Como vai o outro lado do impeachment?

Gravidade tucana

José Roberto de Toledo

Antes mesmo de se associar a eventual governo Temer,
PSDB já está sofrendo eleitoralmente
EM REUNIÃO DE SUA CÚPULA, PSDB DECIDE POR APOIAR UM EVENTUAL GOVERNO DE
MICHEL TEMER - POIS SUAS CHANCES ELEITORAIS SÃO BAIXAS!

Na foto, da esquerda para a direita, vemos em destaque:
Beto Richa (governador do Paraná), Geraldo Alckmin (governador de São Paulo), Aloysio Nunes (senador por São Paulo), Aécio Neves (senador por Minas Gerais e atual presidente do partido) e Fernando Henrique Cardoso (ex-presidente da República)

Foi uma coincidência infeliz. Na sexta-feira, a cúpula do PSDB decidiu abandonar a cassação de Dilma Rousseff e Michel Temer via Justiça eleitoral. Em vez da saída TSE e da eleição que se seguiria, preferiu se concentrar no impeachment da titular e em tirar o vice do anexo. Um dia depois, o Datafolha confirmou que Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra estão andando para trás na corrida presidencial – e rapidamente. Se havia dúvida sobre a razão da mudança tática tucana, ela durou 24 horas.

Reconheça-se, a escolha do PSDB não era fácil. Entre disputar uma eleição na qual Lula e Marina saem na frente e os presidenciáveis tucanos só caem ou, por outro lado, ser fiador de um governo que começa com 58% da população torcendo pelo seu fim, o PSDB uniu-se pela segunda opção. Pôs um pé fora, porém, ao dizer que só discutirá cargos com Temer após o eventual impeachment. Pós-Datafolha, o pé virou perna.

A diferença entre Temer e Dilma em tamanho da torcida por seu afastamento está na margem de erro: 58% a 61%. Se a petista fosse afastada hoje pelo Congresso, seu sucessor – Michel Temer – começaria a governar tão impopular quanto ela. Embarcar nesse novo governo implica disposição e capacidade para mudar a cabeça do eleitor. Mas quem teria os meios para tanto seria o PMDB. O PSDB seria parceiro de luxo, com uma pasta social como a Saúde, mas longe dos centros decisórios do Planalto e da Fazenda.

Antes mesmo de se associar a um eventual governo Temer, o PSDB já está sofrendo eleitoralmente. Desde dezembro, Aécio perdeu 10 pontos, Alckmin perdeu cinco, e Serra, quatro. Para quem? Para Jair Bolsonaro, principalmente. A hostilidade contra Aécio e Alckmin no ato anti-Dilma em São Paulo indicara que parte dos mais engajados pelo impeachment não se identifica com tucanos. No Datafolha, tal parcela prefere o defensor da ditadura, cuja intenção de voto vai de 6% a 8%, conforme o cenário.

É a primeira vez desde a redemocratização que esse segmento encontra um candidato que vocalize sua agenda política. Agora que saiu à rua, não desistirá de se fazer escutar em uma campanha presidencial. Por isso, é um eleitor que o candidato tucano, seja quem for, dificilmente conseguirá recuperar.

Em outro lado do espectro político, de um quinto a um quarto dos eleitores enxerga o PSDB de maneira não muito distinta do PT. Hoje, a maioria deles declara voto em Marina, mas, quando Sérgio Moro entra no páreo, por exemplo, aumenta sua dispersão, e uma parte migra para o juiz símbolo da Lava Jato. São eleitores em busca de uma liderança que fuja à polarização tucano-petista.

Finalmente, para complicar a conta tucana, o Datafolha mostrou um Lula ferido, mas vivo eleitoralmente. Com 53% de rejeição (era 57% em março), ele teria muitas dificuldades em um segundo turno se a eleição fosse hoje. Mas, mesmo após todo o desgaste provocado pela Lava Jato, Lula ainda lidera a corrida presidencial com até 22% das intenções de voto. É o único candidato que não perde mais do que um ponto quando se aumenta o número de presidenciáveis. O que lhe sobrou é consolidado.

Mesmo que por desdobramentos da Lava Jato ou por vontade própria Lula ficasse fora da eleição, ele teria cacife para influenciar decisivamente o resultado – desde que ache um nome para apoiar.

Se houvesse eleição presidencial este ano devido à cassação da chapa Dilma/Temer pelo TSE, o PSDB teria Bolsonaro à direita, Marina à esquerda e Lula podendo cacifar a si próprio ou um terceiro. Daí a opção tucana pelo governo Temer.

E tal cenário mudará até 2018? Apenas se houver o impeachment e Temer for um sucesso como presidente. Mas aí ele se tornará candidato à própria sucessão. Logo, não basta mais ao PSDB ser o anti-PT. Ou aprende a vender sonhos ao eleitor, ou não ganhará a Presidência. A força da gravidade deixou de ser tucana.
Nesta última pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, Lula e Marina Silva aparecem, em todos os cenários
como os primeiros na corrida eleitoral para a Presidência da República e começam a despontar
os nomes de Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro (PSC)

Fonte: O Estado de S. Paulo – Política – Segunda-feira, 11 de abril de 2016 – Pág. A6 – Internet: clique aqui.

Salve-se quem puder

Eliane Cantanhêde

O áudio de Temer é um vexame e um erro, na pior hora
MICHEL TEMER,
o vice-presidente da República não vê a hora de sentar-se na cadeira de Dilma Rousseff!
O problema é que a sua popularidade é tão ruim quanto a dela!

Digam o que disserem Michel Temer e seus principais articuladores, o fato, nu e cru, é que a gravação com o vice já assumindo de véspera a Presidência é um vexame e um erro grave, que tende a ter efeitos negativos para ele exatamente quando Dilma Rousseff perde na Comissão de Impeachment. O problema não é um voto a mais ou a menos no plenário, mas é o impacto deletério na imagem de Temer junto à opinião pública (que, diga-se, já não é a melhor do mundo).

Sempre tão econômico em gestos e sorrisos, medindo cada palavra, o professor de Direito Constitucional Michel Temer vem dando mostras de que está inebriado pela perspectiva de assumir o poder, louco para enxotar Dilma e pular na cadeira. Ora é aquela carta absurda para Dilma, ora é a articulação à luz do dia para captar votos pró-impeachment. E, agora, esse áudio inacreditável.

Para os mais próximos de Temer, como os ex-ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, é possível “fazer desse limão uma limonada”: já que o áudio vazou, usá-lo para reforçar a ideia de Temer como um homem do diálogo, responsável e capaz de capitanear um processo de união nacional, que acena a todos os partidos para tirar o País da crise e vai tomar medidas duras, mas manter o Bolsa Família, o Pronatec e o Fies.

O primeiro resultado do áudio, porém, foi reforçar o discurso do PT e de seus aliados de que há “um golpe” em curso e “um golpista-mór” pronto a derrubar Dilma para tomar de assalto o poder. Isso ficou claro, ontem, no tom governista na Comissão do Impeachment.

No discurso mais inflamado e mais teatral da longa sessão, o deputado Silvio Costa (PT do B-PE) – que vem da direita, mas se tornou mais petista que a maioria dos petistas – acusou que Temer “trama um golpe” e definiu o vice para uma opinião pública ávida para entender quem é “esse Michel Temer” que pode vir aí. “Sempre foi um grande dissimulado. Ele e Eduardo Cunha se merecem!”, disse, tentando, sem sucesso, transmitir a fala de Temer pelo microfone. E acabou gritando contra a própria comissão: “Isso aqui é um golpe, uma afronta, uma pouca vergonha!”.

Temer poderia passar sem essa, até porque não está com essa bola toda e acaba de levar mais um tranco com a pesquisa Datafolha: se 61% defendem o impeachment da presidente, 58% também pregam o do vice.

A maioria da opinião pública quer tirar Dilma e o PT, mas não para por Temer e o PMDB no lugar, como determina a Constituição.

Com a fita de Temer, todo pomposo no papel de “estadista”, antes mesmo do impeachment, o mais provável é que essa diferença já mínima entre os defensores do “Fora Dilma” e do “Fora Temer” simplesmente evapore. E justamente no momento mais crítico do processo de impeachment.

Na semana que começou com a comissão e vai terminar com a votação no plenário da Câmara, a onda pró-impeachment vem aumentando, encorpando. PV, PSB, SD, boa parte do PP e do PSD, a bancada ruralista, a bancada evangélica e a sempre cautelosa Marina Silva, da Rede, vêm assumindo o voto pró-impeachment. O áudio de Temer não ajuda em nada essa onda.

Não é original, mas se torna obrigatório, comparar com o gesto amador de Fernando Henrique Cardoso, que se sentou na cadeira de prefeito de São Paulo e no dia seguinte não apenas amargou a derrota como sofreu o constrangimento de ver Jânio Quadros “desinfetando” a cadeira da qual comandaria a maior Prefeitura do País.

Haverá mil e uma versões para o vazamento, a partir do envio do áudio pelo celular, mas, qualquer que seja a real, só aumenta a interrogação sobre a capacidade de Michel Temer de comandar a transição. Na gravação, o vice acena com um governo de “salvação nacional”. Tudo o que conseguiu foi piorar a sensação do “salve-se quem puder.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Política – Terça-feira, 12 de abril de 2016 – Pág. A6 – Internet: clique aqui.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A necessidade de dessacerdotalizar a Igreja Católica

Vocações na Igreja hoje

Eleva-se uma voz profética