«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

POLÊMICA: o que está a nos dizer o caso do Pe. Charamsa

O lado mais obscuro do celibato

Marco Marzano
Sociólogo italiano – Professor na Universidade de Bérgamo
Jornal IL FATTO QUOTIDIANO
06-10-2015

O celibato obrigatório constitui para muitos jovens homossexuais que não querem, mesmo que inconscientemente, aceitar a própria orientação sexual um esplêndido lugar onde a questão da sexualidade é removida, apagada, não vivida.

Os casos da vida. Cerca de 10 dias atrás, eu inaugurei o meu blog no sítio do jornal Il Fatto Quotidiano com um texto sobre o celibato obrigatório dos sacerdotes [clique aqui], extraído de um artigo dominical da minha investigação sobre a Igreja. Naquele artigo, eu argumentava, dentre outras coisas, que o celibato é uma regra cruel muitas vezes não respeitada pelos sacerdotes e que, entre estes, são muitos os homossexuais.

Essas afirmações, embora compartilhadas por muitos leitores, desencadearam em outros um movimento de raiva. Alguns ironizaram sobre as minhas competências acadêmicas, outros imaginaram uma grave desordem sexual minha, outros me desejaram uma punição divina, outros chegaram até a beira da ameaça física.

Não ouso imaginar a reação desses mesmos leitores diante da "saída do armário" do teólogo polonês Mons. Krzysztof Charamsa. Vestido de padre, com direito a colarinho, ele revelou que "são muitos os sacerdotes homossexuais que não têm a força para sair do armário". Exatamente aquilo que eu tinha escrito apenas alguns dias antes.

Imagino que o Pe. Krzysztof, promissor teólogo de 40 anos, até então em serviço junto à Congregação para a Doutrina da Fé e professor em algumas universidades católicas romanas, frequentou os ambientes clericais poloneses e italianos por muito mais tempo e com muito mais profundidade do que muitos dos nossos leitores aos quais o meu artigo provocou uma dor de estômago. Acredito que se deve confiar mais nele do que em muitos deles.

Além disso, a existência do fenômeno está diante dos olhos de todos aqueles que têm um pouco de familiaridade com os ambientes eclesiais, que frequentaram, como eu fiz nestes anos, centenas de paróquias e muitos sacerdotes.

Muitos destes últimos [sacerdotes], de orientação heterossexual, em todos os cantos da península italiana, me revelaram às vezes com tons vagamente homofóbicos a sua profunda preocupação com o crescimento exponencial do número de gays nas fileiras do clero. Foram-me contados muitos episódios e algumas vezes até me foram apresentados ex-namorados "leigos" de alguns padres. Para que eu não tivesse dúvidas.

Os mesmos padres hetero identificam muitas vezes no aumento da tolerância dos bispos – que não se resignam a perder potenciais funcionários e que, portanto, impediriam a expulsão dos homossexuais dos seminários – uma das principais razões do fenômeno. Mas certamente não é a única: o celibato obrigatório constitui para muitos jovens homossexuais que não querem, mesmo que inconscientemente, aceitar a própria orientação sexual um esplêndido lugar onde a questão da sexualidade é removida, apagada, não vivida.

Ao menos por algum tempo. Até quando explode, muitas vezes sob a forma de uma paixão: por um próprio colega de estudos ou por alguém de fora. Criando – por ser vivida como pecaminosa, errada, assustadora – uma maré de danos psicológicos no jovem padre ou seminarista e no ambiente que o circunda. Um ambiente, ao menos nos anos de seminário, rigorosamente masculino. Onde as principais mulheres são as mães, as irmãs e as imagens idealizadas e angelicais das santas e da Nossa Senhora.

Além disso, em virtude de algum interessante enredo psicossocial, esse ambiente produz também aquela "paranoica homofobia" denunciada nessa segunda-feira pelo padre polonês. Vítima e agressor se hospedam nos mesmos quartos: muitos padres homossexuais cultivam uma "paranoica homofobia".

Mas quem sofre as suas flechas é a homossexualidade serena, consciente, alegre, aquela daqueles que vivem as relações afetivas à luz do sol, aqueles que, no máximo, gostariam de se casar, ter uma família e assumir as próprias responsabilidades em relação a um companheiro amado e respeitado.

São esses o objeto da homofobia do ex-Santo Ofício que o Pe. Charamsa denunciou. Que mundo estranho. Não é hora de mudá-lo?

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quarta-feira, 7 de outubro de 2015 – Pg. A3 – Internet: clique aqui.


Padre Krzysztof Charamsa não é um qualquer

Maria Elisabetta Gandolfi
Jornalista da revista italiana IL REGNO

É urgente encarar essa questão que é feita de carne e osso 
Pe. Krzysztof Charamsa - teólogo polonês:
Admitiu ser gay e ter um parceiro amoroso

Antes da pergunta sobre quem tenha organizado o clamoroso coming out [saída (do armário)] do Mons. Krzysztof Charamsa no sábado passado, 3 de outubro, e antes ainda da avaliação sobre o potencial beneficiário da operação mediática publicada pelo Corriere della Sera e que logo se tornará um livro, é necessário observar os fatos.

Quem quer que tenha sido, calculou bem o momento, tanto é verdade que o diretor da Sala de Imprensa do Vaticano, padre Federico Lombardi, declarou que: «não obstante o respeito que merecem as histórias e as situações pessoais e as reflexões sobre elas, a escolha de realizar uma manifestação tão clamorosa às vésperas da abertura do Sínodo apresenta-se muito grave e não responsável, porque visa submeter a assembleia sinodal a uma indevida pressão mediática».

Levemos em conta os fatos; primeiramente aqueles biográficos. Monsenhor Charamsa, polonês, nascido em 1972, após o seminário, estud0u na Faculdade Teológica de Lugano [Suíça] fundada por Mons. Eugenio Corecco, onde obteve o mestrado em teologia dogmática com uma tese sobre o ensinamento da Igreja a respeito da impassibilidade divina; o relator foi Manfred Hauke.

 Em 1997, foi ordenado sacerdote; em 2002 obteve o doutorado na Pontifícia Universidade Gregoriana [Roma]. Relator e correlator da tese em dogmática sobre A imutabilidade de Deus. O Ensinamento de São Tomás nos seus desenvolvimentos nos comentaristas escolásticos foram os jesuítas Karl Becker (cardeal em 2012 e falecido em fevereiro deste ano) e Luis Ladaria (secretário da Congregação para a Doutrina da Fé desde 2008), sendo que não se pode duvidar da ortodoxia deles.

Em 2003 foi nomeado oficial da Congregação para a Doutrina da Fé da qual o cardeal Ratzinger era prefeito (de 1981 ao final de 2005); em 2008 recebeu a distinção honrosa de Capelão de Sua Santidade e, em seguida, em 2011, foi nomeado secretário adjunto da Comissão Teológica Internacional.

Desde 2004, ensina no Pontifício Ateneu “Regina Apostolorum” [Roma], universidade administrada pelos Legionários de Cristo, como professor convidado com o encargo dos cursos monográficos e dos seminário do ciclo de mestrado e desde 2009 é docente convidado da Faculdade de Teologia da Universidade Gregoriana (no ciclo do bacharelado).

Os seus livros, publicados, entre outros, por Edizioni Studio Domenicano (de Bolonha, Itália) e pela Libreria Editrice Vaticana (Vaticano), foram resenhados pelo jornal Osservatore Romano [do Vaticano], o Timone e por numerosas revistas especializadas em estudos tomísticos.

Na internet encontra-se, ainda, não somente o seu rico curriculum, mas também uma recente intervenção on-line para a agência Zenit – também ela ligada aos Legionários de Cristo – intitulada «É válida a Missa celebrada por um sacerdote que está em pecado?».

Todavia, a esta vasta e competente presença doutrinal correspondia um sofrimento interior profundo, expresso sem meios termos com estas palavras: «Devo falar daquilo que sofri no Santo Ofício [Congregação para a Doutrina da Fé], que é o coração da homofobia da Igreja Católica, uma homofobia exasperada e paranoica». E ainda mais: «Desejo que a Igreja e a minha comunidade saibam quem sou: um sacerdote homossexual, feliz e orgulhoso da própria identidade. Estou pronto para sofrer as consequências disso, mas é hora da Igreja abrir os olhos diante dos gays crentes e compreender que a solução que propõe a eles, a abstinência total da vida de amor, é desumana».

Destas afirmações tão apaixonadas, mas muito claras e bem pouco afinadas com aquelas expressas nos ambientes nos quais Mons. Charamsa se formou e viveu, se extrai a ideia que a resposta intransigente à homossexualidade não é viável e que é urgente – se os padres sinodais se recuperarem do choque deste clamor – encarar uma questão que é feita de carne e osso.

Traduzido do italiano por Telmo José Amaral de Figueiredo.


Fonte: L’indice del Sinodo – Blog de Il Regno per seguire in diretta il Sinodo 2014-2015 – Quarta-feira, 7 de outubro de 2015 – Internet: clique aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.