«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 9 de abril de 2016

Dois especialistas nos ajudam a melhor ler e compreender do Documento sobre a Família

A pressa da curiosidade e a paciência
da complexidade

Andrea Grillo*

Aconselho que se leia a "alegria do amor" (Amoris Laetitia) com
"amor pela alegria". Sem amor pela alegria, nunca poderemos ver
a alegria do amor.
PAPA FRANCISCO
Em sua Exortação Apostólica sobre a Família apresenta uma nova maneira de se olhar
para a família, o amor conjugal e familiar, a educação dos filhos e a sexualidade

Entre os aspectos mais singulares dessa "expectativa" da nova exortação apostólica "sobre o amor na família", há uma tensão muito particular entre duas exigências opostas:

a) por um lado, talvez por causa de recentes incidentes com alguns jornalistas, nunca se viu um "silêncio" tão alto sobre um texto de publicação próxima. Quem o conhece não fala a respeito, e quem gostaria ou deveria falar a respeito não sabe nada dele.

b) por outro lado, existem alguns elementos do texto – o comprimento e o "estilo novo" – que aconselhariam uma leitura pacata e meditada. Parece precisamente que a Amoris laetitia não pode ser lida "na correria": nem materialmente, porque é um documento muito longo, nem estilisticamente, porque parece que está escrito em um estilo "diferente" – como já vimos para a Evangelii gaudium.

E então? A combinação desses dois fatores poderia tornar os primeiros dias depois da publicação particularmente complexos e confusos.

Permito-me sugerir três pequenos remédios para diminuir a confusão:

a) desaconselho que se leia o documento apenas parcialmente: justamente a sua extensão poderia quase impor uma leitura apenas parcial e rapsódica, mas é preciso resistir a isso. Apenas na sua integralidade serão compreendidos realmente cada parte e o todo;

b) desaconselho que se leiam apenas as respostas aos problemas mais candentes, mas aconselho que se integrem essas importantes e esperadas respostas às propostas de vida cristã, na abordagem global à fé e ao mundo, como delineamento de um "estilo cristão" renovado e convertido;

c) aconselho que se leia a "alegria do amor" com "amor pela alegria". Já circularam nos últimos dias previsões e profecias inspiradas na tristeza, na desventura, no desencanto, na desconfiança, na resignação. Antes ainda de ler, há quem diga, não importa se com esperança ou temor: "Não haverá nada de novo".
ANDREA GRILLO
Teólogo italiano autor deste artigo

Nunca pode haver nada de novo se não se espera nada. Tanto o desesperado quanto o presunçoso são sem esperança. Sem amor pela alegria, nunca poderemos ver a alegria do amor. Portanto, se um cardeal do outro lado do oceano diz: "O documento vai falar de matrimônio, não de divórcio", embora dizendo algo óbvio, ele parece querer se defender do texto e da história, mas poderia ficar surpreso ao ler, justamente no Evangelho, que Jesus não veio para os sãos, mas pelos doentes.

Estranhos paradoxos nos são reservados pela nossa fé no Kyrios [Senhor Jesus Cristo]. Para compreendê-los, é preciso unir, à impaciência da curiosidade, a pacatez da complexidade.

* ANDREA GRILLO é teólogo italiano leigo casado, professor do Pontifício Ateneu Santo Anselmo, de Roma, do Instituto Teológico Marchigiano, de Ancona, e do Instituto de Liturgia Pastoral da Abadia de Santa Giustina, de Pádua.

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto. Para acessar a versão original deste artigo, clique aqui.

Fonte: ZENIT.ORG – Sexta-feira, 8 de abril de 2016 – Internet: clique aqui.

Amoris Laetitia, o documento do
papa Francisco sobre o amor, matrimônio
e família

Massimo Faggioli*

É legítimo esperar que sobre algumas questões haja aberturas significativas que seguiriam e dariam substância aos muitos discursos de Francisco sobre o papel da lei na Igreja e sobre a catolicidade inclusiva da Igreja
PAPA FRANCISCO
Deixou sua marca nesta nova Exortação Apostólica sobre a Família:
sua abordagem é concreta, pastoral e fundamentada no Amor e Misericórdia

A esperada exortação apostólica Amoris Laetitia do papa Francisco sobre o amor na família é publicada nesta sexta-feira, 08 de abril, e é um documento muito importante para compreender papa Francisco e a Igreja que ele guia no presente.

Em primeiro lugar é um documento que se destina a atualizar e, de qualquer maneira, irá tomar o lugar do seu precedente publicado há 35 anos, Familiaris Consortio de João Paulo II, o papa que mais contribuiu para o magistério da Igreja no que se refere aos temas do matrimônio e a sexualidade na sociedade e na cultura contemporânea.

Francisco canonizou João Paulo II e dele recebeu o magistério, mas também corrigiu o rumo sobre algumas questões durante estes três anos do seu pontificado (por exemplo, dando uma ênfase muito menor sobre a questão da contracepção para os casais que já têm filhos).

Um segundo motivo de interesse está na relevância da matéria, que vê o ensino da Igreja e os modelos sociais e culturais do mundo ocidental muito distantes, numa distância que é também aquela entre a doutrina oficial da Igreja e a vida real de muitos católicos.

A Igreja Católica construiu de si mesma, no curso do último século e, particularmente, a partir da encíclica Humanae Vitae de Paulo VI (1968), a imagem de uma instituição que não compreende e não aceita o amor humano fora do horizonte do instituto familiar tradicional. É algo que Francisco sabe bem, melhor do que seus predecessores, inclusive porque ele foi ordenado padre depois da Humanae Vitae [no dia 13 de dezembro de 1969].

Um terceiro motivo está ligado particularmente ao papel exercido na Igreja católica, hoje, pelo pontificado do papa Francisco: um papa eleito no final de uma longa época marcada por João Paulo II e Bento XVI, e um papa que de muitas maneiras mudou as prioridades do papado desde o início.

Num certo sentido é um papa que vive em coabitação (para usar um termo corrente da política) com uma “maioria” que não pensa necessariamente como ele no que se refere às questões ligadas à moral tradicional.  O famoso “quem sou eu para julgar?” de papa Francisco sobre os homossexuais fez, literalmente, perder o sono a não poucos bispos e cardeais.

Enfim, Amoris Laetitia é importante porque é uma “exortação apostólica pós-sinodal”, isto é, um texto do papa escrito tendo em conta as discussões e as conclusões dos dois Sínodos dos Bispos sobre a família por ele convocados em outubro de 2014 e outubro de 2015.  Amoris Laetitia não é a primeira exortação apostólica (o Sínodo dos Bispos foi criado como instituição, por Paulo VI, em setembro de 1965), mas é a primeira exortação apostólica que emerge depois de um Sínodo dos Bispos caracterizado por um verdadeiro debate aberto entre os bispos e também, de certo modo, entre o papa e alguns bispos claramente céticos acerca da direção impressa à Igreja pelo papa Francisco.

Será muito interessante ver que tipo de uso faz a Amoris Laetitia dos documentos finais e das discussões do Sínodo, e que tipo de recepção será reservado ao documento pelos católicos abertamente céticos (como muitos bispos norte-americanos e africanos) no que se refere às aberturas de Francisco.

São muitas as questões sobre as quais se espera do texto indicações sobre a trajetória do catolicismo. É previsível que a atenção de muitos se deterá somente sobre os capítulos que tratam do matrimônio cristão e outras formas de matrimônio, sobre a contracepção, sobre homossexualidade e gender [questões de gênero], sobre o papel da mulher. Mas o papa Francisco sempre mostrou uma grande atenção à necessidade de enquadrar as questões morais clássicas no interior de um olhar não idealizado da realidade do ser humano sempre atento às grandes questões sociais e econômicas do nosso tempo. Papa Francisco é, sobretudo, um pastor de almas, mas também é um anti-ideólogo.

Seria ingênuo esperar deste texto mudanças radicais e improvisadas, do dia para a noite, sobre questões sensíveis (como a acesso dos divorciados recasados à eucaristia) especialmente tendo em conta o fato que Francisco governa a Igreja com um episcopado mundial plasmado durante 35 anos por João Paulo II e Bento XVI.
 
MASSIMO FAGGIOLI
Historiador do Cristianismo e autor deste artigo
Mas é legítimo esperar que sobre algumas questões haja aberturas significativas que seguiriam e dariam substância aos muitos discursos de Francisco sobre o papel da lei na Igreja e sobre a catolicidade inclusiva da Igreja. Particularmente, será interessante ver como Francisco articula a questão da descentralização da Igreja sobre questões que requerem unidade de magistério, mas aplicações pastorais diferenciadas segundo os diferentes contextos culturais no catolicismo global.

Se os documentos precedentes de Francisco, Evangelii Gaudium de novembro de 2013 e Laudato Si’ de maio de 2015, são uma indicação, é de se esperar um texto muito fiel ao pensamento de Francisco e não tímido em mostrar a direção para onde a Igreja caminha. É certamente um catolicismo em movimento: Amoris Laetitia é publicada apenas uma semana antes da viagem extraordinária à ilha de Lesbos para encontrar os prófugos e os refugiados. A teologia de Francisco sobre o amor e a família se formou muito mais nos encontros com a humanidade real do que numa continuidade absoluta do magistério.

Traduzido do italiano pelo Instituto Humanitas Unisinos On-line. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.

* MASSIMO FAGGIOLI é italiano e professor de História do Cristianismo na University of St. Thomas, Estados Unidos.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Sexta-feira, 8 de abril de 2016 – Internet: clique aqui.

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