A Igreja prega através de gestos!

Após visitar campo de refugiados, papa leva
sírios para o Vaticano

Juliano Machado
Berlim (Alemanha)
PAPA FRANCISCO 
Encontra-se com famílias refugiadas da guerra civil da Síria na ilha de Lesbos (Grécia)
Sábado, 16 de abril de 2016

O papa Francisco retornou de sua viagem à ilha grega de Lesbos, sábado (16 de abril), levando para o Vaticano 12 refugiados sírios que estavam em um campo de detenção após cruzarem o mar Egeu vindos da Turquia.

Desse grupo, seis são menores, que chegaram a Lesbos antes de 20 de março, quando entrou em vigor o acordo entre União Europeia e Turquia que prevê deportação para solo turco daqueles que fizeram a travessia ilegal.

Segundo o Vaticano, trata-se de três famílias sírias, cujas casas foram bombardeadas em meio à guerra civil que se arrasta no país há cinco anos. Com esse gesto, o pontífice busca ressaltar sua oposição à atual política europeia de fechar suas fronteiras para os fugitivos de conflitos no Oriente Médio.

No que chamou de "viagem da tristeza" antes de sua chegada, ele se encontrou com cerca de 250 detentos do campo de detenção de Moria – em sua maioria sírios que entraram com pedido de asilo na Grécia – e conheceu um grupo de menores que fizeram a travessia do Egeu desacompanhados. "Vocês não estão sozinhos", disse Francisco em sua saudação. "Esta é a mensagem que desejo deixar a vocês: não percam a esperança!".

Os menores foram colocados na entrada de Moria, e algumas seguravam bandeiras da Síria. Ao lado do premiê grego, Alexis Tsipras, e do patriarca Bartolomeu, líder da Igreja Ortodoxa, o papa cumprimentou refugiados, que ficaram atrás de uma barreira de metal, e afagou o rosto de alguns crianças.

Tsipras disse a Francisco que "esta é a ilha que tem suportado todo o peso da Europa em seus ombros". Dos cerca de 1,1 milhão de pessoas que chegaram ao continente no ano passado, 850 mil entraram pela Grécia, e a principal porta de entrada é Lesbos, por estar a menos de 30 km do litoral turco.

A Grécia tem hoje cerca de 53 mil refugiados vivendo em seu território, dos quais em torno de 5 mil chegaram após o dia 20 de março, data de início do acordo União Europeia-Turquia, e estão retidos nas ilhas do Egeu. Pelo pacto, esse contingente está sujeito a ser deportado de volta para solo turco, mas tem direito a pedir asilo e, se for aceito, permanecer na Grécia.

O papa agradeceu aos gregos por sua generosidade -"eles têm reagido às necessidades dos refugiados apesar de suas próprias dificuldades"– e fez um apelo: "Espero que o mundo preste atenção a essas cenas trágicas e desesperadas de necessitados e responda de uma forma condizente com a humanidade."

As entidades de direitos humanos têm criticado as condições no campo de Moria. O acesso a jornalistas não é permitido, mas funcionários dessas organizações de ajuda afirmaram que, para a visita do papa, paredes foram pintadas, o sistema de esgoto foi reparado e dezenas de detentos foram transferidos para outro centro, que não foi visitado pelo papa.

Fonte: Folha de S. Paulo – Mundo/Crise dos refugiados – Sábado, 16 de abril de 2016 – 08h22 – Atualizado às 10h04 – Internet: clique aqui. 
PAPA FRANCISCO
saúda crianças das famílias refugiadas em Lesbos (Grécia)

DISCURSO DO SANTO PADRE
Visita apostólica a Lesbos (Grécia)

ENCONTRO COM AS AUTORIDADES E A POPULAÇÃO.
MEMÓRIA DAS VÍTIMAS DAS MIGRAÇÕES
Presídio da Guarda Costeira
Sábado, 16 de abril de 2016

Senhor Chefe do Governo,
Distintas Autoridades,
Queridos irmãos e irmãs!

Desde que Lesbos se tornou uma meta para tantos migrantes à procura de paz e dignidade, senti o desejo de vir aqui. Agradeço a Deus que me concedeu fazê-lo hoje. E agradeço ao Senhor Presidente Paulopoulos por me ter convidado, juntamente com o Patriarca Bartolomeu e o Arcebispo Hieronymos.

Quero expressar a minha admiração ao povo grego, que, apesar das graves dificuldades que enfrenta, soube manter abertos os corações e as portas. Muitas pessoas simples puseram à disposição o pouco que tinham, partilhando-o com quem estava privado de tudo. Deus recompensará esta generosidade, tal como a doutras nações vizinhas que, desde os primeiros momentos, receberam com grande disponibilidade inúmeros migrantes forçados.

E abençoada é também a presença generosa de tantos voluntários e numerosas associações que, juntamente com as várias instituições públicas, prestaram a sua ajuda, e continuam a fazê-lo, expressando de modo concreto uma proximidade fraterna.

Quero hoje, perante uma situação tão dramática, lançar de novo um veemente apelo à responsabilidade e à solidariedade. Muitos refugiados, que se encontram nesta ilha e em várias partes da Grécia, estão a viver em condições críticas, num clima de ansiedade, medo e por vezes de desespero, devido às limitações materiais e à incerteza do futuro.

As preocupações das instituições e da população, aqui na Grécia como noutros países da Europa, são compreensíveis e legítimas. Mas nunca devemos esquecer que, antes de ser números, os migrantes são pessoas, são rostos, nomes, casos. A Europa é a pátria dos direitos humanos, e toda a pessoa que ponha pé em terra europeia deverá poder experimentá-lo; assim tornar-se-á mais consciente de dever, por sua vez, respeitá-los e defendê-los. Infelizmente alguns, incluindo muitas crianças, nem sequer conseguiram chegar: perderam a vida no mar, vítimas de viagens desumanas e sujeitos às tiranias de ignóbeis algozes.

Vós, habitantes de Lesbos, dais provas de que nestas terras, berço de civilização, ainda pulsa o coração duma humanidade que sabe reconhecer, antes de tudo, o irmão e a irmã, uma humanidade que quer construir pontes e evita a ilusão de levantar cercas para se sentir mais segura. Na verdade, em vez de ajudar o verdadeiro progresso dos povos, as barreiras criam divisões e, mais cedo ou mais tarde, as divisões provocam confrontos.

Para sermos verdadeiramente solidários com quem é forçado a fugir da sua própria terra, é preciso trabalhar para remover as causas desta dramática realidade: não basta limitar-se a resolver a emergência do momento, é preciso desenvolver políticas de amplo respiro, não unilaterais. Em primeiro lugar, é necessário construir a paz nos lugares aonde a guerra levou destruição e morte e impedir que este câncer se espalhe noutros lugares. Para isso, é preciso opor-se firmemente à proliferação e ao tráfico das armas e às suas teias muitas vezes ocultas; há que privar de todo e qualquer apoio quantos perseguem projetos de ódio e violência. Por outro lado, promova-se incansavelmente a colaboração entre os países, as Organizações Internacionais e as instituições humanitárias, não isolando mas sustentando quem enfrenta a emergência. Nesta perspectiva, renovo os meus votos de bom sucesso à I Cimeira Humanitária Mundial que terá lugar, em Istambul, no próximo mês.

Tudo isto só se pode fazer em conjunto: juntos, podemos e devemos procurar soluções dignas do homem para a complexa questão dos refugiados. E, nisto, é indispensável também a contribuição das Igrejas e das Comunidades Religiosas. A minha presença aqui, juntamente com o Patriarca Bartolomeu e o Arcebispo Hieronymos, é testemunho da nossa vontade de continuar a cooperar para que este desafio epocal se torne ocasião, não de confronto, mas de crescimento da civilização do amor.

Queridos irmãos e irmãs, perante as tragédias que se abatem sobre a humanidade, Deus não permanece indiferente, não está longe. É o nosso Pai, que nos sustenta na construção do bem e rejeição do mal. E não só nos sustenta, mas em Jesus mostrou-nos o caminho da paz: face ao mal do mundo, fez-Se nosso servo e, com o seu serviço de amor, salvou o mundo. Este é o verdadeiro poder que gera a paz, só quem serve com amor, constrói a paz. O serviço faz cada um sair de si mesmo para cuidar dos outros: não deixa que as pessoas e as coisas caiam em ruína, mas sabe guardá-las, superando o espesso manto da indiferença que ofusca as mentes e os corações.

A vós, eu digo obrigado, porque sois guardiões da humanidade, porque cuidais ternamente da carne de Cristo, que sofre no menor dos irmãos, faminto e forasteiro, que acolhestes (cf. Mt 25,35).

Συχαριστώ! 
REFUGIADOS SÍRIOS NA ILHA DE LESBOS - GRÉCIA

MEMÓRIA DAS VÍTIMAS DAS MIGRAÇÕES

ORAÇÃO

SANTO PADRE FRANCISCO

Deus de misericórdia,
pedimo-Vos por todos os homens, mulheres e crianças,
que morreram depois de ter deixado as suas terras
à procura duma vida melhor.

Embora muitos dos seus túmulos não tenham nome,
cada um é conhecido, amado e querido por Vós.
Que nunca sejam esquecidos por nós, mas possamos honrar
o seu sacrifício mais com as obras do que com as palavras.

Confiamo-Vos todos aqueles que realizaram esta viagem,
suportando medos, incertezas e humilhações,
para chegar a um lugar seguro e esperançoso.

Como Vós não abandonastes o vosso Filho
quando foi levado para um lugar seguro por Maria e José,
assim agora mantende-Vos perto destes vossos filhos e filhas
através da nossa ternura e proteção.

Fazei que, cuidando deles, possamos promover um mundo
onde ninguém seja forçado a deixar a sua casa
e onde todos possam viver em liberdade, dignidade e paz.

Deus de misericórdia e Pai de todos,
acordai-nos do sono da indiferença,
abri os nossos olhos às suas tribulações
e libertai-nos da insensibilidade,
fruto do bem-estar mundano e do confinamento em nós mesmos.

Dai inspiração a todos nós, nações, comunidades e indivíduos,
para reconhecer que, quantos atingem as nossas costas,
são nossos irmãos e irmãs.

Ajudai-nos a partilhar com eles as bênçãos
que recebemos das vossas mãos
e a reconhecer que juntos, como uma única família humana,
somos todos migrantes, viajantes de esperança rumo a Vós,
que sois a nossa verdadeira casa,
onde todas as lágrimas serão enxugadas,
onde estaremos na paz, seguros no vosso abraço.

Fonte: A Santa Sé – Visita Apostólica do Papa Francisco a Lesbos (Grécia) – Sábado, 16 de abril de 2016 – Internet: clique aqui.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A necessidade de dessacerdotalizar a Igreja Católica

Vocações na Igreja hoje

Eleva-se uma voz profética