É disto que devemos ter medo!
Democracia insatisfatória
José Roberto
Toledo
A insatisfação com a democracia nunca foi tão grande no
Brasil!
A pesquisa do Ibope sugere que, quando é boa demais
para os políticos,
a democracia à brasileira é insatisfatória para todos
os demais interessados.
A
insatisfação com a democracia nunca foi tão grande no Brasil – pelo menos desde
2008, quando o Ibope começou a medi-la. Pesquisa inédita do instituto e
publicada com exclusividade pela coluna mostra que 49% dos brasileiros se dizem “nada satisfeitos” com o funcionamento da
democracia no Brasil. Somam-se a eles outros
34% que se dizem “pouco satisfeitos”.
Só 14% afirmaram ao Ibope estar “satisfeitos” (12%) ou “muito satisfeitos”
(2%) com o regime democrático. O resto não quis ou não soube responder. O
recorde negativo anterior era de 2015, com 45% de “nada satisfeitos”. Os 49% de
insatisfação atuais com a democracia são especialmente altos quando comparados
aos 13% de 2010 ou mesmo aos 22% de 2014. A pesquisa foi feita entre os dias 14
e 18 de abril.
A insatisfação
é maior no Sudeste (52%), entre quem completou só o ensino Fundamental (58%), nas cidades de
médio porte (55%), nas periferias das metrópoles (52%) e entre evangélicos
(53%). Não há diferença significativa
por faixa de renda nem entre eleitores que votaram em Dilma Rousseff ou Aécio
Neves.
Como consequência da insatisfação, o apoio à
democracia entre os brasileiros também é o mais baixo em quase uma década. Só 40% concordaram com a frase “a democracia é preferível a qualquer outra
forma de governo”. A concordância com essa afirmação chegou a ser de
55% em 2009. Caíra desde então, até 46% em 2014.
Em contrapartida à nova queda da preferência
pelo regime democrático, cresceram os indiferentes. Pularam de 18% em 2014 para
34% em 2016 os que concordam com a frase “para as pessoas em geral, dá na mesma se um regime é democrático ou não”.
A única boa
notícia da pesquisa é que a fatia dos simpatizantes com o totalitarismo
diminuiu. A
concordância com a frase “em algumas circunstâncias, um governo
autoritário pode ser preferível a um governo democrático” nunca foi tão
baixa: 15% agora, contra 20% em 2014. Antes disso, oscilava de 18% a 19%.
Os resultados sugerem que Eduardo
Cunha tem mais impacto negativo sobre a democracia do que Jair Bolsonaro. Enquanto este se
limita a uma fatia cadente da população, o outro é capaz de espalhar o
descrédito do sistema entre o dobro de brasileiros.
Cunha provou
que o seu jeito de fazer política compensa:
* O Supremo não tem data para julgá-lo.
* A Comissão de Ética não consegue votar nada contra ele.
* E, enquanto colhe elogios dos colegas mais assanhados,
* dá folga aos deputados e chantageia os senadores com o trancamento da
pauta legislativa até votarem o que ele quer quando ele quiser.
Sem medo de nada ou de ninguém, [Eduardo
Cunha] provoca excitação em ex-presidiários que não tiveram a mesma astúcia e,
talvez por isso, considerem-no seu vilão
preferido.
A
impunibilidade de Eduardo Cunha é a prova definitiva de que o sistema político
brasileiro visa o interesse exclusivo de seus atores. Quanto mais protagonista é
no elenco, mais impunível o parlamentar se torna. O exemplo que ele consolida a cada nova artimanha não será esquecido
jamais por essa geração. E servirá de inspiração para quem vier a
substituí-lo. Ser Cunha compensa.
Não importam novas denúncias, tampouco pesam
as repetidas manipulações do regimento da Câmara. Sua imagem é a de que não há juiz, policial, parlamentar ou presidente
que possa com ele. Mesmo que o Supremo Tribunal Federal, num acesso de
coragem, marque o julgamento de Cunha pelos crimes de lavagem de dinheiro e
corrupção passiva para amanhã, o
precedente que ele estabeleceu é permanente.
Todos os deputados que elogiaram as qualidades
de Cunha antes, durante e depois da votação do impeachment de Dilma são um testemunho de que o homem pode passar, mas seu estilo ficará.
Colocados lado a lado, o sucesso de Cunha e a
pesquisa do Ibope sugerem que, quando é boa demais para os políticos, a
democracia à brasileira é insatisfatória para todos os demais interessados.
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