PETROBRÁS: PREJUÍZO VERGONHOSO!
Petrobrás perde R$ 6,2 bilhões com corrupção e registra
o 1º prejuízo anual desde 1991
Com meses de atraso,
estatal publicou ontem o balanço do ano passado,
que trouxe o primeiro
prejuízo anual desde 1991,
com forte influência
da Operação Lava Jato; revisão no valor dos ativos da companhia levou a uma
baixa contábil de R$ 44,6 bilhões
A Petrobrás reconheceu em seu balanço financeiro de 2014, divulgado nesta quarta-feira, 22, após
cinco meses de atraso, a perda de R$
6,194 bilhões por causa de gastos relacionados à corrupção, feitos de 2004
a 2012, e identificados nas investigações da Operação Lava Jato, da Polícia
Federal. Outros R$ 44,636 bilhões foram
registrados como perdas após revisão no valor de ativos. Com isso, registrou prejuízo de R$ 21,587 bilhões em
2014, o primeiro resultado negativo anual desde 1991.
No terceiro e quarto trimestres, respectivamente, a estatal
registrou prejuízo de R$ 5,3 bilhões e de R$ 26,6 bilhões.
O desconto no balanço, chamado de “baixa contábil”, tem
impacto no lucro e também no patrimônio da empresa. Baixas são necessárias
tanto por causa de custos indevidos relacionados à corrupção quanto pelo reconhecimento, por parte da empresa, de
que não terá como recuperar o valor de um investimento já em curso - por
conta de mudanças no ambiente de mercado, como cotações de matérias-primas,
câmbio, custos de construção e mão de obra locais, entre outros.
Em 2014, a produção de petróleo e gás natural da Petrobrás
cresceu 6% em relação ao ano anterior e os reajustes nos preços da gasolina e
do diesel aumentaram as receitas (R$ 337,260 bilhões), mas as perdas contábeis falaram mais alto. O
último prejuízo anual da estatal, em 1991, foi de R$ 91 mil, em valores da
época, ou R$ 1,2 bilhão, em valores de hoje atualizados pelo IPCA.
O valor total das baixas era o dado mais aguardado pelo
mercado. Por causa de controvérsias sobre como contabilizar essas perdas,
sobretudo as com corrupção, a consultoria PricewaterhouseCoopers
(PwC) recusou-se a auditar o balanço do terceiro trimestre de 2014, em
novembro, ampliando as dificuldades da Petrobrás perante o mercado.
“O pior já passou, isso já está claro”, disse o analista
independente Pedro Galdi. Segundo
ele, apesar dos números “feios”, a
mensagem de que a empresa tenta arrumar a casa é importante não só para
investidores, mas também para a cadeira de fornecedores e a economia como um
todo. O presidente da Petrobrás, Aldemir
Bendine, procurou passar essa mensagem em entrevista coletiva. “A Petrobrás não vai parar. Não vai entrar em
marcha à ré”, afirmou.
Segundo o executivo, espera-se que, em maio, a empresa
comece a receber o dinheiro desviado com corrupção. O dinheiro será o que foi
resgatado em contas no exterior. Bendine disse que entrou em acordo com a
Justiça para que o dinheiro resgatado retorne ao caixa da empresa. O custo da
corrupção foi definido em R$ 6,194 bilhões, mas os efeitos da Lava Jato batem também na baixa de R$ 44,636 bilhões,
relacionados com a reavaliação de ativos.
Desse total, R$ 30,976 bilhões são devidos à revisão do
valor dos investimentos recentes em refinarias, com destaque para o Complexo
Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e Rnest (Abreu e Lima, em Pernambuco),
diretamente envolvidas no esquema operado pelo ex-diretor de Abastecimento da
Petrobrás Paulo Roberto Costa, em
prisão domiciliar após firmar acordo de delação premiada.
Por isso, embora a perda total de R$ 44,6 bilhões tenha mais
a ver com condições de mercado do que com a corrupção, há também efeitos indiretos da Lava Jato. Segundo documento
divulgado junto do balanço, as revisões da Rnest e do Comperj levam em conta “a
postergação desses projetos por extenso período, motivada por medidas de
preservação do caixa e problemas na cadeia de fornecedores oriundos das
investigações da Operação Lava Jato”.
As denúncias de corrupção reveladas na Operação Lava Jato
agravaram uma situação que já era ruim. Com
problemas de caixa desde 2011, sobretudo por causa da pressão do governo para
que o preço dos combustíveis não fosse reajustado para evitar inflação, e
diante da necessidade de investir pesadamente, principalmente no pré-sal, a Petrobrás teve que aumentar sua dívida. A dívida bruta encerrou
2014 em R$ 351 bilhões, dando a estatal brasileira o posto de petroleira mais endividada do mundo.
Segundo o economista Thiago
Biscuola, da RC Consultores, a estatal deverá enfrentar mais dificuldades e
um custo maior para se financiar, mesmo com a divulgação do balanço. “Como reduziu o valor da Petrobrás, aumenta a
percepção de risco em relação à empresa”, disse Biscuola, que antevê uma revisão dos planos de
investimentos da Petrobras até pelo menos 2020. “Não vai sobrar alternativa
para a empresa. Investimentos serão adiados ou deixarão de ser viáveis”.
Fonte: O Estado de S.
Paulo – Economia & Negócios – Quinta-feira, 23 de abril de 2015 – Pg.
B1 – Internet: clique aqui.
Dívida da Petrobrás cresce e bate recorde
Antonio Pita,
Fernanda Nunes, Mariana Durão, Mariana Sallowicz
Endividamento total da
estatal aumentou 31% em 2014, totalizando R$ 351 bilhões,
um recorde no setor de
petróleo mundial
O endividamento total
da Petrobrás aumentou 31% em 2014 e atingiu R$ 351 bilhões, um recorde no
setor de petróleo mundial. O presidente da companhia, Aldemir Bendine, reconheceu
que a delicada situação da estatal é o “desafio central” para a retomada do
crescimento. Outro indicador que aponta a capacidade da empresa de pagar suas
dívidas, a alavancagem subiu 36% na comparação com 2013, expondo a urgência da
estatal em conseguir novos recursos.
A alavancagem é
medida pela relação entre o total de endividamento líquido e a sua capacidade
de geração de caixa (Ebtida) para pagar o que deve. Nesse indicador, a estatal ultrapassou a marca de 4,7 vezes. Um
nível considerado adequado pela própria estatal, por meio de seu conselho de
administração, seria de 2,5 vezes. Para efeito de comparação, a Exxon, maior petroleira do mundo,
registrou alavancagem de 0,48 em 2014.
“A companhia passou por um período de dificuldade onde foi a
mais prejudicada. Hoje, a gestão de dívidas é um dos desafios centrais da
Petrobrás. Passada a limpo, retomará a capacidade enorme de geração de valor
para os acionistas e toda a sociedade brasileira”, afirmou Bendine. Segundo a
estatal, a alta no endividamento se deve a uma depreciação cambial de 13,4%.
A viabilidade do pagamento das dívidas da companhia está
ligada ao prazo contratado. De acordo com o balanço, nos próximos três anos, a companhia deverá amortizar cerca de R$ 45
bilhões por ano. Nos anos seguintes, o nível se elevará até atingir o
volume de R$ 208 bilhões em 2020.
Esses prazos estão relacionados à expectativa da companhia
de aumentar sua produção. De acordo com o último Plano de Negócios, de 2014, a
estatal prevê dobrar a produção atual, de 2,6 milhões de barris por dia para 4
milhões de barris. Ontem, a diretoria informou que está revisando o Plano de
Negócios, para parâmetros mais realistas, de acordo com o atual cenário
mundial.
Piora
A situação da
Petrobrás começou a se deteriorar a partir de 2010, quando adotou uma política
de preços de combustíveis ajustadas à política macroeconômica do governo.
Por três anos, a companhia represou reajustes de preços e sacrificou seu caixa
para evitar uma alta da inflação. A
estatal estima que as perdas chegaram a R$ 80 bilhões no período.
Segundo os dados divulgados ontem, o endividamento líquido
da companhia ficou em R$ 282 bilhões, descontadas as disponibilidades de caixa
e financiamentos contratados no último ano. Mesmo com esses descontos, a
Petrobrás ampliou em 27% seu endividamento.
A alavancagem é um dos itens fundamentais na análise da
segurança financeira da companhia para as agências de classificação de risco,
por exemplo. A Moody’s atribuiu à
fragilidade do indicador o motivo de retirar da empresa, em fevereiro, a nota
de grau de investimento. Essa nota indica aos investidores que a empresa
representa um risco muito baixo. As outras duas agências globais, a Standard & Poor’s (S&P) e a Fitch sinalizaram que poderiam também
rebaixar a Petrobrás.
Diante do grande desafio, Bendine informou que vai detalhar
as estratégias para reduzir o endividamento no Plano de Negócios e Gestão para os próximos cinco anos, em um prazo
estimado de 30 dias. Segundo ele, será preciso “controlar a ansiedade para
entender a companhia daqui para frente”.
“A melhora do endividamento se dará com a melhor geração de
caixa, com a nossa financiabilidade. Já demonstramos que temos credibilidade
com os organismos financeiros, como os recentes financiamentos obtidos. E se
houver demanda com nosso plano de desinvestimentos”, afirmou.
Fonte: O Estado de S.
Paulo – Economia – Quinta-feira, 23 de abril de 2015 – Pg. B3 – Internet:
clique aqui.
A N Á L I S E
Tombo põe em xeque política para o setor de petróleo
Irany Tereza
O ano de 2014 entrou para a história da Petrobrás com uma
carga negativa que impressiona. Difícil
imaginar uma dívida de R$ 351 bilhões, que corresponde a quase cinco vezes a
capacidade da companhia de fazer dinheiro, e não pensar no longo tempo que
a empresa consumirá no processo de recuperação. Não foi à toa que, antes das
más notícias de ontem, a petroleira correu para divulgar, na última
sexta-feira, a obtenção de créditos pré-aprovados com bancos públicos e Bradesco,
de R$ 9,5 bilhões.
Está claro que, para
voltar a crescer, a Petrobrás terá de encolher ainda mais. O mote da
mudança de rumo ficou evidente:
·
menos
investimento,
·
mais
parcerias e
·
venda de
ativos.
O patrimônio, que encolheu drasticamente - tanto pela recalibragem
de seu valor quanto pela faxina que tentou expurgar valores inflados pela
corrupção - vai minguar mais um pouco. Depois
de 24 anos de lucro e farta distribuição de dividendos - tendo o Tesouro
como o maior beneficiário -, a Petrobrás
registrou um inacreditável prejuízo de R$ 21,6 bilhões.
Tudo isso deixa no ar algumas interrogações. Os planos do governo para a exploração do
pré-sal serão mantidos tendo a Petrobrás como operadora única de toda a região,
responsável por 30% dos investimentos? E o nível de participação da
indústria nacional, o "conteúdo local", uma das grandes bandeiras do
PT, terá condições de ser mantido em porcentuais em torno de 65%?
Há algum tempo circulam informações de que a política
energética terá de sofrer fortes alterações. A revisão vai começar pela empresa, que trará para patamares mais
realistas os investimentos no pré-sal. O passo seguinte pode ser uma
reforma mais profunda, incluindo o marco regulatório do setor.
Fonte: O Estado de S.
Paulo – Economia – Quinta-feira, 23 de abril de 2015 – Pg. B4 – Internet:
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