6º Domingo da Páscoa – Ano C – Homilia

Evangelho: João 14,23-29

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos:
23 «Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada.
24 Quem não me ama, não guarda a minha palavra. E a palavra que escutais não é minha, mas do Pai que me enviou.
25 Isso é o que vos disse enquanto estava convosco.
26 Mas o Defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito.
27 Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração.
28 Ouvistes que eu vos disse: “Vou, mas voltarei a vós”. Se me amásseis, ficaríeis alegres porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu.
29 Disse-vos isto, agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis.»

JOSÉ ANTONIO PAGOLA

A PAZ NA IGREJA

No evangelho de João podemos ler um conjunto de discursos em que Jesus se vai despedindo dos seus discípulos. Os comentaristas  o chamam de «O discurso de despedida». Nele se respira uma atmosfera muito especial: os discípulos têm medo de ficar sem o seu Mestre; Jesus, por seu lado, insiste em lhes dizer, que apesar da sua partida, jamais sentirão a sua ausência.

Repete-lhes, até cinco vezes, que poderão contar com «o Espírito Santo». Ele os defenderá, pois os manterá fiéis à sua mensagem e ao seu projeto. Por isso, chama-lhe «Espírito da verdade». Em um momento determinado, Jesus explica-lhes melhor o que terão de fazer: «O Defensor, o Espírito Santo… ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito». Este Espírito será a memória viva de Jesus.

O horizonte que oferece aos seus discípulos é grandioso. De Jesus nascerá um grande movimento espiritual de discípulos e discípulas que o seguirão defendidos pelo Espírito Santo. Manter-se-ão em sua verdade, pois esse Espírito ensinar-lhes-á tudo o que Jesus lhes foi comunicando pelos caminhos da Galileia. Ele os defenderá no futuro da perturbação e da covardia.

Jesus deseja que compreendam bem o que significará para eles o Espírito da verdade e Defensor de sua comunidade: « Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou». Não só lhes deseja a paz. Oferece-lhes a sua paz. Se viverem guiados pelo Espírito, recordando e guardando as suas palavras, conhecerão a paz.

Não é uma paz qualquer. É a sua paz. Por isso lhes diz: «não a dou como o mundo». A paz de Jesus não se constrói com estratégias inspiradas na mentira ou na injustiça, mas atuando com o Espírito da verdade. Os discípulos hão de se reafirmar nele: «Não se perturbe nem se intimide o vosso coração».

Nestes tempos difíceis de desprestígio e perturbação que estamos sofrendo na Igreja, seria um grave erro pretender, agora, defender a nossa credibilidade e autoridade moral atuando sem o Espírito da verdade prometido por Jesus. O medo continuará penetrando no cristianismo se procuramos assentar a nossa segurança e a nossa paz distanciando-nos do caminho traçado por Ele.

Quando na Igreja se perde a paz, não é possível recuperá-la de qualquer maneira nem serve qualquer estratégia. Com o coração repleto de ressentimento e cegueira não é possível introduzir a paz de Jesus. É necessário converter-nos humildemente à sua verdade, mobilizar todas as nossas forças para deixar caminhos errados, e deixar-nos guiar pelo Espírito que animou a vida inteira de Jesus.

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: MUSICALITURGICA.COM – Homilías de José A. Pagola – Segunda-feira, 25 de abril de 2016 – 17h00 – Internet: clique aqui.

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