Helder Câmara, via livre à causa da beatificação
Stefania
Falasca
Avvenire
31-03-2015
Nenhuma espera por Dom
Helder Câmara.
A Santa Sé já
ratificou o “via livre” à introdução da causa de beatificação e canonização do
brasileiro “bispo das favelas”.
Dom Helder Câmara - o "Bispo dos pobres" (Fortaleza - CE, 1909 - Recife - PE, 1999) |
A concessão do “nihil obstat” [nenhuma objeção] foi firmada no dia 25 de fevereiro passado. Nestes
últimos dias tinha sido retomada pelas agências de imprensa uma carta do cardeal Angelo Amato, prefeito da
Congregação das Causas dos Santos, anterior à assinatura da ocorrida concessão,
na qual o purpurado assegurava o atual arcebispo de Olinda-Recife, Fernando Saburido, de ter recebido
junto ao dicastério romano a requisição de introdução da causa despachada pela
diocese do Nordeste brasileiro, onde em 1999 morreu dom Helder Câmara.
Requisição amadurecida em maio passado com o apoio do
inteiro episcopado brasileiro. Mas, uma primeira vontade tinha sido expressa
desde 2008, com um documento elaborado no decurso da Assembleia Ordinária da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil [CNBB]. Na requisição avançada pela
diocese se recordava “o trabalho
pastoral do amado ‘bispo dos pobres’ dom Helder Câmara” em sua incansável atividade em favor da dignidade
humana, da justiça social, da paz, do resgate dos pobres e direitos dos
marginalizados “nas ligas comunitárias contra a fome e a miséria” que lhe
custou o ostracismo dos governantes e o apelativo de “bispo vermelho”.
Dom Helder Câmara
havia participado ativamente do Concílio Vaticano II, oferecendo notáveis
contribuições junto a outros bispos provenientes do Sul do mundo. Foi ele que
fundou em 1950 a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da qual foi
também o primeiro secretário-geral, e colaborou no nascimento do Celam [Conferência
Episcopal Latino-Americana] no Rio de Janeiro, em julho de 1955.
Em 1964 – ano do
golpe que instaura o regime militar no Brasil – Câmara foi nomeado por Paulo VI arcebispo de Recife, capital de
Pernambuco, no Nordeste, a região mais pobre do país, chamado o “quadrilátero
da fome”. No dia do ingresso oficial, o arcebispo não quis ser acolhido dentro
da Catedral, mas na praça, no meio do povo.
Nos anos subsequentes o empenho de Dom Helder a serviço dos
mais débeis continuará sem cessar, com tomadas de posição incômodas e
corajosas.
“Quando eu dou de
comer a um pobre, todos me dão parabéns. Mas, quando pergunto por que os pobres
não têm comida, então todos me chamam comunista e subversivo”, havia
diversas vezes repetido. Morria aos 28
de agosto de 1999 aos noventa anos. Numa de suas mais conhecidas cartas
havia escrito: “Não basta que os pobres
te conheçam e te chamem pelo nome: é importante que tu os conheças, saibas sua
história e saibas seu nome”.
Agora, portanto, se abre formalmente para dom Helder a fase
diocesana do processo com a nomeação, da parte do bispo Saburido, do tribunal
eclesiástico, que por sua vez deverá instituir uma comissão histórica para proceder à coleta e à análise dos escritos de
Helder Câmara. Grande parte das cartas do “bispo dos pobres” é encontrável
no Centro de documentação que traz o seu nome, criado quando ele ainda era vivo
e no limiar dos noventa anos.
Traduzido do italiano por Benno Dischinger. Para acessar a
matéria em sua versão original, clique aqui.
Fonte: Instituto
Humanitas Unisinos – Notícias – Terça-feira, 7 de abril de 2015 – Internet:
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