ADOLESCENTES E PORNOGRAFIA NA REDE
Jairo Bouer
Psiquiatra
Estudo com 700 jovens
mostrou que 1 em cada 10
já fez ou participou
de um vídeo explícito
Com mais gente acessando o tempo todo a internet, o consumo de pornografia online tem
aumentado de forma importante. Só que agora essa busca tem atingido cada
vez mais crianças e adolescentes, o que começa a levar os especialistas a uma
série de reflexões e propostas de novas condutas.
Um estudo recente de duas ONGs inglesas de defesa dos
direitos infantojuvenis, publicado no site da BBC Brasil, que entrevistou 700 jovens de 12 e 13 anos, mostrou que
um em cada dez deles já fez ou participou de um vídeo com conteúdo sexual
explícito. O número revela um grau de
exposição sem precedentes na vida desses adolescentes.
Além disso, 20% dos
entrevistados disseram ter visto imagens com conteúdo erótico que os chocaram,
e 10% temem estar ficando viciados em pornografia. O trabalho foi feito
pelas ONGs National Society for the
Prevention of Cruelty to Children [trad.: Sociedade Nacional para a Prevenção da Crueldade contra Crianças] e Childline [trad.: Linha da Criança].
Um dos temores é que essa exposição e o consumo excessivo de
pornografia online façam mais jovens ficarem deprimidos, com problemas de
autoestima e se sentindo pressionados a iniciar sua vida sexual antes de
estarem prontos.
Ao assistir a horas
de vídeos com performances mirabolantes e fantasias exageradas, os adolescentes
podem ficar com a sensação de que jamais vão dar conta do recado, em um
momento em que muitos ainda nem iniciaram o mais básico de sua vida sexual.
Jovens impulsivos
Bom lembrar também de um outro trabalho atual, já comentado
nessa coluna, da universidade americana de Penn
State, que mostra que o
comportamento do jovem ao gerenciar sua privacidade na internet é muito mais
impulsivo do que o dos adultos. Assim, assumir riscos antes de medir
consequências é um padrão comum.
Não é à toa que tantos
podem estar se expondo em vídeos e fotos de forte teor erótico, sem ter noção
dos impactos que essa atitude pode ter em seu futuro. Há quem afirme,
inclusive, que se expor dessa forma é um fenômeno que pode até ser visto como
um ganho por parte deles. A popularidade criada pelas imagens ousadas
compensaria eventuais problemas. Só quando a reação ganha escala ou gera
conflitos é que muitos vão se preocupar com o alcance da exposição. E, aí, pode
ser tarde demais.
Pornografia e risco
Ainda em relação à pornografia, vale a pena lembrar de um
outro estudo, divulgado no final de janeiro, realizado pela universidades
australianas de Sydney e de Curtin, que fez uma análise de 17 pesquisas
anteriores sobre comportamentos de risco entre maiores de 18 anos. Sete delas
mostram uma relação direta entre maior
consumo de pornografia online e prática mais frequente de sexo desprotegido.
Além disso, foi detectado um aumento do
número de parceiros e da frequência
de sexo casual.
Se esse impacto foi provocado nos que já têm alguma
experiência no sexo, o que pensar das consequências que o consumo mais
frequente de pornografia e a exposição na rede podem ter na vida sexual e
afetiva dos adolescentes?
Por isso, muitas ONGs e autoridades têm investido na
produção de materiais voltados para os mais jovens (como histórias em
quadrinhos) que tentam abordar o assunto e falar de riscos, impactos e
consequências de um consumo frequente de pornografia na rede.
Além disso, como proibir e limitar o acesso à internet nessa
faixa de idade costuma ter resultados muito parciais, a ideia seria estimular
pais e filhos a conversarem sobre o tema. Também um trabalho mais estruturado
nas escolas, que busque relacionar sexualidade, relacionamentos e vida online,
pode ser uma estratégia de ação importante. Só não se pode deixar que, no vácuo de projetos de sexualidade e
prevenção, as imagens e os conteúdos pornográficos encontrados na internet
sejam a única fonte de informação para o jovem.
Fonte: O Estado de S.
Paulo – Metrópole – Domingo, 12 de abril de 2015 – Pg. A19 – Internet:
clique aqui.
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