CUT: SINDICALISMO "CHAPA BRANCA"

Central está virando aquilo que criticava quando surgiu

Rudá Ricci
Cientista Político e Diretor do Instituto Cultiva

Militantes da CUT em campanha pela reeleição de Dilma Rousseff
Os movimentos no interior da estrutura sindical ocorrem de forma lenta e são difíceis de serem observados. Não são tão rápidos, por exemplo, quanto nos partidos. A estrutura sindical está próxima da estrutura da Igreja Católica, onde você sabe que tem algo acontecendo, sabe do surgimento e crescimento de forças políticas, mas não consegue mensurar de imediato.

Desde o final do governo Lula e o início do governo Dilma, porém, tem sido possível observar o surgimento de uma oposição sindical aguerrida no interior da Central Única dos Trabalhadores [CUT]. Ela é visível, sobretudo, na base dos servidores públicos, entre professores, auditores fiscais e outros. O que ocorreu no Rio Grande do Sul, com a decisão do sindicato dos professores de se desligar da CUT, deve-se à ação dessa oposição, presente em vários lugares do País. As comportas estão abertas e vem aí uma avalanche.

Dias atrás, ao falar sobre reforma política a sindicalistas do setor de telecomunicações, setor importante da base da CUT, mencionei essa questão. O tempo fechou na hora. Muita gente quis intervir no debate. Os líderes sabem que devem parar de ter uma postura governista e começar a defender a base, antes que percam os sindicatos.

O grande problema da CUT é que vem adquirindo cada vez mais um perfil de sindicalismo governista - muito próximo do peronismo. Nesse contexto, tudo começa a funcionar por meio de acordos políticos. O sindicalismo aguerrido cutista é substituído pelo sindicalismo populista da antiga CGT. A CUT vai se transformando aos poucos naquilo que ela criticava quando surgiu, atacando o PCB [Partido Comunista Brasileiro] e a Unidade Sindical.

Rudá Ricci - sociólogo
A central não perde totalmente a base porque tem acesso a deputados, conta com a estrutura corporativa que se insere no Estado e que traz vantagens, como cargos em estatais, assentos no controle dos fundos de pensão, acesso direto a recursos do Sine e daí por diante. No outro lado, no entanto, a oposição, com menor acesso a esses recursos, vai se tornando mais radicalizada.

Algumas novas lideranças da CUT já perceberam o risco. Citaria como exemplo a coordenadora do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais, Beatriz Cerqueira, conhecida como Bia. Depois de liderar uma greve de quase 150 dias, que feriu gravemente o governo de Antonio Anastasia, do PSDB, ela rompeu há pouco com o governador Fernando Pimentel, do PT. Ela fez isso porque o governador, ao nomear pessoas para cargos regionais de ensino, deu preferência às indicações feitas pelo PMDB, em decorrência de acordos políticos. Ele atropelou os nomes apontados pelas plenárias dos professores. Bia percebeu que a saída para a CUT é radicalizar e defender a base. Acredita que o que os “capas pretas” estão fazendo é suicídio.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Política / Análise – Segunda-feira, 6 de abril de 2015 – Pg. A4 – Internet: clique aqui.

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