A INTERNET BANDA LARGA SOB AMEAÇA!
Paula Soprana
& Bruno Ferrari
Ao impor limites de consumo de dados em planos de banda
larga, operadoras prejudicam os clientes e o desenvolvimento do país na era
digital
SEDE DA ANATEL - Agência Nacional de Telecomunicações |
As operadoras de banda larga conseguiram um
feito nesta semana. Uniram um país que, ao longo dos últimos meses,
acostumou-se com um ambiente belicoso e polarizado nas redes sociais. Comunidades no Facebook e petições on-line
com mais de 1 milhão de apoiadores exigem que as operadoras Net, Vivo e Oi
suspendam seus projetos de impor franquias de dados para a banda larga fixa.
A franquia que
já existe para os celulares passaria a valer também para o Wi-Fi de casa. Quem atingir o limite terá a velocidade reduzida. Em alguns casos,
bloqueada. O pecado das operadoras foi mexer com uma paixão de mais de 105 milhões de brasileiros, que usam a
internet freneticamente para trabalhar, se entreter e se informar. Somos os
campeões de uso de redes sociais:
* Passamos 60% mais tempo
dentro de sites como o Facebook que
os americanos.
* Cerca de 70% dos usuários de internet no Brasil usam
a rede para fins educacionais.
* Mas são os adeptos dos
serviços de streaming, como o YouTube, o Netflix e o Globo Play,
que saem como os grandes prejudicados
dessa mudança.
O Brasil é a
segunda maior audiência global do YouTube, serviço que se tornou o cartão de visita do
streaming. A terceira maior do Netflix, com 4 milhões de assinantes. O Globo Play, que oferece a programação
da TV Globo em computadores e smartphones, tem
mais de 5 milhões de usuários em poucos meses de lançamento.
São números que mostram a ascensão da
tecnologia que permite o consumo de conteúdo sem a necessidade de fazer o
download no computador. Uma inovação que, além da comodidade, é uma alternativa
para driblar a pirataria on-line. Ao
assinar um desses serviços, o usuário paga o direito autoral e diminui a busca
por downloads ilegais. Se por um lado eles transformaram a forma como
consumimos música, filmes e programas de TV, se mostraram grandes rivais das
operadoras de banda larga.
Serviços de streaming [YouTube, Netflix, Globo
Play e outros] usam uma quantidade muito
maior de bytes que a navegação tradicional na internet, com acesso a
e-mails e sites. As operadoras alegam
que o investimento necessário em infraestrutura para acompanhar a mudança de
hábito do consumidor é elevado. Argumentam que a carga tributária para
equipamentos de rede é alta – e nesse ponto é difícil discordar. “A solução que encontraram para isso é
restringir o direito ao usuário, quando deveriam fazer uma reforma da
legislação tributária do setor”, afirma Thiago Tavares, presidente da ONG Safernet e conselheiro do Comitê Gestor da Internet (CGI).
Por trás, há
também o interesse econômico. Além da conexão à internet, Net, Oi e Vivo
oferecem combos que incluem telefone fixo e TV por assinatura. Para seduzir o
cliente, esses pacotes costumam vir com descontos para quem topa levar os três serviços
juntos. O avanço do streaming está fazendo com que muita gente deixe de assinar a TV a
cabo. No modelo atual, o consumidor é obrigado a pagar por programas
distribuídos numa grade preestabelecida, além de ter de incluir em seu pacote
canais que não interessam – pense num casal sem filhos que paga por dezenas de
canais voltados ao público infantil. Muitos
consumidores estão cancelando a TV e migrando gradativamente para esses
serviços sob demanda. Ao impor um limite de consumo de dados claramente insuficiente
– e cobrar por pacotes adicionais –, as
operadoras poderiam recuperar parte das receitas perdidas.
Não é esse, porém, o discurso oficial das
operadoras. Elas justificam que, ao adotar o modelo de franquia de dados,
poderão gerenciar melhor as demandas de cada cliente, cobrando menos de quem
usa pouco e mais de quem usa muito. Mas quem está mais próximo de se tornar um
padrão de usuário de internet no futuro? A pessoa que só acessa e-mail e lê
sites ou alguém que assiste aos vídeos de notícias, passeia pelo YouTube, baixa
conteúdo digital, assina serviços como Netflix e Globo Play? Números mostram
que será o segundo grupo. De acordo com a Cisco,
empresa que faz a medição do consumo de dados digitais no mundo, o tráfego de internet no Brasil terá crescido
2,2 vezes entre 2014 e 2019. O volume de vídeos da internet, sozinho,
triplicará no mesmo período. Em médio
prazo, todos estaremos pagando mais por estourar nossas franquias.
A Vivo,
que também é dona da GVT, não
respondeu aos questionamentos sobre o tamanho das franquias, que começam em 10
GB mensais – o suficiente para assistir a quatro capítulos de uma série no
Netflix – e vão até 120 GB na tecnologia ADSL, que usa a infraestrutura das
linhas telefônicas fixas. Para usuários
de fibra óptica, as franquias vão de 120 GB a 300 GB, mas por mensalidades que
chegam a R$ 329. Vale lembrar que estamos falando de um limite que é
compartilhado entre moradores de uma residência. A média brasileira é de três
moradores por domicílio. Cada um tem seu smartphone, eventualmente um tablet,
além de TVs conectadas. Imagine cada um deles pendurado no Wi-Fi assistindo a
vídeos e a filmes em alta resolução?
A Oi
afirma que já prevê em seus contratos as franquias de dados, mas que ainda não
implementa a medida. A Net disse que
já pratica o limite de dados há anos. No caso, ao atingir a franquia, a
velocidade da banda larga cai para 2 Mbps, o mínimo comercializado pela
operadora. A única que respondeu ao
pedido de entrevista foi a TIM, que não pretende adotar as franquias. “Não posso dizer que nunca vamos adotar o
modelo, mas não há nenhuma previsão”, diz Rogério Takayanagi, vicepresidente de marketing da TIM. “Hoje, o consumo médio do usuário de fibra
óptica é de 160 GB por mês”, diz.
A Agência Nacional de Telecomunicações [Anatel], que tem dupla missão – zelar por um
ambiente de negócios bom para as empresas e também pelos interesses dos
cidadãos –, ficou ao lado das operadoras.
Ao portal Convergência Digital,
especializado no setor de telecomunicações, o superintendente de Competição da
Anatel, Carlos Baigorri, disse que a adoção do sistema de franquia é esperada e
positiva. “Não existe um único consumidor, então para quem está abaixo da
média, consome menos, o limite é melhor. E pior para quem consome muito”,
afirmou.
Limitar a
banda larga fixa traz consequências que vão além de nossas casas:
* O Wi-Fi do restaurante provavelmente não será mais gratuito,
* os pesquisadores que trabalham com dados pesados terão de gastar muito
em internet mensal,
* os estudantes que fazem cursos e graduações à distância terão um gasto
extra com internet,
* o fim de semana inteiro no Netflix e no YouTube e os jogos de videogame
on-line serão passatempo de uma pequena elite.
O sistema
de franquia de dados, antes de prover internet a todos, pode estimular uma estratificação ainda
maior entre os brasileiros. Um retrocesso na trajetória de uma tecnologia
fundamental para o desenvolvimento do país.
Fonte: Época –
Experiências digitais – 15/04/2016 – 18h42 – Internet: clique aqui.
PROTESTE:
EXPRIMA SUA CONTRARIEDADE PARA A
ANATEL E AS OPERADORAS
Você pode
se manifestar de duas maneiras, ambas ao mesmo tempo:
1ª) Assinando uma petição on-line endereçada à Vivo, GVT
,OI, NET, Claro, Anatel, Ministério Público Federal: Contra o Limite na
Franquia de Dados na Banda Larga Fixa. Além de ser fácil, você poderá
compartilhar essa petição em suas páginas sociais na internet, bem como,
enviá-la por e-mail aos amigos e conhecidos.
Clique aqui para acessá-la:
* Do lado direito
da página, você deve inserir o seu e-mail, logo abaixo os dizeres «Coloque seu
endereço de email:»;
* depois, você
pode inserir alguma frase com o seu convite para outros assinarem a mesma
petição, caso desejar compartilhá-la em sua página no Facebook;
* se você não
desejar compartilhar a petição no Facebook, desmarque a opção «Compartilhe essa
campanha no Facebook» antes de clicar sobre a palavra «ASSINE».
2ª) Reclamando
diretamente à OUVIDORIA DA ANATEL
(Agência Nacional de Telecomunicações), para isso:
* clique aqui e insira nos espaços apropriados as informações solicitadas, logo após, clique
sobre «Avançar»;
* na página que se
abrirá, há uma pergunta: «Qual a sua
solicitação?», então você deve marcar a opção «Reclamação» e clique sobre
«Avançar»;
* uma nova página
se abre onde há espaço para você escrever a sua reclamação, inicie com o
título: «Contra o Limite na Franquia de
Dados na Banda Larga Fixa» e expresse, de modo bem resumido, a sua opinião.
* em
seguida, clique em «Finalizar».
Pronto!
A sua
reclamação será enviada à ouvidoria da Anatel.
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