar no qual a Igreja se põe a serviço do futuro do mundo, da vida, da cultura, do futuro das novas gerações. Queremos uma ou outra perspectiva? O que Francisco nos pede é uma conversão que remete à afirmação de Jesus: "Eu vim para trazer fogo sobre a terra. E como gostaria que já estivesse aceso". Francisco nos indica que o trabalho a ser feito é, acima de tudo, de natureza espiritual.

Em Fraternità, você usa uma expressão muito curiosa, a da "Igreja rabdomante". O que significa?

Christoph Theobald: A fórmula pode parecer um pouco surpreendente e metafórica, mas eu gostaria de explicá-la brevemente. O anúncio do Evangelho não pode mais ocorrer segundo a ordem que chamaríamos "de implantação" a partir de fora. Outra perspectiva, em vez disso, nos diz que o anúncio do Evangelho já é precedido pela presença discreta de Deus no coração das pessoas e do mundo. O modo de ser da Igreja deve seguir o de Jesus, que percorria a Galileia e ia procurar as falhas da sociedade com um anúncio de vida, que já era esperado pelos homens e pelas mulheres daquele tempo. Não devemos pensar na missão como em um anúncio voluntarista e de caráter institucional. O Evangelho já está lá onde o cristão chega para testemunhá-lo.

Pode nos dar um exemplo concreto de tudo isso?

Christoph Theobald: Tomemos a carta encíclica Laudato si’, quando o papa diz que a primeira Declaração do Rio sobre o Ambiente é um texto profético. Isso significa que o traço de profetismo próprio do povo de Deus já estava presente no profetismo do movimento ecológico, que não era cristão. Como bem sabemos, a ecologia não foi iniciada pela Igreja, mas nasceu no leito dos chamados movimentos alternativos. Pois bem, a Igreja encontrou esse valor alhures e, de lá, releu a sua grande tradição, assim como a Escritura, e elaborou uma teologia da criação que, antes, ela não tinha explicitado em todos os seus aspectos.

O termo "fraternidade" pode ser colocado ao lado do valor da misericórdia, princípio-guia do pontificado do Papa Francisco?

Christoph Theobald: Em extrema síntese: são diferentes, mas também são a mesma coisa. O conceito de fraternidade é evidentemente cristão, mas a sua força consiste no fato de que, ao longo do tempo, ele se secularizou, em particular a partir da Declaração dos Direitos Humanos, que deu origem à República francesa. Mas, enquanto os princípios de liberdade e de igualdade podem ser normalizados em instituições jurídicas, a fraternidade é uma espécie de transcendência imanente sobre a qual não é possível legislar.

No coração das nossas constituições republicanas, de fato, há a liberdade e a igualdade, enquanto a fraternidade é algo que não pode se tornar lei. Eis, então, a sugestão do Papa Francisco: devemos realizar uma "mística da fraternidade", que nos faça ver em todos, em particular nos marginalizados e nos últimos (os pobres, os deficientes, os idosos, as crianças...) a presença de Deus. A misericórdia, nesse sentido, se torna a fraternidade que vai até o fim. E quem é capaz disso? Deus em Jesus Cristo. "Sejam misericordiosos como o Pai de vocês que está nos céus" é uma tarefa árdua. Mas é um convite que nos leva a ter um coração dócil e aberto.

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto. Acesse a versão original desta matéria, clicando aqui.

* No Brasil, foram publicados, até o momento, os seguintes livros de Christoph Theobald: A História dos Dogmas. Vol. 4: A Palavra da Salvação (séculos XVIII-XX) (Edições Loyola, 2006 – coautoria de: Bernard Sesboüé); A Revelação (Ed. Loyola, 2007); Transmitir um Evangelho de Liberdade (Ed. Loyola, 2009); A Recepção do Concílio Vaticano II. Vol. I: Acesso à fonte (Editora Unisinos, 2015).

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quinta-feira, 28 de abril de 2016 – Internet: clique aqui.

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