4º Domingo da Páscoa – Ano B – Homilia

Evangelho: João 10,11-18

Naquele tempo, disse Jesus:
11 “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas.
12 O mercenário, que não é pastor e não é dono das ovelhas, vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e dispersa. Pois ele é apenas um mercenário e não se importa com as ovelhas.
14 Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem,
15 assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas ovelhas.
16 Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor.
17 É por isso que o Pai me ama, porque dou a minha vida, para depois recebê-la novamente.
18 Ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo; tenho poder de entregá-la e tenho poder de recebê-la novamente; esta é a ordem que recebi do meu Pai”.

JOSÉ ANTONIO PAGOLA
APROXIMAR-NOS E CONHECER-NOS

Quando começaram os conflitos e desentendimentos entre grupos e diferentes líderes entre os primeiros cristãos, alguém sentiu a necessidade de recordar que, na comunidade de Jesus, somente ele é o Pastor bom. Não um pastor a mais, mas o autêntico, o verdadeiro, o modelo a ser seguido por todos.

Esta bela imagem de Jesus, Bom Pastor, é um chamado à conversão, dirigido àqueles que podem reivindicar o título de “pastores” na comunidade cristã. O pastor que se parece com Jesus:

·        somente pensa em suas ovelhas,
·        não “foge” diante dos problemas,
·        não “abandona” suas ovelhas.
·        Pelo contrário, está junto delas,
·        defende-as,
·        desdobra-se por elas,
·        “expõe sua vida” buscando o bem delas.

Ao mesmo tempo, esta imagem é um apelo à comunhão fraterna entre todos. O Bom Pastor “conhece” suas ovelha e as ovelhas o “conhecem”. Somente a partir dessa:

·        proximidade estreita,
·        a partir deste conhecimento mútuo e
·        desta comunhão de coração,
o Bom Pastor compartilha sua vida com as ovelhas. Para esta comunhão e mútuo conhecimento temos de caminhar, também hoje, na Igreja.

Nestes momentos nada fáceis para a fé, necessitamos como nunca unir forças, buscar juntos critérios evangélicos e linhas mestras de atuação para saber em que direção temos de caminhar de maneira criativa para o futuro.

No entanto, não é isso o que está acontecendo. Fazem-se alguns apelos convencionais a se viver em comunhão, porém não estamos dando passos para criar um clima de escuta mútua e diálogo. Ao invés, crescem as desqualificações e desentendimentos entre bispos e teólogos; entre teólogos de diferentes tendências; entre movimentos e comunidades de diverso signo; entre grupos e “blogs” de todo gênero...

Porém, talvez o mais triste seja ver como continua crescendo o distanciamento entre a hierarquia e o povo cristão. Pode-se dizer que vivem dois mundos diferentes. Em muitos lugares, os “pastores” e as “ovelhas” não mais se conhecem. A muitos bispos não resulta fácil sintonizarem-se com as necessidades reais dos fiéis, para oferecer-lhes a orientação e o ânimo que necessitam. A muitos fiéis lhes parece difícil sentir afeto e interesse para com uns pastores aos quais veem distantes de seus problemas.

Somente crentes, repletos do Espírito do Bom Pastor, podem ajudar-nos a criar o clima de aproximação, mútua escuta, respeito recíproco e diálogo humilde que tanto necessitamos.
CRER NO DEUS DA VIDA

Nestes tempos de profunda crise religiosa não basta crer em qualquer Deus; necessitamos discernir qual é o verdadeiro. Não é suficiente afirmar que Jesus é Deus; é decisivo saber que Deus se encarna e se revela em Jesus. Parece-me muito importante reivindicar hoje, dentro da Igreja e na sociedade contemporânea, o autêntico Deus de Jesus, se confundi-lo com qualquer “deus” elaborado por nós a partir de medos, ambições e fantasmas que têm pouco a ver com a experiência de Deus que viveu e comunicou Jesus. Não chegou a hora de promover essa tarefa apaixonante de “aprender”, a partir de Jesus:

·        quem é Deus,
·        como é,
·        como nos sente,
·        como nos busca,
·        que deseja para os humanos?

Que alegria se despertaria em muitos se pudessem intuir em Jesus as características do verdadeiro Deus. Como se ascenderia sua fé se captassem com olhos novos o rosto de Deus encarnado em Jesus. Se Deus existe, ele se parece com Jesus. Sua maneira de ser, suas palavras, seus gestos e reações são detalhes da revelação de Deus. Em mais de uma ocasião, ao estudar como era Jesus, surpreendi-me a mim mesmo com este pensamento:

·        assim se preocupa Deus com as pessoas,
·        assim olha para os que sofrem,
·        assim busca os perdidos,
·        assim abençoa os pequenos,
·        assim acolhe,
·        assim compreende,
·        assim perdoa,
·        assim ama.

Parece-me difícil imaginar outro caminho mais seguro para aproximar-nos desse mistério que chamamos Deus. Gravou-se muito dentro de mim como Jesus vive esse mistério. É fácil ver que, para ele, Deus não é um conceito, mas uma presença amiga e próxima que faz viver e amar a vida de maneira diferente. Jesus vive-o como o melhor amigo do ser humano: o “Amigo da vida”. Não é alguém estranho que, a partir de longe, controla o mundo e pressiona nossas pobres vidas; é o Amigo que, a partir de dentro, compartilha nossa experiência e se converte na luz mais clara e na força mais segura para enfrentarmos a dureza da vida e o mistério da morte.

O que mais interessa a Deus não é a religião, mas um mundo mais humano e amável. O que busca é uma vida mais digna, sadia e feliz para todos, começando pelos últimos. Jesus disso isso de diversas maneiras: uma religião que vai contra a vida, ou é falsa, ou foi entendida de maneira errônea. Aquilo que torna Deus feliz é ver-nos felizes, desde agora e para sempre. Esta é a Boa Notícia que nos é revelada em Jesus Cristo: Deus se nos dá a si mesmo como é, ou seja, Amor.

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: MUSICALITURGICA.COM – Homilías de José A. Pagola – Segunda-feira, 20 de abril de 2015 – 12h04 – Internet: clique aqui.

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