O clima não espera, mas falta-nos urgência
Washington
Novaes
Jornalista
Alertas não faltam!
Faltam programas governamentais para levar a
população a fazer sua parte
INUNDAÇÕES NA CHINA E EM VÁRIAS PARTES DO MUNDO O clima está maluco! Como afirmam as pessoas. De fato, todo o planeta já está sentindo as mudanças climáticas! |
Há poucos dias a ONU divulgou que 175 países já haviam ratificado o Acordo de Paris,
adotado em dezembro de 2015. É o maior apoio já registrado a um pacto das
Nações Unidas. Mas algumas nações – como
Arábia Saudita e Nigéria, grandes produtoras de petróleo – não assinaram,
embora seja forte a pressão no mundo todo, com o aumento da temperatura
planetária e a intensificação de desastres provocados por mudanças do clima,
consequência das emissões de poluentes. O
objetivo central do acordo são políticas e ações para evitar que a temperatura
da Terra chegue a 2 graus Celsius além do que estava no início da revolução
industrial – se possível, que não ultrapasse 1,5 grau.
Já há algum tempo essas mudanças do clima
passaram a fazer parte das nossas preocupações cotidianas, tantos são os
problema noticiados – inundações, desabamentos, perdas de safras agrícolas,
enchentes em áreas urbanas, etc. Abril
de 2016 tem registrado as maiores temperaturas – na casa dos 35 graus Celsius.
O recorde anterior era de 34,6 graus Celsius em abril de 1998. Mas agora se
prevê que os termômetros poderão subir ainda mais.
Países
responsáveis por 55% das emissões preveem, entre outros dramas, que com mais 2
graus na temperatura certamente ilhas poderão ser varridas do mapa, segundo o conceituado
consultor da revista New Scientist Fred Pearce (fevereiro e março 2016). E
Edward O. Wilson, autor de estudos respeitados, agora no livro Half-Earth (Liveright) afirma que mais ocupação humana pode levar a extinções
em massa e danos irreparáveis à biosfera.
Segundo alguns cientistas, já seria
impossível ficarmos abaixo de 1,5 grau. Mas há outras visões. Joeri Rogelj, do Instituto Internacional de Análises Aplicadas, na Áustria, por
exemplo, é dos que pensam ser possível não ultrapassar 1,5 grau, retirando
desde já da atmosfera parte dos poluentes que os seres humano ali colocaram.
Também seria indispensável reduzir a zero até 2050 as emissões, limitando-as a
800 gigatoneladas cumulativas entre hoje e a metade do século. E manter as
emissões em zero depois de 2050 seria suficiente para conter a temperatura
abaixo de 2 graus. Para baixar até 1,5 grau seria preciso remover da atmosfera
500 gigatoneladas.
Há quem
proponha até, para controlar emissões, desde plantar maciçamente na região do
Saara até criar formatos de agricultura nos oceanos. Será viável, será
suficiente? – perguntam outros especialistas, lembrando que desde o início da revolução industrial
aumentamos a concentração de poluentes na atmosfera, de 280 partes por milhão
(ppm) para 400. Em consequência, no ano passado as estações meteorológicas
registram um aumento da temperatura global em 1 grau Celsius acima da que
vigorava nos tempos pré-industriais. O Painel do Clima da ONU (IPCC), que
trabalha com 430 partes por milhão – que correspondem a 1,5 grau –, acha que
com programas eficazes poderíamos chegar ao fim deste século com esse nível.
Argumenta que as geradoras de energia, juntamente com fontes industriais, já
baixaram suas emissões para os níveis de 2013, embora a economia global tenha
crescido 6%.
Cientistas que alimentam esperanças, como os
do Tyndall Centre, da Universidade East Anglia, do Reino Unido, lembram algumas
causas. Primeiro, a China está reduzindo seu consumo de carvão, por causa da
poluição urbana; e a contribuição do carvão para geração de energia nos Estados
Unidos encolheu de 53% para 35% em cinco anos. Segunda causa: os investimentos
em energias renováveis hoje são maiores, globalmente, que os investimentos em
usinas movidas a combustíveis fósseis – e podem crescer mais. Em terceiro
lugar, a eficiência energética continua a aumentar na maioria dos lugares. A universidade
afirma que as emissões podem ainda aumentar, mas estão próximas do pico
insuperável, com as políticas já vigentes na China, nos Estados Unidos e na
União Europeia.
Uma das
dificuldades
maiores para chegar a níveis mais altos está nos sistemas de transportes. A solução
mais provável, diz a New Scientist,
estaria em veículos elétricos, que
exigirão baterias mais eficientes. Muitos cientistas ridicularizam,
entretanto, projetos de armazenar em certos locais as emissões retiradas da
atmosfera. Um programa para armazenar 500 gigatoneladas de emissões custaria
270 trilhões de dólares e consumiria um quarto do suprimento mundial de
energia.
VEÍCULOS ELÉTRICOS COM BATERIAS CADA VEZ MAIS DURÁVEIS SÃO UMA ALTERNATIVA |
De qualquer forma, as soluções terão de ser urgentes. Na revista Eco 21, Robert Glasser,
que representa a ONU em negociações sobre clima, afirmou que no ano passado 92% dos 98,6 milhões de
pessoas afetadas por 346 desastres “enfrentaram fenômenos como secas e
enchentes muito fortes no clima de todo o planeta”. Uma seca de três anos e
o desmatamento maciço em florestas na Nicarágua nas últimas décadas secaram a
maioria das fontes hídricas superficiais (Eco-Finanças, 11/4). Os padrões de circulação das águas no Sul
do Oceano Atlântico estão sofrendo transformações que poderão ter consequências
muito fortes no clima em todo o planeta, noticiou este jornal no dia 17
último, relatando pesquisas de um grupo de cientistas de 17 países.
Chega-se ao Brasil. O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) alerta que o País precisa reduzir o
desmatamento em 87% até 2025, em relação a 2014, para cumprir a sua meta de
corte de emissões que causam o efeito estufa. Em 2030 será necessário zerar as
emissões por desmatamento e reduzi-las em outros setores para atingir a meta
proposta internacionalmente. Nas projeções para 2025 o País emitirá 1,51 bilhão
de toneladas de CO2 (9,6% mais do que as metas previstas internacionalmente
(1,38 bilhão).
Alertas não
faltam. Faltam recursos e ações governamentais. E faltam programas para
levar a população a cumprir a sua parte.
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