A podridão se institucionalizou!
Debandada
Editorial
O PT tenta apresentar-se
como perseguido político. A enxurrada de escândalos, denúncias, investigações e condenações
envolvendo próceres petistas seria resultado de uma sórdida campanha levada a
cabo pelos inconformados com a revolução social promovida por Luiz Inácio Lula
da Silva desde sua posse na Presidência da República em 2003. Tal versão, no entanto, não tem qualquer
suporte nos FATOS. A realidade é bem mais caseira – simplesmente o partido começa a sentir as consequências de seus atos
imorais e ilegais, que vão sendo revelados à medida que avançam as investigações
da Operação Lava Jato. Num Estado Democrático de Direito, andar fora da lei
tem seu preço – jurídico e político.
O
discurso de vítima do PT fica completamente desmascarado diante da vergonha dos próprios petistas com a
legenda utilizada largamente por seus dirigentes em benefício pessoal. Se
fosse verdade a existência de uma campanha de perseguição, a natural reação de
seus membros seria de orgulho e defesa da causa petista. Não é isso, porém, o
que se vê. Os
políticos petistas estão em debandada. Conforme noticiou o jornal O Estado de S. Paulo, de meados do ano
passado até o dia 2 de abril – fim do prazo legal para mudança partidária –, um terço dos prefeitos eleitos pelo PT no
Estado de São Paulo deixou o partido. Nas eleições municipais passadas, o
PT elegeu 72 prefeitos. Desse total, 24 já abandonaram a legenda.
Essa debandada não se deve a
nenhum tipo de perseguição política. Sai quem se envergonha de um partido que renegou a ética na política, no
discurso e na prática. Como ficou evidente aos olhos dos brasileiros
– especialmente com as investigações da Operação Lava Jato, mostrando que o MENSALÃO
era coisa pequena diante do PETROLÃO –, o partido de Lula não apenas se
lambuzou com antigas práticas de corrupção, mas promoveu verdadeira revolução
na arte de apropriar-se do público em prol do interesse particular – partidário
e pessoal. Obviamente, além das complicações judiciais, esse modus operandi tem um alto preço
político.
A
doença petista não atingiu apenas prefeitos. O partido também perdeu 28% dos vereadores que tinha no Estado de São
Paulo. Entre os 186 vereadores que
saíram da legenda, havia nomes de destaque, que as lideranças partidárias
esperavam ver como candidatos do PT na disputa por importantes prefeituras.
Significativo desfalque deu-se em Carapicuíba, cidade com mais de 270 mil
eleitores e governada há oito anos pelo PT. O atual presidente da Câmara de
Vereadores, Abraão Junior, trocou o
PT pelo PSDB, legenda pela qual pretende disputar as eleições de outubro para
prefeito.
JORGE LAPAS Atual Prefeito Municipal de OSASCO trocou o PT pelo PDT - um exemplo dentre muitos!!! |
Boa
parte dos prefeitos que abandonaram o PT governa pequenas ou médias cidades no
Estado. Há, porém, exceções. Por exemplo, o prefeito Jorge Lapas, de Osasco
– quinto maior colégio eleitoral de São Paulo, com 548 mil eleitores –, trocou
a legenda petista pelo PDT. Na carta escrita para explicar sua desfiliação do
partido, Lapas menciona o “momento delicado pelo qual o PT está passando no
cenário nacional”, além da “desunião e
fragilidade resultantes da disputa interna” no partido. É uma maneira até
elegante de se referir aos problemas que, com suas práticas, o partido criou
para si mesmo.
As
razões para a debandada de políticos petistas não são segredo para ninguém. Os
escândalos nos quais o PT e algumas de suas principais lideranças estão
envolvidos representam um enorme peso político. Conforme noticiou o jornal O Estado de S. Paulo, pesquisas internas
do próprio PT indicam que a associação dos nomes dos pré-candidatos com a
legenda tem o efeito de âncora no eleitorado. Até mesmo prefeitos petistas com boa avaliação de suas administrações
são puxados para baixo nas intenções de voto quando associados ao PT. O
efeito é ainda maior nas grandes e médias cidades. Trata-se de um evidente
sinal de maturidade do eleitorado. Não vale mais o “rouba, mas faz”. O eleitorado quer
outro tipo de política e, portanto, quer outro tipo de partido.
Para
o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), “muitos prefeitos superestimaram a
crise e não esperaram sua superação. Fizeram uma leitura precipitada”. Parece
ser o oposto. A real avaliação sobre o PT é que veio tarde.
Fonte: O Estado de S. Paulo –
Notas e Informações – Sábado, 9 de abril de 2016 – Pág. A3 – Internet: clique aqui.
UMA AVALIAÇÃO À
ESQUERDA...
PT só se lembrou dos movimentos sociais
na hora de apagar incêndios
Entrevista
com Frei Betto
Frade dominicano e escritor associado à
Teologia da Libertação e movimentos populares
Emanuel
Colombari
«Sem proposta alternativa ao que está aí, fundada em
programa consistente de REFORMAS ESTRUTURAIS, o Brasil não tem futuro, exceto o
risco de passar do Estado de Direito para o “Estado da direita”»
FREI BETTO Chegou a ocupar importante cargo no primeiro mandato do presidente Lula, hoje, é um crítico do partido com o qual se identificou anos atrás |
Frei
Betto foi um dos primeiros nomes de destaque dos governos do PT. Escolhido para
coordenar a Mobilização Social do
programa Fome Zero, um dos pilares sociais do partido desde 2003, o escritor ocupou o cargo de assessor
especial do ex-presidente Lula entre 2003 e 2004.
O
religioso, porém, durou pouco no governo. Já em 2004, insatisfeito com as
alianças feitas entre partido e mercado financeiro, afastou-se. Desde então,
tornou-se um crítico das Presidências de Lula e Dilma, cobrando uma maior pauta
social nos governos petistas.
Em
entrevista por e-mail ao UOL, Frei Betto diz que o PT precisa "fazer uma séria autocrítica" e "tentar
recuperar seus três capitais simbólicos perdidos":
* a classe trabalhadora,
* a ética e
* as reformas estruturais.
Para
Frei Betto, é fundamental que as manifestações populares que eclodem pelo
Brasil desde 2013 apresentem também propostas. Segundo ele, o volume de críticas sem uma contrapartida
política pode criar um perigoso vácuo de poder.
"Sem
proposta alternativa ao que está aí, fundada em programa consistente de reformas
estruturais, o Brasil não tem futuro, exceto o risco de passar do Estado de
Direito para o ‘Estado da direita’", avalia.
Mesmo
diante das críticas que faz ao segundo governo de Dilma Rousseff, Frei Betto é contrário à renúncia da
presidente ou à proposta de novas eleições – para ele, "se [o PT]
aceitar antecipar novas eleições estará, de fato, renunciando".
"Qualquer
interrupção do mandato da presidente é golpe branco, como já ocorreu em
Honduras e Paraguai. E, se o governo não completar seu mandato até 2018,
abriremos um precedente que favorecerá, em mandatos futuros, permanente
instabilidade política", afirmou.
Eis a entrevista.
O
ex-presidente Lula pode assumir a vaga de ministro-chefe da Casa Civil do
governo Dilma. Como o senhor vê este fato? Acha que ele funciona como uma
espécie de "salvador da pátria", podendo reverter o quadro pró-impeachment?
Frei Betto: Não penso que Lula foi
chamado em função da possibilidade de impeachment.
O governo Dilma está sem rumo e Lula,
devido ao êxito de seus dois mandatos, foi convocado para tentar salvá-lo.
Por outro lado, como tem muita habilidade política e de negociação - o que
falta a Dilma - sem dúvida ele já contribui para evitar o impeachment. Ainda que não lhe permitam virar ministro, ele passa a ser, de fato, o
primeiro-ministro...
Diante
das opções cogitadas pela oposição ao governo Dilma, como impeachment, renúncia e novas eleições, o que o senhor avalia como
o mais provável? Qual o impacto disso na situação política do Brasil até 2018?
Frei Betto: Entre as vozes das ruas e as
das urnas, fico com as últimas. Embora crítico do governo Dilma, sobretudo pelo
excessivo ônus do ajuste fiscal sobre o segmento mais pobre da população, julgo
que qualquer interrupção do mandato da presidente é golpe branco, como já
ocorreu em Honduras [com Manuel Zelaya, em 2009] e Paraguai [Fernando Lugo, em 2012]. E, se o governo não completar seu mandato
até 2018, abriremos um precedente que favorecerá, em mandatos futuros,
permanente instabilidade política.
O
senador Aécio Neves considerou "utópica" essa ideia de novas
eleições. Dilma chegou a dizer que precisaria primeiro convencer o Congresso. O
senhor acha a proposta factível?
Frei Betto: Dilma diz e repete que não
renuncia. Ora, se aceitar antecipar novas eleições estará, de fato,
renunciando. E isso significará um reconhecimento público, por parte do PT, de
que ele fracassou na condução deste país. O governo tem ainda dois anos e oito
meses pela frente. Se o PT fizesse
autocrítica e redefinisse os rumos do governo, implementando reformas estruturais que sempre prometeu e nunca realizou,
o mandato da Dilma e a credibilidade do partido ainda teriam esperança de
recuperação.
O
senador Cristovam Buarque defende que seria bom para o PT voltar a ser
oposição. O senhor também acredita nesta avaliação?
Frei Betto: Desde que Caim matou Abel,
ninguém quer largar o osso do poder. Vide o PMDB: consegue a proeza de manter
um pé no governo e o outro na oposição... Assim, tenta garantir o presente e o
futuro. O PT só voltará à oposição se
assim exigirem as urnas.
A
imagem do PT com o eleitorado sofreu um considerável desgaste diante dos
escândalos mais recentes. O senhor imagina a possibilidade de uma recuperação
do partido?
Frei Betto: Às vezes tenho a impressão de que a ficha do estrago
até agora não caiu para o PT. Seus dirigentes presos, são culpados ou
inocentes na opinião do partido? A política econômica do governo é de Dilma ou
do partido? Como sugerem Tarso Genro e Olívio Dutra, o PT precisa,
urgentemente, fazer uma séria autocrítica. E tentar recuperar seus três
capitais simbólicos perdidos: ser o partido de organização da classe
trabalhadora, ser o partido da ética e ser o partido das reformas estruturais
do Brasil. Fora disso, o PT estará condenado a integrar a geleia geral da
estrutura partidária brasileira.
LULA E FREI BETTO No tempos em que o PT estava na oposição e mais ligado aos Movimentos Populares, Frei Betto foi um próximo e frequente interlocutor de Lula... Mas, depois, as coisas mudaram. |
O
PMDB apoiou oficialmente o governo federal por 13 anos, antes de anunciar seu
rompimento neste ano. Como o senhor vê o futuro do partido?
Frei Betto: O PMDB é o único partido com
futuro garantido nessa institucionalidade política viciada por fisiologismo, nepotismo e corrupção.
Se ficar, o bicho toma posse; se correr, assume o poder... Enquanto não houver uma séria reforma política,
o PMDB será o grande fiel da balança desse circo chamado Congresso Nacional
brasileiro.
A
esperada “guinada à esquerda” do PT ainda é alcançável? Ainda é possível uma
conciliação do partido com uma pauta mais ligada a movimentos sociais?
Frei Betto: Julgo que é muito difícil. Ao longo de 13 anos de governo, o PT só se
lembrou dos movimentos sociais - que lhe deram origem - na hora de apagar
incêndios:
* Não valorizou os movimentos
sociais como valorizou os empresários;
* pouquíssimo fez em defesa
da reforma agrária,
* dos povos indígenas e dos
quilombolas;
* mantém uma carga tributária
altamente prejudicial ao consumidor pobre;
* constrói Belo Monte e
outras hidrelétricas sem respeitar as populações locais, sobretudo indígenas e
ribeirinhos;
* aprovou um Código Florestal
vergonhoso para um país que fala em preservação ambiental etc.
Enfim,
o PT no governo agarrou o violino com a
esquerda e tocou com a direita... Embora eu considere os dois primeiros
mandatos de Lula e o primeiro de Dilma os melhores de nossa história
republicana.
Diante
de um processo de impeachment e
tantos escândalos de corrupção, qual o caminho para a esquerda brasileira se
viabilizar numa próxima eleição?
Frei Betto: Que esquerda? Cadê o trabalho de base, a formação de novos militantes,
o projeto histórico? Milhões de brasileiros, desde 2013, ocupam as ruas para fazer
protestos, e não para trazer propostas! Sem proposta alternativa ao que está
aí, fundada em programa consistente de reformas estruturais, o Brasil não tem
futuro, exceto o risco de passar do Estado de Direito para o Estado da direita.
Se
Dilma conseguir evitar o impeachment,
como governar com uma base tão fragilizada?
Frei Betto: Vejo apenas uma saída: fazer
o que fez Evo Morales na Bolívia, que hoje conta com o apoio do Congresso, da
população e do mercado; apoiar-se em seus pilares de origem, os movimentos
sociais. Fora disso, temo que queira
recompor sua base política à base da receita tradicional do "toma lá, dá
cá" - e não faltarão deputados federais e senadores que, no dia
seguinte à reprovação da proposta de impeachment,
estarão na fila do beija-mão na porta do Planalto.
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