«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

É A ECONOMIA, DE NOVO ! ! !

“O que está em disputa é quem vai pagar a conta:
o pobre ou o rico”

Entrevista com Pedro Paulo Zahluth Bastos
Economista – Unicamp

Para economista, solução para crise não é "destruir direitos",
mas tornar tributo mais justo 
Prof. Pedro Paulo Zahluth Bastos - economista da UNICAMP

Não é momento para ajuste fiscal no Brasil, defende o economista Pedro Paulo Zahluth Bastos, professor da Universidade de Campinas (Unicamp) e signatário de manifestos tanto a favor da candidatura à reeleição da presidenta Dilma Rousseff, em novembro do ano passado, quanto contra a guinada do Governo em direção à austeridade, em março. Em meio aos esforços do Governo para acertar as contas e a pressões de todos os lados para mudanças nas garantias sociais da Constituição de 1988, Bastos enxerga a crise como um momento para definir a nação: "vai ser cada um por si e os ricos não terão nenhum tipo de responsabilidade com os mais pobres ou eles serão forçados, por conta das pressões democráticas, a assumir e arcar com as responsabilidade e financiamento da infraestrutura que eles também utilizam?".

Na entrevista abaixo, o autor do ensaio Austeridade para quem? [baixe este estudo, clicando aqui] diz que, no momento, “o que está em disputa é quem vai pagar a conta”.

Pergunta. Qual a parcela de culpa da Constituição de 1988 na atual crise do Brasil?

Resposta. É extremamente injusto eliminar ou reduzir direitos sociais que foram consagrados no momento da democratização, quando se pretendia fundar uma nova República, que tinha por objetivo ampliar a oferta e a qualidade dos serviços públicos, de maneira a construir um Estado de bem-estar social e uma sociedade mais civilizada no Brasil. Dizer que esse projeto não cabe no tamanho da economia brasileira não é verdade, pois esse projeto surgiu nos países desenvolvidos num momento em que eles tinham uma renda muito semelhante àquela que o Brasil tem hoje, na década de 1950. O que não cabe na economia brasileira é a estrutura tributária do país.

P. Se a Constituição não faz parte do problema, por que tantos economistas apontam necessidade de mudanças?

R. A Constituição sempre recebeu um conjunto de críticas, sobretudo de empresários e de representantes políticos de empresários. Ela consagra um conjunto de direitos sociais e protege aposentadorias e pensões, assim como direitos trabalhistas. O argumento dos empresários é que isso é muito custoso, tanto a mão-de-obra quanto os custos de contratação. Na verdade, temos no país uma estrutura tributária extremamente regressiva. Um estudo recente da Receita Federal avalia o pagamento dos impostos por faixa de renda à luz do que o [economista francês] Thomas Piketty tinha solicitado quando estava preparando o livro [O Capital no século XXI]. E esses dados mostram que os mais ricos pagam proporcionalmente muito menos impostos que os mais pobres. Além disso, entre 14.000 e 147.000 famílias controlam o grosso da dívida pública brasileira, o que implica uma transferência de 8% do PIB para essas famílias. Os argumentos relativos à Constituição são de cunho distributivo e envolvem a tentativa de baratear os custos do trabalho e dos impostos de maneira a aumentar a renda disponível daqueles que já são mais ricos. Sendo que a maior parte deles recebe mais do Estado na forma de pagamento de juros do que pagam na forma de impostos.

P. Basta alterar a dinâmica tributária para essa estrutura prevista na Constituição funcionar?

R. Isso depende do crescimento econômico também. Em 2012, quando a economia ainda estava crescendo em torno de 3%, muitos economistas diziam que o Brasil tinha um superávit fiscal estrutural. E desde 2004 o Governo brasileiro reduz impostos, com um conjunto de renúncias tributárias e de alíquotas. O volume de impostos aumenta por causa do crescimento econômico — a carga tributária brasileira é muito elástica ao ciclo econômico, por ser concentrada em impostos indiretos [embutidos em produtos, como televisor ou geladeira]. O problema fiscal ocorre no Brasil em momentos de desaceleração cíclica. Num momento como este, o ideal seria usar a crise não para destruir os direitos sociais, mas usá-la para mudar a estrutura tributária para torná-la mais progressiva e justa.

P. É possível fazer isso no atual momento político do país?

R. Se não for possível, que pelo menos se elimine o conjunto de renúncias fiscais que foram ampliadas nos últimos 12 anos, até a economia crescer. A aposentadoria para o servidor público já foi operada de acordo com a totalidade do salário. Como os servidores públicos recebiam menos que os privados para uma mesma qualificação, o Governo, numa tentativa de atrair pessoas mais qualificadas, compensava com a garantia de uma aposentadoria [no valor] perto do último salário. Mas isso já acabou. Houve uma reforma em 2003 e a regulamentação em 2012. Agora as pessoas querem aumentar a aposentadoria para 75 anos, mas o conjunto dos mais pobres no Brasil não vive 75 anos. Se são eles que pagam a maior parte da proporção de sua renda com impostos, ainda por cima vão perder o direito da aposentadoria? Se tem um problema fiscal, vamos resolver com justiça, eliminando injustiças que são claras. Não estou falando em forçar os ricos a pagarem mais do que já pagam — ou não pagam, porque pagam muito pouco, considerando o recebimento de juros da dívida pública. É criar uma estrutura tributária progressiva.

P. De forma prática, quais seriam as alternativas para tornar o sistema tributário mais justo?

R. Por exemplo: uma alíquota de imposto de renda maior para faixas acima, digamos, de 5.000 reais ou 10.000 reais. Só que isso não vai ajudar muita coisa se não for regulamentado o imposto sobre pessoa jurídica, porque ele permite que o sujeito crie uma empresa e não pague imposto, que pague ISS [Imposto Sobre Serviços], muito pouco. O fundamental seria reinstituir a cobrança de pagamentos de lucros e dividendos para os impostos distribuídos nas empresas para seus acionistas. Outras medidas que são comuns nos países desenvolvidos: uma alíquota maior para a herança, para não carregar de uma geração para a outra, excessivamente, as diferenças econômicas constituídas nas gerações anteriores, de maneira a não criar castas. Outra coisa que nunca foi realizada no Brasil: impostos mais progressivos para o patrimônio rural em larga escala, porque latifundiário não paga imposto no Brasil. O mesmo vale para o grande patrimônio urbano ou grandes fortunas. Inclusive, é projeto do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Há um conjunto de alterações na estrutura tributária que implicam simplesmente em torná-la justa.

P. Não há nada que demande atualização na Constituição?

R. É possível mudar a Constituição no sentido de torná-la mais justa, não mais injusta. O argumento conservador diz que uma estrutura mais desigual é mais eficiente. Mas isso não é verdade. Em todos os países onde um conjunto de reformas tornou a estrutura tributária e o gasto público mais desigual a partir da década de 1980 coincidiu com uma redução do crescimento econômico e com grande ampliação de fortunas entesouradas [acumuladas], mas não necessariamente investidas. Porque os mais pobres e o Estado costumam gastar tudo que recebem. Então, o fluxo de renda que vai para eles acaba reestimulando a economia, num fluxo circular, e se multiplica por outros gastos. Se o grosso dessa riqueza vai para os ricos, que já satisfizeram suas necessidades essenciais há muito tempo, uma parte importante vai para o entesouramento, e isso tende a implicar um aumento da poupança financeira, sem o investimento. As economias passam a crescer menos. Sempre que os Estados têm problema de realização de gastos porque os ricos não pagam tanto quanto podem ou acumulam muitos recursos, normalmente há baixo crescimento. Porque o Estado é subfinanciado. A estrutura tributária estimula a desigualdade, e isso não gera mais crescimento.

P. Você é crítico da aposta do Governo Dilma na austeridade, personalizada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Mas a mudança de rumo do Governo Dilma no segundo mandato teria ocorrido para corrigir erros do primeiro mandato. Dilma não errou nos primeiros quatro anos?

R. O Governo Dilma errou ao reduzir a parcela do investimento público no PIB. Fez isso para aumentar os subsídios ao setor privado, considerando que era necessário apoiar esse setor num momento de grande aumento da concorrência internacional e deterioração da competitividade, particularmente da indústria. [Tomou a decisão] Considerando que, ao realizar essa transferência de subsídios, as empresas iam investir mais. Então o Governo trocou gasto direto na veia da economia por expectativa de gasto privado apoiado por subsídios públicos. Acontece que só isso não foi suficiente para levar os empresários a investir, por causa do ciclo econômico. Essa mudança de mix entre investimento público e subsídio para o setor privado foi o grande erro do Governo Dilma.

P. Isso foi o bastante para que o Governo chegasse ao ponto de apresentar ao Congresso Nacional uma proposta de orçamento deficitária?

R. Há outros erros: uma excessiva preocupação, que coloco na conta das boas intenções da presidenta, em reduzir o custo das concessões públicas para a população, reduzindo a taxa de retorno das concessionárias privadas, principalmente em portos, saneamento e ferrovias. Muitos dos leilões foram atrasados por causa da boa intenção da presidenta. Me parece que o Governo não teve tanta agilidade e isso atrasou a realização de alguns investimentos no momento propício. E o Governo poderia ter investido ele mesmo. Com a taxa de juros relativamente baixa que tínhamos, o custo do investimento público não seria tão elevado. Mas o Governo fez essa opção de substituir o investimento público pelas concessões privadas. E a maneira como isso foi realizado não foi ideal.

P. Quais dos componentes da crise econômica não podem ser atribuídos ao Governo Dilma?

R. O problema principal foi o excesso de apreciação cambial permitido pelo [então presidente do Banco Central Henrique] Meirelles durante o Governo Lula. Quando houve a crise de 2008, o real caiu para 2,50 [dólares]. E o Meirelles permitiu a apreciação, para 1,60. Por isso, temos uma avalanche de importações no momento da crise internacional, o que inviabiliza o investimento local. Isso não é culpa da Dilma, mas do Meirelles. O Governo Dilma tentou desvalorizar o câmbio, para resolver esse problema. Mas isso traz vários outros problemas, como o inflacionário. Neste momento, esse processo de ajuste da taxa de câmbio está concluído, mas olha o tamanho do problema para o qual ele contribuiu: aumento da inflação e incerteza dos agentes privados. Não se podia ter tanta volatilidade.

P. E o ajuste do Governo, está sendo bem feito?

R. O ajuste tinha de envolver justiça social. Não dá para mandar os mais pobres pagarem. A CPMF, apesar de ser um imposto regressivo, é boa para avaliar a sonegação fiscal — por isso, apesar de ter um custo baixo [a alíquota proposta é de 0,2%], os empresários e políticos não querem. Mas não é o melhor momento para fazer ajuste. Com forte desaceleração cíclica, se o Governo tenta poupar, ele já não consegue. Os agentes econômicos também estão poupando. Se o Governo diz que vai ocorrer um ajuste forte, o medo dos agentes de gastar aumenta. Isso gera um ciclo vicioso.
Joaquim Levy - Ministro da Fazenda
"O dinheiro não acabou. O ajuste que foi feito está levando ao aumento da dívida pública.
Eles jogaram a economia num escorregador liso."

P. Mas o ministro Joaquim Levy disse que o dinheiro acabou.

R. O dinheiro não acabou. O ajuste que foi feito está levando ao aumento da dívida pública. Eles jogaram a economia num escorregador liso. As receitas estão caindo muito, então o ajuste é contraproducente. Como não tem dinheiro se o Governo está aumentando a dívida? O gasto público e o Estado não podem ser encarados como uma casa, como um orçamento doméstico, em que a redução do gasto público necessariamente vai gerar um aumento da poupança pública. Isso depende da conjuntura. Se a tentativa de o Governo poupar levar o setor privado a tentar poupar ainda mais, o Governo vai arrecadar menos, porque ele tem impacto sobre o ciclo. O ajuste fiscal geralmente é feito em momento de expansão.

P. Mas optar por seguir gastando da mesma forma não implicaria em déficit?

R. Num momento de desaceleração, o Governo tem de ter déficit, senão a desaceleração vira crise. Claro que se cria um espaço para aumentar o endividamento tendo reduzido a dívida antes. A dívida líquida caiu muito ao longo dos 12 anos [do Governo PT], 30 pontos percentuais do PIB. Então havia condições de aumentar a dívida líquida. Não tem de ter sempre superávit, pode variar, desde que se pense num superávit estrutural, que compense as flutuações cíclicas. Essa é a diferença entre os economistas pós e antes de [o economista John Maynard] Keynes. Ele mostrou que a grande depressão, na década de 1930, resultou do fato que os Estados tentavam executar o orçamento público como se fosse um orçamento doméstico. Isso provocou um forte aguçamento da recessão mundial. É algo que sempre havia ocorrido, mas, graças à integração financeira internacional, ocorreu simultaneamente pela primeira vez. Daí surgiu a ideia da política anticíclica.

P. Ainda é possível mudar o rumo adotado pelo Governo Dilma?

R. Não é impossível. O problema é que a decisão de ter começado foi errada. O estrago feito pelo ajuste fiscal já é muito grande. A economia no ano passado ficou estagnada, mas cresceu 0,1%. Neste ano, a gente vai decrescer perto de 3%. Tirar a economia desse fundo do poço é muito mais difícil. A opção conservadora é não fazer nada. Continuar cortando gasto, a receita continua caindo e mandamos os mais pobres pagarem. É o cenário contra o qual quero lutar. O que está em disputa é quem vai pagar a conta: o pobre ou o rico. Mas também pode acontecer o cenário alternativo que o Bresser-Pereira vem dizendo: daqui a seis meses, como a taxa de câmbio ficou muito favorável para a exportação, a economia vai voltar a crescer puxada pela substituição de importações e pela expansão das exportações, num “milagre exportador”, algo que não depende do gasto público. O que vai acontecer depende da capacidade de fazer um acordo que não jogue todo o custo do ajuste nos pobres e da possibilidade de a gente sair da crise com expansão de exportação.

Fonte: El País – Brasil – 19 de outubro de 2015 – 13h41 – Internet: clique aqui.

Chega de fracassos

Amir Khair*

Essa equipe econômica, independentemente da herança maléfica que recebeu com as pedaladas, não aprendeu e as repete em dose maior.
Há que parar com esta gastança com juros: a cada dia corrido são gastos R$ 1,5 bilhão (!). Em 21 dias se gasta o que o governo quer arrecadar com a CPMF!
DILMA ROUSSEFF - Presidente da República
Dívida pública federal, que inclui os endividamentos interno e externo do governo,
avança em setembro e chega a R$ 2,73 trilhões!

Com o fracasso do ajuste fiscal, o governo aposta suas últimas fichas na recriação da CPMF sob a justificativa de servir à Previdência Social cuja arrecadação em queda está agravando o déficit da previdência rural. Embora pouco divulgado, vale saber que a previdência urbana é superavitária desde 2009, devendo registrar neste ano R$ 15 bilhões de superávit.

1) Questão fiscal – O rombo maior das contas públicas, no entanto, não é da previdência, como propaga o ministro da Fazenda. Este déficit pode alcançar neste ano R$ 75 bilhões (déficit de R$ 90 bilhões na previdência rural e superávit de R$ 15 bilhões na previdência urbana) face a um déficit com juros que aponta para R$ 300 bilhões só no governo federal. É interessante notar como o ministro da Fazenda opera. Vai ao Congresso para afirmar que a nova CPMF é para cobrir o déficit da Previdência Social. No entanto, este déficit é quatro vezes menor (R$ 300 bilhões contra R$ 75 bilhões) do que o déficit de juros. Lamentável a tentativa de mudança do foco do problema principal do rombo fiscal. Se considerar todo o setor público o déficit com juros caminha para R$ 500 bilhões!

Eis a realidade atual. O governo federal acumulou nos oito primeiros meses deste ano um déficit fiscal em valores atuais de R$ 297 bilhões, dos quais R$ 283 bilhões (!) foram de juros e apenas R$ 14 bilhões de déficit primário, ou seja, o déficit de juros foi responsável por 95% (!) do déficit. Nada mais contundente.

Enquanto isto, este ministro tenta convencer o Congresso da necessidade da famigerada CPMF. Não há razão de criar este tributo que só vai aprofundar a recessão. É ilusório seu resultado, pois ao piorar ainda mais a recessão derruba a arrecadação não só do governo federal, mas também de estados e municípios. O troco vem junto. É o enxuga gelo da arrecadação, que está sendo responsável por 90% do déficit primário do governo federal para surpresa da equipe econômica.

Essa equipe, independentemente da herança maléfica que recebeu com as pedaladas, não aprendeu e as repete em dose maior. Este governo, que nem rato diante da cobra, caminha cada vez mais rumo ao impeachment com tantas varadas. Essa equipe é responsável exclusiva pelo déficit fiscal destes primeiros oito meses do governo federal de R$ 297 bilhões, que é mais do dobro (!) do ocorrido em igual período do ano passado, de R$ 140 bilhões.

É sempre cômodo botar a culpa na herança recebida. Faz parte do jogo político. Mas, fica difícil essa desculpa, pois até agora este governo não priorizou o crescimento, que derrubou a arrecadação e, pior, jogou as taxas de juros nas nuvens, o que elevou a relação dívida/PIB de 58,9% no início do ano para 65,3% em agosto e é fácil prever o rompimento do teto de 70% no primeiro semestre de 2016 caso a Selic permaneça em 14,25%.

A última tentativa do ministro da Fazenda de jogar a culpa do problema fiscal no que afirma ser excesso de despesas sociais é sem sentido. Comparando os primeiros oito meses deste ano com igual período do ano passado em valores atuais, tem-se o seguinte:
a) benefícios previdenciários: (+) R$ 2,5 bilhões;
b) benefícios assistenciais: (+) R$ 0,5 bilhão;
c) abono e seguro desemprego: (-) R$ 5,2 bilhões;
d) total de despesas sociais (a+b+c): (-) R$ 2,2 bilhões, ou seja, redução de despesa e;
e) déficit com juros: (+) R$ 140,2 bilhões!

Outra falha lamentável desta equipe econômica é acenar com despesas sociais explosivas no longo prazo ao desconsiderar que estes recursos retornam imediatamente ao ciclo econômico gerando faturamento e lucro nas empresas e massa salarial para consumo. Tudo isso rebate em crescimento de arrecadação no governo federal e nos Estados e municípios.

É obrigatório considerar nas análises os impactos nas receitas e despesas em políticas e programas sociais.

Apresentar só um lado da moeda pode levar a erros e distorcer realidades e perspectivas.
Diante deste quadro, o mercado financeiro, de costas para o País, procura trazer novas avaliações para 2016 para ainda obter sobrevida da elevada Selic que é fonte importante do seu lucro. Acena com o agravamento da inflação na tentativa de prolongar a redução da Selic pelo Banco Central para o final de 2016. É jogada esperta e perigosa, pois a relação dívida bruta/PIB continuará crescendo devido à alta Selic até disparar a perda do grau de investimento do País.

Há que parar com esta gastança com juros: a cada dia corrido são gastos R$ 1,5 bilhão (!). Em 21 dias se gasta o que o governo quer arrecadar com a CPMF!

2) Mudança – Os seguidos fracassos deste governo explicam a recessão em marcha neste ano e perspectivas sombrias para os próximos. Sem mudar esta política econômica as perspectivas sombrias se autorrealizarão. Há que tomar cuidado, no entanto, pois esse horizonte sombrio inibe a discussão sobre mudanças na política econômica. Algumas tentativas são prontamente abafadas pela visão derrotista. Nada se pode fazer. Não compartilho desta visão.

Voltar a crescer é o desafio. Sem ele nada funciona. Caem o faturamento e lucro das empresas, aumenta o desemprego, cai a arrecadação e aumenta a demanda social por educação e saúde. É um sanduíche fiscal com elevação da tensão social. Conhecemos bem isso.

Mas para crescer é necessário retirar as barreiras ao consumo e investimento e não opor um ao outro. São várias as barreiras. As duas mais importantes são a Selic e as taxas de juros ao tomador.

1ª barreira ao crescimento: taxa Selic do Banco Central

A Selic atua como barreira ao artificializar o câmbio deslocando para o exterior parte do consumo das famílias, reduzindo o poder competitivo das empresas. Influi, também, na elevação das taxas de juros para o capital de giro das empresas e desestimula seus investimentos. Assim, reduz a oferta na economia, o que causa inflação. Nas finanças públicas é o principal causador da volumosa despesa com juros.

Reduzir a Selic é condição necessária para retomar o crescimento e pôr as finanças em ordem. Para isso basta seguir o que fizeram os países que obtiveram sucesso para superar a crise de 2008:
a) reduziram sua taxa básica de juros para o nível da inflação e;
b) substituíram a emissão de título por moeda.
O governo [brasileiro] fez o oposto: elevou a Selic e emitiu título em escala exponencial causando elevação na relação dívida/PIB.

2ª barreira ao crescimento: taxas de juros ao tomador

A outra barreira são as taxas de juros ao tomador. Encarecem o crédito, mais do que dobrando os preços da economia, e esgotam o capital de giro das empresas. Segundo a Associação Nacional dos Executivos em Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), em setembro, no caso do crédito para 12 meses ao consumo, estavam em 131% (!), a maior desde junho de 2009. As duas modalidades muito usadas, o cheque especial e o cartão de crédito, estavam respectivamente em 222% e 361%. Para as empresas estavam em 62%, a maior desde maio de 2009.

Há que parar com essa anomalia, impondo limites aos ganhos dos bancos via redução da Selic ao nível da inflação e tabelar reduzindo as tarifas bancárias para diminuir duas fontes de lucro anormais, levando-os a competir no mercado de crédito.

Há felizmente políticas econômicas ao alcance que podem ser usadas. As em uso estão vergando a coluna dorsal do País. Chega de fracassos!

* AMIR KHAIR é engenheiro e mestre em finanças públicas pela EAESP/FGV, foi secretário de Finanças da Prefeitura de São Paulo (1989/1992). Atualmente é consultor na área fiscal, orçamentária e tributária.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Economia – Domingo, 25 de outubro de 2015 – Pg. B8 – Internet: clique aqui.

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