3º Domingo da Páscoa – Ano B – Homilia

Evangelho: Lucas 24,35-48

Naquele tempo:
35 Os dois discípulos contaram o que tinha acontecido no caminho, e como tinham reconhecido Jesus ao partir o pão.
36 Ainda estavam falando, quando o próprio Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: “A paz esteja convosco!”
37 Eles ficaram assustados e cheios de medo, pensando que estavam vendo um fantasma.
38 Mas Jesus disse: “Por que estais preocupados, e porque tendes dúvidas no coração?
39 Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede! Um fantasma não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho”.
40 E dizendo isso, Jesus mostrou-lhes as mãos e os pés.
41 Mas eles ainda não podiam acreditar, porque estavam muito alegres e surpresos. Então Jesus disse: “Tendes aqui alguma coisa para comer?”
42 Deram-lhe um pedaço de peixe assado.
43 Ele o tomou e comeu diante deles.
44 Depois disse-lhes: “São estas as coisas que vos falei quando ainda estava convosco: era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”.
45 Então Jesus abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras,
46 e lhes disse: “Assim está escrito: O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia
47 e no seu nome, serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém.
48 Vós sereis testemunhas de tudo isso”.

JOSÉ ANTONIO PAGOLA
"A incredulidade de São Tomé"
Pintura de Rembrandt van Rijn - Museu Pushkin - Moscou
CRER POR EXPERIÊNCIA PRÓPRIA

Não é fácil crer em Jesus ressuscitado. Em última instância, é algo que somente pode ser captado e compreendido a partir da fé que o próprio Jesus desperta em nós. Se nunca experimentamos “por dentro” a paz e a alegria que Jesus infunde, é difícil que encontremos “por fora” provas de sua ressurreição.

Algo disto nos diz Lucas ao descrever-nos o encontro de Jesus ressuscitado com o grupo de discípulos. Entre eles há de tudo. Dois discípulos estavam contando como o haviam reconhecido ao cear com ele em Emaús. Pedro diz que ele lhe havia aparecido. A maioria não havia tido ainda alguma experiência. Não sabem o que pensar.

Então, «Jesus se apresenta em meio a eles e lhes diz: “A Paz esteja convosco!”». A primeira coisa para despertar nossa fé em Jesus ressuscitado é poder intuir, também hoje, a sua presença no meio de nós, e fazer circular em nossos grupos, comunidades e paróquias a paz, a alegria e a segurança que dá saber que ele está vivo, acompanhando-nos de perto nestes tempos nada fáceis para a fé.

O relato de Lucas é muito realista. A presença de Jesus não transforma de maneira mágica os discípulos:

·        Alguns se assustam e «creem estar vendo um fantasma».
·        No interior de outros «surgem dúvidas» de todo tipo.
·        Há quem «não pode crer por causa da alegria».
·        Outros continuam «surpresos».

Assim acontece também hoje. A fé em Cristo ressuscitado não nasce de maneira automática e segura em nós. Ela vai se despertando em nosso coração de forma frágil e humilde. No começo, é quase somente um desejo. Normalmente, ela cresce cercada por dúvidas interrogações: será possível que seja verdade algo tão grande?

Segundo o relato, Jesus permanece, come entre eles, e se dedica a «abrir-lhes o entendimento» para que possam compreender o que aconteceu. Ele quer que se convertam em «testemunhas», que possam falar a partir de sua experiência, e pregar não de qualquer maneira, mas «em seu nome».

Crer no Ressuscitado não é questão de um dia. É um processo que, às vezes, pode durar anos. O importante é nossa atitude interior. Confiar sempre em Jesus. Dar-lhe mais espaço em cada um de nós e em nossas comunidades cristãs.
"Os discípulos [Pedro e João] correm para o Sepulcro na Manhã da Ressurreição"
Pintura de Eugène Burnand - Museu D'Orsay - Paris (França)
FAZEM FALTA TESTEMUNHAS

Os relatos evangélicos sempre insistem nisso: encontrar-se com o Ressuscitado é uma experiência que não se pode calar. Quem experimentou Jesus cheio de vida, sente necessidade de conta-lo aos outros. Dissemina o aquilo que vive. Não fica mudo. Converte-se em testemunha.

Os discípulos de Emaús «contavam o que tinha acontecido no caminho, e como tinham reconhecido Jesus ao partir o pão». Maria de Magdala deixou de abraçar Jesus e se foi aonde os demais discípulos estavam e lhes disse: «vi o Senhor». Os onze escutam invariavelmente o mesmo chamado: «Vós sereis testemunhas de tudo isso»; «como o Pai me enviou, assim também eu vos envio»; «proclamai a Boa Nova a toda criação».

A força decisiva que o cristianismo possui para comunicar a Boa Nova que se encerra em Jesus são as testemunhas. Esses crentes que podem falar em primeira pessoa. Aqueles que podem dizer: «é isto que me faz viver nestes momentos». Paulo de Tarso o dizia ao seu modo: «já não sou eu que vivo. É Cristo quem vive em mim».

A testemunha comunica sua própria experiência. Não crê «teoricamente» coisas sobre Jesus; crê em Jesus porque o sente cheio de vida. Não somente afirma que a salvação do homem está em Cristo; ele mesmo se sente sustentado, fortalecido e salvo por ele. Em Jesus vive «algo» que é decisivo em sua vida, algo inconfundível que não encontra em outra parte.

Sua união com Jesus ressuscitado não é uma ilusão: é algo real que está transformando, pouco a pouco, sua maneira de ser. Não é uma teoria vaga e etérea: é uma experiência concreta que motiva e impulsiona sua vida. Algo preciso, concreto e vital.

A testemunha comunica o que vive. Fala do que se lhe passou pelo caminho. Diz o que viu quando se lhe abriram os olhos. Oferece sua experiência, não sua sabedoria. Irradia e contagia vida, não doutrina. Não ensina teologia, «faz discípulos» de Jesus.

O mundo de hoje não necessita de mais palavras, teorias e discursos. Necessita vida, esperança, sentido, amor. Fazem falta as testemunhas mais que os defensores da fé. Crentes que não podem ensinar a viver de outra maneira porque eles mesmos estão aprendendo a viver de Jesus.

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: Sopelako San Pedro Apostol Parrokia – Sopelana – Bizkaia (Espanha) – J. A. Pagola – Ciclo B (Homilías) – Internet: clique aqui.

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